sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Quarta-feira de Cinzas



[Secção pensamentos soltos em Quarta-feira de Cinzas] É a primeira vez, em todos estes anos de celebração de cinzas, que sinto profunda vontade em regressar ao pó da terra. Está fora deste meu sentir o fatalismo moralista com que se entende a frase que caracteriza o dia de hoje. Não é um desejo de morte. Muito pelo contrário, atravessa desejo de vida nova. Fui-me cansando da soturnidade dada à Quaresma. Fui-me abrindo à serenidade que estes 40 dias implicam de encontro com Deus. Por isso, este dia de Cinzas ganha luz. Na beleza da criação somos moldeados por Deus a partir do pó da terra. Tanto significado isso tem. Há quietude na terra, que ali está, sujeita às agruras do tempo e de quem passa. A sua fertilidade reveste-se de matéria-morta em húmus transformada. Acolhe a chuva como força aos naturais nutrientes a dar às sementes que nela caírem. Sim, pó da terra. No meio de tanto ruído por esse mundo fora, onde tanta gente rasga as vestiduras em frente a um écran, sem pudor de matar através da palavra, a quietude é desejada e assim viver: jejum do que bloqueia maior autenticidade; silêncio para visitar as sementes e as impurezas, libertando do que impede de doar mais. Regressar ao pó da terra torna-se, então, a certeza de regresso a casa, onde Deus nos espera para o abraço reconciliador, enviando-nos novamente a ser vida para os outros. 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Mimo de beleza



[Secção coisas de nada em dia de Carnaval] É uma simples e pequena flor com gotas. Mimo de beleza. Pensei escrever sobre máscaras em dia de Carnaval. Viva a folia. Tem o seu lugar e sentido no extravasar de alma. Contudo, a simplicidade da pequena flor com gotas recordou a essência de ser sem adereços ou contornos justificativos do que for. Daqui a uns tempos dará fruto. Entretanto, é simplesmente um mimo de beleza.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Breve oração



[Breve oração antes de adormecer]

Agradeço-Te
as ponderações e as perguntas, 
na distância do emotivismo, 
a escuta e a busca de paz e respeito.

Peço-Te
capacidade para me afastar de extremos populistas 

e iluminar sensatez.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

IVM 2020




[Coisas na vida de um padre] As redes sociais vieram “instantanear” a realidade. Às vezes faz sentido recordar que é no presente que se vive, sobretudo quando se está preso ao passado ou com angústia de futuro. No entanto, o isolamento espacial e temporal também pode ser altamente redutor. Por isso, mesmo já tendo passado uma semana, é hoje que partilho sobre a beleza do encontro no serão com a Mia e com o Pedro, na sua tour IVM 2020, em Braga. Foi um maravilhoso tempo de escuta e de conversa, com boa disposição e muitas gargalhadas. Algumas pessoas, no final, vieram ter comigo a comentar: “vocês complementam-se muito bem”. Depois da apresentação dos dois, com foco na curiosidade, na possibilidade e na aproximação, entrei em palco para respondermos os três a perguntas do público. No meio deste turbilhão de mundo, com tanto a dar que pensar em especial na relação, é bom sentir esperança em tantas pessoas que desejam crescer humana e espiritualmente. No crescimento, ao longo do caminho da existência, há que permitir as perguntas ajustadas, orientando para o sentido de humanização e de responsabilidade. Agradeço uma vez mais aos dois pelo convite e pela vossa entrega a contribuir por um mundo melhor. Muitos parabéns a todos os voluntários IVM e à Associação Novais e Sousa pela dedicação e amor no que fazem. A magia aconteceu e continua a iluminar. 


domingo, 16 de fevereiro de 2020

Como a si mesmo, amar o próximo



[Secção pensamentos soltos sobre racismo] Já tive oportunidade de escrever que não gosto, nem quero usar, a expressão “raça” aplicada a seres humanos. É mais um rótulo de hierarquizar pessoas, quando, na dignidade não há qualquer distinção. No comportamento sim, podemos e devemos distinguir as pessoas amadas das muito mal-amadas. Só quem tem muita falta de amor consegue alimentar ódio, ao ponto de achincalhar outra pessoa. Marega sai. Legítimo. Sobretudo quando não foram cumpridas as regras do jogo e ainda foi penalizado num momento quando, em ímpeto de reacção, se manifestou contra o gozo que estava a ser submetido. No entanto, como diz a minha querida Sílvia Baptista, “o problema não é ter saído o Marega. O problema é não ter saído a equipa toda.” Isto não é uma questão de um indivíduo, mas de consciência colectiva a manifestar que ninguém deveria ser sujeito a este tipo de comportamentos. Volto ao mesmo: toda a agressividade é resultado de muita ignorância social, intelectual e afectiva. E isto não é “eles”. Cada um de nós tem de fazer o caminho de “como a si mesmo, amar o próximo”. Tanto mudaria. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Gotas de chuva em pétalas




