quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer do fim de 2020]


Agradeço-Te

a aprendizagem 

de cada segundo vivido neste ano


Entrego-Te

cada pessoa de A a Z

e

a luminosa aprendizagem

a viver em cada segundo de 2021


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Sensatez



[Pensamentos soltos sobre sensatez ou falta dela em tempos de pandemia com a vacinação a acontecer] Nos meus tempos de Ergonomia tive cadeiras como Anatomofisiologia, Psicofisiologia, Bioquímica e Biomecânica. Recordo bem o estudo das diferentes matérias de anatomia e fisiologia. Denso que doía, mas que em nada se poderia comparar ao muito mais exigente de enfermagem ou medicina. Quando recordo esses tempos, e depois de já ter vivido muito crescimento pessoal, assola-me a humildade em reconhecer o pouquíssimo que sei para comentar sobre temas científicos ao nível médico e bioquímico-farmacêutico. Mas não deixo de me indignar quando leio comentários e posts de alta sapiência conspirativa, reduzindo pessoas que dedicam anos à investigação e experiência em cuidados de saúde a, e com o que tenho lido vou ser suave, “totós”, “cambada de mentirosos”, “vendidos do governo”, “conjurados com as farmacêuticas para ganharem mais”. 


Tenho amigos muito próximos que trabalham em investigação científica, contudo, bastaria parar um pouco para ver como milhares de médicos e enfermeiros pelo mundo fora regozijam-se com a chegada da vacina, estando mesmo a ser vacinados. Serão todos uma “cambada de ignorantes” e “vendidos a interesses megalómanos”? Não significa isto que se viva dogmatismo cego. A crítica faz parte do método científico, as teorias podem ser refutáveis. E eles sabem disso. Mas tem de haver uma base de confiança e credibilidade em quem investiga e de certeza percebe mais do assunto do que alguém que lê algumas notícias e vê vídeos soltos no YouTube. Estes tempos pedem reflexão, sim. Que seja a partir não da competição, mas da colaboração das diferentes áreas. 


Reconheço haver interesses políticos e económicos ante tudo isto. Mas o combate a estes interesses não acontece por acusações e ataques de baixo nível, aliado a negacionismo reactivo, mas estudo, muito estudo, de história das diferentes áreas científicas, das teorias e métodos distintos, da prática aliada à experiência, de ética, de reflexão, onde se ganha sensatez argumentativa séria. E se não se sabe de algo,  haja humildade e procure-se pessoas de credibilidade e sensatez que ajudem ao caminho de sabedoria. 


domingo, 27 de dezembro de 2020

Dia de Sagrada Família




Henrique Cepeda


[Secção pensamentos soltos em dia de Sagrada Família e que começou a vacinação ao vírus pandémico] A família é base de relação. Independentemente do tipo de família, é desde aí que se recebem as informações que também constituem o nosso ser. Depois, a cultura, em aprendizagem, traçam caminhos de personalidade. Os vínculos são complexos, causando alegria, tranquilidade, também sofrimento, por vezes. O Amor tanto implica.


A família de Jesus revela a profunda humanidade em Deus. A relação que O ajudará a conhecer a realidade para a levar ao Pai. Diz-nos S. Lucas que crescia em estatura, sabedoria e graça. Jesus não negou o conhecimento, pelo contrário, adquiriu e viveu-o em relação com a fé. Algo que me parece importante na actualidade que vivemos. Não se trata de opostos, nem de lutas de lugar, mas de cooperação, colaboração, trabalho em equipa. O Amor implica tanto.


Escolho esta foto, de uma família com quem tenho muita amizade, para ilustrar este texto. Abençoei o casamento, baptizei os filhos. A Juliana, enfermeira. O Gonçalo, militar. Eu, padre. A amizade na colaboração entre a ciência, a segurança e a fé. A família que já viveu muito. Por exemplo, o Gonçalo já esteve destacado no Afeganistão. Neles, com todos os desafios de família, revejo o Amor que implica tanto. Os seus laços de família também ganham sentido na fé e no serviço aos outros pela ciência e pela segurança. Hoje, em dia de Sagrada Família, começou a vacinação. Para muitos, será algo de ciência pura e dura. Outros, dirão graças a Deus. Há ainda quem negue tudo. A meu ver, que bom que a inteligência e a fé, em diálogo crítico, podem ser colaboração de humanização. O Amor, realidade tão humana e divina, implica tanto.


sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Natal


[Secção bons encontros em Natal] Mãos, devidamente desinfectadas, como abraço em Natal. Deus faz-se presente em corpo. É o que celebramos hoje. Sabemos dessa importância fundamental nas relações. Somos corpo e a vida particularmente aí acontece. O meu pai das muitas coisas que me ensinou foi o preocupar-me com os outros. Como? Dando o exemplo. Hoje, no nosso encontro, ainda em hospital, mais do que falar dele, perguntava-me por pessoas amigas. “Eu já sei o que tenho de fazer. Aceitar e ir aos poucos reabilitando. Tenho tempo para pensar nas pessoas.” Não disse, mas sei que é o seu modo de rezar. E, emocionado, agradeci. É Natal nestes pequenos momentos. O Menino Deus nasce para mostrar a beleza das pequenas coisas. Que saibamos perceber onde investir no Amor. Com o exemplo do meu pai, rezo a pedir Luz do Menino Deus para cada pessoa. Continuação de Santo, Feliz e Bom Natal.


