sexta-feira, 31 de maio de 2013

Voar [no dia mundial do Tripulante de Cabine]




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Voar. Para ir, chegar, encontrar, visitar. Tenho saudades de voar, acho que nunca as perdi. O momento do impulso de uma máquina que nos leva às nuvens e a novas vistas. A sensação de turbulência que faz questionar e gostar muito mais da vida. Recordo os aviões com carinho. Recordo ainda mais a amizade, os bons voos e o muito que aprendi. Tenho saudades de voar. Hoje, dia mundial do Tripulante de Cabine, dedicarei um tempo do meu “voo místico” de oração por todos vocês que voam, com carinho e saudade.

sábado, 25 de maio de 2013

Outro tipo de matemática



Clang

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2+2= 4. Mal + Mal = Mal. Mal + Bem = primeiro confusão, pois baralha o sistema, depois, começa a gerar bem. Falo de Bem com “B”. Este Bem não se derrete em desculpar simplesmente porque sim, a dizer que afinal não é nada. Este Bem questiona o mal com caridade. Este Bem tenta ir mais longe a partir da dignidade de quem fez mal. É isso que baralha o sistema. Recordo muitas vezes a passagem em que Jesus, depois de ter respondido ao Sumo Sacerdote que não fez nada às escondidas, leva uma bofetada do guarda. De certeza que lhe doeu, mas não levantou a mão. Também não se calou. “Se falei mal, diz em quê. Se falei bem, porque me bates?” Para fazer o Bem é preciso muita humildade, também no perder. Quando se quer ser sempre vencedor, faz-se de tudo, sem olhar a meios, para o conseguir. Também por isso é que o nosso país está como está. 2+2= 4. Mal + Mal = Mal. Mal + Bem = primeiro confusão, pois baralha o sistema, depois, começa a gerar bem.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A propósito do "Linha da Frente" [RTP1] - "Pecado na Igreja"



Shinichi Maruyama


Gosto de ser diácono nesta Igreja concreta. Espero vir a ser um bom padre: para isso me formo, humana, espiritual, psicológica, comunitária, intelectual e realmente. Gosto de ser diácono. Espero vir a ser um bom padre: não perfeito, nem puro, nem imaculado, simplesmente humano que busca testemunhar a beleza de Deus. 

Estive a ver o programa Linha da Frente (RTP1) sobre o “Pecado na Igreja”. A reportagem tem que ver com a Igreja, da qual já sou clero, e tenta provar que o voto de castidade e de celibato não têm sentido. Fiquei incomodado. Explico porquê, mas sem rasgar a vestes.

1. Já sabemos que tudo o que tem que ver com sexo torna-se numa temática relativamente apetecível e que capta facilmente a atenção. O sexo está na moda e quer-se fresco. A piada sexual tem riso garantido. A publicidade mais erótico-sexual tem garantida atenção. O filme ou telenovela que tenha sexo garante audiência. Lá vem a tal história do fruto proibido mais apetecido e tal e “coiso” (no seu duplo sentido). E se metemos padres, pois então, melhor ainda. No entanto, se eu perguntasse às pessoas com a mesma naturalidade com que me perguntam, literalmente, sobre a minha vida sexual, de muitas arriscar-me-ia a levar um estalo, acrescido de um “não tens nada que ver com isso” e “isso não é da tua vida”. E com razão, porque não é mesmo. 

2. Sei que muita gente opina que deveríamos casar, que seríamos mais felizes, menos frustrados e por aí fora, sobretudo a partir de “estudos” com base “na minha opinião pessoal”. Já tenho perguntado a pessoas: “Se eu, Paulo, me pudesse casar, tu dormirias melhor, ou isso mudaria a tua vida?” A coisa muda de figura quando sei de pessoas que passaram por situações delicadas de assédio e, claro está, que podem ser filhos(as) ou neto(as) de padres. A situações diferentes, tratar de maneira diferente. A humildade a isso leva. 

