segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer]

Agradeço-Te 
as aprendizagens de mar, entre ondas a recordar o ir e o regresso transformado, onde o centro e o profundo se tornam cada vez mais calmos e plenos, revelando a liberdade.


Peço-Te

perguntas que me levem a partir.

domingo, 29 de setembro de 2019

O nome como pormenor [importante]




[Secção pensamentos soltos] Na passagem do (não) encontro do homem rico e de Lázaro, o desgraçado a quem “até os cães lhe lambiam as feridas”, detive-me no pormenor de que um tem nome e o outro não. Este detalhe que S. Lucas coloca não é de pouca importância. O nome identifica-nos. À pergunta “quem sou” começa-se por responder “sou [nome]”. O homem rico ficou-se pela identidade de possuir coisas apenas para si. Ter coisas não é mau. O que torna negativo é uma posse tal que desvalorize radicalmente o cuidado pelo outro, em especial quem mais necessite. Lázaro o único que tinha era o nome. Não se faz uma apologia de miséria, mas de saber ser pobre, mesmo tendo muitas coisas. A pobreza, o despojamento, a liberdade, o cuidar do outro, dá-nos nome. Esse que está inscrito nas mãos de Deus, como recorda Isaías. Bem, então temos de ser desgraçados para ser dignos de nome? Não se trata de nada disso. Deus não é apologista da miséria, mas da pobreza. Ser pobre é saber libertar do que impede a autenticidade e o cuidado pelo outro. Tanto pode ser libertar de coisas materiais, como psicológicas e espirituais. Posso não possuir nada que se veja ao nível material, mas ter arrogância, presunção, desprezo, por não me ter deixado atravessar pela graça. Então, sim, ainda sou rico... e desgraçadamente sem nome. Sim, exigente, o trabalho humano e espiritual de escutar os profetas, os mestres e os guias que encaminham a Deus passa por conhecer internamente a força do amor e encontrar liberdade. É aí que também reside o Nome.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

479 | 16




Pedro Sampaio - na apresentação sobre a espiritualidade da peregrinação de vida, depois de termos visto o documentário “Camino”, no Cine-Teatro Garrett - Póvoa de Varzim

[Secção vida em celebração] 479 | 16. Dois números a falar de tempo, em anos, neste dia 27 de Setembro. O primeiro, a idade da Companhia de Jesus. O segundo, os anos que nela habito. É dia de agradecer a Deus e a tantas pessoas. Neste tempo, tenho aprendido a sentir o chão, umas vezes liso, outras rugoso, tornando o caminho de liberdade e de serviço ora mais ligeiro, ora mais moderado, permitindo silenciar, contemplar, celebrar, escutar, partilhar e amar cada vez mais a Deus sobre todas as coisas. Um Abraço aos jesuítas por esse mundo fora, com a minha oração ao Senhor da Vida por nós, pelas nossas missões e por todas as pessoas que nos ajudam a ser quem somos.


quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Padre agricultor nas vindimas



[Coisas na vida de um padre] Estreei-me nas vindimas. Entre o som do corte dos cachos e a animação das conversas, vou imaginando o “Anno 1540” (o vinho produzido aqui na Casa da Torre) a ser preparado. Haja padre agricultor!

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Lugar na fotografia da humanidade




[Secção memórias levando a pensamentos soltos] Hoje de manhã dei uma pequena entrevista como contributo a um trabalho de mestrado sobre fotografia. Daqui a uns tempos poderei revelar mais, mas, durante a conversa, a propósito das emoções que as fotografias podem evocar, lembrei-me desta. É a fotografia da turma do 8.º E, 1992/93. Desperta muitas recordações. Detenho-me na que veio no seguimento da conversa: eu estou na fotografia, mas escondido. Propositadamente escondido. Recordo perfeitamente a sensação e o pensamento de não querer aparecer por medo a ser gozado. “Se não me vêem, não me chateiam, nem gozam.” E assim ficou registado outro tipo de silêncio: o da vergonha. Hoje não me dói ao recordar esses tempos. Usando a expressão de Enzo Bianchi, sinto a memória curada. No entanto, dói-me pensar que ainda há tantas crianças e tantos adolescentes e adultos que se escondem por vergonha, por medo, por não quererem ser gozados, por não serem aceites nas suas diferenças, físicas, culturais, sociais, religiosas, económicas, sexuais, emocionais. O problema não é da vítima, mas de quem agride, de quem anula o outro. Quem agride tem muita falta de amor-próprio, pois quem está bem consigo mesmo não necessita de afirmação, muito menos de anular o outro. A vítima necessita de muito apoio e acolhimento, em tempo e espaço onde possa falar, expressar, libertar-se de tanto sufoco. Afinal, muitas das vezes é a vítima que tem de mudar todo o seu estilo de vida, já que o agressor, cheio de aparente valor, lábia e capacidade refinada de fazer mal, consegue “sair por cima”. Em geral, por provocar ainda mais medo a quem o rodeia. Atenção, agressor pode ser uma pessoa ou uma entidade institucional. Lamento que nalgumas situações haja disparidade de critérios também em relação às vítimas, conforme a ideologia ou crença. Fazer mal ou bem a outro não tem nem credo, nem cor política, apenas depende do caminho de liberdade, de cura e de amor-próprio que cada pessoa vive. A coerência de valores residirá sempre no respeito pelo outro, enquanto pessoa que é, mesmo não se concordando com o modo de pensar ou ser. A coerência de valores humanos impedirá qualquer agressão à dignidade do outro. Reconheço tanto a complexidade de tudo isto, como a possibilidade que cada um de nós tem de promover a vida e a compaixão, implicando-nos e contribuindo com a nossa parte para que todos sintamos que temos lugar na fotografia da humanidade. 

