segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pacto de Varsóvia 3

Pacto de Varsóvia 2

Pacto de Varsóvia 1

Tokio Hotel

Vi anteontem na TV o acampamento de adolescentes, alguns acompanhados pelos paizinhos babados, à porta do Pavilhão Atlântico, a espreitarem das tendas. E quase não acreditei. Hoje leio nos jornais que 18.000 estiveram no dito pavilhão, com paizinhos e mãezinhas entusiasmados com as escolhas das suas crias, para ouvir/ver os Tokio Hotel. Confesso a minha falta de cultura: não os conhecia. Tal como na "Balada da Neve", fui ver. E vi quatro "pitinhos" com cristas, piercings e cara de miúdos. Valerão eles a histeria adolescente? Recordo que quando era mais ou menos da idade deles havia comportamentos semelhantes com o Elvis ou os "Beatles". Valeram eles essa histeria? Acho que, por muito bons que tenham sido ou sejam, o que vale a pena é ser assim da sua idade e vivê-la com as emoções próprias dessa idade. Depois há tempo para outros valores e outras emoções. Mas a música destes Tokio Hotel não me convence. Mas também com a minha idade...

domingo, 29 de junho de 2008

Y viva España!!

E viva Espanha!

O herói da noite, Fernando Torres

Antecipando-me ao nosso especialista em futebol, Morgado Louro: isto sim, é futebol. A Espanha ganhou e ganhou bem, com uma equipa excelente, um jogo vivo, acutilante, em velocidade, inteligente, empolgante. Aragonês sai em beleza. Torres, David Silva, Sergio Ramos, Senna, sensacionais. Contra o que tinha prometido, gritei golo e não olé! Não foi uma tourada. Foi futebol e do bom.

Em dia de S. Pedro

Talvez por hoje ser dia de S. Pedro, o último dos Santos Populares a ser celebrado, a RTP passou a "Aldeia da Roupa Branca", cuja história se passa numa aldeia da zona saloia, algures entre Caneças e a Malveira, erigida ao lado do estúdio, onde a principal actividade era lavar roupa para as famílias da burguesia lisboeta. Um tema popular, mas caro ao Estado Novo: a vida rural melhor que a urbana, as gentes da "província" mais sãs que as citadinas - assinado por Chianca de Garcia (que disse uma verdade que os nossos actuais cineastas deviam recordar -" o cinema português deve contar-nos histórias que o povo sinta, compreenda e viva...") com a colaboração, imagine-se, do poeta comunista José Gomes Ferreira e do socialista Ramada Curto. Filme de 1938, com Beatriz Costa e outros nomes conhecidos e apreciados do teatro, como Santos Carvalho, Elvira Velez e Milú.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A caminho do Far West... vai um país aos trambolhões




Um tribunal condenou um energúmeno que ameaçou uma Juíza, com uma multa de 900 euros.



Dois condenados por tráfico, ao conhecerem a sentença, agrediram os juízes. A SIC noticias, cobriu o primeiro caso, dando voz ao pastor, que já enfrentara a Justiça por acto idêntico, que de chapéu de cowboy, disse que nunca agrediria uma mulher e que a justiça portuguesa era uma vergonha.



Este País está a saque e nem os magistrados escapam -a Escola teve a primazia - à violência. Ou o Poder assume a sua autoridade sem complexos e castiga exemplarmente estes selvagens ou Portugal vira Far West, como já percebeu o agressor da juíza, que se apresentou trajado a rigor.
O futebol são 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha*
*De Portugal a Inglaterra, todos dizemos o mesmo.
Nunca mais!
Domingo, io quiero, tu quieres, ... que España va a ganar lo Euro.

The Fratelis


Têm nome de familia de circo italiana, mas o sabor é mais a profiteroles de chocolate com natas... yammy! Ladies and gentlemen*, The Fratelis... pah, tou vicíado!
*em português Portuguesas e portugueses

Vamos a contas

Se ganhar o Euro, cada jogador recebe:
Alemanha - 250,000€
Espanha - 214,000€
...
Portugal (k já foi) - 300,000€
Depois da Holanda e da Russia (ontem decapitada pelos nuestros hermanos) de fora, a Espanha ganhará!
Foi um mau jogo de futebol, uma luta desigual, a Espanha com 11 jogadores parecia ocupar o campo inteiro, o médio maravilha Arshavin parecia preso a um colete de forças, dominado por Senna, Puyol e Marchena. A Russia jogou com menos 2 jogadores muito importantes (amarelados), mas o mérito vai todo para o Aragonês e para a equipa, concentração incrível, um nível de jogo ganhador, trocar e aguentar a bola, não deixar jogar a Russia que chegou a parecer um daqueles insectos, presos numa caixa que lutam desesperadamente para sair. O efeito é o mesmo, foi penoso ver.

E porque é sexta-feira...

Tainted Love
Soft Cell

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ó Mar Salgado
Quantas das tuas passwords
São do Sporting Clube de Portugal

Está quase... eles estão a chegar...

Decisões da UEFA

A UEFA tem tomado algumas decisões polémicas, a defesa da arbitragem parece-me coisa à ministro da propaganda iraquiano mas compreensível, já a filtragem de imagens a/não transmitir coloca mais questões.

No início, nos estádios eram passados em repeat lances polémicos, levando a cenas de pancadaria entre espectadores, no fim, corta-se! Na memória vai ficar o lance de penalti sobre Nuno Gomes (não deu para ver se foi ou não) mas também, as 4 e 5 passagens do pseudo teatro de Ronaldo (ele foi pisado mas esse nano segundo foi cortado).

Ontem, durante a meia final Alemanha Turquia aconteceu mais um incidente, só visto por quem lá estava, um manifestante pró tibete invadiu o campo, nas nossas casas, o jogo prosseguiu calmamente...
Vão-me desculpar, mas, qual o problema da nossa bandeira? São as cores, que alguém avançou, serem apenas usadas por países Africanos? É a esfera armilar, os pagodes ... sorry, as quinas, o escudo, é o conjunto?

É por não se gostar da bandeira que alguns não a penduram à janela ou a trazem no carro? O fundo branco da monarquia era mais bonito, e aí até podiamos ficar com a bandeira mais bonita do planeta, para alguns, quiça até de Portugal, mas... a Stars and Strikes parece um perna de pau, a Union Jack parece um sinal de trânsito a indicar um cruzamento maluco...

E se as cores são africanas, porque não? Ou renega-se agora a nossa ligação a África, tão útil em outras circunstancias.

Há uns anos, uma team publicitária chegou a propôr, o redesenho da bandeira, quase na mesma onda do Allgarve, fins de marketing... Snobismos à parte, do único país cujo prato nacional é importado, assumamos com honra o que é nosso e herdámos dos nossos egréjios avós.
Comigo, é como se fosse um filho, não é bonito nem feio, é meu!

Youth For Human Rights

http://www.youthforhumanrights.org

Porque é verão II


Continuando na onda da silly season, chega-me por e-mail a informação de que decorre na internet (onde mais?) uma votação para eleger a bandeira mais bonita do mundo. Ao que parece, foram os espanhóis que se lembraram desta o que, de certeza, deixou muitos portugueses furiosos! Bom, mas em todo o caso, em 120 bandeiras, a nossa (que está longe de ser a mais bonita) está em 17º. E Português que é Português defende a sua bandeira! Por isso, já que é verão e a futilidade é permitida, toca a votar!





quarta-feira, 25 de junho de 2008

Porque é verão



O verão também é conhecido por silly season e se calhar o calor não nos deixa mesmo fazer mais... Hoje o post é frívolo mas também temos direito a momentos de pura futilidade. E isto tudo por causa do quê? Bom, isto tudo por causa de um blog que conheci através do Luís e que tem-se tornado de consulta obrigatória desde então. É bom para quem gosta de ver gente com estilo! Já ando para falar disto há algum tempo. Today is the day!

