domingo, 30 de outubro de 2016

Zaqueu e fé




Bogdan Comanescu


Uma das coisas que a experiência de Zaqueu ajuda a compreender é a de que a fé em Deus não é monolítica, com coração de pedra. Muito menos moralista. O olhar de Jesus é, tal como na última ceia, de baixo para cima, sem soberba ou ponta de superioridade, vendo o melhor de cada pessoa. Quem se fecha em dogmatismo e moralismo, em murmúrios como diz o Evangelho, perde a oportunidade de ser encontrado. Afinal, deixou de ser um buscador… e a fé vive-se em busca, por caminhos inacabados… e tantas vezes inesperados.

Ramos de árvores ou árvores com ramos



[Secção outros tons] As árvores têm ramos que elevam sonhos ao alto. As subidas perigam por quedas, no entanto, arriscam vistas longas. Mas é do terreno que vem a salvação do alto. No olhar que vê filhos de história, diz a quem murmura aqui e ali, sem ver o essencial, que são muitas as árvores que têm ramos.

sábado, 29 de outubro de 2016

Licenciaturas inexistentes



Einar Orn


[Secção desabafos] É inevitável, dá grande tristeza ver como estão as coisas pela política em Portugal. Sem ficar na ingenuidade, sabe-se que os interesses pessoais abundam na nossa cultura portuguesa: desde o “dá aí um jeitinho” até à entrada para o governo com mentiras sobre a formação, sem esquecer casos sérios de corrupção. A polis fica desgovernada e, para quem governa, o silêncio corre o risco de mostrar que o que mais se quer não tem que ver com a evolução, ou crescimento, social ou comunitário, mas com o próprio bolso, à custa de muitos, e, mais assustador, com a manutenção de poder, custe o que custar. Mais um caso de licenciaturas (no plural) inexistentes e de uma demissão (no singular). É estranho. Não me parece que seja caso para um governo cair… no entanto, sendo no Ministério da Educação, diria que a situação é muito grave. Grave por ser exemplo no Ministério que deveria promover aquilo que também é básico na sociedade: a educação. Quando se usa a expressão “bem“ ou “mal-educado”, refere-se a valores, como o respeito pelo o outro. Já há muito que se vê que a política, que também tem que ver com nomeações ministeriais, anda um pouco mal-educada. Infelizmente, ampliando-se para o governo e mesmo em partidos políticos, nessa má-educação perde-se o sentido dos valores da política, no cuidar, governar, responsabilizar-se, pela polis. A política segue, infeliz e tristemente, em passos de perda de credibilidade. A educação para a cidadania acontece sobretudo a partir de bons exemplos, que promovam o pensamento, a reflexão, junto com a honra e o sentido de serviço ao próximo. É preciso muita humildade para ser líder, seja na Presidência, num Ministério, numa Secretaria de Estado, numa Chefia de Gabinete. Mas, claro, isso são devaneios de quem tem em mãos a responsabilidade de educar para os valores… sabendo que, daqui a pouco, surge algo parecido com dialectos ternurentos que se tornará viral, fazendo esquecer, mais uma vez, “pormenores” na vida política portuguesa.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Agradecido




“Momento do abraço colectivo” - Deolinda Ferreira

É isto: gosto de celebrar a Vida. O dia de anos foi tão bom, com a sensação de felicidade a transbordar, a doer as maçãs do rosto do sorriso constante, rodeado de carinho e amizade. Houve momentos de muito humor, de alegria e de emoção… com os gestos e as muitas palavras que foram dirigidos. Desde a surpresa de desenhos, aos alunos da primária a saírem das salas, com rosas, e cantarem-me os parabéns no corredor, aos alunos do 6.º ano escondidos e depois festejo no bosque, ao humor, aos casacos, aos bolos (onde também os padres que oriento retiro me surpreenderam com um) ao skype com os meus Pais, tudo foi celebração de Vida. Na noite de ontem rezei agradecido a Deus. Hoje, continuo. Ainda não consegui ler as mensagens todas. Farei como presentes que se desembrulham e saboreiam. Gosto de personalizar o agradecimento, mas, desta vez, na impossibilidade de fazê-lo como gosto, por ter sido um total de mais de 2000 mensagens, comentários, posts e mails… faço-o com esta foto em que estendo o meu abraço também a vocês. Agradecido, é como me sinto!