domingo, 22 de setembro de 2019

Acalmar ruídos dissonantes



Samuel Afonso,sj


[Secção pensamentos soltos] Estava em busca de fotografias e encontrei esta. Quando foi tirada eu já sabia que viria para uma casa de silêncio. Na pequena Capela do Cristo do Sorriso, nos breves minutos de oração, pedi-Lhe ajuda para acalmar os ruídos, meus e do mundo. É dos grandes desafios de vida que, a meu ver, temos: silenciar ruídos dissonantes. Tal não é um exercício heróico, nem voluntarista. Implica vontade, sim, mas muita paciência, tempo de respeito: por um lado, com os próprios ruídos, percebendo de onde vêm, por outro, connosco próprios, aprendendo a partir da etapa de caminho que percorremos na actualidade. E sempre que necessário, recorrer a ajuda, seja ela espiritual e/ou psicológica. À medida que os ruídos dissonantes vão-se acalmando, saindo, libertando, ganha-se serenidade e capacidade de escuta de novos sons que abrem horizonte.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Retiro a Carmelitas




[Coisas na vida de um padre] Comecei há pouco a orientar retiro às Carmelitas do Mosteiro do Imaculado Coração de Maria, diocese do Porto. O retiro seguirá uma linha, conforme me pediram, de conhecimento e oração desde o corpo, a corporeidade. Já há pouco, no primeiro encontro, senti a beleza do desafio. Estas Mulheres têm uma força de Espírito impressionante. Será ao longo da semana. Encontrar Deus pelo movimento. Como pedem que não se fotografe ou filme, a imagem que partilho é de um momento belíssimo no Carmelo da Paz, em Mazille - França, quando lá passei. Falando com a Madre Superiora soube que as Monjas daqui têm grande proximidade com as de lá. Rezamos uns pelos e com os outros.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Sobre boas conversas



[Secção letras verdes] Apontamentos de sexta-feira à noite, a propósito de conversas.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Ligação entre o padre e o casal




Daniela Rodrigues - Meraki Studio

[Coisas na vida de um padre] Chegam boas recordações de dias felizes. Esta bonita fotografia ilustra muito bem como abençoar um casamento significa que fica de fundo a especial ligação entre o padre e o casal. Até podemos ficar tempos sem nos encontrar ou falar, mas nem que seja no silêncio da oração vamos trazendo à memória o gesto de bênção que aconteceu no dia do casamento. Deseja-se a beleza do amor em crescendo. No entanto, podem surgir oscilações de tanto na relação. Enquanto padre, também vivo a responsabilidade de recordar a base do amor nos caminhos, por vezes duros, de encontro e de perdão. Aí, não duvido, a relação cresce e dá-se passos de Vida e de Amor, individualmente e em comunidade.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Deus Como Tu em acampamento



[Secção Deus como Tu] “Paulo, aqui vai a foto para saberes que o teu livro foi um óptimo apoio no nosso acampamento!” E é isto. Ele andou e anda por aí a ajudar em reflexões e bons encontros humanos e divinos. Obrigado, Pedro!