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

todas as visitas que apontam infinito,

permitindo reconhecer o bem 

e as Tuas maravilhas


Peço-Te

sensibilidade e confiança 

para acolher o desconhecido


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Caminhos de humanidade


[Secção caminhos de humanidade] Acabo de assinar a declaração “A santidade da vida e a dignidade de todas as pessoas”. Esta declaração inter-religiosa, entre outras coisas, reconhece o sofrimento causado pelos ensinamentos religiosos nas questões LGBT+, pede perdão a quem viu as vidas danificadas e perdidas por motivos de ensinamentos religiosos, crê que o amor e a compaixão devem ser a base da fé e que o ódio não pode ter lugar na religião e apela tanto ao fim da criminalização com base na orientação sexual (ainda há países que é motivo de pena de morte), como ao fim de todas as “terapias de conversão” de identidade sexual. 


Já tive oportunidade de escrever uma ou outra vez sobre o caminho de respeito, em particular no campo da fé, ante a realidade  de pessoas de condição LGBT+. Escutei  e escuto muitas histórias deste sofrimento em acompanhamento. Algumas sobre estas “terapias” que fizeram e tristemente continuam a fazer muito mal, ainda mais apoiadas em contexto religioso. A mudança ou conversão devem ser ajudar a que a pessoa, seja qual for a sua condição, seja melhor para os outros. O amor entre duas pessoas não precisa de conversão. Quem precisa de conversão é quem se aflige com problemas ante o amor.


Quem quiser conhecer o projecto e assinar, aqui fica o link: https://globalinterfaith.lgbt/#about


domingo, 20 de dezembro de 2020

Olhar para este Natal


Carmo Sousa Lara


[Secção pensamentos soltos em IV Domingo de Advento] Os dias que antecedem o Natal costumam ser agitados. Os afazeres, compras e afins de última hora, junto com preparativos de viagens e jantares para justificar as relações nas empresas. Este ano, dá-se vazio. Tudo é estranho.


Tanta mudança se quer, saindo do “sempre foi assim”. Mas quando há oportunidade, ainda que brutalmente forçada, é como se se perdesse os alicerces que estruturavam estes dias do ano. Custa, sim. Muito, em tantos casos. No entanto, mais do que deixar o desânimo entrar, abre-se a possibilidade de abrir mão a algo novo, voltando ao essencial: a luz a atravessar toda a escuridão.


Deixar de forçar felicitações para agradar e ser autêntico nas palavras e gestos promotores de vida e respeito. Gastar menos no supérfluo e mais na entrega a quem passa por dificuldades. Perder medo ao silêncio de jantares mais recolhidos e avivar a beleza das conversas que contribuem para que todos sejam escutados e amados. E o vazio, preenchido de esperança, transforma a estranheza dos tempos em oportunidade de encontro, consigo mesmo e com os outros.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Criar é humano


[Secção coisas de nada] Recordo a viagem em que tirei esta fotografia. Detive-me a pensar que com mais frequência surge o “errar” como sendo humano. Gostei de ler “criar”. A experiência de nos sabermos humanos é exigente. O animal pode errar, mas não cria. Nós, com a capacidade de abrir horizontes, em sonhos, desejos, utopias, somos desafiados a construir, colaborar, desde a criação de algo novo que faça aproximar humanidade. A exigência também reside no silêncio da respeitosa escuta de si e dos outros. A inspiração para a criação vem da relação com o concreto que nos rodeia: pessoas, acontecimentos, situações. O simples pulsar coordenado com os movimentos respiratórios dá-nos sentido de presença. Aqui estou em corpo. A criação dá-se desde o momento em que pomos os talentos, não os erros, a render. E que bom é quando os dons são avivados e a criação humana brota desde a colaboração.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Conversa com Paula Perfeito


[Coisas na vida de um padre] Estive à conversa com Paula Perfeito. Por ainda não ter havido a oportunidade de partilhar essa conversa on-line (ficou prometida a pessoal), aqui a deixo. Falámos de 2020, de Natal, de ser. A Paula tem o belíssimo projecto Entre | Vistas, onde, além de boas conversas, vai também partilhando livros e histórias de humanidade para humanizar. Aconselho muito a seguir. O mundo on-line ganha luz com estes projectos. E para mim é uma honra contribuir para este. Paula, mais uma vez, muito obrigado pela tão boa conversa. Aqui fica o link para a conversa: https://www.entre-vistas.pt/padre-paulo-duarte-entre-vistas/ 


quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Dar mais um passo no que importa


Kátia Viola


[Secção boas notícias com pensamentos soltos] Os últimos dias têm sido de muito a passar pelo pensamento e pelo coração. O Advento abre à esperança do mundo novo. Talvez se idealize algo exterior, mas parece-me cada vez mais a força do mundo novo ao nível das entranhas, do ser. Desde aí, o exterior muda, ou pelo menos o olhar e a escuta ante a realidade muda, transforma-se, converte-se. O Natal acontece sempre. De forma diferente, mas acontece sempre que estejamos dispostos a iluminar nova realidade, mesmo, ou talvez sobretudo, com os sobressaltos inesperados.