Para mim, uma das coisas importantes é não tomar ninguém por parvo ou por parva. Ou seja, por um lado, não reduzir os padres todos a uma cambada de perversos, por outro,  não levarmos as pessoas a lugares comuns, em que se percebe que se dá a resposta técnica 23, chapa 5. E muito menos, fazer uma troca de “galhardetes” de julgamentos de parte a parte. Cá está, nem as pessoas que estão fora da Igreja são umas atrasadas mentais e, menos ainda, umas pecadoras, nem as que estão dentro, em especial os padres, os consagrados e consagradas, são igualmente atrasados mentais e pobres coitados ignorantes da vida.

3. Gostei muito da resposta e da reacção do Luís Palha (sim, jesuíta) quando diz que “hoje está plenamente convicto de que quer ser jesuíta o resto da vida, mas que amanhã não sabe”. Ah, aqui está o argumento de que afinal... afinal... não está tão convicto. Não, “hoje”, com a realidade que conhece está convicto. No entanto, reconhece que absoluto só Deus e não a decisão. 

Para quem vive a descoberta da vocação e faz o caminho de formação com verdade, honestidade e humildade, sabe que há dias que a alegria impera e que há outros que é terrível. Não, não é porque não pode ter uma relação sexual... a obediência e a pobreza também entram em jogo. Eu próprio, no meu processo vocacional e de formação, sou jesuíta há 9 anos e meio, já passei por naturais crises que todo o ser humano vive, onde tanto me passou pelo pensamento. Com boas conversas, partilha franca e sem julgamentos, foram patamares de crescimento pessoal. Hoje sou diácono e é difícil explicar a felicidade que sinto, junto com o desejo enorme de querer ser padre. 

4. Um dos grandes problemas que, a meu ver, atravessamos actualmente é o da falta de comunicação. Esta leva a que haja desconhecimentos de parte a parte, fomentando medos, preconceitos, desconfianças e, sobretudo, a redução de realidades às situações mais negativas. Por exemplo, da parte da Igreja: o mundo é mau, são todos uma cambada de pecadores; da parte do “mundo”: a Igreja é retrógrada e não evolui. Se calhar ambos têm o seu quê de razão, mas, como escrevia ontem, não se pode exigir a ninguém a perfeição que não se tem. No meio disto tudo, quem sofre é quem quer promover um bom diálogo, para crescer juntos. Por tudo isto, estou incomodado. Há feridas e situações que nós, Igreja, temos de enfrentar, sem medos e com humildade diante de Deus e da humanidade.

Termino como comecei, para no caso de ter ficado esquecido: Gosto de ser diácono nesta Igreja concreta. Espero vir a ser um bom padre: Para isso me formo, humana, espiritual, psicológica, comunitária e realmente. Gosto de ser diácono. Espero a vir a ser um bom padre: não perfeito, nem puro, nem imaculado, simplesmente humano que busca testemunhar a beleza de Deus. 

E o bom, no meio disto, é que há muitos mais como eu. Tal como fantásticos pais de família, que dão o melhor pelos filhos. Sem esquecer as imensas grandes mulheres que vivem muito bem a sua entrega como consagradas, tal como as muitas mais outras que dão o seu melhor como mães. 

Cada vez gosto menos de “lugares comuns”. Cada vez gosto mais de Deus que ama, ponto. 


Ponto de encontro



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Um ponto de encontro entre crentes e não crentes é o bem e o desejo de humanidade: num abraço, na escuta, no gesto do simples “bom dia”, quem é chefe tratando bem os seus colaboradores, quem é colaborador dar o melhor por si e por todos... e, noutro exemplo, tornando-se dador de sangue e/ou medula. É impressionante como podemos salvar vidas de forma gratuita, sem riscos para a nossa própria vida. Deixo um link para mais informações:


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Bode(s) Expiatório(s)




Case & Draper


Bode expiatório. Esta expressão, ou situação, surge no livro do Levítico, um dos cinco livros que compõem a Torah ou Pentateuco. Em resumo: o sacerdote, em nome da comunidade, impunha as mãos sobre o bode e “depositava” sobre ele as falhas, ou pecados, dos israelitas. Depois deste gesto o bode era enviado ao deserto para morrer e os pecados ficavam expiados. 

