Roger Anis/Reuters
[Secção pensamentos soltos em dia do consagrado] "Não é o modo como uma pessoa fala de Deus que me permite saber se morou no fogo divino..., mas o modo como fala das coisas terrenas.” Este pensamento de Simone Weil está no ponto em especial para o dia de hoje. Em tempos, a imagem [e vida] de quem se consagrava religiosamente era de alguém que morria para o mundo, para as coisas terrenas, encontrando-se na perfeição espiritual. Com visão negativista da matéria, do carnal, afastava-se a pessoa pelo silêncio do convento ou mosteiro, em elevação espiritualista de pureza. Esta dicotomia corpo e alma segregou e segrega, nos meandros onde há esta ideia de “morte para o mundo”. Viver a profunda relação com Deus, ao ponto de perceber que o caminho é pela consagração, não é de ódio ao mundo, mas de, à semelhança de Cristo, amor às pessoas. “Deus amou de tal modo o mundo que nos deu o Seu Filho”, diz-nos S. João no evangelho. Daí que a decisão de entrega pela consagração na vida religiosa, dando maior tempo e espaço ou ao silêncio e contemplação ou ao serviço rezado, implique a busca do profundo amor a este mundo concreto. Amar não significa tomar tudo como certo, mas, com simplicidade no caminho de encontro, colocar as questões de busca de humanidade e de justiça. A consagração, então, não é um heroísmo de morte, mas uma entrega de vida a partir do amor que vê a realidade desde outra perspectiva.
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