Agradeço todo o carinho pelo meu pai. Ele avança na recuperação. Temos conversado. O seu humor e a sua tranquilidade ante a vida levam-no a aceitar o que agora atravessa. É exigente. Manifesta o cansaço, sim. Mas, ainda assim, vai avançando neste caminho novo de nova realidade na sua vida. Tenho muito orgulho no meu pai. E na minha mãe. A serenidade com que está a viver tudo isto, onde a visita se faz pela voz ou video-chamada, e a aceitação junto com o desejo de vida um ao outro, fazem-me sentir pequeno e agradecer o amor dos dois. Eles, sem o saberem, têm-me falado tanto de Deus nestes dias. Têm-me revelado Advento no concreto.


É isso: cada ano, por esta altura, pergunto que algo novo quero que nasça em mim. A pergunta deixa de ser algo bonito para ganhar corpo e sentido no crescimento que se impõe. Todos os acontecimentos podem ser levados ao coração. Aí, no silêncio do respeito de todo e qualquer sentimento, ilumino o que é, permitindo que Deus me mostre algo novo. Torna-se claro que passa pela simplicidade, como o “orvalho que cai do céu”, caindo na terra que somos, pronta a deixar brotar maturidade e sentido de presença, no aqui e no agora. E, quase sem dar conta, dá-se mais um passo no que realmente importa: amar.


domingo, 13 de dezembro de 2020

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer do III Domingo de Advento]


Agradeço-Te

a alegria contida 

nas pequenas coisas


Peço-Te

pequenez para a saborear


quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Boas notícias em letras verdes


[Secção boas notícias em letras verdes] Começo por agradecer mais uma vez cada mensagem de alento e apoio que estamos a receber. Agradeço muito também a compreensão por não conseguirmos responder a todas as pessoas. Custa, ainda mais quando o aconchego recebido é muito bom. Por isso, faço desta fora por aqui. Especialmente o meu pai está muito agradecido. Têm sido dias exigentes, mas cada um de nós está muito sereno. Já regressou a Portimão. Avizinham-se tempos de muito trabalho na reabilitação, sobretudo ao nível motor, e de acompanhamento por parte da minha mãe. O que vale é a especial boa disposição do meu pai. Quem o conhece, pode imaginar o seu bom humor. Ontem, na video-chamada, disse que estava no Egas Moniz, mas ainda não tinha encontrado o Becas. E terminou a salientar que “o Sporting é o meu grande amor”, isto porque já gostava do clube antes de conhecer a minha mãe. Agradeço toda a dedicação de quem trabalha no SNS. E à auxiliar que ontem atendeu o telefone e uma colaboradora do INEM, que me disseram seguir-me por estes lados, um abraço muito grande. Também rezamos por todos vocês. Que Deus vos recompense por todo o carinho e amizade. Abraço grande e demorado de nós três.


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Boas notícias



[Secção boas notícias em dia da Imaculada Conceição] Começo por agradecer de todo o coração todas as manifestações de carinho para com o meu pai, a minha mãe e comigo. Agradeço, novamente, os médicos, enfermeiros e auxiliares, na dedicação e paciência, ainda mais nestes tempos de aumento da exigência.


Se pedi e peço orações e pensamentos, também sinto responsabilidade em partilhar já as boas notícias. Falei há pouco com o meu pai, via whatsaap do hospital. Ele está consciente e orientado. Não afectou em nada a parte cognitiva. Está bem disposto, humorado ao seu estilo. Ainda está bastante afectado na parte motora do lado esquerdo. Não  tem consciência disso, o que é natural, neste momento. Vai sendo aos poucos. Mas, com a reabilitação poderá ficar sem marcas praticamente nenhumas. Agora é continuar a esperar em esperança, como o Advento convida.