Hoje em dia continuam a existir bodes expiatórios, e cada vez mais. A crise, a malfadada crise, faz com que aumentem as frustrações, com que surjam inseguranças recentes ou antigas, com que feridas não curadas venham ao de cima. Nisto tudo, como somos homens e mulheres do século XX, admitir a fragilidade, a vergonha ou o medo é de desvalorizar. Então, à primeira oportunidade descarrega-se com facilidade os dramas da existência em bodes actuais. No entanto, desaparece a figura do animal e rapidamente aparecem pessoas que ligeira e subtilmente o substituem.

Há uns meses chamava-se Pepa, com a sua carteira ou mala Chanel. Hoje chama-se Raquel Varela, com a resposta ao Martim Neves. Uma com o sonho “materialista”, a outra corta os sonhos do adolescente. Uma é fútil e não respeita o país em miséria, a outra é uma ignóbil que não dá valor ao facto de, pelo menos, haver pessoas empregadas. E assim se desenvolvem facadas laterais, onde o que se louva no meio disto tudo é a estupidez do “não parar para pensar”. Para completar, toca a enviar o “bode” às redes sociais, blogs e afins, com tudo o que é mau para que não se repita.

Vendo o vídeo completo, parece-me que a intervenção foi, de facto, pouco feliz, por demasiado rápida no contexto, mas daí até reduzir a senhora à desgraça nacional, dos “letrados” contra os “iletrados” vão passos muito grandes. Já sabemos que quem vai a esses programas tem de ter capacidade de reacção, e blá, blá, blá. Mas, absolutizar uma intervenção e respectiva resposta, não pode ser o exemplo da bruxa má ante o príncipe encantado, onde se eleva o Martim Neves a herói nacional do empreendedorismo, reduzindo a Dra. Raquel Varela à “asquerocidade” dos que não deixam viver os sonhos. O caminho passa, mais que pela agressividade e anular o outro, pela colaboração. 

Sou apologista dos sonhos, de se sonhar e pôr em prática, por adolescentes ou adultos, a criatividade em conseguir objectivos e, sejamos práticos, dinheiro para viver. Conheço bons exemplos, resultado de muita luta. Mas o perigoso mesmo é o caminho que levamos de um ataque cerrado a quem belisca algo que pode fustigar e pôr em causa os sonhos. Sonhar sim, mas com capacidade de ouvir a crítica, mesmo que seja infeliz. Se a crítica é boa, perfeito. Se é má, pois bem, ou não soube ler a realidade ou não soube escutar e seguimos para outra. Para chegar a isto, é preciso ser empreendedor, na emoção e no pensamento, da própria estrutura humana: pessoal e comunitária. 

E os bodes, sejam quais forem, deixam de fazer falta... 



terça-feira, 21 de maio de 2013

Quase em conclusões




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Vou-me habituando a fechar ciclos. Ou capítulos. Apesar de ainda não fazer festa, pois falta a revisão de todos eles, acabo de escrever o último capítulo da minha Memória Final de curso com: “O gozo só pode ser total quando abraça a totalidade dos irmãos, em plena comunhão com todos os membros do corpo de Cristo”. Só esta frase daria “pano para mangas”, de acordos e desacordos, de mais interrogações. E não será o estudo da teologia, ou qualquer outro, uma interrogação? A sensação que tenho neste momento, além do cansaço, é a de que a vida em e com Deus é um abraço e um empurrão. O abraço sussurra-me: “muito mais há a aprender”. O empurrão: “põe em prática o que já aprendeste, sem esqueceres o abraço”. 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Coisas de adolescência [mesmo em idade adulta]



Martin Klimas

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Faz parte da adolescência querer mudar o mundo, ou ordená-lo segundo os critérios estabelecidos pelo olhar de quem deixa que as hormonas tenham primazia na decisão. Domesticar o ego, ou seja, domesticar o “eu-sou-o-salvador-do-mundo” ou “sem-mim-é-a-desgraça” é passagem difícil, dolorosa até. Eu que o diga! Mas depois é um descanso. O esforço empregue para manter o impossível transfere-se para a colaboração do possível. Dá-se a saída da zona de conforto, ou pelo menos da protecção da regra e do férreo orgulho da verdade pessoal. E o que pensa diferente passa de inimigo a ser outra leitura da realidade.

domingo, 19 de maio de 2013

Pentecostes [e o banal]



