sexta-feira, 30 de junho de 2017

Caravana 2017




Luís Onofre,sj

[Secção coisas na vida de um padre] Hoje foi o grande encontro. Amanhã bem cedo partimos para Loiola e Xavier com 52 alunos do 11.° ano dos três Colégios dos Jesuítas em Portugal. Conhecer os inícios da espiritualidade inaciana desde as terras dos Santos Inácio e Francisco. É a Caravana 2017!

Ver os rebentos depois da desgraça




Teresa Lamas Serra - Castanheira de Pêra


[Secção outras perspectivas, a partir da minha escuta de quem passou por terras queimadas e não quer que tal caia em esquecimento] Chegaram as informações por imagens e palavras, em sons de gritos de desespero e dor, com a aflição das labaredas que desfocam qualquer olhar. Não interessou a política ou os eucaliptos no momento, já que a tensão entre a fuga e o ficar-se para proteger o impossível é a sensação que abafa qualquer reflexão. Choveu, água e solidariedade, acudindo gente perdida de corpo e de alma, de sonhos e certezas. Morreu gente, muita gente. As estradas revelam o negro desolador, dando espaço ao silêncio da impotência e às perguntas de quem chega para ajudar. "Foi preciso muita morte para chegarem os médicos. Quanto tempo ficarão até voltarmos a ser novamente esquecidos?" O tom revelava o misto de agradecimento e o medo da solidão. "Dinheiro? Roupa? Enterrei as minhas galinhas e cabras." Enterrou, dizia com o olhar, a companhia e o sustento. "Agora, tenho de esperar que os senhores importantes decidam o que nunca viram. Gostava tanto que viessem aqui dormir uns dias. Sem palavras. Só dormir, deixar passar as horas e ver os rebentos depois da desgraça."

terça-feira, 27 de junho de 2017

Força e fragilidade




Michael Drost-Hansen


[Secção pensamentos soltos] Das coisas interessantes da vida é aceitar duas coisas: a força da fragilidade e a fragilidade da força. Para que tal aconteça, há que viver na serena escuta de quem se é, de modo a, de forma ajustada, por exemplo, saber aceitar ou ignorar a crítica, tanto positiva como negativa. Ao reconhecer os meus pontos mais frágeis, apercebo-me do quanto podem ser motivo de crescimento da compreensão em relação ao outro. A compaixão torna-se a partilha dos mesmos sentimentos, até mesmo vivência, do outro, levando ao atenuar do julgamento e aumento do silêncio que escuta activamente as dores dando-lhes conforto. Por outro lado, quem, seja por que motivo for, rebaixa alguém a partir da arrogância, além de estar fechado para a sua própria fragilidade e dores ignoradas, torna-se amargo e doentio. Em zonas de muito ruído de opiniões, faz falta o silenciar-se e sentir as dores e feridas a serem curadas… e nesse respeito por si, amar verdadeiramente o próximo. Ah, a exigência de vida!

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Leituras




[Secção boas leituras] Este livro, tal como a linha geral de pensamento do autor, tem-me dado que pensar. Bauman, nesta obra, reflecte sobre a felicidade nesta sociedade ávida de consumo de tudo e mais alguma coisa. "A Arte da Vida" de Zygmunt Bauman, p. 81, Ed. Relógio D'Água.

domingo, 25 de junho de 2017

Oração




Yogesh Gupta

[Secção outros tons] A oração é paragem de tempo e de espaço. Entre silêncio e palavras, o ser funde-se com o eterno deixando-se moldar. 


Bom início de semana. 

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Juntos à Tarde - SIC




[Coisas na vida de um padre] No princípio, a conversa, no final, antes dos abraços e beijinhos, a selfie. Agradeço o acolhimento e simpatia, tanto da Rita Ferro Rodrigues como do João Baião, sem esquecer a Catarina Monteiro e todas as pessoas da produção. Agradeço muito a Ana Melo e Castro,aci, e os padres Antonino de Sousa,scj, Nuno Coelho e Pedro Boto. A reportagem foi um excelente arranque para a entrevista pela simplicidade e força das palavras de todos eles. Entregar a vida a Deus é um desafio sempre a acontecer. Haja animação! PS - A Rita queria que eu pusesse uma auréola na foto. ;)

terça-feira, 20 de junho de 2017

Entre o natural e o racional




[Secção outros tons] O voo picado de uma andorinha é natural. Na vida humana, entre a contemplação e o pensamento, os voos, gestos e palavras devem ter contornos racionais... em busca de humanização e de responsabilidade.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Exames Nacionais