Fiz uma rápida paragem em Fátima para agradecer. Acendi três velas, enquanto rezei: pelos meus pai e mãe; por todos os doentes e profissionais de saúde; e por todos vocês, agradecido por todas as manifestações de carinho. Que Deus a todos nos abençoe com a Luz e o Amor. Um abraço grande e demorado.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Pedido de orações




[Secção letras verdes com agradecimentos e pedidos de orações ou pensamentos] Toda a vida é caminho com passos que surpreendem. Ontem aconteceu com o meu pai José, com impacto connosco, mãe Maria e filho Paulo. Ele teve um AVC. A minha mãe é pequenina de tamanho mas mulher de grande fibra. Deu-se conta e chamou logo o 112. Temos muito a agradecer - nunca é demais fazê-lo - às equipas médicas do SNS, tanto em Portimão, como Lisboa, para onde foi transferido. Não gosto de os expor desta forma, mas estão a chegar muitas mensagens e comentários, alguns apaguei e agradeço a compreensão, a perguntar o que se passa. Por isso achei por bem partilhar desta forma. Nos próximos tempos estarei mais ausente, dando notícias quando for conveniente. Peço as vossas orações, a quem é de rezar, e os pensamentos bons, quem é de sentir assim, por ele e pela minha mãe. Por imensos pormenores luminosos em tudo isto, tenho sentido muito a presença de Deus, dando-nos serenidade à minha mãe e a mim. Termino a agradecer mais uma vez toda a vossa compreensão e respeito neste momento. Continuo a rezar por quem atravessa fragilidade. Um abraço demorado, com muita amizade.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O amor que cria




[Secção pensamentos soltos no dia de S. Francisco Xavier em tempo de Emergência Nacional] Estes dias tenho buscado de forma particular o silêncio para me encher de luz e amor. E assim ganhar espaço de coração para a escuta das palavras e dos movimentos que falam da agitação destes tempos, tentando dar paz. Recebo este modo de evangelizar, enquanto penso em S. Francisco Xavier que foi além fronteiras, anunciar a força do amor de Deus.


Ainda me está a ecoar algo bonito que o meu afilhado Francisco me disse ontem: “se há coisa que não gosto nada é quando alguém diz ‘bem feito’ a outra pessoa que lhe aconteceu algo de pouco simpático”. É isso! De que adianta dizer esse bem feito vingativo? É libertar energia de frustração. Apenas isso. Faz tanta falta a educação emocional, em que cada pessoa pode conhecer-se desde as emoções. Ao perceber isso, sairia das fronteiras da sua agitação interior, de cansaços, tristezas, raivas e frustrações acumuladas, sendo capaz de se ir libertando e assim perceber o imenso que tem desde o verdadeiro bem que pode fazer. Sim, sei, lá vem a minha ingenuidade, mas acredito que se cada pessoa atravessasse as suas dores de alma, mais vida aconteceria em colaboração uns com outros. O cansaço de combates de existência tem efeitos duros, perversos, que nos desgastam. “O ódio é fogo como o amor, mas o amor cria e o ódio nos destrói”, disse José Mujica, no seu discurso de despedida do parlamento uruguaio.


Para não seguirmos na destruição: Precisamos da Educação. Precisamos da Saúde. Precisamos da Cultura. Precisamos da Arte. Precisamos da Restauração. Precisamos das Viagens. Precisamos do Turismo. Precisamos da Indústria. Precisamos da Agricultura. Precisamos da Política. Precisamos do Ambiente. Não a competirem, mas a colaborarem. Precisamos de reflexão séria, onde, desde a possível distância, depois de libertar o emocional, se pense várias frentes em conjunto a sociedade na riqueza da sua diferença. S. Francisco Xavier tinha tudo para ser um homem de grande fama e poder. “De que vale ganhar o mundo inteiro se se perder a alma”, foi o versículo que levou a perceber que há algo mais importante que poder e fama: anunciar o amor que cria. 


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Breve oração



Pedro Leite


[Breve oração ao adormecer depois de um dia de boas conversas]


Agradeço-Te

o olhar desde o bem

a desvelar esperança 


Aveludado de pétala



[Secção coisas de nada a meio do dia] Assaltam-me perguntas a passar em revista os jornais. Até me atravessar o silêncio da alvura de uma camélia. Relativizo os gritos e acolho os nomes por quem rezo. O aveludado da pétala em luz desperta a esperança.


domingo, 29 de novembro de 2020

Abrir à vinda de Deus


[Secção conversas em I Domingo de Advento]

- P. Paulo, porque é que não sou como toda a gente a viver fervorosamente a fé, libertando-me do ridículo das minhas dores e sofrimentos?

- O que é para si “toda a gente”? Já viu a imensidão que representa “toda a gente”?

[Fixa o olhar em surpresa ante a constatação.]

- Sim, mas Deus tem mais com que se preocupar do que comigo.

- Acho que Ele tem esta capacidade de exclusivamente se preocupar com cada um de nós, como se fossemos únicos. É das belezas do Seu mistério.

- Mas há quem sofra muito mais que eu e estou nesta lamúria.

- Já pensou falar dessa lamúria directamente a Deus?

- Oh, é ridículo.

- Porque julga tão rapidamente esse ridículo? O mundo pode estar a cair à nossa volta, mas quando temos um pico de cacto no dedo a provocar uma dor impressionante, não há descanso enquanto não retiramos esse pico. Quando olhar de frente para o que significa a lamúria, dando-lhe luz e atenção, é muito provável que se vá desvanecendo. Depois, torna-se uma aprendizagem no estar como se é, seja com quais forem as dores, diante de Deus. 

