["História" de Nelson Afonso, in olhares.com]
[Escrevi este comentário final após ter resumido toda a matéria dada ao longo deste semestre]
Começo por apresentar o meu primeiro pensamento mais geral: depois do que estudei, trata-se de História Antiga ou de realidade contemporânea? Talvez pela minha sensibilidade em relação à pluralidade cultural em que vivemos (por mais que se diga que estamos em tempos de globalização), também por se falar tanto da crise económica, entre outras, que atravessamos em geral pela Europa e de forma particular em Portugal, junto ainda o impacto (nalgumas situações mais negativo que positivo) causado pelos últimos escritos e feitos da Igreja Católica, acabo por fazer uma leitura ligando pontos de contacto entre o que se passou há cerca de 17oo anos com a actualidade.
Parece que não aprendemos com a História. Será que é por estar cada vez mais esquecida? Sem dúvida que não se pode apagar a memória colectiva de uma sociedade e de um povo, pois em relação cíclica, acabamos por voltar a tocar em pontos essenciais da nossa estruturação enquanto humanos.
Particularizando no aspecto da vertente de “Igreja”, esta disciplina ajudou-me a conectar com os inícios do que, de algum modo, me leva também a ser. Afinal, ser humano também tem em si a dimensão histórica e social. Conhecer a História da Igreja leva-me ao encontro com aquilo que sou como crente e membro desta Igreja, que não é uma teoria, uma ideia, mas uma realidade de desenvolvimento a partir de vidas e decisões de pessoas concretas ao longo dos tempos.
Na verdade muita da falta de fé vem do não saber o “como, porquê e quando” do surgimento das coisas. Também a fé não acontece por uma linearidade limpa de acontecimentos, como se fosse um caminho recto, sem qualquer obstáculo. O estudo e aprofundamento dos dados sobre as convulsões sociais entre os grupos religiosos, a relação com as outras religiões ou entidades religiosas e com os povos com tradições pagãs, as perseguições, os martírios, as necessidades de organização (da liturgia, da vida quotidiana, da estrutura eclesial) daqueles primeiros séculos, levam a que se tome consciência dos passos dados e do quanto, no meio de tantas dificuldades, muitos mantiveram e aprofundaram a sua crença.
Fico com a impressão de que há muito a voltar a estes tempos, não para repetir, pois além de impossível não teria sentido, mas numa aprendizagem do que foi o sentimento de perseguição pela fé e da vontade de anúncio de alguém que mudava a vida das pessoas. Nos nossos dias voltamos a essa ameaça, como se pode comprovar nos ataques a muitas Igrejas, por isso podemos investigar a reacção dos antigos e, sobretudo, qual a sua acção em meios de perseguição. No que se refere à actual chamada “perseguição à Igreja” (mais ocidental) nas questões de doutrina, também temos de aprender com os cristãos desses tempos do passado, pois além de não passarem por vitimizações, acabaram, por um lado, a confiar, por outro, a aprender a dialogar.
Muito do nosso pensamento acabou por vir de uma realidade cultural que o cristianismo “converteu”, adaptou, à sua. Se hoje se fala tanto em pluralismo religioso, de relativismo, de confusão de ideologias, também naquele tempo houve muito dessas questões, com linhas mais conservadores e outras mais dialogantes. E não caindo na ingenuidade de se pensar que aconteceu uma resolução plena, poderíamos aprender sobre quais as ferramentas que foram úteis e quais as que seriam de evitar.
Vergílio Ferreira afirmou que "o que mais importa não é o novo que se vê mas o que se vê de novo no que já tínhamos visto”. Assim, a História, compreendida e vivida em diálogo com outras ciências humanas e científicas, pode ajudar em muito na compreensão da Igreja tornando-a ainda mais humana e mais divina.