The Sartorialist é o blog de Scott Schuman um homem que tem trabalhado no mundo da moda grande parte da sua vida. Fotografa as pessoas comuns, na rua, mas também fotografa as pessoas pelos eventos de moda do mundo inteiro. Arriscamo-nos a dizer que é a estética perto da perfeição. Mas também perto da normalidade. Porque nem todos somos Brads Pitts ou Giseles Bunchens e a moda também é para nós! Um dia gostavamos de ter metade do estilo desta gente que ele encontra por aí!

Benfica na Liga dos Campeões

Hoje não é sexta-feira (mas bem podia ser!)



Give it 2 me
(Madonna)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Cenas que arrepiam

Bryan Wilson foi o coração dos Beach Boys como força creativa, aliás, o génio musical que parecia adormecido desde os grandes mestres da música clássica, parece ter encarnado em Bryan. Exagero? Talvez, para alguns, para mim, quando os recupero, é o que sinto. Esqueço os outros e concentro-me nestes rapazes, que viram no Surf nos anos 50 e 60, o mote perfeito para explodirem no mundo da música, afinal, Bryan Wilson nem precisava de se pôr em cima da prancha, ele só aproveitou a atracção pelo clima das noites de verão, a onda cool, a California e as babes, para daí nascer o fenomeno Beach Boys - até nisso houve génio! I, I love the colorful clothes she wares... é o início de Good Vibrations, a música que foi retirada do Pet Sounds, porque... o LP já estava demasiado bom! Foi deixada então para o próximo álbum. Mas o que é isto de Pet Sounds? Para muitos, o melhor LP da história da música, produção, musicalidade, letras, inovação, criatividade/ originalidade, vozes, instrumentação, tudo nota a explodir com a escala. De Caroline I know até Caroline no, bastou a Wilson entoar a letra para muitas das transformações e leituras dúbias do album. Bem, mas o Pet Sounds até surge numa "maturidade" artistica dos boys, antes, algum tempo antes, havia este Don´t worry baby. Cuidado, para chorar :) !!!

Mudar-te a sorte



Os búzios
(Ana Moura)

"Havia a solidão da prece num olhar triste
Como se os seus olhos fossem as portas de pranto
Sinal da cruz que persiste, os dedos contra o quebranto
E os búzios que a velha lançava sobre um velho manto

Há espera está um grande amor, mas guarda segredo
Vazio tens o teu coração na porta do medo
Vê como os búzios cairam virados p'ra norte
Pois eu vou mexer no destino vou mudar-te a sorte

Havia um desespero intenso na sua voz
O quarto cheirava a insenso e mais uns quantos pós
A velha agitava o lenço, dobrou, deu-lhe dois nós
E o seu pai de santo falou, usando-lhe a voz

Há espera está um grande amor mas guarda segredo
Vazio, tens o teu coração na porta do medo
Vê como os búzios cairam virados p'ra norte
Pois eu vou mexer no destino vou mudar-te a sorte"

domingo, 22 de junho de 2008

O novo melhor: Arshavin e a Russia


A melhor equipa do euro derrotou a melhor equipa do euro. A Russia de Arshvin a vencer a Holanda Sneijder, e se Sneijder tinha sido o melhor do euro até este jogo, Arshavin destronou-o. Este ano vai ser a explosão dos dois, Ronaldo que comece a jogar ou não será o melhor. Luta constante durante 120m, a Russia venceu até aos 86m, com van der Saar a ser batido duas vezes no prolongamento, até lá, houve futebol do melhor, jogadas e rasgos individuais, remates à barra, remates para grandes defesas, sem cedências. A Russia não descansou nem fez descansar após o golo, uma equipa incrível, a acordar na fase final dos oitavos para vencer este euro. O próximo adversário é a Espanha, em mais uma final antecipada. Na final um encontrar-se-á com a Alemanha ou Turquia, ambas equipas inferiores, mas com capacidade de sobrevivência e de virar o resultado. Tá a Grande o Euro!

sábado, 21 de junho de 2008

Don't give up, you are loved

Oiço-o frequentemente na RFM. Mas não sabia o nome. Hoje vi, por acaso, um DVD seu. Gostei. Já oiço as críticas: é romântico, meloso, uma voz e um tipo de música ultrapassados, etc e tal. Pois será. Mas eu gosto. Aqui fica Josh Groban. Espero que mais alguém goste.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A Saga Maria das Dores

Sigo com alguma atenção a saga da Maria das Dores, a socialite que foi condenada a 23 anos de prisão por ter mandado matar o marido.
E é novamente notícia esta semana na LUX pelo facto de já se ter tentado suicidar duas vezes.
Perante esta tragédia o seu filho David Motta comenta da forma mais brilhante que alguma vez já li e passo a citar: «Acho que é a criatividade ao serviço da sobrevivência». Brutal, esmagador, sem palavras....

E nós é que sofremos

«Tenho um Eládio Clímaco dentro de mim.»
José Carlos Malato in Correio da Manhã
Porugal sai deste Europeu, de forma desgraçada. Não importa tentar sacar culpas nem disfarça-las, dizendo que fomos superiores, ou somos melhores. Não fomos superiores porque os boches marcaram e nós não defendemos, jogámos melhor a espaços, lutámos mas com as armas que tinhamos, e que não tinhamos. Nomes? Há muitos, mas quero esquece-los. Importa lembrar um Deco maravilhoso, Pepe, Simão, Ricardo Carvalho, Petit e até o Nuno Gomes, Nani que entrou tarde e deixou o corpo em campo, Postiga e mais nenhum. E que fique como última imagem, o golaço de Postiga, gravem aquela imagem e a exibam como paradigma, não é só o golo, é a vontade e determinação que se vê no olhar de Postiga, faltou isso a alguns jogadores, quanto ao técnico, vais pagá-las no Chelsea.
Quanto aos outros, um pouco de dignidade e peçam desculpa, pelo que fizeram e pelo que não fizeram.

Portugal, a escola, a matemática e a Ministra da Educação

Ontem a Ministra da Educação veio a terreno fazer o elogio dos resultados nos exames nacionais de matemática. Aumentaram as positivas, pelos vistos, terá aumentado o rigor e o profissionalismo de quem ensina e os alunos ficaram, da noite para o dia, mais inteligentes.
O que todos se esqueceram de perguntar foi qual foi o grau de exigência deste exame nacional de matemática. Pelos visto e é reconhecido por pais e associações que o exame de matemática foi excessivamente fácil para aquilo que era exigido.
Portanto, podemos concluir que os alunos não ficaram por milagre mais inteligentes, que os professores não foram nem mais exigentes, nem mais rigorosos e assim a escola não foi uma melhor escola, não se ensinou melhor, nem se aprendeu mais.
E a sra. Ministra fez o papel ridículo em vir dizer que mais uma vez fizemos o caminho da mediocridade. Vamos pelo bom caminho...

E porque é sexta-feira...

A Little Respect
(Erasure)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Vamos lá viver este sonho

Para ti

Parece Natal e somos putos dominados pela ansiedade, nunca mais chega a distribuição das prendas, quero a bola... Mais 2h para a pele começar a ferver. Ainda vou dar um mergulho à praia.

Eu Acredito*

Parece que metade de Portugal vai casar, sente-se nervosismo até nos semáforos, notei mais carros na estrada, toda a gente em grandes preparativos, roupa verde, encarnada ou amarela, o spot para ver o jogo já está reservado, as minis no frigo desde 2f - pq no supermercado - Já não há, e tudo porque logo à noite joga a selecção. A pergunta que eu coloco é: Os Jogadores, Os Tugas, Os Emigrantes leram o Segredo!?!?!?
Mas se leram o Segredo, e os Alemães também o leram, e se os Alemães são mais do que nós, isto quer dizer, que já perdemos?