Mark Rothko

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O Espírito, se estamos atentos e o permitimos, irrompe pelo quotidiano. Recria e vitaliza o que poderia ser o mesmo de sempre. Em doce suavidade ou vento que tudo levanta, une o diferente, como que harmonia de uma grande orquestra, em que as notas de sempre, interpretadas por quem dirige, ganham novo fulgor. Com o Espírito, o banal pode tornar-se uma peça de arte e inverte-se a lógica do entendimento: o inexplicável é traduzido pela beleza e pelo amor.

sábado, 18 de maio de 2013

Pensamento [e maturidade]



Andrew Badenhorst

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Uma das coisas que leva o seu tempo a madurar é o pensamento. E maior maturação acontece quando se sabe articular pensamento com sensibilidade. Dessa relação bem vivida sai o que vulgarmente se conhece por sabedoria. Quem a vive raramente julga, pois sabe que para o fazer é necessária muita humildade. Quem a vive, quanto muito, apresenta a crítica que não faz ruído, não berra, não busca a razão, mas o sentido de se crescer juntos. Quem a vive sabe que o pensamento leva o seu tempo a madurar, por isso, prefere o silêncio da escuta e da leitura dos sinais dos tempos antes de pronunciar palavra, comentário ou opinião.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Ar [para não absolutizar o que não é absoluto]





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Quando uma pessoa fica muito tempo fechada na mesma casa e no mesmo espaço, a fazer as mesmas coisas, corre o risco de tornar o que faz como único e absoluto. É o que se está a passar comigo. Posso estar a ler coisas interessantes e a escrever outras tantas, mas apercebo-me que me falta o ar. É isso. O arejo das ideias e das vistas e dos pensamentos. Ainda há pouco na oração pensava: mesmo estando a contra-relógio nas entregas, uma coisa é o importante, outra, o absoluto. Já que é importante, toca a trabalhar mais um bocadinho, depois, como não é absoluto: música “on”, aquecimento a dançar, seguindo-se um bom passeio pela cidade. 



quinta-feira, 16 de maio de 2013

Conversão [e tempo]



Steve McCurry

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As conversões não se medem aos palmos. Tal como a fé. Grandes conversões podem dar num “novo-riquismo” da crença, tal como a fé ser reduzida à “fezada” ou fanatismo ante a realidade em que se crê. Crer em Deus pode ser um processo lento e demorado, situado no quotidiano corriqueiro da vida. A explosão, se não for bem orientada, causa estragos. O fogo do fósforo tem de passar ao da vela. Ambos se consomem... mas o tempo de iluminação é completamente distinto.


quarta-feira, 15 de maio de 2013

"Salvar a proposição do próximo"



Valerio Loi

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Na actualidade continua-se a atacar com muita facilidade, em que as pedras, espingardas e bombas são substituídas pelas palavras com ironia ou “boquinha foleira”, denegrindo ao máximo a imagem do outro. Em tempos da rapidez, grande parte das vezes inimiga da reflexão, voltou-se ao instinto selvático de atacar o que não se gosta, não medindo nem palavras, nem gestos. Isto é válido para crentes e descrentes, sobre Igreja ou sobre o Mundo. Um dos bons desafios da humanidade seria “salvar a proposição do próximo”: sem necessidade de defesa, tenta-se pôr no lugar do outro... mudando o campo de visão e do sentir.


terça-feira, 14 de maio de 2013

Hierarquia(s)



Filippo Monteforte / AFP

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“Lumen gentium” (Luz dos povos) é a constituição do Vaticano II referente à Igreja sobre si mesma. O capítulo dedicado ao “Povo de Deus” antecede o da “Hierarquia da Igreja”. É um modo de hierarquizar as coisas. Ou seja, o Concílio deixou bem claro que a hierarquia da Igreja, à imagem do seu Senhor, está ao serviço do Povo de Deus: plural, diverso, que busca o sentido. Jesus, antes de partir, disse: “Já não vos chamo servos, mas amigos” e, quando lavou os pés aos discípulos, em plena atitude de serviço, recordou “não é mais o servo que o amo”. A ordem é necessária, mas a partir da base da responsabilidade, do serviço e da amizade. Pormenores... ou talvez não.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Peregrinar