domingo, 8 de setembro de 2019

Laço verde




[Secção homenagem] Os inícios de aulas podem ser oportunidade de grandes amizades. Quando se é criança não se sabe o quanto, mas, nós, adultos, podemos ajudá-las a serem acolhedoras o mais possível ao ponto de surgirem amizades de vida. Assim, hoje é dia de contar a história do laço verde. No dia do seu aniversário, com esta história, agradeço e faço homenagem à minha melhor Amiga do mundo, do universo e arredores: a Suzanne. É sabido que gosto muito de celebrar o aniversário. É um dia de concentração de vida. Estávamos no 5.º ano. Éramos colegas pela primeira vez. Nesse dia, levei um laço verde. Aquela sensação de como algo nos torna especial. Mas, pode ser motivo de tristeza. Fui altamente gozado por colegas, rindo e puxando-me o laço. Sentia-me só e triste. A Suzanne também vibra com a celebração de aniversário. Assistiu e não ficou indiferente. Saltou para cima do banco de pedra e disse: "o meu amigo hoje é o rei. É o dia dos seus anos. Ninguém se mete com ele." Era tal a autoridade na voz que se afastaram. Desde aí, a amizade foi crescendo, onde, além da história do laço verde, juntam-se milhares de situações caricatas, milhares de conversas, milhares de partilhas, milhares de estupidezes das boas. De vez em quando, nas aulas, a propósito do tema amizade, fazia video-chamada com a Suzanne. Recordo a felicidade dos meus alunos do 5.ºG (2015/2016) quando a conheceram em Lisboa. Por estarem no 5.º ano, partilhei com eles a história do laço verde. Aproveitaram e fizeram-lhe imensas perguntas sobre o "setôr". Mas, mais importante, passar a mensagem do muito bom que pode acontecer quando acolhemos e respeitamos desde crianças. Naquele dia, ela fez a diferença. Hoje, são 30 anos de melhor Amizade. A Suzanne continua na sua dedicação a contribuir para um mundo melhor, humanizando na busca da autenticidade e da integridade com quem ela se cruza. Que o seu exemplo possa ajudar mais melhores amizades do mundo, universo e arredores a surgirem. Parabéns, Bedulina!

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Rasgar véus




- P. Paulo, das coisas mais difíceis que tenho vivido é descobrir-me. Sempre me ensinaram o recato e que uma mulher que fala demasiado com muita gente é galdéria e oferecida. Sinto-me presa, sempre com medo.⠀
Pode pôr-se de pé, se faz favor? Braços ao longo do corpo. Respiração normal, intercalando com inspiração/expiração profundas. Não está naquele tempo, mas aqui e agora. Dá-me licença que a envolva com um véu?⠀
- Sim.⠀
- Vou apertá-lo aos poucos. Imagine que são as palavras “galdéria” e “oferecida” a envolver. [Começa a emocionar-se.] Que dizem os braços e as mãos? Permitem que a envolvem? ⠀
- Mas posso rasgar?⠀
- Rasgue. Isso, permita-se libertar com a sua força. Liberte-se dessas palavras-fantasmas.⠀
- Mas não sou digna!⠀
- Vou apertar mais e, simbolicamente, é a indignidade a envolver.⠀
[Contorce-se, muito emocionada. Dá um grito de raiva acumulada, rasga o tecido e pára, agora em lágrimas de liberdade.]⠀
Respire com calma. Estou aqui. ⠀
[Passam uns minutos]⠀
- P. Paulo, quantos véus nos envolvem? Muitos não é? Sinto-me estranhamente solta. É algo novo.⠀
- Pois, não duvidando que tenha sido com os melhores desejos, muito nos é dito e ouvimos desde pequenos: regras, modos de estar, até de ser, categorias, como proceder. Mas, crescer significa também perceber o ajustado na profunda liberdade. ⠀
- Tenho ainda algum caminho pela frente.⠀
- Sim, mas antes de o olhar, veja que já começou a rasgar. É tempo de agradecer esse passo...⠀
- ...da minha liberdade e dignidade.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Breve Oração




[Breve oração antes de adormecer]⠀
Agradeço-Te⠀
os encontros ⠀
que rasgam e atravessam véus⠀
deixando vislumbrar a força da luz⠀
em movimentos de vida.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Nomear as sombras




[Secção letras verdes] Dia bom, com ecos de “faça-se luz” do primeiro dia da criação.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Recomeços



[Secção coisas de nada] Quando reparei, ali ia, rápida em direcção ao alto. Muito provavelmente tinha caído com o sopro de vento. Voltava a subir. Uma bonita imagem para estes tempos de recomeços: fazer caminho. De transformação e de criação. 

domingo, 1 de setembro de 2019

Coisas de Corpo



[Secção coisas de corpo] Reflexão à volta de questões de corpo, provocada pelas recentes notícias do actor Ângelo Rodrigues.