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Luz... em agradecimento



Regressei a Fátima. Acendi uma vela e rezei o abecedário. Pensei em todos vocês, família e amigos, agradecido por tanto carinho. De forma especial pensei na minha Mãe Maria e no meu Pai José. Viva a Vida!

Vida em celebração



O sorriso meio forçado tornou-se naturalmente aberto. Já se sabe que os caracóis registam-se em memória. O verde-azul de olhar mantém-se nestes 37 anos. E sinto-me tão agradecido a Deus pela vida, família e amigos. 

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Vida




[Secção Vida] Sempre gostei de fazer anos. Em tempos, um mês antes já começava em contagem decrescente. Desta vez, fico-me pelo "falta um dia!"... com esta foto da Mãe Maria com Filho Paulo a caminho, tirada pelo Pai José. É isso... está quase!! ;)

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Papa e Congregação geral 36





[Secção jesuítas-on-fire] O Papa Francisco reuniu-se hoje com os jesuítas congregados. Não foi uma visita de cortesia. O encontro de um Papa com os jesuítas presentes na Congregação Geral dá o mote e inspiração para o momento em que se entra em directrizes a dar à Companhia Universal. Não esquecer que a Congregação Geral, presidida pelo Padre Geral, é o orgão máximo da Companhia. Daí a importância destes encontros. Em especial o de hoje, pois sendo o Papa Francisco jesuíta, tendo participado em anteriores Congregações Gerais, sentiu-se em casa… e deixou boas orientações. Depois de rezar com todos, discursou deixando bastante inspiração nas suas palavras. Recordou-nos, à semelhança dos Papas anteriores, que a Igreja conta connosco para caminhar e chegar às periferias onde outros não chegam. Afinal, tal como Inácio via a vida em movimento, em caminho, em devir, também a Companhia deve seguir desse modo: livrando-se de todas as paralisias e veleidades, vive em progresso, no caminhar para diante, em favor dos outros, tendo por base as obras de misericórdia. No fundo, somos chamados a caminhar, “com um coração que não se acomoda, que não se fecha em si mesmo (…), por caminhos da consolação, da compaixão e do discernimento.” Isto dá muito ânimo! :D


P.S. - Há pouco, nos primeiros pontos aos padres, entre outras coisas, dizia-lhes: não caiamos na tentação de, ao longo destes dias, buscar onde Deus “dá nas canelas” e apenas vê o que há melhorar. Vejamos o bom e as graças que há em nós, sentindo que Deus nos agradece, em especial, quando somos meio de Vida para os outros.

Retiro




Neil Thomas – padre na Etiópia a ler a Bíblia durante uma vigília nocturna

Estes dias, a começar hoje à noite, irei orientar pela primeira vez retiro a padres. Mais um bom desafio em mãos. Isto de ser padre tem que se lhe diga, nessa grande adesão a Cristo, que constantemente nos desafia à saída e ao encontro, a perder medos e a viver o afecto pela humanidade sem fazer, tal como Ele, acepção de pessoas, junto com o grande respeito pelo nosso limite. Temos a grande responsabilidade de sermos dadores de e da Vida. Para isso, também precisamos de parar e tomar consciência de que precisamos recebê-la… através da relação com Deus e com os outros. Peço-vos a oração ou o pensamento por nós, que lá estaremos em oração… eu a orientar, eles a “caminhar”.