E o Cristiano Ronaldo, leu o Segredo? É por isso que é um dos melhores?
Mas o que é o Segredo? Perguntei? Em que mundo vives mike, não leste? Era o único, que nem li, nem sabia. Lá me explicaram. Sorri e calei. Metade do mundo, ou não pensa, ou precisa que pensem por eles, esse livro não é mais do que a sistematização de focar num objectivo, estar atento, e direccionar toda a força para que ele aconteça. Os desportistas de alta competição fazem isso. Até a menina que pesa 80kg e quer pesar 60kg o faz. Mas depois, esquece-se. Exemplo: um toxicodepente, precisa de uns aéreos para comprar cavalo. Concentra-se que tem de andar a pedir dinheiro, inventa 1001 desculpas, histórias, ao fim do dia, 1cent aqui, 1cent ali, lá vai ele todo contente ao casal comprar comida. Cria-se uma teoria, um edificio inabalável e inatacável, com meia duzia de filósofos, cientistas, etc etc (qualquer detergente, qualquer pasta dentrifica, usa o mesmo esquema para vender) e está tudo, temos best seller, estamos ricos!

O que é preciso é acreditar (upsss lá vem o Segredo!), e se isso faz o people feliz, tá tudo!

Agora um pouco mais a sério, todas estas teorias à volta da energia, têm fundamento, mas não desta forma! Sem segredos e sem teorias conspirativas por favor, natural, sem gás e sem sabores!

*Eu Acredito! Mas só depois, daquela malta começar a jogar e mostrar a dinâmica e a força com que entra em campo. Se perdermos, que o façamos bem! E retiro-me, vou entrar em estágio também.

Sabe-me a boca a fado



"Quando me sinto só,
Como tu me deixaste,
Mais só que um vagabundo
Num banco de jardim
É quando tenho dó,
De mim e por contraste
Eu tenho ódio ao mundo
Que nos separa assim.

Quando me sinto só
Sabe-me a boca a fado
Lamento de quem chora
A sua triste mágoa
Rastejando no pó
Meu coração cansado
Lembra uma velha nora
Morrendo à sede de água.

P'ra que não façam pouco
Procuro não gritar
A quem pergunta minto
Não quero que tenham dó
Num egoísmo louco
Eu chego a desejar
Que sintas o que sinto
Quando me sinto só."

Felizmente há luar!


"Ensina-se-lhes que sejam valentes, para um dia virem a ser julgados por covardes! Ensina-se-lhes que sejam justos, para viverem num Mundo em que reina a injustiça! Ensina-se-lhes que sejam leais, para que a lealdade, um dia, os leve à forca! Não seria mais humano, mais honesto, ensiná-los, de, pequeninos, a viverem em paz com a hipocrisia do mundo?
Quem é mais feliz; o que luta por uma vida digna e acaba na forca, ou o que vive em paz com a sua inconsciência e acaba respeitado por todos?"


Luís de Sttau Monteiro, in 'Felizmente Há Luar!' (Acto II)

É hoje.


"Escolhi um encontro para o meu pai ao ar livre por razões que a todos os que o conheceram devem fazer sorrir: na verdade procurava uma esquina, e uma esquina porque há uma estória de que gosto muito: conta a Sofia que um dia encontrou o pai numa esquina dentro do centro comercial das amoreiras, o centro estava cheio de gente e o pai estava tranquilamente numa esquina a ler um livro de poesia... (porque o pai sempre referiu este seu tão doce e forte mistério: sou nervoso por fora e calmo muito calmo por dentro – frase que repetiu até ao fim da sua vida)
(...)
Através dessa vida visível, dessa vida acontecida ao vivo fez também o seu percurso político, e também este está por contar ou sobretudo por reunir e entender porque mais uma vez foi urgente viver a politica, faze-la acontecer mais do que escreve-la.
(...)
O meu pai deixou para todos nós esta ideia de um registo posterior, uma tarefa de realizar um puzzle (a sua vida politica como a de afectos foi vivida em peças) onde o fio à meada terá que ser descoberto por nós. E todos nós sabemos que a vida do meu pai nesse sentido está por contar...(de novo sobretudo por juntar) e que esse quase jogo implica um convívio entre nós, umas trocas de impressões (!) e que este faria todo o sentido ser a sua proposta a todos nós."

Marta Wengorovius


Acção 'VICTOR WENGOROVIUS – A VIDA VISÍVEL'
no Jardim do Principe Real (Quisque do Oliveira)
dia 19 de Junho pelas 18H


Programa:

18H - Encontro ( Quiosque do Oliveira/ Jardim do Príncipe Real)
19H - Mesa redonda ao ar livre (Jardim do Príncipe Real)
Percurso cívico e politico de Victor Wengorovius (partilha de testemunhos)
21H - Festa (Jardim do Príncipe Real) – picnic


Victor Wengorovius
Nascido em 1937, em Setúbal, Víctor Wengorovius foi dirigente da Juventude Universitária Católica e esteve ao lado de Jorge Sampaio nas lutas académicas e na Comissão Democrática Eleitoral de 1969 de Lisboa.Em 1974, ajudou a fundar o Movimento de Esquerda Socialista, uma organização nascida a partir da ala católica da CDE e do movimento estudantil pré-25 de Abril de 1974, do qual fizeram parte, entre outros, o ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, o ex-secretário-geral do PS Ferro Rodrigues, José Manuel Galvão Telles e João Cravinho. Foi durante 21 anos, entre 1970 e 1991, advogado do Sindicato de Jornalistas e foi também advogado de vários movimentos sindicais. Em 1999, foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Ai nostri desir




E para o João, a sua Kiri Ti Kanawa, aqui com 156 anos (em 2006), mas olhe, ainda canta!




Isto enquanto não vêm outras ondas. Por cá! Porque nas Maldivas, o Saca ficou num brilhante 5º lugar numa prova 6 estrelas do WQS! Aí em grande na imagem.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Fidelio de L. van Beethoven

2008/2009 vai ser Bom ano. Há dois Fidelios para devorar. Um perto, no CCB em versão de concerto com a bomba Anja Kampe, e um pouco mais longe, no Liceu de Barça com Karita Matila.

http://www.youtube.com/watch?v=pJEUqzFcLkQ&feature=related

No CCB há ainda um ciclo dedicado a Mishima, o samurai japo que Mega se entreteve a traduzir.

E a propósito de luar...


A convite do Ministério da Defesa Nacional A BARRACA vai apresentar hoje uma sessão especial do espectáculo “Felizmente Há Luar!” de Luís de Sttau Monteiro, no Forte de S. Julião da Barra.
A partir da obra de Raul Brandão “Vida e Morte de Gomes Freire”, Luis de Sttau Monteiro mostra-nos o reino de Portugal sob o domínio dos ingleses que ocuparam o país no seguimento da vitória sobre as invasões francesas. A ditadura de William Beresford, o “aliado” ocupante, serve a Sttau Monteiro para mostrar os mecanismos de denúncia e traição que os regimes ditatoriais sempre fomentam e assim aproximar aquele período do século XIX da ditadura de Salazar sob a qual viveu.
A obra escrita em 1961 aproxima Gomes Freire de Andrade de Humberto Delgado, candidato da oposição a Salazar, que como o primeiro acaba assassinado pelo regime a que se opôs.
A peça tem 2 actos. O primeiro acto mostra-nos o ambiente que precede a revolta que, a triunfar, trará de volta o rei D. João VI a Portugal e promulgará uma monarquia constitucional. Intrigas, denúncias, mas também o povo esperançado a avançar na sua luta. O acto tem um ritmo rápido, através do qual são apresentados os vários grupos sociais que estão em jogo e termina com a prisão de Gomes Freire de Andrade.
O segundo acto mostra-nos o desânimo geral devido à prisão do General. Tal como no tempo de Salazar a polícia actua sobre os civis evitando que a revolta se propague. Matilde, a mulher de Gomes Freire de Andrade, (interpretada no espectáculo por Maria do Céu Guerra) personagem que embora tendo existido realmente, é na peça romantizada e enfatizada pelo autor que lhe confere o papel da corajosa protagonista que tudo arrisca para salvar o “seu herói” com quem partilhou amor, vida e convicções durante muitos anos. O ritmo deste acto é mais lento, mais trágico, mais belo. Tudo caminha para a fatalidade. O herói será sacrificado. No fim só nos resta esperar que o heroísmo do grande patriota dê frutos e exemplo na resistência à tirania.