[Baixando a cabeça]

- Nunca me tive muito em consideração. 

- É sempre tempo para começar. Deus tem plena consideração por si. O Advento está aí à porta. É um bom tempo para se abrir à vinda de Deus…

- …E deixá-Lo finalmente nascer em mim e assim libertar-me para me dar aos outros.


Boas partilhas


[Secção boas partilhas a abrir o Advento] A II catequese de Advento do CAB foi na passada terça-feira, mas a conversa com Ana Costa, mãe do Tomás, tem-me acompanhado de forma forte. Pensei que faria sentido partilhar hoje, em I Domingo de Advento, por ser uma conversa de Esperança e de Luz a atravessar a dor de alma. Nada de forma ingénua e romantizada, mas muito realista. A Ana fala de coração aberto sobre a força do Tomás, a atravessar a grave doença, a Luz da Constança e o Amor do Ricardo, sempre recordando a família alargada e os amigos, tudo com o grande suporte de Deus. Agradeço-te muito, Ana, a autenticidade com nos falas da Vida e de Deus. 




sábado, 28 de novembro de 2020

Rasgo de luz



[Secção outros tons em tarde que se abre ao Advento, enquanto oriento Exercícios Espirituais]


Quero ser rasgo de luz

nas vias da escuta 

de corpo que conduz


a paz 


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Carta aberta




[Secção letras verdes em carta aberta] Queridas médicas, queridos médicos, queridas enfermeiras, queridos enfermeiros, queridas e queridos terapeutas de saúde,


Abraço muito grande. Com Luz. Tenho pensado muito em vocês. Trago-vos muitas vezes à minha oração. A alguns conheço-vos, na proximidade da amizade, na confiança que depositaram em mim na escuta, em ler-vos nas partilhas destes tempos, a muitos milhares de outros não conheço, mas em oração de abecedário penso em todos. Desta vez escrevo-vos umas breves palavras, essencialmente para agradecer.


Recordo o meu tempo de estudante e ter amigos que sonhavam com a entrada nas distintas áreas da saúde. Os anos passaram e acabei por ser professor de futuros alunos desses cursos imensos. Por isso, fui acompanhando o percurso e é impressionante a exigência, a dedicação, até chegar ao juramento de serem o mais possível garantes de vida do outro. Nos muitos anos, pelo menos doze no caso da medicina até ao fim da especialidade, são muitas as sombras a atravessar, na dureza do estudo e da formação contínua para continuarem a alicerçar confiança na fragilidade, na debilidade, na vulnerabilidade das inumeráveis pessoas que vos são confiadas. Ainda mais em tempos que se foi atenuando a reverência, o respeito, dado espaço à arrogância de vos substituirem por uma simples pesquisa num qualquer motor de busca. Estão sujeitos ao apontar de dedos por tantos especialistas-de-bancada, mas, pior de tudo, estão cada vez mais postos à pressão de ocupar o lugar de Deus na decisão sobre a vida de alguém. 


Permitam-me trazer Deus a estas palavras. Do que posso perceber d’Ele, está muito agradecido por toda a vossa dedicação, no limiar do esgotamento, nestes dias de tanto. Está agradecido por, entre camadas de protecção externa, terem de tomar decisões inacreditáveis em fracções de segundos em nome do juramento deontológico, em nome da humanidade que vos habita. Conjugar cabeça, coração e mãos não está na fracção de um clique, mas de tempo vivido a aprender a amar o outro.


Do que me é possível como cidadão, quero pedir-vos perdão por toda a desconsideração social e política, por tanta gente que se deixa cegar pela desinformação e continua a assumir a sua razão desligada do sentido de comunidade. 


Termino como comecei, a agradecer, muito, com um abraço  demorado. Do que posso fazer, além de algo tão simples e importante nestes dias como ficar em casa, também ofereço, por respeito a toda a vossa dedicação, o sacrifício de não poder ter os encontros pessoas que gostaria. Quanto mais colaborarmos convosco, mais próximo estará o dia dos reencontros. Estão no meu pensamento, nas minhas orações. Obrigado!


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Dia Internacional de Eliminação da Violência contra a Mulher



John Clang


[Secção pensamentos soltos em Dia Internacional de Eliminação da Violência contra a Mulher] No âmbito do voluntariado a visitar a pessoas detidas no Centro de Internamento de Estrangeiros em Madrid, fiz uma formação com a ACNUR [Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados] sobre o tráfico humano, em especial de mulheres, para escravidão sexual. Os números são assustadores. Os grandes países de consumo são os tais desenvolvidos como França, Alemanha e Espanha. Mas toda a Europa é porta de chegada de “sonhos de estudo e vida melhor”. Isto é o que lhes disse na saída de lá, das suas terras. Depois, à chegada, transformam-se em pesadelos de vidas anuladas em consumo sexual, com as ameaças de assassinato de toda a família. Instala-se o medo. 