domingo, 23 de outubro de 2016

Bíblia



Marcos Borga

Ontem estive na apresentação, no Porto, do primeiro volume (os 4 Evangelhos) da tradução da Bíblia dos LXX (a versão grega) por Frederico Lourenço. Por impossibilidade de chegada mais cedo, não consegui ouvir a apresentação do P. Rui Santiago e ouvi apenas a parte final da do P. Anselmo Borges. Os ecos de algumas pessoas que conheço eram muito positivos em relação a ambas as apresentações. O comentário final de Frederico Lourenço já ouvi. Uma das coisas que disse e me ficou a ressoar foi a crise do estudo das línguas antigas, em particular, para a situação, do grego. Aparentemente na actualidade não tem interesse (além da dimensão de política educativa, que tem vido a reduzir currículos nesta matéria, há a triste rápida resposta "não dá emprego"... que surge quando falamos com alunos e muitos pais quando se percebe a vocação para Línguas e Humanidades). Pois, aparentemente. A riqueza dos estudos linguísticos está intimamente ligado ao conhecimento de cultura que contribui para a reflexão do que é isto de ser humano que vive em sociedade. Em relação à tradução, como qualquer obra (ainda mais esta monumental), está sujeita a críticas. Para mim, uma bastante positiva, é a promoção da leitura da Bíblia por muito mais gente. Foi impressionante e, para mim, bonito de ver a imensa quantidade de pessoas com a Bíblia debaixo do braço… sendo mesmo top de vendas. De facto, os caminhos do Senhor são insondáveis. ;)

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Encontros




Grant Collins

[Coisas na vida de um padre] Sou abordado por uma senhora que está a publicitar e vender cartões de crédito:
- Boa tarde, tem dois minutos? 
Por respeito ao trabalho das pessoas, tento sempre parar, mesmo sabendo que não vou comprar ou aderir ao produto.
- Trabalha?
- Sim.
- Posso saber a sua profissão?
- Sou professor.
- Já conhece o nosso cartão?
- Sim, mas não estou interessado.
- Mas, tem muitas vantagens.
- Bem, então, vamos a isto. Eu sou padre e não tenho conta própria.
- [O ar de espanto.] Ah, padre?! [Continua...] Os padres podem ter conta bancária.
- Sim, alguns podem. Mas eu faço parte de uma ordem religiosa e é diferente.
- Pronto. Mas, deixe que lhe diga... eu não sou crente. 
- Hmmm, há-de crer nalguma coisa ou em alguém
- Ah, sim. Não sou crente é em Deus. A história é longa. A minha mãe ficou órfã muito cedo e foi para um orfanato de freiras. Elas trataram-na bem, mas faltou muito afecto. Ela revoltou-se contra Deus, como se a tivesse abandonado... depois outras tantas coisas na minha vida... [e o desabafo continuou.] O senhor está com pressa? 
- Sim, tenho algo em breve.
- Mas, está aqui a ouvir-me.
- Uns minutos sempre se tem e não quero que sinta que Deus não a escute. Mesmo não acreditando em Deus, olhe, aqui está alguém que acredita, tanto n'Ele, como no que cada um de nós é enquanto Seus mensageiros. Por isso, não poderia deixar que a sensação de abandono por parte d'Ele se voltasse a repetir. Há sempre um pouco de tempo. Mas, sim, agora tenho mesmo de ir. 
- Acredita em anjos? Ah, é padre, claro que acredita. Olhe, hoje foi um...
Sorri. 
- Posso saber o seu nome?
- Ana.
- Ana, vou tê-las, a si e à sua mãe, nas minhas orações.
Apertou-me o braço. Agradeceu-me. Despedimo-nos. 

terça-feira, 18 de outubro de 2016

41 anos [de vida partilhada]




41 anos: celebram a minha Maria e o meu José de vida partilhada. Na mão entrelaçada há sempre aquele momento em que o dar e o receber se fundem. O tal passar a ser “uma só carne” que leva à paciência, ao sorriso em conjunto, existindo, por vezes, também o silêncio e o desajuste, com possíveis lágrimas de incompreensão no imenso que é a vida de casal. Faz parte da complexidade da relação. Como não agradecer este dia, em particular o amor de um pelo outro? É a minha história também. Com humildade o digo, se ajudo outros a serem felizes é também graças a este dia e à vossa decisão de, diante de Deus, dizer “sim” um ao outro. Queridos Mãe e Pai, gosto muito de vocês. Com carinho, um beijo e um Abraço, Filho.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Valter Lobo




