Marta José - Dreamaker
[Conversas soltas, com a devida licença para partilhar]
- P. Paulo, eu não sou nada vingativo e não quero fazer mal a ninguém, mas a dor é tão grande. É uma angústia por tudo. Ainda mais quando o mal que nos fazem vem de quem menos se espera, tanto pela aparente amizade, como pela suposta crença.
- Do que já tínhamos falado, aqui não há julgamento sobre o sentir. Por mais duro que seja, o que lhe apetecia fazer?
- Não posso.
- Aqui pode.
- Mas, e a minha consciência?
- Aqui não está a cometer a acção, apenas a dar-se conta em honestidade consigo mesmo do sentir mais profundo. Vamos até à quinta. Vai apanhar um pedra por cada sentir, por cada pessoa, por cada realidade. Não se fique pelas pedrinhas. É mesmo de sentir o peso físico do que provoca a dor, a angústia.
[Fizemos o caminho e o saco ia ficando cheio de pedras.]
Pode repetir em voz alta, agora a sentir o peso do saco, o que lhe fizeram?
[Repetiu acção por acção terríveis.]
Pegue numa pedra e dê-lhe nome. O que for. O que representa. E quando estiver preparado, jogue-a longe.
[Quando tal acontecia, eu berrava, a ajudar a libertar a fúria, a zanga, a dor]
Mais uma!
[As lágrimas de raiva surgiam, saindo a dor mais profunda.]
Aqui não há julgamento. Apenas a verdade do sentir. Liberte!
[Mais um berro meu, a sincronizar com a dor.]
- Fizeram-me tanto mal.
[Outra pedra voava para longe, levando a simbolicamente o sentir verdadeiro.]⠀
Sinto-me tão cansado, mas estranhamente leve.
- O cansaço e a leveza são naturais que surjam. A dor, a angústia, a raiva estavam a consumi-lo, a destrui-lo por dentro. Para se poder pensar no que há a fazer com racionalidade e justiça é fundamental libertar as emoções que abafam a alma.
- Preciso descansar.
- Para dar continuidade ao novo acordar.