É sempre o medo que envolve a vítima. Seja em violência física, específicamente sexual, seja psicológica, são muitas as mulheres que ainda perdem totalmente a vida. E as que não a perdem totalmente, ficam com a sua dignidade gravemente diminuída com o desdém da sociedade ante a desvalorização de tantos casos de violência. Ainda mais quando é crime público. Só este ano em Portugal já morreram 30 mulheres às mãos de homens que não souberam nem sabem viver a sua frustração. 


Recordo uma das Missas em que abordei o tema da violência doméstica na homilia. Nem conhecia bem a comunidade, por isso, ainda me sentia mais livre em fazê-lo, sem que houvesse a sensação de poder estar a dirigir-me a alguém em específico. Não fui meigo nas palavras. O silêncio era cortante. No final, na despedida à porta, muitas mulheres apertaram-me a mão com um obrigado acentuado. A violência está mais presente do que se imagina. Por isso, infelizmente, ainda temos de recordar este dia, como caminho educativo, tanto de cidadania como sexual, e de ajuda à liberdade, dignidade e integridade.


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Lágrimas e sorriso



Pedro Sadio


[Secção memórias sobre lágrimas até ao sorriso em tempo de Estado de Emergência] Quando comecei a primeira sessão de psicoterapia, já lá vão uns anos, entrei no gabinete e das primeiras coisas que me chamou a atenção foi a caixa de lenços de papel em cima da pequena mesa. Recordo perfeitamente o pensamento: não serão necessários para mim. Não se tratava de achar que não podia chorar. Isso estava atravessado. Mas que seria algo simples o que ali ia partilhar, de tal maneira que nem necessitaria de lágrimas. Até ao dia. Aquele dia em que as palavras da emoção já não têm outra linguagem senão o libertar de lágrimas. Nem sequer foi uma ou outra furtiva. Abriu-se a porta das emoções de dor, cansaço, tristeza, fraqueza, vulnerabilidade, acumuladas. Saí da sessão muito agitado. Começou um novo tempo. A leveza estava a chegar. 


Anos depois, sou eu que tenho uma caixa de lenços no gabinete. Ainda são muitas as pessoas a pedir desculpa quando afloram as lágrimas, como se fosse descabido. Continuamos muito marcados pela educação que amordaçou a nossa dimensão emocional. “Deixe-as sair”, digo tantas vezes. Há que deixá-las sair livremente. As palavras dão lugar à linguagem de corpo. E nestes tempos em que as emoções andam baralhadas, que não haja problema em procurar quem possa acolher as lágrimas, a vida, as histórias, o sentir, sem julgamento. Não somos chamados a ser super-heróis, nem a sofrer sozinhos. Somos chamados ao amor, num sorriso, por nós e pelo próximo. E a humanização acontece ao longo do caminho de esperança!


sábado, 21 de novembro de 2020

O instante


[Secção outros tons em estado de emergência] Aqueles breves segundos sustêm a respiração. Abro a janela de par-em-par ficando de frente com o infinito que transita o tempo. Posso estar confinado, mas ninguém me tira o sonho. As palavras ficam suspensas no fogo tardio. Naquele instante de silêncio contemplativo não há poderes, não há governo, não há partidos políticos, apenas a oração por quem entrega a vida. Todas as horas são boas para agradecer. Em algumas, pouso os ruídos e peço consciência para que haja novo amanhecer em cada coração pronto a deixar-se iluminar em amplos horizontes. Sim, podemos estar confinados, mas sempre com possibilidade de sonhar. E de agradecer.


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Encontro


[Secção coisas de nada] A rever fotografias reparei neste candeeiro de um café em Madrid. Parece um eclipse. Dos desafios que temos é abraçar a sombra. Escrito assim parece fácil. Somos educados ao bom comportamento, a fazer tudo direitinho, muitas vezes em exigências a colmatar frustrações de outros ou agradar fantasmas de tempos passados. Mas, a verdadeira educação consiste no amor. Daí sai a generosidade, o gesto de ajuda ao outro ser sem imposições. Para isso, é necessário atravessar esse lugares sombrios da própria existência amando-os. Amar a sombra não significa amar o mal. É tomar consciência de que não somos todo-poderosos, havendo em nós a possibilidade de ferir. Nem temos o direito de abusar de ninguém. E a luz acontece. Ilumina a compaixão. Sente-se a leveza da liberdade, de nada impor. Recordo que quando o vi estava com uma grande amiga. Falávamos de transfiguração.


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Dia Mundial da Filosofia



[Secção pensamentos soltos em dia mundial da filosofia] É hoje. Há dois dias antecipei-me a começar a celebrar. Como qual outro “dia mundial, internacional, universal de”, também este é todos os dias. Que seria do ser humano sem a arte de pensar? Deixando-se divagar, deleitar e concretizar sobre si, o que o rodeia, em expansão de busca? Isso não é de um tempo específico, mas de cada segundo no caminho de humanização.