Ficha Artística e Técnica
Texto: Luis de Sttau Monteiro
Encenação: Helder Costa
Elenco: Maria do Céu Guerra, Jorge Gomes Ribeiro, Luis Thomar, Adérito Lopes, Pedro Borges, Rita Fernandes, Sérgio Moras, Sérgio Moura Afonso, Susana Costa

Esta noite há lua cheia...

Jorge Luís Borges

O nome Impressiona. A figura ainda mais, nunca o vi, nem cruzei alguma vez com as suas medidas, mas imagino-o grande. Maior do que isto tudo, é a sua cabeça, tida como uma das maiores que a Literatura ou as Artes já viram. Este Argentino, à direita, amigo, admirador e divulgador de Adolfo Bioy Casares (outro génio), onde sempre que se lhe referem enunciam: A Biblioteca de Babel! Quase uma cidade de ouro: existiu ou foi criada para fazer o homem sonhar? Li o conto, mas continuo sem perceber puto! Em outras referências, parece-me ter encontrado, uma lista do que Borges considerava -imprescindível! - a qual sempre associei a esta Biblioteca, mas talvez seja outra. Borges o poeta, mas o que escreveu Ficções. Um dos poetas - Sophia teve os seus Contos Exemplares - que fez do conto - considerado por muitos como menor (?) - uma forma maior (!) que milhões de romances. Borges que desconheço com pena minha, li pouco, por vezes acho-o inacessível, labirintico, quase do tipo - vou esperar mais 10 anos para o ler. Mas já passaram outros tantos, e ele continua, figura mitica, agora, esta 6f, pela mão de Maria Kodama (a sua viúva) e José Saramago, que se reunem para falar sobre o homem, a vida e obra e talvez, sobre a sua ascendência portuguesa. É grande factor de orgulho este, já temos Camões, Pessoa, Padre António Vieira, Sophia, Sena, Saramago e tantos outros que figuram como dos maiores no campo das Letras... e juntemos ainda os que de tugas descendem: John dos Passos e Borges!

Anfiteatro da Biblioteca Nacional, dia 20, sexta-feira, pelas 18h30

terça-feira, 17 de junho de 2008

I only ask of God

Outlandish


"I only ask of God
He won't let me be indifferent to the suffering
That the very dried up death doesn't find me
Empty and without having given my everything

I only ask of God
He won't let me be indifferent to the wars
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people

People...people, people

I only ask of God
He won't let me be indifferent to the injustice
That they do not slap my other cheek
After a claw has scratched my whole body

I only ask of God
He won't let me be indifferent to the wars
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people

People...people...people

Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente"
And if I was smiling and running into your arms, would you see than what I see now?

Lendo os outros


"Cavaco Silva falou em "dia da raça", e estalou o escândalo entre os polícias do vocabulário. BE e PCP dizem que o Presidente recuperou o vocabulário nacionalista e racista do Estado Novo. Eis um notável exercício de demagogia política que, com certeza, provocou lágrimas comovidas nas carcaças de Lenine e Trotsky.
BE e PCP têm sempre Salazar na boca. Aqueles que não concordam com bloquistas e comunistas continuam a ser apelidados salazaristas. Parece que o velho ditador está sempre ao virar da esquina. E, atenção, esta obsessão não aparece por acaso. Convém recordar que o BE e o PCP possuem uma cultura política muito semelhante ao salazarismo. Repito: Louçã e Jerónimo são iguais a Salazar em muitos aspectos. Tal como Salazar, Louçã e Jerónimo são anticosmopolitas, isto é, querem um Portugal fechado em relação ao exterior. Bloquistas e comunistas partilham com os salazaristas o sentimento anti-EUA e anti-UE. À imagem de Salazar, Louçã e Jerónimo querem exilar Portugal; o país não deve ter contacto político, económico e cultural com a globalização. Salazar escondeu-nos do mundo através de uma política proteccionista e paternalista que colocava a sociedade na dependência do Estado. BE e PCP têm a mesma visão. O Estado socialista, dizem, deve proteger os portugueses do vírus liberal oriundo de Bruxelas e Washington. O isolacionismo provinciano e nacionalista de Salazar está vivinho da silva no BE e no PCP.
Salazar, Jerónimo e Louçã poderiam sentar-se, tomar um chá e conversar durante horas sobre aquilo que os une: o ódio visceral que sentem contra a sociedade liberal composta por indivíduos cosmopolitas e não por grupos nacionalistas. O léxico corporativista de Salazar será muito diferente do vocabulário sindical de BE e PCP? (...)
"


Henrique Raposo, in Expresso

Já está!




O meu Smart já está nas mãos de novos proprietários. Termina o meu ciclo de automobilista. Há uns 1o anos que eu tenho carro. Primeiro um Civic que os meus pais me ofereceram depois de muito namoro e depois este Smart Roadster com o qual me fartei de divertir! Estou um pouco assustado mas acho promissora esta fase sem carro. Amigos, vou precisar de boleias!
Já! Já! Já!
Num repente as aves
Das águas levantam

Haiku

I'm missing you

Um estado de alma que está a assaltar alguns insectos

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Apesar da derrota de ontem

O dia há-de nascer
Rasgar a escuridão
Fazer o sonho amanhecer
Ao som da canção.
E então...
O amor há-de vencer
E a alma libertar
Mil fogos ardem sem se ver
Na luz do nosso olhar
Na luz do nosso olhar.
Um dia há-de se ouvir
O cântico final
Porque afinal falta cumprir
O amor a Portugal
O amor a Portugal!

Ronaldo vs Van der Saar


Conhecem-se bem do Manchester United, há pouco tempo celebraram juntos a conquista da Champions, agora, há o risco desejado de haver um confronto. O que nós queremos: uma final entre a Holanda e Portugal. Vai ser bom assistir ao combate das duas feras. Van der Saar defende a baliza como uma mãe a cria, Ronaldo é temível pela velocidade, os dribles de magia e o pontapé poderoso - um Leão!

Odisseia no Espaço


Sem a música de Strauss!

Caça à baleia - Japão



Mãe e cria. E então, não se preserva a espécie?

De partir o coração


Para quem tem acompanhado o Euro, há uma equipa que Sobressai. A Holanda tem mostrado o melhor futebol e contra os melhores, arrumou com a Itália (campeã do mundo, 3 golos!) e levou a França a ajoelhar-se (campeã do mundo com Zidane em 2002 e vice-campeã em 2006 e deu-lhe 4!). Este Holanda 4 - França 1 foi mesmo considerado dos melhores jogos de sempre, eu vi e sei que horas depois ainda estava em euforia, a Holanda de Van Basten, é a mesma que impressionou todos há anos, quando foram campeões europeus precisamente com o trio maravilha Van Basten - Rijkaard e Gullit. Todos temos um favorito lá por fora, era raro quem não torcia pelo Barcelona, em selecções torço pela Holanda e pela Itália.


