[Secção pensamentos soltos] Enquanto passeava pelo esplêndido manto branco, sentia a força do silêncio e paz que a neve traz. Poucas vezes senti este silêncio. Entretanto, recebi uma mensagem. Algo de quotidiano. Para tirar uma dúvida, fui ao google. Recebo as notícias de mais mortos lá longe. O imenso contraste entre imagens de violência, destruição e sangue, com a visão de alvura diante de mim. Que fazemos nós? Que faço eu? Na conferência, pouco tempo antes, tinha ouvido como Jesus se entrega também por aquele que ninguém quer saber. Se nos dermos seriamente conta, cada um de nós é humanidade toda, (mesmo quem não gostamos!). Por isso, não é lá longe que morrem. Somos nós que morremos como humanidade enquanto houver conflitos. “Que posso fazer?”, pensei. Comecei a agradecer, em jeito de lista, pessoas e coisas, possibilidades e dons. Depois, pedi ânimo a Deus para continuar a trabalhar no caminho da reconciliação e da paz.
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
Silêncio de neve
[Coisas na vida de um padre] Quando os dedos ainda são suficientes para contar as vezes que vi neve, então ainda vivo esta beleza com muita emoção... e silêncio.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
Breve oração
Dominic Rubin
[Breve oração antes de adormecer]
Agradeço-Te por ir dormir sem medo da possibilidade de não ter amanhecer.
Peço-Te: ajuda-me a respeitar sempre quem vive na incerteza de um novo amanhã e a fazer o que me é permitido na dádiva de esperança.
domingo, 25 de fevereiro de 2018
Vestes
[Secção outros tons - especial II domingo da Quaresma]
As vestes
no silêncio das perguntas
iluminam-se de ti
sábado, 24 de fevereiro de 2018
Desabafo em Oração
William Leung
[Secção desabafos em oração]
Peço-Te, na impossibilidade de combater o mal lá longe, diante da dor de tantas imagens de morte e trabalho forçado, em especial de tantas crianças impedidas de esperança, ajuda-me a enfrentar o mal em mim. E, assim, continuar a rasgar o coração, permitindo-me converter e ser cada vez mais um dador de Paz.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
Chuva, simplesmente chuva
[Secção pensamentos soltos] O dia não amanheceu assim. Filmei há muitos dias, enquanto contemplava a dança das gotas ao som da chuva. Que dia bonito seria se a chuva escrevesse poesia nas janelas. O sol, em dia de chuva, não desaparece, apenas dá espaço e tempo à outra força da Terra, tão necessária para que os dias sejam realmente bonitos, sem ânsia, nem guerra, por água. As barragens estão, em pleno mês de Fevereiro, a 56% do seu limite. E não foi há muito tempo que houve racionamento de água em zonas de Portugal. Quando ouço alguém se queixar depois de um dia de chuva, recordo que isso também é oração. Que venha chuva, muita chuva.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
domingo, 18 de fevereiro de 2018
Silêncio
Carlo Allegri/Reuters
[Secção ecos da homilia de hoje] 4 minutos e 56 segundos: a duração da música com que iniciei a homilia. Instrumental, para convidar ao silêncio. Ouvi um ou outro tossir. Uma ou outra agitação de banco. Não se espera silêncio na homilia. Na preparação da mesma, achei que para falar de deserto tinha de convidar ao silêncio. O silêncio que nos pode levar à oração, ao encontro com o mesmo Jesus que foi abanado no deserto em todos os ruídos interiores. E quantos não levamos nós dentro? De histórias, de acontecimentos, de palavras, de olhares, de silêncios eles mesmos ruidosos. Podemos fugir deles com mais ruídos, seja com as muitas televisões em cada canto, seja nos écrans que nos gritam informação e mais informação para digerir. Silêncio. A música durou apenas 4 minutos e 56 segundos. Será que não temos 5 minutos para nós e assim ir enfrentando os ruídos para os dissipar? Dar-me tempo. Dar-me tempo com Deus. Em deserto que alimenta a Vida.
pontosj.pt
[Secção pensamentos soltos, em boa publicidade] Quando se vê a realidade de macro-perspectiva, tudo pode ir pelo melhor ou tudo pode ir péssimo. O exagero presente nos extremos. Questionar a vida a partir de micro-perspectivas, muitas delas da rotina e do quotidiano, ajuda a ajustar o encontro, o sentido e o ser. O diálogo atravessa-se de diferenças e igualdades. Os gritos advêm das injustiças de pessoas que não se escutam nem escutam outras pessoas. De longe, diz-se que a Terra é azul, graças à atmosfera que a envolve. De perto, são muitas as cores, tanto quanto pessoas, em inumeráveis tonalidades a descobrir. É tempo de parar e dialogar. Dia 23 de fevereiro, lançamento do www.pontosj.pt. Questões, respostas, diálogos, encontros. Mais do que uma opinião!
sábado, 17 de fevereiro de 2018
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018
Breve oração (ainda em ecos de Cinzas)
Lopamudra Talukdar
[Breve oração em amanhecer ainda com ecos de Cinzas]
Agradeço-Te o tempo favorável de maior silêncio e assim viver o jejum de tudo o que me impede de ser dádiva.