Quando comecei a dançar, a descobrir a autenticidade do movimento, apercebi-me do corpo pensante. Temos o lobo frontal do neo-córtex como o centro do pensamento. Mas toda a rede neuronal pelo corpo leva a que literalmente todo o nosso ser pense. É preciso atenção, escuta desses sinais do sentir que despertam a reflexão. Habitarmos o ser pensante em corpo é permitirmos que haja expansão de nós, levando-nos a sair da pequenez de perspectivas, modos de estar, de entender a cultura e o próprio ser humano. Pensar é fundamental para sair dos extremos. Pensar desde o corpo é reconhecer a importância da relação entre o indivíduo e a comunidade, em que ambos se transformam quando se libertam de estruturas rígidas do entendimento do bom, do belo, do uno e do verdadeiro.


Para pensar bem é preciso ir mais além do conhecimento adquirido. É continuar a desejar aprender, sabendo que tanto fica por saber. É respirar a humildade na colaboração de saberes. É permitir que a pergunta seja espaço e tempo de humanidade. É dançar com as respostas que iluminam o caminho para outras perguntas que conduzam à liberdade de pensamento que humanize.


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

a luz que irrompe no dar nome

às coisas revestidas de medos e julgamentos,

deixando que o que é sem artifícios nasça


Peço-Te

tempo para contemplar

o caminho entre a terra e o céu

e liberdade para saborear os nascimentos 

de alma renovada e de corpo abençoado


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Sobre a amizade



[Secção pensamentos soltos sobre amizade] No Evangelho de S. João, num dos seus discursos, Jesus diz aos discípulos que já não os chama de servos, mas de amigos. Muitas das vezes as relações revestem-se de utilitarismo. Por algum motivo são úteis ou dão jeito. Quem não as vive, que atire a primeira pedra. O tal “servo” implica essa utilidade que a amizade vai descascando. 


Ser-se amigo é ser-se livre. Dão-se passos sérios de gratuidade, de deixar de lado qualquer cobrança sobre coisas ou tempo. Abre-se espaço para a presença que vai para lá do físico. As conversas sem horas ou o simples fazer nada lado a lado é construção de caminho a dois, cada um na sua individualidade. Assistimos ao crescimento interior, de onde a meninice atravessa a adolescência e tornamo-nos adultos a deixar o outro ir vivendo a fé que fica. Sim, na amizade os amigos ficam sempre. 


Depois há aqueles que vivem outro passo de existência. No mesmo Evangelho de S. João, Jesus ressuscitado diz a Maria Madalena para ir avisar os “meus irmãos”. A amizade com cor de irmandade. Partilha-se ADN afectivo e espiritual. Se ser-se amigo é ser-se livre, ser-se amigo-irmã(o) é ser-se reflexo de amor a desejar a profunda felicidade do outro. E estas amizades de irmandade terrenas espelham momentos de céu. 


domingo, 15 de novembro de 2020

Fértil húmus



[Secção coisas de nada] É clichê, já muito repetido. Ainda assim há tanta maravilha nas folhas caídas, com especial brilho no adorno de pérolas de chuva. Estes tempos têm provocado o aumento de pedidos de escuta. Em muitas vejo a necessidade de libertar a quantidade de folhas acumuladas, onde há medo de largar. Compreendo: somos marcados por cultura, modos de pensar, muitas vezes cheios de pesos de cumprimentos, obrigações, que fizeram sentido num tempo, mas pedem liberdade no crescimento. A maturidade humana, espiritual, implica desapego. E há beleza em ver o que se soltou. As pérolas em lágrimas contribuem para esse lavar de alma. E da euforia dão-se passos para a paz. O resto cria húmus. O fértil húmus para dar força às sementes, aos dons, a crescer e a render.


sábado, 14 de novembro de 2020

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer enquanto oriento Exercícios Espirituais]


Agradeço-Te

a beleza da individualidade de cada história, na confiança da partilha de cantos e recantos, no respeito desse único que somos, permitindo-me testemunhar a conversão do olhar sobre si e sobre Ti


Peço-Te

pelos caminhos de quem me confias a entregar-Te cada nome e rosto


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Caminho de aprendizagem



Pedro Leite


[Coisas na vida de um padre] Quando falo, em homilias, formações, encontros, entrevistas e mesmo a escrever por estes lados, faço um grande exercício de ser o mais coerente possível. Tem sido uma aprendizagem ao longo dos anos como jesuíta e padre. Recordo as vezes que queria claramente agradar ou forçar a uma forma diferente de estar em Igreja. Tem-me ajudado muito a escuta, o observar, tanto o meu interior como o que me rodeia, levando tudo à oração, para viver a sensatez e a ponderação ante a realidade. Nem sempre consigo. Inspira-me a coerência de Jesus. Os Seus gestos e palavras são plenos de autenticidade. O amor que vive ao Pai é o mesmo que quer transmitir, tornar presente, no coração de cada pessoa. Estar num púlpito torna-se exercício de Paixão: deixar morrer a tentação de superioridade, permitindo a ressurreição da fraternidade. Ter consciência do poder que temos de ligar ou desligar o céu da terra é fundamental para a humildade no que há a dizer ou fazer. Por isso, antes de começar algo faço uma breve oração, rectificando a minha intenção: “Senhor, que as minhas palavras e acções sejam para Ti e não para mim.” Continuo em caminho de aprendizagem.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Diálogo