[Secção coisas de nada] Gosto de chuva. No seu tempo, sim. Mas, gosto. Além do claro convite ao recolhimento, limpa os ares, avivando as cores e alimentando as sementes de novos tempos. Gosto de contemplar as gotas aglomeradas na leveza das pétalas. São como pequenos diamantes oferecidos com tempo para contemplar e agradecer. Um pouco como a noite de ontem, em que estive à conversa no Altice Fórum, em Braga, com a Mia e com o Pedro, que já escreverei mais sobre ela: tal como a chuva, limpou, avivou e alimentou, deixando gotas de beleza para contemplar. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Almofadas e libertação



[Secção coisas de corpo] Descreveu-me os cansaços acumulados. Mais que os cansaços, as dores de alma que foi guardando ao longo dos anos, abafadas pelo medo de não haver entendimento.
- Temos sempre de pensar no outro, não é? Foi o que sempre me ensinaram na catequese. O outro em primeiro lugar, sempre.
- Mesmo que agrida física e psicologicamente? 
- Aí, estamos a viver como o Senhor na Paixão. 
- Também ensinaram isso?
- Sim, que quando sofremos estamos a suportar a cruz como Jesus.

- E onde fica a parte: “para onde vou vocês não podem ir?” Deus não nos chama ao sofrimento, ainda mais quando foi infligido por alguém.

[As lágrimas que iam aflorando, começam a cair copiosamente.] Quantos gritos tem atravessados? Quantas zangas? Vamos esquecer o moralismo. Deus deseja a nossa a liberdade.

- Tantos, P. Paulo. Tantos!

- Sei que não é fácil. Tome esta almofada. Nela coloque o máximo de dores, nomes e situações. Jogue contra a parede, para o chão. Sem julgar a zanga contida, liberte-a.
Uma e outra vez lançou, permitindo a raiva sair... com os gritos de dor. As lágrimas há muito acumuladas saiam dando cor à libertação. A almofada tornava-se cruz no sentindo profundo de luz a atravessar sombra. Ao fim de um tempo, com gesto, fez sinal de parar.

- Posso dar um abraço?

Acenou afirmativamente.

- Que estranho alívio.

- É preciso tempo. Não é uma resolução, mas passo de caminho para a cura de alma. Sim, viver a sua paixão que leva ao encontro da ressurreição, da Vida.

- Deus é luz.

- E quer que também sejamos luz em liberdade.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Noite



[Secção letras verdes] A propósito de conversas sobre as noites de alma.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Dons, qualidades, talentos como sal e luz



[Secção pensamentos soltos] Às pessoas participantes de um retiro ou formação pergunto o nome e pelo menos uma qualidade. É muito curiosa a reacção geral (tanto do grupo que pergunto, como dos muitos grupos a que tenho perguntado): 
- Ui, que difícil!; nem sei!. 
- Seria mais fácil se eu perguntasse os defeitos?
- Aí dava-lhe uma lista.
- Pois, que isto de dizer as qualidades provoca o receio de alguém dizer “presunção e água benta, cada um toma a que quer”.
Além das gargalhadas, apresento a constatação: 
- A realidade de estarmos numa sociedade mais marcada pelos defeitos que pelas qualidades. No entanto, Deus não nos dá defeitos. Deus dá-nos dons, qualidades, talentos, que nos levam a ser luminosos e a dar sabor à vida de quem nos circunda. Se ficamos centrados nos defeitos, o que acaba por acontecer é entrar em competição. Se constatarmos, aceitarmos, trabalharmos e pormos a render as qualidades, naturalmente avançamos para a colaboração. 

Como escutamos na passagem do Evangelho de hoje: “Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus.” [Mt 5, 13-6] 


Hajam qualidades. Hajam Luz e Sal de humanidade. 

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Momentos



[Coisas na vida de um padre] Estou a orientar retiro a catequistas, depois de ter orientado uma formação a seminaristas. Em ambos houve corpo, no respiro literal e de vida de relação com Deus. No retiro, a Isabel, além da sua muita autenticidade, esboçou momentos. Aqui fica um.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Boas recordações



[Coisas na vida de um padre] A Ana e o Pedro convidaram-me para os acompanhar na preparação do casamento e celebrá-lo. Fomos fazendo caminho, com conversas, partilhas, sobre a dimensão humana, moral e espiritual do que significa “amar para sempre acompanhados por Deus”. Perceberam algo: mesmo com todo o Amor que sentem um pelo outro ainda não era tempo de vivê-lo em sacramento. Que bonitas conversas tivemos, levando à sensatez em não querer viver o que não seria, de momento, autêntico. Isso não invalidou a beleza do Amor que se quer em caminho. Perguntaram-me se eu, ainda assim, iria festejar com eles. “Sim, claro.” Lá estive, em oração e a presenciar a beleza do caminho feito de amor. Diante de todos os convidados, voltei-lhes a falar de Deus e das Suas portas abertas. Ficou ainda mais vontade de O querer descobrir em maior profundidade através do Amor.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Breve oração