[Secção músicas] Há uns meses, uns bons amigos desafiaram-me ir a um concerto na Casa das Artes, ali em Famalicão. “Vais gostar!” E foi daquelas noites em que a magia aconteceu, em escuta da boa voz a cantar boas letras originais. A sensação de viajar longe, mantendo-me no sítio. Dar-me conta que o mundo fantástico ganha cor e tons de vida, nessa muito boa música portuguesa, nossa… em gente que, agarrando sonhos, põe o talento a render e merece reconhecimento. No entretanto, chegou-me o novo álbum pelas mãos dos mesmos amigos e sente-se o aconchego do reencontro e das viagens por aqui e ali, perto e longe. Obrigado Valter Lobo pelo teu sonho. 

domingo, 16 de outubro de 2016

Complementos




Vikas Datta


Mais do que um dualismo que separe escola-casa ou catequese-casa, deve dar-se cada vez mais importância à relação escola-casa ou catequese-casa. Afinal, os primeiros educadores são os “encarregados de educação”. Depois, a escola ou a catequese são o complemento do que acontece em casa. Na Missa de hoje, onde houve o arranque da catequese, propus que as crianças ficassem junto aos pais, em vez de se juntarem por grupos… relembrando, assim, que os pais são os primeiros catequistas. Mais do que num determinado tempo e espaço, a catequese, com os bons testemunhos daqueles nos são próximos, ajuda-nos a preparamo-nos para sermos homens e mulheres relacionados com Deus, contribuindo para que a Igreja e o Mundo sejam, cada vez mais, sítios de Paz e de Humanidade.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Agora Nós - o link




Partilho o link da entrevista. A partir dos 25 min. e 15 seg. Agradeço todas as manifestações de carinho que tenho recebido. :) http://www.rtp.pt/play/p2793/e254448/agora-nos/529390

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Agora Nós




[Coisas da vida de um padre] Eu não sou de intrigas, mas... diz que esta tarde, pelas 17h30, vou ser entrevistado por esta senhora e por este senhor na RTP1. Até logo. :)

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Táxis(tas)




Caue Ferraz


[Secção desabafos] Hoje é um dia triste para os taxistas. Os taxistas que conheço, com quem tenho amizade e sei que são excelentes profissionais, são colocados na mesma prateleira daqueles que mancham a imagem do profissionalismo e humanidade. Imagino-os envergonhados, tal como fico quando alguém de Igreja tem atitudes de “bradar aos céus”. A reacção imediata diante das imagens de violência é a de riscar a palavra táxi do dicionário… esquecendo aqueles que mantém a dignidade da profissão. Esse é um perigo grande e bastante real em tantas frentes: paga o justo pelo pecador. Curioso ser em dia em que se recorda de forma especial a saúde mental. O ressabiamento, as dores e feridas de alma e as frustrações podem ser tratados. Não há mal nenhum ir a um psicólogo ou psiquiatra… muito pelo contrário, é sinal, entre tantas outras coisas, de coragem e de vontade de (se) humanizar. Se mais gente curasse as suas feridas interiores, ganhar-se-ia muita qualidade de vida… na relação humana, também nos serviços.