Coragem e liberdade, peço-Tas, para enfrentar ruídos despertos pelas minhas faltas de amor, próprio e pelo próximo.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
"Mudar de Vida" - Cocó na Fralda
[Coisas na vida de um padre] A Sónia Morais Santos no seu Cocó na Fralda tem a rubrica "Mudar de Vida". A 10.ª história de mudança de vida, publicada em dia de Cinzas e dos Namorados ;), é a minha. Obrigado, querida Sónia, pela amizade e carinho.
Diálogo(s)
[Secção boas leituras na manhã de Quarta-feira de Cinzas] Timothy Radcliffe, “Ser Cristão para quê?”, ed. Paulinas, p. 204.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
Máscaras. Cinzas.
Matilde Campodonico/AP
[Breve oração em anoitecer de Carnaval]
Agradeço-Te as máscaras.
Em cada uma, a interrogação de caminho de identidade.
Agradeço-Te as máscaras desfeitas.
Em cada uma, a resposta de autenticidade.
Peço-Te:
transforma o desfeito em cinzas lançadas em terra,
fertilizando a reconciliação da humanidade.
domingo, 11 de fevereiro de 2018
sábado, 10 de fevereiro de 2018
Documento. Patriarca. Igreja.
Kern
[Secção pensamentos soltos em encolher-de-ombros-com-suspiro-profundo] Estive a ler o tão mal-amado por tão mal-ou-nada lido documento de D. Manuel Clemente. Vejo-o, na linha da proposta do Papa Francisco, sensato em relação ao tema que, a meu ver, não justificaria o ruído comunicativo com tantas vestiduras a serem rasgadas. Coisas a dar que pensar:
- Ainda há uma mentalidade bairrista: “como foi em Lisboa, pára tudo!” Afinal, em Braga também se escreveu um documento que, curiosamente, sem o impacto deste de Lisboa, teve muito bom acolhimento na Comunicação Social.
- A noção de cultura religiosa, confundida com “crença”, “fé”, “etc.”, é cada vez mais diminuta. Afinal, “Educação Religiosa”, com sentido de cultura, informação, conhecimento, para fazer uma apreciação séria, não é “Catequese”, que implica necessariamente a crença na religião.
- “Igreja” é um termo polissémico: ora é a igreja de pedra, ora a igreja doméstica, ora a igreja particular, ora a igreja universal.
- “Patriarca” tem que ver com um estatuto de região, não o “chefe” da Igreja em Portugal. O Patriarca é bispo na sua diocese, não “manda” na Igreja em Portugal.
- “Matrimónio” para quem tem fé não é só um contrato. Dentro da complexidade das relações humanas, onde nas quais se inclui a fé, quem celebra o matrimónio, celebra-o em carácter sagrado. Em última instância, o que os noivos dizem é: “o nosso amor um pelo outro é tal que é equiparado ao amor de Deus”. Sabemos que para quem não tem fé, isto é uma estupidez, ridículo, etc. e tal, mas, para quem a tem é muito sério.
- “Discernir” é mais que tomar uma decisão. É de ter muitos factores em conta. É entrar na complexidade da relação humana.
- “Corpo” e “Sexo”, ainda há muito a desbravar na beleza destas realidades, também por parte de muitos membros da Igreja. Se, por um lado, não há que reduzir o outro a um objecto para o meu prazer (ex. prostituição, violação), por outro, não reduzir à degeneração como “matéria = mau” (ex. castração).
Muito mais poderia dizer, mas sabendo que é um post e que, em geral, não se lêem coisas muito longas, fico, de momento, por aqui. :)
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018
Até breve, Mário
[Secção outros tons - em homenagem a Mário Oliveira, Cdt da PGA] Todas as partidas são duras e indesejáveis. Mais são as de quem ainda tem idade de muito caminho. Altera-se a rota, deixando a vida em suspenso. Nessa fracção de segundos com necessidade de digerir a transformação, fica o silêncio deixando ecoar a pergunta: que realmente importa? Aos que partem, ainda mais com coração enorme, desejamos paz e encontro de luz plena. Aos que ficam, apesar de revestida com as naturais e a ser respeitadas dor, raiva, revolta e muitas perguntas, deixar que a memória agradecida anule qualquer morte e nos faça voar para o também essencial da vida: amar o próximo, como a si mesmo. E a Primavera, em rebento novo de encontro eterno, chegará. Até sempre, Mário! Ficaste a dever-me um jantar por terras do norte. Saboreia, em Céu de voo de infinito, o abraço divino.
terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
Crime de mutilação
Ajay Verma
[Secção coisas de corpo] 80. Pelo menos! 80 mulheres, segundo dados da Unicef, foram genitalmente mutiladas em Portugal no ano que passou. É muito. Deveria ser nenhuma, tanto em Portugal, como no mundo, em que se chega a cerca de 2 milhões por ano a serem mutiladas. A notícia praticamente passa desapercebida. A dor física e de dignidade é inexplicável. Ainda há muito a educar sobre o corpo, no qual se inclui o prazer. Não se trata de promoção de hedonismo, mas de dignidade humana. O prazer, o deleite, a satisfação, fazem parte do saborear da vida. Inclui-se o sexual. Em muitas culturas continua a haver medo do corpo e do que esse prazer pode provocar de emancipação feminina. A educação pelo respeito, tanto da mulher, como do homem, também passa pelo saber viver o prazer natural da vida. Como cristão, acredito na divindade presente em toda a carne humana graças ao mistério da encarnação. Quem mutila ou promove a mutilação, física e/ou psicológica, atenta criminosamente contra a humanidade.
http://observador.pt/2018/02/05/unicef-alerta-para-80-casos-de-mutilacao-genital-feminina-em-portugal-num-ano/
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018
Retiro a padres
Neil Thomas – padre na Etiópia a ler a Bíblia durante uma vigília nocturna
[Coisas na vida de um padre] Vou começar a orientar orientar retiro a padres da Arquidiocese de Braga. Isto de ser padre tem que se lhe diga, nessa particular adesão a Cristo, que constantemente nos desafia à saída e ao encontro, em grande respeito pelos nossos limites, a perder medos e a viver o afecto pela humanidade sem fazer, tal como Ele, acepção de pessoas. Enquanto padres, temos a grande responsabilidade de sermos dadores de e da Vida. Para isso, também precisamos de parar na especial relação com Ele. Peço-vos a oração ou o pensamento por nós, que estaremos também em oração: eu a orientar, eles a “caminhar”.
domingo, 4 de fevereiro de 2018
Agradecer
[Coisas na vida de um padre] Das experiências que mais agradeço é a oportunidade que me é dada de ver cada pessoa libertar o que a oprime e permitir que a Luz que é, que leva dentro, brilhe, simplesmente brilhe, iluminando os novos amanheceres de vida. É bom, muito bom!
sábado, 3 de fevereiro de 2018
Rankings? Projecto Educativo
Ali Jarekji/Reuters
[Secção desabafos] Quando se deixar de pensar nas notas como principal medida de avaliação do ensino, mas integrar de facto, com respeito e qualidade o crescimento integral da pessoa [aluno(a), encarregado(a) de educação, docente e não-docente] como factor básico e fundamental de educação, os rankings perdem sentido e deixam de fazer ruído. Ah, entendo crescimento integral o ter em conta as dimensões física, intelectual, emocional, social e, sim, espiritual de cada pessoa, na sua existência e nas suas muitas idades. E isto não é utopia, é sentido de projecto educativo.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018
Dia do consagrado
Roger Anis/Reuters
[Secção pensamentos soltos em dia do consagrado] "Não é o modo como uma pessoa fala de Deus que me permite saber se morou no fogo divino..., mas o modo como fala das coisas terrenas.” Este pensamento de Simone Weil está no ponto em especial para o dia de hoje. Em tempos, a imagem [e vida] de quem se consagrava religiosamente era de alguém que morria para o mundo, para as coisas terrenas, encontrando-se na perfeição espiritual. Com visão negativista da matéria, do carnal, afastava-se a pessoa pelo silêncio do convento ou mosteiro, em elevação espiritualista de pureza. Esta dicotomia corpo e alma segregou e segrega, nos meandros onde há esta ideia de “morte para o mundo”. Viver a profunda relação com Deus, ao ponto de perceber que o caminho é pela consagração, não é de ódio ao mundo, mas de, à semelhança de Cristo, amor às pessoas. “Deus amou de tal modo o mundo que nos deu o Seu Filho”, diz-nos S. João no evangelho. Daí que a decisão de entrega pela consagração na vida religiosa, dando maior tempo e espaço ou ao silêncio e contemplação ou ao serviço rezado, implique a busca do profundo amor a este mundo concreto. Amar não significa tomar tudo como certo, mas, com simplicidade no caminho de encontro, colocar as questões de busca de humanidade e de justiça. A consagração, então, não é um heroísmo de morte, mas uma entrega de vida a partir do amor que vê a realidade desde outra perspectiva.
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