[Breve oração antes de adormecer em letras verdes]
Depois de ler, por aí, muitos comentários agressivos, quero terminar o dia a recordar o essencial.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Colo na Missa




Cláudia Costa

[Coisas na vida de um padre] No dia do baptismo da Carminho estava no altar e, pouco antes do Pai-Nosso, a outra Carmo aproxima-se, olha para mim, levanta os braços pedindo colo. Sai-me a gargalhada pela espontaneidade da criança e ali nos acolhemos, a rezar ao Pai até ao abraço da paz. Foi maravilhoso.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Racismo, violência e afectividade




[Secção pensamentos soltos sobre racismo, violência e afectividade] Quando leio que em Portugal, “porque tem o Eusébio no Panteão” ou “um Primeiro Ministro descendente de goeses”, não há racismo, fico de sobrolho levantado. O verdadeiro respeito pelo outro nem comporta este tipo de frases. Sim, o racismo, em particular a xenofobia, em que podemos juntar outras fobias sociais e religiosas, estão aí.

Os medos ao diferente, ao que sai de esquemas mentais estabelecidos, são naturais. O instinto de sobrevivência é activado. No entanto, o trabalho da razão serve para minimizar a acção deste instinto. Para lá chegar, o trabalho é complexo, como se nota pelas muitas reacções de agressividade que há para com o diferente. Mesmo quando se usam meios racionais, como as palavras e tentativas de argumentação que segregam pessoas a partir de características diferentes. Não gosto de usar a palavra raça. Mais um conceito criado ao serviço da diminuição de pessoas. A agressividade não está ligada à cor de pele, mas à falta de afecto que impediu o crescimento do medo. Os mimos, abraços, carinhos que não são dados quando se é criança, os abusos vários nos muitos níveis, contribuem a atitudes constantes de defesa diante do diferente. Por outras palavras, aquilo que Bessel van der Kolk, psiquiatra especialista em trauma, designa por epidemia de trauma de desenvolvimento. Num dos muitos estudos que fez, chegou à conclusão que mais de um quarto das crianças americanas sofreu de abusos violentos vários. Isto tem efeitos psicológicos, mas como somos um todo, também biológicos, onde o aumento de hormonas que activam o estado de defesa causa efeitos nocivos tanto de saúde, como sociais. Mas, isso é para outra publicação. Nestas poucas palavras que estes lados permite, recordo, apesar de não ser novidade, que violência gera violência. Um primeiro travão é tomar consciência disso ao nível pessoal. Não é problema dos “outros”, mas de cada um. Não são cores, géneros ou orientações, mas pessoas. Trabalhar a educação emocional, dos afectos, da relação com outros com características diferentes ajuda a diminuir a agressividade e a desenvolver a humanidade.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Ser luz na Luz




[Secção pensamentos soltos em dia da Apresentação do Senhor - Dia do Consagrado] Regresso a estes lados depois de Exercícios Espirituais num dia bonito, em capicua 02.02.2020, também conhecido por ser de Nossa Senhora das Candeias, celebrando os consagrados. Nem de propósito, hoje um amigo partilhou comigo um álbum de fotografias antigas. Estavam estas duas de há 16 anos, como noviço de primeiro ano, no AfterXav 2003, num momento de promoção vocacional. “Jesuítas - mais do que um segredo, uma paixão.” Ser consagrado, no meu caso jesuíta, é uma paixão. Já lá vai o tempo que se rodeava de segredo, mas, ainda mais vindo de Exercícios, só me faz sentido viver esta vocação no profundo sentido de paixão por Jesus. O tempo passa (o pouco cabelo vai branqueando) e ocorre amadurecimento na certeza do abrir da vida diante d’Ele, em crescendo de verdade. Ainda assim, aproveitando a foto com a folha verde em que estou a fazer discurso de bordo, quantas vezes pensei em “voltar aos aviões”? Algumas. Significa que se perde sentido vocacional? Não. A paixão dirigida em e ao amor pleno é caminho para perceber a autenticidade que implica iluminar as sombras. As lutas são muitas, exigentes, nesse encontro de liberdade diante de mim, dos outros e de Deus. Há quem olhe para a nossa vida de consagrados e consagradas como perda, desperdício, desnecessária, sem sentido. Sim, há muitas perdas, mas, quando somos capazes de deixarmo-nos amar por Deus e, desde aí, amar o próximo como a nós mesmos, atravessando preconceitos, físicos e mentais, os ganhos são de grande beleza. E vai-se despertando a compreensão das palavras de Simeão, quando toma o Menino Deus nos braços: “Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo.” Sejamos luz na Luz!