Reuters

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Peregrinar tem o seu mistério. Os passos, os silêncios, as conversas trocadas ou os pensamentos que fluem, são os registos do crescimento. Recordo a primeira peregrinação: a confusão de sentimentos, a novidade do cansaço de pernas misturado com a frescura da alma, o derrubar de imagens divinas que afastavam o verdadeiro encontro (e era só o começo), o apoio nas subidas, o respeito pelas lágrimas e os sorrisos conjuntos à(s) chegada(s)... que são novas partidas. Peregrinar tem o seu mistério: o da própria vida. 


domingo, 12 de maio de 2013

Fé e homossexualidade e fé



Sebastián Utreras

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Deus ama pessoas. Não ideias ou características. As características fazem parte da identidade. Pois, isso, parte, não o todo. Muitas vezes têm a sua importância, de tal maneira que são o suficiente para a exclusão, rejeição, como se não entrassem no campo da fé. A homossexualidade é uma dessas situações. Ora, a fé quer-se humana, o que significa que atravessa a pessoa na sua totalidade. A Comunidade de Vida Cristã (CVX) - Chile, acompanhada pelos jesuítas, deu um passo nessa humanização da fé, iniciando a Pastoral da Diversidade Sexual. Não tem que ver com ideologias, tem que ver com o profundo da pessoa e da sua relação com Deus. Aqui está o link para uma reportagem sobre este projecto. Insisto: a fé quer-se humana. Deus ama pessoas, tal qual como são. 

sábado, 11 de maio de 2013

Solidão [e acompanhamento]




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Tenho encontrado pessoas sós. Mesmo rodeadas de muita gente. Aquela solidão de quem (se) busca, ou perdeu o encanto da procura. Também há aquelas que estão sós de gente. Também rezo pelas pessoas quem não têm ninguém que reze ou pense nelas. Já passei por momentos muito duros de solidão, aquela amargura de sentir-me ninguém. Em parte era o ego ferido a falar. Senti vergonha em admiti-lo. Até que um companheiro escutou-me e disse: “Nunca mais sofras sozinho!” Ninguém pode viver o sofrimento do outro, mas os caminhos devem ser feitos acompanhados... desde o silêncio da oração ou pensamento até ao braço que apoia.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Moda = futilidade [??]




anka zhuravleva

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Falar de moda provavelmente será fútil. Talvez. Ou não. Vestir bem, ter cuidado com o corpo ou apreciar um estilo faz parte do ser. A cultura também se concentra na moda... basta folhear um bom livro de etnologia. A presença não se mede pelos trapos postos, mas o bom-gosto tem o seu quê de vitalidade. [Mesmo sabendo que os parâmetros são bastante relativos.] A futilidade entra quando a escravidão tira o espaço à liberdade. Até lá, um toque de perfume recorda a Primavera e frescura da vida.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sofrimento [mais a compaixão]



Pakayla Biehn

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Há momentos na vida em que não apetece nada ouvir coisas do género: “Ui, mas há quem esteja a sofrer mais do que tu!”; “Não te queixes!”. Como se tivéssemos de ser todos muito felizes, irradiando o falso sentimento de “sou muito forte e nada me afecta”. A medida do sofrimento e da tristeza depende de muitos factores. Saber dar ânimo ao outro não vai de comparações, mas de entendimento. Quando nos toca a pele, algumas interpretações beatas sobre o sofrimento perdem o sentido ganhando em compreensão... ou compaixão.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

[De] Noite



Shinichi Maruyama

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A noite pode trazer a sensação de desprotecção e fragilidade: falta a luz, não só do exterior, como da alma. No entanto, pode ser oportunidade de aguçar o outro sentido igualmente importante: o da escuta. A escuta da longa viagem feita, em que muitas vezes as paragens são tão rápidas que nem dá para observar o entorno... mas vai-se retendo informação. Assim, a noite, mesmo sem descanso devido ao turbilhão dos pensamentos, pode ser o espaço do silêncio. Aquele que abre a escuta que permite, calmamente, ordenar as histórias. E os fantasmas adormecem... ou dissipam-se.


terça-feira, 7 de maio de 2013

Mentes pequenas [e aprender]




