Grant Collins
[Coisas na vida de um padre] Sou abordado por uma senhora que está a publicitar e vender cartões de crédito:
- Boa tarde, tem dois minutos?
Por respeito ao trabalho das pessoas, tento sempre parar, mesmo sabendo que não vou comprar ou aderir ao produto.
- Trabalha?
- Sim.
- Posso saber a sua profissão?
- Sou professor.
- Já conhece o nosso cartão?
- Sim, mas não estou interessado.
- Mas, tem muitas vantagens.
- Bem, então, vamos a isto. Eu sou padre e não tenho conta própria.
- [O ar de espanto.] Ah, padre?! [Continua...] Os padres podem ter conta bancária.
- Sim, alguns podem. Mas eu faço parte de uma ordem religiosa e é diferente.
- Pronto. Mas, deixe que lhe diga... eu não sou crente.
- Hmmm, há-de crer nalguma coisa ou em alguém
- Ah, sim. Não sou crente é em Deus. A história é longa. A minha mãe ficou órfã muito cedo e foi para um orfanato de freiras. Elas trataram-na bem, mas faltou muito afecto. Ela revoltou-se contra Deus, como se a tivesse abandonado... depois outras tantas coisas na minha vida... [e o desabafo continuou.] O senhor está com pressa?
- Sim, tenho algo em breve.
- Mas, está aqui a ouvir-me.
- Uns minutos sempre se tem e não quero que sinta que Deus não a escute. Mesmo não acreditando em Deus, olhe, aqui está alguém que acredita, tanto n'Ele, como no que cada um de nós é enquanto Seus mensageiros. Por isso, não poderia deixar que a sensação de abandono por parte d'Ele se voltasse a repetir. Há sempre um pouco de tempo. Mas, sim, agora tenho mesmo de ir.
- Acredita em anjos? Ah, é padre, claro que acredita. Olhe, hoje foi um...
Sorri.
- Posso saber o seu nome?
- Ana.
- Ana, vou tê-las, a si e à sua mãe, nas minhas orações.
Apertou-me o braço. Agradeceu-me. Despedimo-nos.