É impressionante a frente atacante laranja, um mago do futebol este Sneijder (Real Madrid), baixa estatura a operar maravilhas. Já tinha marcado um dos golos mais belos frente à Itália e com a França, remata para o 4-1 com um golo soberbo, até agora o melhor do Euro. Van der Saar é imbatível na baliza, van Nistelrooy, Kuyt, Robben, o resto da team, todos incriveis. A juntar a tudo, soma-se um espirito que não tem comparação, a exaltação ajuda, mas... celebrarem a vitória com os filhos ao colo, é único! Esta Team é de partir o coração lol!
A ver, devido a uma série de factos, não vi o jogo ontem. Em retorno, tive um belo de um jantar! Mas, estou como Mourinho, o jogo de ontem arrefeceu e não dava pica, sabiamo-lo à partida. Nada mais errado, estava em causa o prestigio de cada um dos jogadores que ontem foi titular, o prestigio de Portugal e 1 milhão de euros, prémio que a UEFA atribui a cada vitória neste euro.

Fomos vitimas de má arbitragem, azar, excesso de individualismo, inexperiência, mau comando técnico mas sobretudo de -Incapacidade de Virar o Resultado. Mais e muito e maior e melhor trabalho, Alemanha ou Austria, ninguém perdoa se não os vencermos.

Se estes rapazes soubessem, quando perdem uma nação inteira chora...

Hold still for a moment and I'll find you

"In this little town
cars they don't slow down
The lonely people here
They throw lonely stares
Into their lonely hearts
I watch the traffic lights
I drift on Christmas nights
I wanna set it straight
I wanna make it right
But girl you're so far away
Oh, hold still for a moment and I'll find you
I'm so close, I'm just a small step behind you girl
And I could hold you if you just stood still
I jaywalk through this town
I drop leaves on the ground
But lonely people here
Just gaze their eyes on air
And miss the autumn roar
I roam through traffic lights
I fade through Christmas nights
I wanna set it straight
I wanna make it right
But man you're so far away
Oh, I'll hold still for a moment so you'll find me
You're so close, I can feel you all around me boy
I know you're somewhere out there
I know you're somewhere out there
Oh, hold still for a moment and I'll find you
You're so close, I can feel you all around me
And I could hold you if you just stood still
Oh, I'll hold still for a moment so you'll find me
I'm so close, I'm just a small step behind you
I know you're somewhere out there"

David Fonseca (Feat. Rita Redshoes) in 'Our heart will beat as one'

domingo, 15 de junho de 2008

Não, pois não?

Quando se ama muito, é possível amar por dois?

Boas notícias: novo livro de Valter Hugo Mãe à venda em Julho


«maria da graça – mulher-a-dias em bragança esquecida do mundo – tem a ambição, não tão secreta como isso, de morrer de amor; e por essa razão sonha recorrentemente com a entrada no paraíso, onde vai à procura do senhor ferreira, seu antigo patrão, que, apesar de sovina e abusador, lhe falou de goya, rilke, bergman ou mozart como homens que impressionaram o próprio deus. mas às portas do céu acotovelam-se mercadores de souvenirs em brigas constantes e são pedro não faz mais do que a enxotar dali a cada visita.

tal como maria da graça, todas as personagens deste livro buscam o seu paraíso; e, aflitas com a esperança, ou esperança nenhuma, de um dia serem felizes, acham que a felicidade vale qualquer risco, nem que seja para as lançar alegremente no abismo.

o apocalipse dos trabalhadores é um retrato do nosso tempo, feito da precariedade e dessa esperança difícil. um retrato desenhado através de duas mulheres-a-dias, um reformado e um jovem ucraniano que reflectem sobre os caminhos sinuosos do engenho e da vontade humana num portugal com cada vez mais imigrantes e sobre a forma como isso parece perturbar a sociedade.»

(na contracapa do livro)

Igreja e Actualidade - Em resposta a estatísticas...



Duas notícias recentes, ambas com base estatística, sobre Igreja ou ligadas de alguma forma à questão religiosa, fizeram-me pensar. Uma foi publicada no "Expresso" de 7 de Junho, outra no "Público" de 10 de Junho. A do "Expresso" referia-se a uma estatística feita pelo Patriarcado de Lisboa, onde como conclusão se afirmava o decréscimo acentuado de fiéis na Igreja. A do "Público" referia-se a um inquérito feito a portugueses, em que, numa das questões, aproximadamente 90% dos inquiridos afirma que ser português é ser católico.

À partida, nada de novo, quer numa notícia, quer noutra. No entanto, estas notícias levantam-me algumas questões. Antes de mais, qual foi o objectivo do "Expresso" ao apresentar um artigo com destaque de primeira página, através de uma fotografia – um padre a celebrar missa diante de três senhoras –, quando depois é apresentado na segunda metade da página outra grande fotografia de alguém de joelhos em Fátima? O meu primeiro pensamento: será que esta é a realidade concreta da Igreja? Nalguns caso, atrevo-me a dizer que sim… Mas, a Igreja é mais do que isto… E o objectivo do "Expresso" foi dar uma imagem negativa da Igreja? Porquê? Além do mais, uma ou duas semanas antes, na "Única", a propósito da pobreza em Setúbal, entrevistaram D. Manuel Martins – bispo emérito de Setúbal – em que percebi um agradecimento ao que este, em nome da Igreja, fez por aquela região.

Em relação à notícia do "Público": mas o que significa isto, 90% dos inquiridos afirmarem que ser português é ser católico? Para onde é que estes dados nos apontam? O que é pertencer à Igreja Católica? Será simplesmente uma forma de seguimento de uma tradição, ou uma convicção consciente de compromisso diante da Igreja? De facto, conforme o questionamento que se coloca perante este dado, podemos ver nele vários sentidos. Se pensar de forma mais pessimista, tendo a notícia do "Expresso" como pano de fundo, vejo aqui mais uma questão de tradição, do que propriamente um sentido de pertença ou compromisso. Se pensar de forma mais optimista, afinal há mais crentes, pelo menos em Portugal – e no resto do mundo também – do que se pensa…

Expostos os factos, ainda assim, creio que a questão não fica rapidamente arrumada. Quer de um lado quer de outro, encontro alguma razão de ser. Ou seja, não é novidade que a Igreja, sobretudo a Igreja portuguesa, tem de (re)pensar o seu modo de estar no mundo. Basta recordar a mensagem que Bento XVI leu, há pouco mais de 6 meses, aos bispos portugueses, levantava este tipo de questionamentos dentro da própria Igreja. Na altura escrevi um texto – Pensamentos Soltos, no qual aponto o que senti sobre a minha leitura da mensagem de Bento XVI. De facto, nós, Igreja, precisamos escutar os sinais dos tempos, e, como é sabido, são tempos que passam a uma velocidade cada vez mais rápida, com transformações a vários níveis. Como é que se escuta os sinais dos tempos? Escutando as pessoas, o que de fundo são os seus anseios, dúvidas e inquietações. Talvez nos dias de hoje as inquietações das pessoas já não sejam se vão parar ao inferno ou não, mas, do que me apercebo, se, já nesta vida, são acolhidas enquanto pessoas que são e não diluídas numa sociedade como objectos de comércio e de consumo. Onde a rotina, a diluição na sociedade, ganha espaço a uma vida com sentido.

Como exemplo, dou por mim a pensar sobre "O Código Da Vinci" e livros semelhantes – Mais do que ser(em) bom(ns) ou mau(s) romance(s), até mesmo nas questões teológicas, o que poderá significar a quantidade de livros vendidos? Será que as pessoas não estão à procura de um Jesus mais humano? Bem, não é que o que eu conheço e com o qual me identifico não o seja, mas na verdade não se pode esquecer que durante muitos séculos as imagens de Deus e de Jesus pregadas não foram propriamente das mais famosas. E, sem dúvida, hoje estamos a sofrer as consequências desse tremor incutido, de uma má catequese, de uma má formação, até mesmo de um clericalismo que elevou os padres, colocando-os num tipo de pedestal de que Jesus sempre se afastou. Recentemente, o Cardeal Martini, apontou alguns pecados da Igreja, nomeadamente a inveja, o carreirismo e, nalgumas situações, a vontade de poder.