domingo, 9 de outubro de 2016

Corpo que celebra




Michael Pappas - Cavaleiro numa procissão em honra de Santa Ágata


[Secção coisas de corpo] Nestes últimos fins-de-semana vivi um rodopio de celebrações em diferentes comunidades, em locais e contextos (missas de domingo, casamentos, baptizados e funerais). Estando no altar, vou observando os rostos, os ombros e os braços de quem tenho diante e encontro muitos em tensão. Tanto braço cruzado em posição de defesa… e às vezes pergunto-me: “defender-se-á de si ou do que Deus tem para si?” Também penso na forma como o corpo foi esquecido nas nossas celebrações, pelo menos nesta cultura mais ocidental. Levantar, sentar, ajoelhar é o registo básico e mínimo, como se a única coisa a elevar fosse o espírito, o interior. Pois, o resto do Ser também celebra. Não tem nada que ver com folclore dentro da missa, mas tomar consciência de como, enquanto corpo que somos, há outro “falar” durante as celebrações. Encontro demasiadas pessoas tensas, contraídas. As mais descontraídas, com liberdade de movimento e naturalidade, são as crianças. Podemos educá-las para estar na missa, mas, ainda assim, é tudo demasiado forçado se for explicado “porque sempre foi assim”. Cai-se no perigo de dignidade ou compostura igual a rigidez. O temor de Deus, o respeito, passou a medo. Havendo medo, há necessidade de defesa. Como se, na Missa, para mostrar respeito, fosse obrigatório estar-se tenso. Estando-se em tensão, mesmo que a graça de Deus queira entrar, fica, devido ao bloqueio, mais uma vez à porta. Uma vez , alguém me comentou que lhe chamava a atenção, achando interessante, nunca ter-me visto de mãos postas ou cruzadas durante a missa. É por isto: para estar aberto, disponível, sem cruzamentos, a receber tanto o que a comunidade me está a transmitir, como, e sobretudo, as graças que Deus me quer dar ou confiar. A Diana, minha professora de dança em Paris, das muitas coisas que me ensinou foi a força da presença, onde, em palco (ou, acrescento eu, em celebração), estamos disponíveis nesse dar e receber sem bloqueios. Os rituais seriam mais vivos se a rigidez fosse diminuindo. A dignidade da celebração é mais forte com esse sentido de presença, no aqui e agora, diante de Deus. Como tantas vezes digo, por vezes basta uma boa inspiração e expiração e entregar-se. Depois… depois ainda há muito trabalho a fazer: individual e comunitário.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

... para 2019.




Suresh Easwar

[Coisas da vida de um padre] Ontem, depois do casamento, estando já no carro para sair: 
- Sr. padre, desculpe, antes de ir, posso fazer-lhe uma pergunta?
- Sim, claro.
- Celebra bodas de prata?
- Sim, sim. Como digo sempre, é uma questão de agenda. 
- Bem, já estive em tantos casamentos, nunca tinha visto um tão animado e bonito como este. O senhor cativa. A minha mulher é francesa e, apenas percebendo as boas-vindas que o senhor fez em francês, sentiu-se integrada o tempo todo. Digo-lhe: até fico com mais fé!
- [Gargalhada minha!] Bem, a leitura de S. Paulo aos Romanos que lemos bem dizia para nos alegrarmos.
- E de que maneira. Então assim poderia celebrar as minhas bodas de prata.
- Para quando?
- Está disponível para 2019?
- Como?!? 2019?!? Nem sei se estarei em Portugal nessa altura.
- Ai, não me diga isso. Quando é que pode saber?
- É em que mês?
- Neste de Outubro.
- O que posso dizer é para me ligar lá para Maio de 2019 e já saberei dizer…
- Pode ser? Olhe que ligo mesmo!
- Claro que sim.
- Ai, muito obrigado. Talvez falemos antes, que isto mexeu mesmo comigo.
- Obrigado eu. Até breve… ou até 2019.


Cenas dos próximos capítulos? Se me lembrar e se acontecer a celebração… em 2019 escreverei um post a confirmar… eheheh!!

Vistas




Maria Amorim Gomes


[Coisas (boas) da vida de um padre] À espera dos noivos, para os receber e acolher na Casa que também é a deles. Já estão bem casados. Viva o amor!


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

[...]



Agan Dayat


[Secção pensamentos soltos] Cristo baralhou com os sistemas religioso, social e político da altura. E continua a baralhar. Na altura, como hoje, para os "donos da verdade" era mais "digno" quem seguisse regras de pureza, onde uns eram separados de outros por "fardos pesados" que os aparentemente puros não carregavam. Fardos de uma moral desfasada da visão global do ser humano, na sua complexidade e riqueza. Curioso ver como os tais "puros" são retratados nos evangelhos como figuras tristes e amarguradas, dando pena pela sua miserabilidade de espírito. Afinal, acabavam por carregar outros fardos... os de superioridade que lhes fazia endurecer o coração, apartando-se do "amai-vos uns aos outros como eu vos amei". A exigência mal compreendida da Lei levava, e continua a levar, à demonstração de uma superioridade moral que nada tem que ver com esse testemunho evangélico de Vida. A Lei, que Jesus não veio mudar uma só letra, aponta para o sentido da conversão de coração diante da misericórdia de Deus, e tal é trabalho pessoal que implica ver a "trave do próprio olho" de modo a removê-la e aliviar a amargura. A Lei separada do Espírito da Vida prende... não quem se pretende condenar, em nome de doutrinas, mas o(s) próprio(s) que se arroga(m) acima dos que julga e acusa como "impuros" ou "incumpridores". Com Cristo, as regras de pureza perderam todo o sentido, dando espaço à liberdade e, sobretudo, à força do amor que "não faz acepção de pessoas". E a Igreja, em vez de ser um palacete com gente edificada, mas escandalizável, torna-se, tal como diz o Papa Francisco, um hospital de campanha, onde ninguém é excluído.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Dia mundial do professor




