segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Lugar de luz



Click Criativo


[Coisas na vida de um padre] Chegam boas recordações de dia bonito, do baptizado do Henrique. Já passaram dois anos (ainda pré-pandemia). Olho a foto e recordo o momento: acolher com beijo na testa, sinal de respeito pela força da vida do Henrique. As crianças são lugar de luz. E fico com sorriso embevecido.


domingo, 30 de janeiro de 2022

Escola de Famílias - (In)Fidelidade





[Notas soltas sobre a Escola de Famílias à volta da (in)fidelidade] Quando tenho de falar de temas humanos mais polémicos ou considerados tabu, deparo-me sempre com a necessidade de voltar ao básico. Volta que resulta muito da escuta e observação da realidade. Vou usar absolutos com o perigo de generalização, mas aqui vão: Todos queremos ser bons, especiais, únicos. Todos queremos ter famílias maravilhosas, perfeitas, dignas de publicação, com imensos filtros a dar leveza. Todos queremos não ter qualquer tipo de problemas. Todos queremos que não haja sofrimento no mundo e se for na vida pessoal mais ainda. Surgem as idealizações e as expectativas, junto com as comparações que impedem a constatação da realidade atravessada de luz e sombra. 


Voltar ao básico é recordar que somos seres de relação, manifestando-se em relações, elas mesmas atravessadas de: emoções, sentimentos, provocados pelo instinto de sobrevivência; educação e cultura; racionalidade; e espiritualidade. A fé, antes de irmos para a transcendência, estabelece-se desde o afecto de pele a pele quando nascemos, abrindo-se a realidade de confiança e/ou desconfiança conforme a realidade de vida que vivemos. Ser fiel, antes de ser algo moral, tem de ser trabalhado ao nível existencial. 


A traição e a infidelidade, na sua complexidade, muitas vezes estão ligadas a idealizações de realidade e, mais ainda, ao desconhecimento emocional diante do que se vive na imperfeição, nos desajustes, no sofrimento. O reencontro, a reparação, a reconciliação são possíveis, mas exigem muito trabalho individual e a dois. 


Ontem, falei um pouco mais de tudo isto. Antes, foi partilhado um forte, sentido e bonito testemunho de desencontro e de reconciliação e de seguida estivemos em conversa a Juliana, o Gonçalo e eu sobre como é trabalhar a fidelidade desde o discernimento, apoiados também em Deus. É de extrema importância falar de temas complexos com maturidade e respeito, como ajuda à humanização também da relação-família, ela mesma estruturante da sociedade. Deixo o link para quem quiser ver toda a sessão: https://youtu.be/3x2LycDL9Dg



sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Breve oração


Nuno Gonçalves


[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

o suporte que somos em abraços,

formando comunidade

na beleza de criarmos laços

em humanidade e divindade


Peço-Te

sermos mais uns com os outros

e uns para os outros

atravessando diferenças

e encontrando as semelhanças

entre nós e conTigo 


quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

De regresso


[Breve nota no regresso dos Exercícios Espirituais] Trago o sussurro do silêncio. Reparar é o verbo destes dias, onde parei, permitindo-me ver a luz a renovar-me no caminho da escuta. Levei o silêncio do Túmulo, nos ecos de Jerusalém. Precisava de atravessar mortes, dando tempo e espaço a Deus para me abraçar e erguer em ressurreição. “Envio-te a dar Vida!”, foi o que me disse depois de colocar-Lhe nas mãos tantos nomes. Cada uma, cada um, estiveram na minha oração. Haja luz a envolver cada sombra.


terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Tempo de pausa




João Almeida


[Secção pausa para Exercícios Espirituais] A partir desta noite, durante a próxima semana, recolho-me em retiro de silêncio. Farei os Exercícios Espirituais. Desde os últimos, há quase um ano, tanto aconteceu, sobretudo na escuta de centenas de pessoas, com o impacto da viagem a Israel, em particular Jerusalém, no mundo e Igreja em transformação. Levo, como assim é em cada dia, muitas pessoas no coração, no encontro com o Criador e o Seu amor. Agradecerei o caminho percorrido e espero estar atento à Sua vontade para o devir. Peço a oração ou o bom pensamento. Contem com as minhas orações, de A a Z. Vou ali e já volto. Até breve.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Encontros


[Coisas na vida de um padre] Amanhã, dia 18, às 18h30, na Fnac do Colombo, Lisboa, tenho o gosto de apresentar o livro “Guia para uma vida simples” de Marta Arrais. Enquanto relia algumas partes, eis que o Noor escolhe o melhor momento para também vir ler. Piou-me: “se tiveres dúvidas, avisa.” Começámos uma boa conversa sobre a beleza de voar. Disse-lhe do sonho de vestir uma farda com meia-asa e os paramentos de padre a celebrar missa em pleno voo. Piou-me, como eco, o final do Evangelho de hoje: “a Deus nada é impossível!”


domingo, 16 de janeiro de 2022

Breve oração


[Breve oração ao adormecer]


Agradeço-Te

as amizades com raízes 

sem tempos a expandir céu


sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Encontros



[Breve acontecimento numa tarde de descanso] Aconchegado de manta na cama, já escuro e frio lá fora, com música suave e boa leitura, ora a dormitar, ora a pensar, ora a rezar por alguém, recebo duas visitas: Noor e Oliv. Já cá tive o Bereshit, mas voou até Portimão e lá ficou a fazer companhia ao Xiribiri. É o rei da casa, dizem-me os meus pais. Já estes dois, também querem ter esse posto no meu quarto. São a banda sonora de fundo, quando aqui falo ao telefone, como se ouve logo do outro lado. Fazem boa companhia. A custo de sementes de girassol, afinal não fizeram voto de pobreza. Ainda! Temos muito a conversar entre os três.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Força da palavra



[Secção memórias com pensamentos soltos] Há tempos, no caminho de conhecimento de mim, de curas de memórias, aflorou-me uma do início da adolescência. A entrar na escola, cumprimentam-me: “Bom dia, saciram!” Com risos de seguida. Não percebi porque me chamavam aquilo. E ao longo do dia, mais vezes veio o saciram sempre com risos de gozo. Lembro-me do incómodo sentido. Ao final do dia, depois de insistência minha, em mais humilhação, perguntei porque me chamavam aquilo. “Ainda mais és atrasado! Saciram é maricas ao contrário. És maricas de todos os lados!” Senti-me profundamente mal. 


Partilho isto por dar-me conta de que “mariquinhas” foi usado por quem se candidata a governar 10 milhões de pessoas com diversas características. Diz-se que a política muitas vezes é teatro entre eles e que não se deve levar a sério. Se isto é assim, preocupa-me. Porque governar pessoas não é nem teatro, nem gozo, mas responsabilidade por vidas. Por isso, é preciso tomar consciência de que a linguagem usada tem carácter simbólico e afecta mais do que se imagina, por, e é sério, legitimar ora o positivo ora o negativo. Não me parece tratar-se questão de sensibilidade, mas de maturidade, ainda mais expectável de um candidato. A polarização que existe, levando a hostilidades gritantes, não é caminho de humanização. Podem haver perspectivas diferentes de governação, mas tudo o que é insulto, rebaixamento do outro na sua dignidade, é inadmissível em quem pretende ser líder. Infelizmente, honra e sentido de liderança, não para poder e usufruto pessoal mas responsabilidade social, é coisa deficitária nos últimos tempos. Fazer-se uma reflexão séria sobre liderança e sentido de governo, em especial depois dos efeitos psico-sociais desta pandemia, é urgente e necessária. 