Tenho a noção de que estou a ser um pouco forte ao apontar estas críticas, mas está na altura de perdermos o medo de reconhecer as nossas fraquezas. Enquanto humanos somos frágeis. Em cada Domingo no Credo, afirmamos crer na Igreja Santa e Pecadora. Como é sabido, o pedido de perdão, por parte dos Papas, às falhas da Igreja foi bastante valorizado.

Onde é que, nós Igreja, marcamos a diferença? No acolhimento, na escuta, no respeito, no diálogo, mas também pela denúncia da injustiça, seja ela qual for. Mais uma vez, olhando para Jesus, ele agarrou a Sua tradição, não teve medo, denunciou a injustiça – fosse ela qual fosse – acabando por revolucionar a condição humana, sobretudo dos mais fracos, marginalizados e oprimidos, dando-lhe um outro sentido, o da divindade. Como afirma, González Faus, "Jesus não veio pregar uma doutrina, mas veio Viver". Ou seja, Jesus, enquanto verdadeiro Homem escutou atentamente a humanidade, aprendendo a vivê-la, como qualquer um de nós e, como verdadeiro Deus, na sua profunda relação com o Pai, Ele nunca se deixou levar pela mentira, pela corrupção, pela falsidade – fossem elas políticas ou religiosas – denunciando sempre o que impedia que qualquer ser humano pudesse ser "um com Ele, como Ele o é com o Pai", formando assim o Seu Corpo, a Igreja.


sábado, 14 de junho de 2008

Lendo os outros

"Puta que te pariu!
.
Depois de um presidente do Benfica sócio do Sporting, só faltava mesmo a directora da Casa Fernando Pessoa ser um animal que nunca leu uma linha do Mestre. Aquele monte de merda, a que se dá o nome de Inês Pedrosa, lembrou-se de transformar a poesia do mestre em líricas de hip-hop. Diz o monte de merda que é para aproximar o Mestre dos jovens. Olha, vai-te f***r! E, já agora, lê a primeira página do Livro do Desassossego, não é preciso ler aquilo tudo, lê mesmo só aquelas linhas em que ele diz a que parte do Mundo pertence. E depois mata-te. Se faz favor."
.
Pedro no blog 'Blogue para nada'

A não perder


"Escolhi um encontro para o meu pai ao ar livre por razões que a todos os que o conheceram devem fazer sorrir: na verdade procurava uma esquina, e uma esquina porque há uma estória de que gosto muito: conta a Sofia que um dia encontrou o pai numa esquina dentro do centro comercial das amoreiras, o centro estava cheio de gente e o pai estava tranquilamente numa esquina a ler um livro de poesia... (porque o pai sempre referiu este seu tão doce e forte mistério: sou nervoso por fora e calmo muito calmo por dentro – frase que repetiu até ao fim da sua vida)
(...)
Através dessa vida visível, dessa vida acontecida ao vivo fez também o seu percurso político, e também este está por contar ou sobretudo por reunir e entender porque mais uma vez foi urgente viver a politica, faze-la acontecer mais do que escreve-la.
(...)
O meu pai deixou para todos nós esta ideia de um registo posterior, uma tarefa de realizar um puzzle (a sua vida politica como a de afectos foi vivida em peças) onde o fio à meada terá que ser descoberto por nós. E todos nós sabemos que a vida do meu pai nesse sentido está por contar...(de novo sobretudo por juntar) e que esse quase jogo implica um convívio entre nós, umas trocas de impressões (!) e que este faria todo o sentido ser a sua proposta a todos nós."

Marta Wengorovius


Acção 'VICTOR WENGOROVIUS – A VIDA VISÍVEL' 
no Jardim do Principe Real (Quisque do Oliveira)
dia 19 de Junho pelas 18H


Programa:

18H - Encontro ( Quiosque do Oliveira/ Jardim do Príncipe Real)
19H - Mesa redonda ao ar livre (Jardim do Príncipe Real)
           Percurso cívico e politico de Victor Wengorovius (partilha de testemunhos)
21H - Festa (Jardim do Príncipe Real) – picnic


Victor Wengorovius
Nascido em 1937, em Setúbal, Víctor Wengorovius foi dirigente da Juventude Universitária Católica e esteve ao lado de Jorge Sampaio nas lutas académicas e na Comissão Democrática Eleitoral de 1969 de Lisboa.Em 1974, ajudou a fundar o Movimento de Esquerda Socialista, uma organização nascida a partir da ala católica da CDE e do movimento estudantil pré-25 de Abril de 1974, do qual fizeram parte, entre outros, o ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, o ex-secretário-geral do PS Ferro Rodrigues, José Manuel Galvão Telles e João Cravinho. Foi durante 21 anos, entre 1970 e 1991, advogado do Sindicato de Jornalistas e foi também advogado de vários movimentos sindicais. Em 1999, foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Um clássico

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ainda Pessoa

Ainda Pessoa, em heterónimo...

Deixo este, apesar de bastante conhecido... Diz-me muito, é-me especial...

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis

Aos melómanos - Dame Kiri Te Kanava em Lisboa



A soprano Kiri Te Kanawa actua no dia 28 de Junho no Casino Estoril, por ocasião do programa comemorativo do 50º aniversário da Estoril Sol.
No Salão Preto e Prata, a intérprete será acompanhada pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob direcção do maestro Julian Reynolds.
A fadista Mariza subirá também ao palco para interpretar «Summertime» em dueto com Kiri Te Kanawa. Trata-se de um inédito encontro de vozes, exclusivamente preparado para a ocasião.

in Diário Digital

O Grande Vasco Santana morreu há 50 anos

No dia de todas efemérides, morreu há cinquenta anos o grande e inimitável actor Vasco Santana. Não é preciso traçar-lhe a biografia. Lembram-se dele os mais velhos, que muitos o viram nos palcos ou ouviram na rádio e se riram com a sua interpretação no cinema. Conhecem-no os mais novos, mesmo os muito mais novos, que sabem muitas das suas falas de cor em filmes como O Pátio das Cantigas, Pai Tirano ou a Canção de Lisboa. Com gosto pelo desenho e pintura, chegou a estudar nas Belas Artes. Mas foi o teatro e o cinema, depois, que lhe traçaram o perfil como um dos maiores actores de comédia que Portugal conheceu.

Só para ir de fds

2 dos 3 golos em votação pela UEFA para o best goal, são tugas. Este então, com o carimbo maravilha do meu capitão João Moutinho, é uma obra de arte. Raul Meireles finaliza, o outro homem na jogada é Cristiano Ronaldo. Chama-se a isto - Trabalho de Equipa!

Super-Homem


Recordem este golo. É do Pepe, e o primeiro de Portugal neste Euro. Há várias coisas boas, a primeira é que Pepe é defesa, faz parte da dupla de centrais maravilha (com o Ricardo Carvalho); a segunda é que sendo defesa, tem características atacantes e nesta jogada, ninguém o agarra; a terceira é, o Pepe é brasileiro naturalizado tuga, tal como Deco - por ambos, sinto grande admiração, vai para além das qualidades como jogadores, ambos podiam estar na selecção do Brasil e ganhar o mundo, mas não, vieram para cá novos e foi cá que começaram a jogar, é cá a sua casa, embora ambos andem por fora, cantam o hino como nós, sentem como nós outros! Axo isto muito bom!

