quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Tempo de pausa. Até breve.


[Secção tempo de pausa] Há uns anos, em conversa com um amigo nascido em montanha, dizia-me que o oceano era o limite. Isto depois de lhe ter dito que para mim, nascido de mar, era o infinito. Bonito, isto das perspectivas mediante a existência pessoal. A montanha é lugar de Deus, tal como o mar. Ambos abrem Infinito. Basta ter o coração desperto. Ainda assim, a minha vida pede dias fortes de mar. Está-me no ser. Nos próximos tempos afasto-me daqui das redes para aproximar-me de Deus em descanso e contemplação de tanto vivido. Continuarei a levar cada pessoa na oração. Até breve!


segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Encontros


Helder Couto





[Coisas na vida de um padre, com pensamentos soltos] Faz hoje uma semana baptizei a Sarah.  Também hoje pela manhã recebi uma tão bonita mensagem de uma antiga aluna e pela tarde a visita de dois alunos do tempo em que estive em Paris, que, de passagem pelo Porto, vieram até cá para agradecer o tanto que os ajudei numa fase intensa de estudos.


Tudo muito providencial. 


Estes últimos meses têm sido exigentes, na escuta de muitas pessoas, de mim próprio no tanto que me vou apercebendo nos acompanhamentos e no mundo, com muitas perguntas. Como vejo as perguntas como lugares de Deus, não me agita. No entanto, o imenso que vivemos, no crescendo de emotivismo, polarizações, acusações, fazem com que questione o meu lugar na ajuda ao outro, de modo a manter o caminho de equilíbrio e sentido da realidade. Estes tempos são desafiantes, onde na nova linha da frente estão os escutadores, tanto de saúde mental, como de espiritual.


As crianças trazem-nos esperança, como há uma semana vivi no baptismo da Sarah. A dádiva de coração traz agradecimento, outro lado da fé, como nas mensagens ou visitas que se tornam anjos. Também com boas conversas, percebemos como Deus é irresistível no modo como apresenta o amor. E, nesta linha, como é dia de Sta Teresa Benedita da Cruz, Edith Stein, mulher e santa tão interessante, partilho em eco deste meus últimos tempos algo dos seus “Escritos essenciais”, tão actual: “Para os cristãos não existem 'humanos estranhos'. O nosso 'próximo' é todo aquele que temos diante e que tem necessidade de nós, e é indiferente que seja nosso parente ou não, que nos caia bem ou nos desgoste, ou que seja 'moralmente digno' de ajuda ou não. O amor de Cristo não conhece limites”. 


domingo, 8 de agosto de 2021

Tempo suspenso


[Secção coisas de nada pela tarde] Tempo suspenso. O que também acontece com algumas fotografias: suspendem o tempo e o acontecimento. A nuvem assim quieta no imenso céu azul levou-me a outros momentos da vida, ainda por integrar. Ajudado por algumas conversas, leituras, escutas, situações que igualmente suspendem o tempo. E encaminham até ao que não foi visto com olhos de respeito, amor, cuidado, sem julgamento, aceitando, em particular a dor, as dores, retomando-nos no único lugar que cada pessoa é: essa densidade da existência, que nada nem ninguém pode substituir ou tirar. Surge a emoção de vida nova. Depois de tirar a fotografia à nuvem, ela continuou o seu caminho. E eu, o meu. O de continuar a amar.


sábado, 7 de agosto de 2021

4 é Dose



[Coisas na vida de um padre] O Filipe Jeremias escreveu-me a pedir algo. Ouviu-me nos últimos 15 minutos, há quase um ano, na entrevista com o Júlio Magalhães, no Porto Canal. Disse-me que tinha um podcast em família sobre família, o “4éDOSE”. Desta vez iriam fazer episódios especiais a dedicar à sobrinha, recém diagnosticada com um tumor cerebral. Lembrou-se logo de mim para dar esperança e vida. Não podia recusar este convite e a conversa foi muito boa. Talvez vá continuar. Se puder ajudar outros, aqui fica o link:

 https://open.spotify.com/episode/27ksdXJK47k8G10tNvL4AC?si=0bKfj7r9R9uyQ-VWKzuUPw&dl_branch=1



sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Amar em liberdade


[Breves notas nocturnas, em dia da Transfiguração] Ainda é preciso encontrar tempo e espaço para se compreender, de cabeça e coração, que cada pessoa é muito mais que categorias. Como temos visto e ouvido pela comunicação social e pelas redes, a violência com que se aponta o dedo, segregando, desdenhando, diminuindo por características físicas ou sociais, é sinal do quanto ainda precisamos crescer em humanidade. Os medos, sobretudo os medos, em especial inconscientes, levam a rotular para aparentemente libertar a possibilidade de se identificar com essas pessoas apontadas como degradantes. Como cristão, vale-me escutar aqu’Ele que vê, está e ama pessoas, para além de qualquer categoria ou característica. Dá que pensar: mais de 2000 anos depois, ainda é tão difícil perceber isso. Talvez porque ainda há muita gente que (se) ama pouco. Quem muito ama, muito vive a liberdade de ver o outro como pessoa. Simplesmente.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Breve oração


Rita Rocha


[Breve oração em dia de S. João Maria Vianney, protector dos padres]


Agradeço-Te

na pequenez do ser, elevar-Te 

em alimento de vida, de trigo 

cultivado em terra que somos 

lavrada, mondada, por Ti amada


Entrego-Te

nomes, histórias, vidas,

em peregrinação até à Luz


terça-feira, 3 de agosto de 2021

Amizade: lugar de casa



[Secção pensamentos soltos sobre amizade] Já muito foi escrito sobre amizade. Não trago nada de novo. Apenas realço a emoção de escutar felicidade quando vidas, em caminho, tornam-se mais livres quando se abre o coração no que é, sem adereços. É difícil, exigente, e não ter acontecido antes não é sinal de falta de confiança, mas de espera em esperança. 


A amizade é lugar de casa. Lar, mesmo. Onde se chega e, para lá de arranjos ou aparências, já se conhecem os tons de voz, a temperatura da pele atravessada pelas muitas emoções, podendo estar-se em conversas demoradas e em silêncios longos sem qualquer estranheza. Os risos e as lágrimas são vividos com a limpidez de quem é livre. Não se julga, nem o material, nem o íntimo, somente surgem as perguntas para ajudar a crescer e confirmar se é caminho certo. E mesmo que não seja, o abraço está sempre garantido.


Sim, a amizade é lugar de casa, de lar, de caminho. Mas, sobretudo, é lugar de Deus. Por isso, nos corações de amigos, quando as trevas são atravessadas de luz do que é, dá-se nascimento. É dia novo. É vida nova. É amor novo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021