[Secção letras verdes] A sentir preocupação por tanta falta dele na sociedade actual.


sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer nestes tempos agitados]


Agradeço-Te

o caminho que atravessa a decisão

na escolha de quem quero ser


Peço-Te

liberdade de mim

e do que me impede de amar

ao Teu modo


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Ser exemplo de colaboração



[Secção pensamentos soltos em tempo de pandemia] O que vivemos não é coisa pouca. Insiste-se relativizar em retorno à normalidade. Vivemos uma transformação brutal da realidade, desse normal que tantas vezes é necessário questionar. As lutas surgem: externas, em polarizações ora de negação (quando tanta gente está a sofrer seja numa cama de hospital, seja a ajudar quem está nessas mesmas camas), ora de dramatismo (esquecendo a quantidade de gente que pode sofrer com enormes dificuldades de desemprego, de dores em saúde mental); e internas, onde somos bombardeados com perguntas, medos, saudades. Não, não é coisa pouca. E já não há retorno há normalidade que nos habituámos e anseia-se regressar.


Tal não tem de ser uma fatalidade. Não se pode esconder a dureza ante tanta mudança. Obviamente não sou o Messias. Não apresento soluções para algo tão global. OBVIAMENTE. Ainda assim, por não querer contribuir para a fatalidade, tenho pensado muito no possível a fazer para atravessar este tempo. E tenho pensando com a ajuda do Evangelho. Algo novo está a acontecer. O que é importante? Agarrar-me ao instinto de sobrevivência? Gritar culpas alheias? Sim, tenho de atravessar esse instinto e dar esse grito. Mas, para libertar a tensão e permitir-me pensar que é com os outros, a colaborar com os outros que não só eu, mas todos podemos abrir uma nova possibilidade. Agora é usar a [coloque-se o palavrão] da máscara. Agora é aguentar com a [coloque-se o palavrão] da distância. Agora é respeitar a [coloque-se o palavrão] das recomendações.


Tem sido uma dureza crescente. Não a tornemos maior. Que se acarinhe a criança-com-medo interior e o adolescente-que-se-acha-herói interior, para dar lugar ao adulto consciente e profundamente livre a ser responsável e assim perceber que o pouco de cada um pode ser atraso ou avanço na solução para todos. É exigente. É profundamente exigente sair do que sempre foi. Mas, neste momento, somos chamados a afastarmo-nos de extremos e ser exemplo de colaboração e de vida, com máscara, distância e respeito. [Foto: texto de Daniel Faria]

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Memória




[Secção letras verdes em dia dos fiéis defuntos] Deus tem memória de todos os nomes. Todos.

domingo, 1 de novembro de 2020

Santidade em dia de Todos os Santos



[Secção pensamentos soltos em dia de Todos os Santos] Viver a santidade que nos vem de Deus é viver o silêncio, a escuta e o anúncio. Os tempos actuais estão carregados de ruído. A quantidade de informação e contra-informação, as emoções a gritarem por atenção, a sentirmo-nos desorientados com o desconhecido desajusta o pensar com serenidade. É preciso ganhar distância e fazer silêncio. Os santos sabem fazer silêncio, permitindo que a suave voz de Deus se aproxime. O silêncio ajuda a lucidez no pensamento e abre a possibilidade de escutar adequadamente os sinais do tempos.


Os santos sabem escutar. A escuta abre a atenção ao que circunda. O coração sereno é capaz de escutar a realidade sem necessidade de defesas ou ataques. Se escuta que é preciso ajudar, ajuda no que pode. Se escuta que é preciso retirar, retira-se sem imposições. Se escuta que é preciso dar opinião, porque tem conhecimentos sobre a temática, partilha da sua sabedoria. Se escuta que é preciso abdicar da sua ideologia em nome da vida do outro, vive a humildade e liberdade em relação a si mesmo. Se escuta que é preciso colaborar, mesmo sabendo que a tradição não pode ser cumprida em nome do cuidado do outro, contribui no que for melhor para todos.


Ser santo é anunciar, depois do silêncio e da escuta, a mansidão, a misericórdia e a paz. O testemunho de santidade passa por mãos que acolhem e corações que iluminam os pequenos gestos de vida no quotidiano. Os dias actuais pedem santidade no quotidiano. Cada um de nós é chamado a fazer a parte que lhe corresponde, com gestos e palavras de autenticidade, em profundo respeito por si mesmo e pelo outro. Não se trata de ser mais ou menos puro diante de Deus, mas cada vez mais de coração de carne, onde todas as petrificações foram e são transformadas em Igreja de nomes e rostos amados e amantes. E a vida plena acontece e espalha-se em mãos abertas, com luz, muita luz.