Quem pode fazer caminho de cura, libertação interior, perdão e reconciliação, como tenho vindo a fazer, consegue impedir mais violência. Infelizmente, há muitas pessoas que não conseguem. Por isso, quem governa, ou pretende governar, tem de ter maturidade para contribuir a que os mais fracos e desprotegidos sejam apoiados e integrados, de modo a se sentirem profundamente bem numa sociedade mais livre e humana.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Pedras e libertação


Marta José - Dreamaker


[Conversas soltas, com a devida licença para partilhar] 

- P. Paulo, eu não sou nada vingativo e não quero fazer mal a ninguém, mas a dor é tão grande. É uma angústia por tudo. Ainda mais quando o mal que nos fazem vem de quem menos se espera, tanto pela aparente amizade, como pela suposta crença.

- Do que já tínhamos falado, aqui não há julgamento sobre o sentir. Por mais duro que seja, o que lhe apetecia fazer? 

- Não posso. 

- Aqui pode.

- Mas, e a minha consciência?

- Aqui não está a cometer a acção, apenas a dar-se conta em honestidade consigo mesmo do sentir mais profundo. Vamos até à quinta. Vai apanhar um pedra por cada sentir, por cada pessoa, por cada realidade. Não se fique pelas pedrinhas. É mesmo de sentir o peso físico do que provoca a dor, a angústia.

[Fizemos o caminho e o saco ia ficando cheio de pedras.]

Pode repetir em voz alta, agora a sentir o peso do saco, o que lhe fizeram?

[Repetiu acção por acção terríveis.]

Pegue numa pedra e dê-lhe nome. O que for. O que representa. E quando estiver preparado, jogue-a longe.

[Quando tal acontecia, eu berrava, a ajudar a libertar a fúria, a zanga, a dor]

Mais uma!

[As lágrimas de raiva surgiam, saindo a dor mais profunda.]

Aqui não há julgamento. Apenas a verdade do sentir. Liberte!

[Mais um berro meu, a sincronizar com a dor.]

- Fizeram-me tanto mal. 

[Outra pedra voava para longe, levando a simbolicamente o sentir verdadeiro.]

Sinto-me tão cansado, mas estranhamente leve.

- O cansaço e a leveza são naturais que surjam. A dor, a angústia, a raiva estavam a consumi-lo, a destrui-lo por dentro. Para se poder pensar no que há a fazer com racionalidade e justiça é fundamental libertar as emoções que abafam a alma.

- Preciso descansar.

- Para dar continuidade ao novo acordar. 


terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Pinceladas de beleza






[Secção coisas de nada] Amanheceu com tons de mistério. O nevoeiro rodeava a quinta, dando-lhe silêncio ainda mais sossegado. Detive-me nas pinceladas de beleza. Como a fragilidade de um fio, que à escala revela tanta força para aguentar o toque da bruma. Pensei nas pessoas frágeis que são, ainda assim, sinal de força de vida. E que aguentaram tanto. As memórias e as experiências que se tornam resiliência no caminho de encontro. Desde aí, formam redes, entrelaçam relações, partilham histórias como testemunho de que é possível, apesar da fragilidade, ser forte. O nevoeiro foi levantando. O sol despontou. Enquanto contemplava os pequenos diamantes a brilhar pousados nas pinceladas de beleza, o tempo parou e senti a leveza da eternidade. Agradeci e voltei à escuta de vidas também plenas de mistério do imenso de humanidade.


domingo, 9 de janeiro de 2022

Boas recordações



SL Casamentos


[Coisas na vida de um padre] Chegam boas recordações de dia bonito. E com uma criança a animar. Disse-lhe que podia ir ao microfone dizer o quanto gostava dos padrinhos, já que ficou perto deles quase toda a celebração. Afinal, toda a gente tinha de ficar a saber esse carinho. Depois, ia querendo mais. Das coisas boas das crianças é que nos recordam esse mais da alegria e do amor a que somos chamados.