Yannis Pavlis


Começa daqui a pouco a aventura dos Exames Nacionais para milhares de estudantes. Hoje teremos os de Português e de Filosofia. Estes dois são dos que, para além de matérias mais técnicas, tocam a importância da reflexão sobre a Humanidade. Ainda há muito atordoamento com os acontecimentos destes dias, entre o sentimento de impotência e o de solidariedade ante as vítimas e bombeiros. O estudo para o Exame não pode ser apenas para uma nota. Aprender significa também ser chamado a dar o contributo para uma sociedade mais justa, organizada, coerente e profundamente humana. A todos os que vão realizar exames, antes de  começar a escrever, façam uma breve respiração profunda, leiam com calma todas as perguntas e confiem no vosso estudo. Pais, outros familiares e amigos, durante o tempo do exames tirem uns breves minutos de silêncio e pensem em quem está a dar o seu melhor tanto na sala de exame como no combate aos fogos e ajuda às vítimas.

domingo, 18 de junho de 2017

[Silêncio diante da tragédia]




Fiz um momento de silêncio. Nenhuma palavra é suficiente para descrever tragédias… apenas para formular perguntas, interrogações ou gritos. Agora, é tentar perceber como ajudar material e afectivamente quem se sente neste momento sem chão… civis e bombeiros. 

sábado, 17 de junho de 2017

Inclusão



[Coisas na vida de um padre] Estive a moderar um painel, integrado na Peregrinação da Pastoral de Pessoas com Deficiência, com a presença de Américo Azevedo, Carmo e Rui Diniz. Américo nasceu com paralisia cerebral e cegou totalmente aos 16 anos. Carmo e Rui são pais de 5 filhos, um com deficiência profunda provocada pelos maus-tratos dos pais biológicos. Estou com muito no pensamento por tudo o que eles, cada um ao seu modo, me falaram de Deus e dos desafios que me puseram, enquanto padre, para uma Igreja cada vez mais inclusiva. Muito agradecido ao Tiago Casaleiro pelo convite.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Devaneios ou sonhos




[Secção devaneios ao amanhecer] Acordo com desejos de mundo ideal, em que os sonhos não se esfumam com palavras de desdém e quem lidera é capaz de sair de si. O tesouro, de tão rico, é-nos confiado na fragilidade de barro que à mínima queda parte-se nos pedaços de cada história que o compôs. Volta-me a mesma pergunta: será que acredito mesmo em Deus? Se cada vez que celebro a Sua Vida, atrevo-me a permitir que transforme a Minha? O desafio é perder-me do medo d’Ele, conhecendo-O cada vez mais desvelado. É como o amor: acredito de forma diferente de ontem. A noite e as palavras de hoje, ao acordar com desejos de caminho novo, revelam-me a fé mais palpável, porque composta de histórias, antigas e novas, minhas e de quem m’as conta em partilha de querer a liberdade. 

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Corpo de Deus




[Secção outros tons - especial Corpo de Deus] O tempo, em horas, meses ou anos, desfaz-se na luminosidade das palavras ou da Palavra dita em Corpo vivo. Fronteira de silêncio ou de grito de alimento. A carne e o sangue são tradutores dessa fronteira... entre o profundo abraço da divindade com a humanidade.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Comunhão




“Última Ceia” de Dagnan-Bouveret


“P. Paulo, sempre me ensinaram que nunca devemos mastigar quando comungamos. Se o fazemos, somos carrascos porque estamos a triturar o próprio Jesus.” Ouvi esta resposta com espanto quando uma vez me apercebi de que muitas pessoas não mastigavam depois de comungar e perguntei o porquê. Nunca tinha ouvido tal coisa. Achei que era único. Mas não. Muitos adultos foram ensinados e muitas crianças continuam a ser ensinadas nesta teologia de arrepiar. [Depois, ainda nos admiramos por as pessoas “perderem a fé”.] “Tomai todos e comei.” Ora, o acto de comer um pedaço de pão ázimo consagrado implica o mastigar e assim saborear a realidade do próprio Senhor. Há pessoas que anos após anos sofreram e sofrem com esta teologia em que não se pode tocar o Senhor. Quem assim o propõe desconhece o Evangelho, na profundidade do que significa a proximidade com Deus. Mastigar faz parte da apropriação, da participação desse gesto em memorial que nos liga em profundidade com Cristo. Por uma questão prática, as hóstias são pequenas. Por isso, diz com graça um companheiro jesuíta: “acto de fé não é acreditar que o pão se torna Corpo de Cristo, mas acreditar que realmente é pão.” Se celebrássemos com pão ázimo no seu formato robusto, haveria de ser bonito termos de esperar um dia inteiro até que se dissolvesse e desfizesse na boca. Que o momento da comunhão seja de saborear, enquanto se mastiga, a força do próprio Jesus na nossa vida, ajudando-nos a sentir não carrascos, mas alimento de misericórdia e de paz uns para com os outros.