Super-Homens


O Miguel Arrobas e o Nuno Vicente, continuam a preparação para a travessia da Mancha, em solitário, primeiro o Miguel, depois o Nuno, vão lançar-se às águas frias para esta aventura que desafia os limites do Homem.



A semana passada, fizeram Farilhões (para lá das Berlengas) - Peniche, o Nuno em cerca de 7h e o Miguel gastando mais 1h. O Nuno referiu que começou a entrar em hipotermia e teve de acelerar deixando o Miguel para trás. Este duo dinâmico, é louco! Não é, são ambos incriveis! O Miguel já esteve nos Jogos de Barcelona, e o Nuno, afastou-se da competição e voltou mais tarde, ainda com melhores tempos. Encontro-os a treinarem em Carcavelos, em terra ou no mar, vejo-os sempre com alto sorriso, porque somos amigos e os admiro bastante, e tenho seguido esta aventura desde o início, vai grande Abraço e Força.
Aprendi a gostar muito de Edgar Alan Poe, porque o recordo num dia de Pessoa, é porque Pessoa também o achava um génio, tanto que se entreteve no início do século passado, e numa altura que poucos conheciam a sua obra, a traduzi-lo. Se só traduzimos algo por paixão, é licíto julgar que Pessoa admirava-o. Chega agora a notícia, que a admiração não ficou só pela tradução da poesia, mas também por contágio, Pessoa escreveu novelas policiais, vão ser editadas pela Assirio. E eis que Pessoa ele também, eleva a novela policial ao estatuto mais alto do génio.
Pedro, para Pessoa e para nós, a tua tarefa hoje poderia ser, ir buscar os tubos da Bethania a recitar Pessoa, já visto, o bem que nos fazias?

Fragmento 28 do Livro do Desassossego

Um hálito de música ou de sonho, qualquer coisa que faça quase sentir, qualquer coisa que faça não pensar.

Pessoa na pele de Bernardo Soares, e a sintetizar uma existência. Mesmo que pense, que no fundo, estava a referir-se apenas ao ópio! Mas podia ser uma onda.

J´Accuse

E não vou sequer pensar mais no gajo.
(1) Acho que Scolari teve uma atitude de traição;
(2) Acho que Madaíl e a FPF e por acréscimo, Portugal e a Selecção, têm o que merecem por, uns, não tratarem da forma correcta, neste caso o seleccionador (é rotina já, esta coisa de chegarmos a uma final e não estar definido o futuro, ou o futuro depender do sucesso na prova), outros, por permitirem que aquela coisa de cabelo loiro, Madaíl, continue à frente da palhaçada;
(3) Scolari pôs os seus interesses à frente de Portugal.
(4) O ideal, se a borrada pode ser corrigida, seria Scolari ser dispensado; e, por especial favor, apenas como meio para salvar a Armada, Mourinho chamado para ocupar o seu lugar, durante o resto da prova;
Eu sonho!
Espera-nos um duro embate, a Alemana é mais que certa nº 2 do grupo B, e vamos disputar a presença nas meias finais com eles, uma campeã do Mundo. Temos equipa para vencê-los, só têm de entrar em campo como um grupo.

E porque é sexta-feira...

120 anos de Pessoa


"Senhor António:
.
O senhor nunca há-de ver esta carta, nem eu a hei-de ver segunda vez porque estou tuberculosa, mas eu quero escrever-lhe ainda que o senhor o não saiba, porque se não escrevo abafo.
O senhor não sabe quem eu sou, isto é, sabe mas não sabe a valer. Tem-me visto à janela quando o senhor passa para a oficina e eu olho para si, porque o espero a chegar, e sei a hora que o senhor chega. Deve sempre ter pensado sem importância na corcunda do primeiro andar da casa amarela, mas eu não penso senão em si. Sei que o senhor tem uma amante, que é aquela rapariga loura alta e bonita; eu tenho inveja dela mas não tenho ciúmes de si porque não tenho direito a ter nada, nem mesmo ciúmes. Eu gosto de si porque gosto de si, e tenho pena de não ser outra mulher, com outro corpo e outro feitio, e poder ir à rua e falar consigo ainda que o senhor me não desse razão de nada, mas eu estimava conhecê-lo de falar.
O senhor é tudo quanto me tem valido na minha doença e eu estou-lhe agradecida sem que o senhor o saiba. Eu nunca poderia ter ninguém que gostasse de mim como se gostasse das pessoas que têm o corpo de que se pode gostar, mas eu tenho o direito de gostar sem que gostem de mim, e também tenho o direito de chorar, que não se negue a ninguém.
Eu gostava de morrer depois de lhe falar a primeira vez mas nunca terei coragem nem maneiras de lhe falar. Gostava que o senhor soubesse que eu gostava muito de si, mas tenho medo que se o senhor soubesse não se importasse nada, e eu tenho pena já de saber que isso é absolutamente certo antes de saber qualquer coisa, que eu mesmo não vou procurar saber.
Eu sou corcunda desde a nascença e sempre riram de mim. Dizem que todas as corcundas são más, mas eu nunca quis mal a ninguém. Além disso sou doente, e nunca tive alma, por causa da doença, para ter grandes raivas. Tenho dezanove anos e nunca sei para que é que cheguei a ter tanta idade, e doente, e sem ninguém que tivesse pena de mim a não ser por eu ser corcunda, que é o menos, porque é a alma que me dói, e não o corpo, pois a corcunda não faz dor.
Eu até gostava de saber como é a sua vida com a sua amiga, porque como é uma vida que eu nunca posso ter — e agora menos que nem vida tenho — gostava de saber tudo.
Desculpe escrever-lhe tanto sem o conhecer, mas o senhor não vai ler isso, e mesmo que lesse nem sabia que era consigo e não ligava importância em qualquer caso, mas gostaria que pensasse que é triste ser marreca e viver sempre só à janela, e ter mãe e irmãs que gostam da gente mas sem ninguém que goste de nós, porque tudo isso é natural e é a família, e o que faltava é que nem isso houvesse para uma boneca com os ossos às avessas como eu sou, como eu já ouvi dizer.
Houve um dia que o senhor vinha para a oficina e um gato se pegou à pancada com um cão aqui defronte da janela, e todos estivemos a ver, e o senhor parou, ao pé do Manuel das Barbas, na esquina do barbeiro, e depois olhou para mim, para a janela, e viu-me a rir e riu também para mim, e essa foi a única vez que o senhor esteve a sós comigo, por assim dizer, que isso nunca poderia eu esperar.
Tantas vezes, o senhor não imagina, andei à espera que houvesse outra coisa qualquer na rua quando o senhor passasse e eu pudesse outra vez ver o senhor a ver e talvez olhasse para mim e eu pudesse olhar para si e ver os seus olhos a direito para os meus.
Mas eu não consigo nada do que quero, nasci já assim, e até tenho que estar em cima de um estrado para poder estar à altura da janela. Passo todo o dia a ver ilustrações e revistas de modas que emprestam à minha mãe, e estou sempre a pensar noutra coisa, tanto que quando me perguntam como era aquela saia ou quem é que estava no retrato onde está a Rainha de Inglaterra, eu às vezes me envergonho de não saber, porque estive a ver coisas que não podem ser e que eu não posso deixar que me entrem na cabeça e me dêem alegria para eu depois ainda por cima ter vontade de chorar.
Depois todos me desculpam, e acham que sou tonta, mas não me julgam parva, porque ninguém julga isso, e eu chego a não ter pena da desculpa, porque assim não tenho que explicar porque é que estive distraída.
Ainda me lembro daquele dia que o senhor passou aqui ao Domingo com o fato azul claro. Não era azul claro, mas era uma sarja muito clara para o azul escuro que costuma ser. O senhor ia que parecia o próprio dia que estava lindo e eu nunca tive tanta inveja de toda a gente como nesse dia. Mas não tive inveja da sua amiga, a não ser que o senhor não fosse ter com ela mas com outra qualquer, porque eu não pensei senão em si, e foi por isso que invejei toda a gente, o que não percebo mas o certo é que é verdade.
Não é por ser corcunda que estou aqui sempre à janela, mas é que ainda por cima tenho uma espécie de reumatismo nas pernas e não me posso mexer, e assim estou como se fosse paralítica, o que é uma maçada para todos cá em casa e eu sinto ter que ser toda a gente a aturar-me e a ter que me aceitar que o senhor não imagina. Eu às vezes dá-me um desespero como se me pudesse atirar da janela abaixo, mas eu que figura teria a cair da janela? Até quem me visse cair ria e a janela é tão baixa que eu nem morreria, mas era ainda mais maçada para os outros, e estou a ver-me na rua como uma macaca, com as pernas à vela e a corcunda a sair pela blusa e toda a gente a querer ter pena mas a ter nojo ao mesmo tempo ou a rir se calhasse, porque a gente é como é e não como tinha vontade de ser.
(…)
- e enfim porque lhe estou eu a escrever se lhe não vou mandar esta carta?
O senhor que anda de um lado para o outro não sabe qual é o peso de a gente não ser ninguém. Eu estou à janela todo o dia e vejo toda a gente passar de um lado para o outro e ter um modo de vida e gozar e falar a esta e àquela, e parece que sou um vaso com uma planta murcha que ficou aqui à janela por tirar de lá.
O senhor não pode imaginar, porque é bonito e tem saúde o que é a gente ter nascido e não ser gente, e ver nos jornais o que as pessoas fazem, e uns são ministros e andam de um lado para o outro a visitar todas as terras, e outros estão na vida da sociedade e casam e têm baptizados e estão doentes e fazem-lhe operações os mesmos médicos, e outros partem para as suas casas aqui e ali, e outros roubam e outros queixam-se, e uns fazem grandes crimes e há artigos assinados por outros e retratos e anúncios com os nomes dos homens que vão comprar as modas ao estrangeiro, e tudo isto o senhor não imagina o que é para quem é um trapo como eu que ficou no parapeito da janela de limpar o sinal redondo dos vasos quando a pintura é fresca por causa da água.
Se o senhor soubesse isto tudo era capaz de vez em quando me dizer adeus da rua, e eu gostava de se lhe poder pedir isso, porque o senhor não imagina, eu talvez não vivesse mais, que pouco é o que tenho de viver, mas eu ia mais feliz lá para onde se vai se soubesse que o senhor me dava os bons dias por acaso.
A Margarida costureira diz que lhe falou uma vez, que lhe falou torto porque o senhor se meteu com ela na rua aqui ao lado, e essa vez é que eu senti inveja a valer, eu confesso porque não lhe quero mentir, senti inveja porque meter-se alguém connosco é a gente ser mulher, e eu não mulher nem homem, porque ninguém acha que eu sou nada a não ser uma espécie de gente que está para aqui a encher o vão da janela e a aborrecer tudo que me vêm, valha me Deus.
O António (é o mesmo nome que o seu, mas que diferença!) o António da oficina de automóveis disse uma vez a meu pai que toda a gente deve produzir qualquer coisa, que sem isso não há direito a viver, que quem não trabalha não come e não há direito a haver quem não trabalhe. E eu pensei que faço eu no mundo, que não faço nada senão estar à janela com toda a gente a mexer-se de um lado para o outro, sem ser paralítica, e tendo maneira de encontrar as pessoas de quem gosta, e depois poderia produzir à vontade o que fosse preciso porque tinha gosto para isso.
Adeus senhor António, eu não tenho senão dias de vida e escrevo esta carta só para a guardar no peito como se fosse uma carta que o senhor me escrevesse em vez de eu a escrever a si. Eu desejo que o senhor tenha todas as felicidades que possa desejar e que nunca saiba de mim para não rir porque eu sei que não posso esperar mais.
Eu amo o senhor com toda a minha alma e toda a minha vida.
Aí tem e estou a chorar.
.
Maria José“

