[Secção pensamentos soltos] “Fico espantado por se poder dar respostas de ontem às perguntas de hoje.” Este pensamento do P. Pedro Arrupe,sj é tão actual. O P. Arrupe partiu faz hoje 30 anos. O seu amor a Cristo fazia com que se actualizasse desde o mistério da encarnação. Reconhecendo as perguntas intemporais que pedem respostas situadas no tempo existencial, o P. Arrupe observava a realidade concreta, buscando os meios para que a vida e a dignidade humana tivessem sempre lugar no aqui e no agora. No meio de uma pandemia, alguém que estava em Hiroxima quando caiu a bomba deixa-nos um legado humano e espiritual a avivar-nos a esperança de que não são idealizações ou ideologias que cuidam, mas braços, mãos, corações, olhares e escuta de quem quer cuidar o outro.
Os tempos que vivemos são de grande violência em muitos sentidos. Não quero comparar com uma bomba atómica, mas os efeitos psicológicos do inesperado, do incógnito, da imensa consciência da fragilidade, abalam-nos o ser. Por isso, é preciso ganhar distância para saber o que cada um, cada uma é chamado a viver. A realidade está em transformação e o cansaço começa a imperar. Então, é a altura de perceber qual a pergunta que encaminha à autenticidade. Na gestão emocional, relacional, profissional, familiar, o que é realmente importante e fundamental?
O P. Arrupe vivia em profunda relação de criatura com o Criador, que Sto. Inácio impele nos Exercícios. Diante de Deus tinha consciência da situação concreta, sem comparações, rodeios ou auto-enganos, de modo a chegar à resposta do que havia a fazer. Mais do que nunca, as paragens para respirar, tomar consciência do sentir e do viver, rezar, amar, são meios para serenar competições de super-seja-o-que-for-humano, e, acolhendo a fragilidade, buscar caminhos de encontro, ajuda, cuidando da saúde mental, espiritual, relacional, vital. O hoje não é nova normalidade, mas uma passagem para aprofundar o amor, por ser, nas palavras do P. Arrupe, “a dimensão definitiva e global do ser humano, dando sentido a todas as outras dimensões. Só quem ama é que se realiza plenamente como pessoa.”