domingo, 11 de junho de 2017

Trindade




Dave Paek


[Secção pensamentos soltos em dia da Santíssima Trindade] A Trindade (entenda-se a divina, não a cervejaria em Lisboa) recorda-nos a importância da relação na nossa vida. Deus é em relação, tal como nós, seres humanos. Relação que tem na sua essência a reconciliação, a promoção do encontro nesse animar, dar vida, a que somos chamados. Vou encontrando pessoas que têm de, urgentemente, se reconciliar consigo mesmas, nesse amor único que leva a que se perca cada vez mais a necessidade de comparações, de fechamento, de se mutilar em gestos e palavras, de estar continuamente numa desgastante defesa de feridas a sarar. Por vezes, é necessário, senão vital, dançar as dores e os desgastes, as angústias e os medos, para promover esse encontro de cura e reconciliação consigo e com Deus. “P. Paulo, mas de onde vem esta história de dançar em dia da Trindade?” Para quem não sabe, um dos termos teológicos que definem a Trindade é “pericoresis”, que, de forma simplificada, significa dançar à volta de. Por isso, dançar a reconciliação em modo de oração é encontro com Deus, nesse tempo ajustado para que aos poucos o amor divino e humano surja. Havendo amor próprio reconciliado, o amor ao próximo ganha mais força… e, quem sabe, com vontade de tomar algo em festa, mostrando a relação e reconciliação com o próximo. Este mundo precisa tanto de reconciliação. Rezar e viver a Trindade é caminho de Paz.

sábado, 10 de junho de 2017

Dia de Portugal - II




Em dia de Portugal, a meio da tarde, o mar e a contemplação, com desejo de força, descoberta e horizonte.

Preso no elevador




[Cenas na vida de um padre] Ficar preso 40 minutos num elevador, devido a um corte de energia. 

Dia de Portugal - I




Em dia de Portugal, pormenores a meio da manhã, como forma de desejar beleza e respeito.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Memórias





[Coisas na vida de um padre] Estive de passeio final de ano de secundário em Aveiro e Costa Nova. Em ambiente mais descontraído, lá surgem as perguntas sobre a vocação. Contar a história vocacional remete a memórias de lugares. Hoje soube bem dizer-lhes: "Foi nesta praia, mais precisamente naquele esporão, que, depois de ano e meio, decidi entrar na vida religiosa." "Ouviu alguma voz?" "Senti paz, uma profunda paz interior." O infinito desvelava-se...

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Dia seguinte ao Pentecostes




[Secção outros tons - especial dia seguinte ao Pentecostes] Está escrito que o Espírito reza por nós, em gemidos inefáveis. A oração, mais que muitas palavras, é estar. Deus contempla a vida, sem julgar, a amar demoradamente.  

domingo, 4 de junho de 2017

Pentecostes




Estes dias foram intensos, não só de actividades, mas de Espírito. Gosto muito do Pentecostes. Escreverei com calma, mas não poderia deixar passar o dia sem a minha oração ao Espírito de Amor por cada pessoa que busca a Paz. Nas 3 missas que celebrei hoje, o abecedário de nomes esteve presente. Que o fogo de Deus nos ajude a sermos promotores de Paz e de Vida.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Dia da criança (com uma criança muito especial)




[Por manter a mesma vida, repesco o que escrevi há três anos, fazendo um acrescento final especial] Crianças, que nós adultos sejamos capazes de vos libertar de toda a escravidão, dando-vos a possibilidade de crescerem aos vossos ritmos. Crianças, que nós adultos permitamos que os vossos trabalhos sejam sempre de descoberta e de gozo, nunca vos cortando o sonho e a imaginação. Crianças, que nós adultos sejamos sempre motivadores da vossa existência, da vossa educação e do vosso sorriso, sendo cada um de nós amparo nas vossas quedas. Crianças, façam-nos recordar a criatividade que permite encontrar uma nova personagem em cada objecto ou nuvem e que todos somos convidados a brincar “infinitos” ao longo da vida… como o meu pai José que, ao celebrar o aniversário em dia da criança, e a partir de hoje conta com 60, ajuda-me a recordar a beleza do humor em conjunto. A mãe Maria dá sempre os parabéns às duas crianças lá de casa! Pai, és o maior!