sábado, 8 de janeiro de 2022

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

as perguntas feitas pontes

convidando a travessias para lugares

de escuta e livres de preconceitos 


Peço-Te

ajuda-nos a derrubar muros de rótulos 

e assim abrir espaço a conversas

de comunhão, expandindo humanidade


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Sobre sexualidade


[Secção pensamentos soltos sobre sexualidade] Os ecos do live com a Xia continuam a chegar. Entre mensagens de agradecimento e desabafos, é notório o impacto que aquele momento teve em tantas pessoas. Consciente das muitas fronteiras, sabendo que o humor seria o registo, houve oportunidade de, tal como gosto, boa conversa. Surgem muitos comentários positivos pela minha abertura para falar de temas como sexo, sexualidade e corpo. Pois, parece-me cada vez mais importante falar-se disto de forma madura, clara e adulta. A carência da educação sexual (que nada tem que ver com promoção de sexo) é gritante, levando a profundos desajustes no que realmente importa: o respeito pela dignidade da pessoa. 


Infelizmente, a formação demasiado moralista que castra a criança, impondo-lhe “nojos”, “vergonhas” e outras coisas que tais na sua fase genital, que é de descoberta sensível e física (repito, sensível e física), faz com que muitas pessoas estejam estagnadas aí, tornando a realidade sexual algo desde o conspurcado ao idolatrado. Pois, os extremos são perigosos. Depois, dado a piadas que, num momento têm graça, haja humor, sim, mas depois se se insiste… isso, é a confirmação de que ainda se está na fase sensível e física. É que do físico, há que passar ao relacional, ao encontro. E tal pode ser, em acto sexual. Ou não. A sexualidade implica afecto de entrega ao outro sem que necessariamente haja sexo. Esta consciência não acontece de um dia ao outro. É trabalho interior, desde a vocação particular, para a vida toda, em todas as condições de vida. 


Se queremos de sair de: violência de género; mulheres ou homens como objectos sexuais; tensões entre casais; infidelidades várias; abusos vários; rejeição da realidade própria de corpo; então, há que abordar a sexualidade de forma adaptada às diferentes capacidades de entendimento conforme as idades, ou seja de forma madura, desde as dimensões física, psico-afectiva, racional, social e espiritual. A dignidade, o respeito, o sentido de alteridade é caminhada humana. E, sim, como em tudo no humano, podemos levar com humor, desde que atravessemos as fases em maturidade. O bom da boa sexualidade é que verdadeiramente humaniza.

sábado, 1 de janeiro de 2022

Desejos soltos


João Almeida


[Desejos soltos no primeiro dia de 2022] 


Que sejamos travessia, em qualquer tipo de viagem, para a Paz. 


Pelo caminho, se abra a consciência do que nos impede de amar, e livres, amemos. 


Olhemos o outro, para lá de todas as diferenças e ainda que nos custe cruzar a presença, como igual em dignidade. 


Possamos permitir Deus entrar no caminho e assim crescer com Ele, que nos quer adultos na fé. 


Ajustemos o material à necessidade do que realmente precisamos na vida, sabendo que num instante damos conta de que apenas o abraço importa. 


Possamos ter coração disponível para acolher, cabeça fresca para pensar o que acolhemos e mãos abertas para devolver em dádiva de bem.


Vivamos o humor em recordação da alegria como fonte de humanidade e a reverência como sinal de respeito, em especial por quem sofre. 


No meio da multidão, agradeçamos sermos apenas mais um. No silêncio do quarto, agradeçamos sermos únicos. No conforto de um abraço ou beijo, agradeçamos a possibilidade de partilhar afecto.


No serviço, sejamos generosos a pôr os dons a render, em colaboração com quem nos é confiado no caminho. 


Ganhemos tempo em leituras, conversas, encontros, silêncios, espectáculos que nos abram o ser a cuidar da humanidade e da nossa casa comum. 


Boas passagens na continuação de caminho em 2022.