Chris Matthew Brady


[Secção desabafos] Hoje é dia mundial do professor. Qualquer profissão que implique com a vida de uma pessoa, roça o sagrado. Talvez não devesse puxar rapidamente a transcendência para o caso, mas o cuidar do outro, seja biológica, afectiva, social, espiritual e/ou intelectualmente não é coisa pouca. Não pode, nem nunca poderá deixar de o ser. É bom que se exija qualidade de um professor. É muito bom que se agradeça o tempo (in)determinado com que passa diante de uma pessoa ou de um grupo de pessoas a transmitir conhecimento e saber. Conteúdo e forma fazem parte desse ensinamento. Isto é daquelas coisas tipicamente básicas, que, infelizmente, estão a ser postas para 2.º, 3.º, 4.º planos ou até mesmo esquecidas em nome de uma burocracia crescente, obrigando a dar resultados para estatísticas, rankings, produtividade, anulando as tantas histórias que estão por detrás de centenas, ou milhares, de alunos que nos passam pelas mãos. Nas últimas vigilâncias de exames, em que se está entre uma hora e meia e três horas dentro de uma sala com até 20 pessoas a dar o seu melhor, via o passado, presente e futuro de cada um. Obviamente, desconhecia muito das suas vidas, mas pensava e rezava para que cada um fosse capaz de expressar o que aprendeu e, mais que tudo, crescesse em humanidade. É preciso critérios para aferir o melhor. Mas, melhor em quê? Entende-se: melhores notas para se poder entrar no que se quer e, em caminho, provar que o professor é bom. No entanto, o professor não é bom apenas porque o aluno tem boas notas. Há alunos que são muito bons, mas que de notas nada sabem ou querem saber, apenas são obrigados por uma sociedade que exige “dr.” e “eng.” para dignificar o estatuto de ser pessoa. Há alunos que apenas querem sentir a presença de alguém que os valoriza na sua existência, em talentos que não são necessariamente intelectuais. Muitas vezes, é o professor esse alguém. Na educação actual, ainda se obriga demasiado ao uniformismo, onde não se percebe que antes de se dar matéria, há que dar afecto. “Ah, mas isso é em casa!” Pois, mas, e quando não há em casa? Também me parece que na actualidade se cai no perigo do igualitarismo, onde não se valoriza a importância da diferença. Não há dúvidas: tudo posto na igualdade na dignidade, para além de qualquer característica da pessoa, mas ao diferente que se ajuste o que o ajuda a crescer como pessoa. Ser professor não é fácil. Nunca foi. Não é por acaso que em latim é o Magister: esse “mais” que entranha na sabedoria, em intelecto e experiência de vida, que exige a constante actualização, académia e humana, para acompanhar os sinais dos tempos… e dos alunos. Ao mesmo tempo que é esposo(a), pai, mãe, tem as compras para fazer, o jantar para preparar, a roupa por lavar e engomar, a ler, a fazer formações e estudos, a sair com amigos a tomar um copo, a ter dúvidas, dores, chatices e alegrias, consolações e vitórias, em resumo, a viver. É esta experiência, banal e extraordinária, que ajuda a enriquecer aqueles minutos na sala de aula, dando o seu melhor para além das notas que os alunos poderão ter. Hoje, dia 5 de Outubro, dá-se especial destaque à profissão de professor. Qualquer uma que implique com a vida de uma pessoa, roça o sagrado. Cuidar do outro, seja biológica, afectiva, social, espiritual e/ou intelectualmente não é coisa pouca… e essa é a essência da vida, em cada dia, de um professor.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Agradecer




