quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Pedras e libertação


Marta José - Dreamaker


[Conversas soltas, com a devida licença para partilhar] 

- P. Paulo, eu não sou nada vingativo e não quero fazer mal a ninguém, mas a dor é tão grande. É uma angústia por tudo. Ainda mais quando o mal que nos fazem vem de quem menos se espera, tanto pela aparente amizade, como pela suposta crença.

- Do que já tínhamos falado, aqui não há julgamento sobre o sentir. Por mais duro que seja, o que lhe apetecia fazer? 

- Não posso. 

- Aqui pode.

- Mas, e a minha consciência?

- Aqui não está a cometer a acção, apenas a dar-se conta em honestidade consigo mesmo do sentir mais profundo. Vamos até à quinta. Vai apanhar um pedra por cada sentir, por cada pessoa, por cada realidade. Não se fique pelas pedrinhas. É mesmo de sentir o peso físico do que provoca a dor, a angústia.

[Fizemos o caminho e o saco ia ficando cheio de pedras.]

Pode repetir em voz alta, agora a sentir o peso do saco, o que lhe fizeram?

[Repetiu acção por acção terríveis.]

Pegue numa pedra e dê-lhe nome. O que for. O que representa. E quando estiver preparado, jogue-a longe.

[Quando tal acontecia, eu berrava, a ajudar a libertar a fúria, a zanga, a dor]

Mais uma!

[As lágrimas de raiva surgiam, saindo a dor mais profunda.]

Aqui não há julgamento. Apenas a verdade do sentir. Liberte!

[Mais um berro meu, a sincronizar com a dor.]

- Fizeram-me tanto mal. 

[Outra pedra voava para longe, levando a simbolicamente o sentir verdadeiro.]

Sinto-me tão cansado, mas estranhamente leve.

- O cansaço e a leveza são naturais que surjam. A dor, a angústia, a raiva estavam a consumi-lo, a destrui-lo por dentro. Para se poder pensar no que há a fazer com racionalidade e justiça é fundamental libertar as emoções que abafam a alma.

- Preciso descansar.

- Para dar continuidade ao novo acordar. 


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