domingo, 29 de setembro de 2019

O nome como pormenor [importante]




[Secção pensamentos soltos] Na passagem do (não) encontro do homem rico e de Lázaro, o desgraçado a quem “até os cães lhe lambiam as feridas”, detive-me no pormenor de que um tem nome e o outro não. Este detalhe que S. Lucas coloca não é de pouca importância. O nome identifica-nos. À pergunta “quem sou” começa-se por responder “sou [nome]”. O homem rico ficou-se pela identidade de possuir coisas apenas para si. Ter coisas não é mau. O que torna negativo é uma posse tal que desvalorize radicalmente o cuidado pelo outro, em especial quem mais necessite. Lázaro o único que tinha era o nome. Não se faz uma apologia de miséria, mas de saber ser pobre, mesmo tendo muitas coisas. A pobreza, o despojamento, a liberdade, o cuidar do outro, dá-nos nome. Esse que está inscrito nas mãos de Deus, como recorda Isaías. Bem, então temos de ser desgraçados para ser dignos de nome? Não se trata de nada disso. Deus não é apologista da miséria, mas da pobreza. Ser pobre é saber libertar do que impede a autenticidade e o cuidado pelo outro. Tanto pode ser libertar de coisas materiais, como psicológicas e espirituais. Posso não possuir nada que se veja ao nível material, mas ter arrogância, presunção, desprezo, por não me ter deixado atravessar pela graça. Então, sim, ainda sou rico... e desgraçadamente sem nome. Sim, exigente, o trabalho humano e espiritual de escutar os profetas, os mestres e os guias que encaminham a Deus passa por conhecer internamente a força do amor e encontrar liberdade. É aí que também reside o Nome.

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