[Secção pensamentos soltos em dia de N.ª Sr.ª de Lourdes e dia mundial do doente] As janelas abrem a possibilidade de luz. Pode ser do sol, como de encontros. Com as visitas condicionadas, a janela encurta a distância em segurança. Podemos ter todas as videochamadas, e que maravilhosas são, mas o aceno de mão, ainda que longe, transforma-se em emotivo abraço. Assim foi, hoje, a nossa visita ao meu pai. Mantendo o humor, a alegria de viver, as motivações em alta, e a muita gratidão por todas as pessoas que perguntam por ele, hoje à janela esteve de pé pela primeira vez desde há mais de dois meses para nos ver e acenar ao longe.
Estar doente é um grande abanão de alma. Conforme a intensidade, tanto muda. Recolocam-se as questões da existência, dando espaço e tempo ao lugar da fragilidade. Acentua-se a consciência da beleza das pequenas coisas. Reconhece-se o fundamental da relação, em especial no gesto do cuidar. Somos criados para a saúde, mas na condição biológica, sem que se deseje, a doença pode surgir. Se bem aproveitada, contribui para a cura da sofreguidão do ter, de modo a dar mais lugar ao ser.
Ao longo destes dois meses, a acompanhar as pequenas vitórias do meu pai, com coisas tão aparentemente simples como voltar a mastigar e permitir saborear a comida, tenho pensado na importância da vida, onde é que faz sentido ganhar tempo, o que somos chamados a fazer enquanto humanos. É tão simples e de grande complexidade: a amar. Na minha oração de hoje recordo todos os que amam, em família, em dedicação profissional no cuidar, nos que passam mais dificuldade, pelos doentes esquecidos na falta de amor. Assim, não havendo outras possibilidades, que hajam janelas a permitir luminosos encontros que encurtam o abraço com acenos de mãos. [A fotografia não sendo a melhor, ficou como registo do abraço ao longe.]
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