Fernando Pessoa
(Pessoa teve um único heterónimo feminino. 
Chamou-se Maria José e em seu nome 
escreveu um único texto: esta carta. 
Aqui fica, no dia em que se comemoram 
os 120 anos do seu nascimento.)

Fernando Pessoa fazia hoje 120 anos

LISBON REVISITED"

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me
enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) ­
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul ­ o mesmo da minha infância ­,
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo ...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!


Álvaro de Campos
Lisbon Revisited
(l923)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Lá Fora




Uma exposição organizada pelo Museu da Presidência da República, integrada nas comemorações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Viana do Castelo, LÁ FORA reúne pela primeira vez em Portugal um vasto conjunto de obras e artistas plásticos portugueses que vivem e trabalham fora do país.

São mais de uma centena de obras, entre pintura, desenho, fotografia, instalação, escultura e vídeo que dão a conhecer, de forma representativa, o trabalho desenvolvido por cerca de 43 criadores portugueses residentes em vários países da Europa, América do Norte e América do Sul e integrados com sucesso nos circuitos da arte contemporânea.

Comissariada pelo historiador de arte João Pinharanda, esta mostra conta com nomes como Rui Calçada Bastos, Filipa César, Suzanne S.D. Themlitz, Ana Luísa Ribeiro, Adriana Molder ou Noé Sendas, vindos da Alemanha; do Brasil, Fernando Lemos e Ascânio MMM; Carlos Bunga ou Jorge Leal, da Espanha; Júlio Pomar, Rui Patacho, Diogo Pimentão, de França; da Holanda, Júlia Ventura; do Reino Unido, Paula Rego, João Penalva, Edgar Martins, Bruno Pacheco, entre outros e, ainda, artistas vindos da Suíça, Argentina, Luxemburgo (Marco Godinho), Canadá (Miguel Rebelo) e EUA, este último com várias participações, entre as quais, Gabriel Abrantes, Catarina Leitão, Carlos Roque ou José Carlos Teixeira.

Além dos nomes mais reconhecíveis pelo público português, há ainda lugar para algumas surpresas, como Francisco da Mata, radicado na Suíça, Maria Loura Estêvão (vídeo) e Gérald Petit (fotografia), ambos residentes em França, ou, ainda, o novaiorquino Michael de Brito (pintura), todos luso-descendentes e com um percurso artístico consistente em termos internacionais.

É também ocasião para a exibição de alguns trabalhos inéditos, como as mais recentes esculturas Billboard Cities, de Susana Gaudêncio, ou a série de desenhos Absolut Boredom – Mundo sobre Mundo sobre Mundo, de Catarina Dias.

Mas não é apenas de hoje que emigram artistas portugueses. E é precisamente para ilustrar a historicidade desses movimentos que Rafael Bordalo Pinheiro, Amadeu de Sousa Cardoso, Vieira da Silva e António Dacosta introduzem esta Exposição.

Diversas linguagens, diversos suportes e técnicas, diferentes gerações. Artistas consagrados e novos artistas que emergem com segurança na actualidade. Artistas com obra desterritorializada e artistas que reflectem e questionam, no seu trabalho, mobilidades e pertenças. Esta é uma exposição que abre caminho para várias reflexões, uma das quais a mais evidente: porque tanto se provocam entre si, criação artística e mudança de lugar.

Constituindo um primeiro levantamento da arte portuguesa contemporânea produzida em contexto migratório, esta exposição poderá abrir portas a novas recolhas e novas abordagens, capazes de enriquecer este sempre incompleto mapa da presença portuguesa no mundo.

De 10 de Junho a 30 de Setembro
Museu da Presidência da República,
Viana do Castelo – Praça da Liberdade (edifício Fernando Távora)
Curador: João Pinharanda