RJ Hooper

Já sei que isto das redes sociais faz-nos chegar a imensa gente. Mas, não deixa de me impressionar quando alguém me fala de alguém que leu um texto meu e o quanto isso ajudou ou, então, sem me conhecer, também alguém me escreve a desabafar as entranhas, partilhando algo de muito sagrado. Por isso, para manter a serenidade e continuar a centrar-me no essencial, na oração e na missa, em jeito de memória agradecida, olho para trás e vejo o percurso feito, exterior e interior, entre lutas e silêncios, dores e reconhecimentos, conversas e testemunhos recebidos, apercebendo-me  o quanto Deus desafia a mais no dar, para além do que recebo. Os frutos, conhecidos ou não, acontecem. E agradeço o quanto tanta gente, também sem saber, me confirma nesta vocação de dar vida.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Êxodo(s)



Francisco Andersen Leitão

Chamaram-me. Entrei na sala e sentia-se a tensão no ar. Ouvi as palavras e escutava o tom. 
- Queres vir falar comigo com mais calma?
- F*da-se, não quero falar com padre nenhum!
- Tendo em conta a situação, ou o padre ou a Escola Segura. Escolhe.
Olhou-me, levantou-se e veio comigo para o meu gabinete.
- A porta está fechada. Aqui podes dizer o que quiseres. Repito: o que quiseres! Se quiseres mandar-me para qualquer sítio menos simpático, estás à vontade. Aqui tens a cadeira, dá-lhe um pontapé, grita… aqui estou para te acompanhar.
O olhar era de desconfiança, até que comecei a estrabuchar e mostrar-lhe, em jeito de espelho, o que, apesar do misto de vergonha e incredulidade diante de um padre a fazer “cenas”, claramente gostaria de fazer.
- Estou farto desta m*rda toda! 
… e por aí diante, durante quase uma hora… até se desfazer, por outra hora, em lágrimas convulsivas. Permitiu-se entrar na escuridão, na sombra, no deserto onde todos os medos, angústias, vergonhas, imagens de si e de outros, começaram a sair. Já não em “valentão” que tudo controla, domina, mas em criança frágil que teve de crescer demasiado rápido para cuidar de si e de outros. As dores estavam demasiado acumuladas, entre marcas de palavras de desprezo ouvidas e de cinto sentidas, saindo sempre no modo aprendido, na agressão inevitável, como grito: aqui estou, quero ser amado! A terceira hora foi de espaço para se encontrar e serenar. Era o começo de uma longa caminhada, nessa travessia de deserto que só quem anseia pela liberdade faz. Nesse caminho, de silêncio, de escuridão e solidão, não pode haver julgamentos, apenas o desejo de curar memórias e encontrar liberdade. 

domingo, 2 de outubro de 2016

CG 36




[Secção jesuítas-on-fire] Hoje é um dia especial para os jesuítas, no mundo e, em especial, em Portugal. No mundo, começou a Congregação Geral, orgão máximo da Companhia de Jesus. Em 476 anos, esta será a 36.ª. Os cerca de 250 companheiros congregados irão eleger o novo Padre Geral e, aproveitando esta oportunidade, irão pensar em temas importantes para a missão da Companhia na actualidade. Somos cerca de 17 mil jesuítas no mundo, que, tendo em conta as nossas diversas missões e obras (educação, justiça, espiritualidade), colaboramos com milhares e milhares de homens e mulheres de diferentes culturas, religiões e condições sociais. Por isso, o que acontece nestes dias lá em Roma não é coisa pouca. A quem é de rezar, convido à oração, a quem não é, pela amizade, convido ao pensamento, pelos padres congregados. Para mais informações: http://www.gc36.org


Em Portugal: entraram hoje no noviciado 5 novos companheiros. É um tempo de discernimento e de encontro mais forte com a realidade da Companhia. Também contamos com a oração ou o pensamento por eles 5. 

sábado, 1 de outubro de 2016

Coisas de nada [com tudo]




[Secção coisas de nada] Fiquei, simplesmente, a admirar a cor de Outono em duas pequenas amoras. Do toque, ao sabor, deixei que o aroma vindo da brisa final de tarde recordasse, no meio de tantas agitações pelo mundo, a beleza presente em pequenas coisas de nada.