Stefan Wermuth/Reuters, de uma escultura de Damien Hirst (“Hymn”)

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O perigo de uma mente pequena é fechar-se nas suas crenças, ou unicamente no seu ponto de vista. O facto de ser religioso não me impede de escutar quem não o seja. O facto de ser homem não me impede de aprender sobre a sensibilidade e racionalidade femininas. Ter horizontes amplos ajuda a uma boa reflexão, não se ficando pela frase-feita que se ouviu nas notícias da noite anterior. A mente cresce quando se perde o medo em aprender sobre o que é diferente. Aprender não significa uma adesão a ou gostar de... significa que se é capaz de abrir o coração à novidade. Depois, logo se vê...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A fé quer-se humana



Robert & Shana ParkeHarrison

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A fé quer-se humana. Há zonas de mistério que não se entendem, mas nem por isso deixam de ser motivo de interrogação. Dando-se momentos na vida que levam a pôr Deus em causa: não se aguenta a dor, a frustração, o silêncio ante a injustiça ou o sofrimento. A fé quer-se humana, pois somos convidados a tocar o fogo divino com a nossa verdade. Só pode ser queimado o que lá lançamos. Que esse “pôr em causa” seja a oportunidade da busca da Verdade, afinal, temos a garantia do Defensor enviado por Deus.

domingo, 5 de maio de 2013

Maternidade



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A maternidade é o vínculo afectivo que começa em cada manhã. A noite que deixa de ser noite, passando a um translúcido, onde os sentidos já não adormecem totalmente. A maternidade que começa em cada manhã, no desejo que se estabeleça o vínculo afectivo no germinar, no deixar crescer o sentimento e depois o corpo do novo ser. Nem sempre romântico, nem sempre fácil, mas sempre com a certeza de que com maternidade [e paternidade] a Vida, nas suas muitas dimensões, é possível... dando-se em cada dia o amanhecer de um novo capítulo. 



sábado, 4 de maio de 2013

"Deus não faz acepção de pessoas." (Act 10,34)




Leland Bobbé

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Quando desço a Rua Fuencarral ou a Preciados (centro de Madrid), encontro quase sempre pessoas a pedir sócios (= €) para ACNUR, Oxfam Internacional, Aldeas Infantiles SOS, Cruz Vermelha, Fundación Josep Carreras, etc. Normalmente, por uma questão de respeito, paro, pois grande parte das vezes aquelas pessoas são votadas ao desprezo de tanta gente. Infelizmente não posso ajudar, o qual explico, depois de dizer que, de alguma forma, também contribuo com a minha própria vida (directa ou indirectamente) em muitas situações que estas instituições também ajudam. Ontem voltei a parar. Desta vez a história é um pouco curiosa. Estavam 4 travestis a pedir para uma Associação de ajuda a pessoas com osteogénese imperfeita (também conhecida como doença de ossos de vidro). Com eles estavam duas raparigas que sofriam da doença. Enquanto descia, um abordou-me:
- Olá “guapo”! Tens um minuto?
-Sim.
Explicou o propósito da recolha de fundos, se queria ser sócio etc. e tal. Respondi-lhe que não poderia ajudar, pois não me iria fazer sócio da associação.
- Ah, és italiano?
- Não, sou português.
- Estás cá a trabalhar?
- Não, estudo.
- Posso saber o quê?
-Sim, claro. Estudo Teologia.
E com ar de muito espanto: 
- Não me digas que vais ser padre?
-Sim, vou e já sou diácono.
A sua reacção facial mudou, como se tivesse saído uma máscara, mesmo por detrás de toda a maquilhagem. E já sem voz de festa:
- Não estás a gozar comigo, pois não?
- Porque haveria de o fazer?
- Hmmm, não é suposto uma pessoa como tu parar e falar, por exemplo, comigo. Não estava à espera. 
Soltei uma gargalhada. 
- Oh, mas... porque não? Porque és travesti? Oh... És uma pessoa, que neste momento está a trabalhar por uma causa e já está. 
E desenvolveu-se ali uma conversa de meia dúzia de minutos. Percebi que era uma pessoa em busca da fé. E no final disse-me, ainda com a sua voz natural e de forma sentida:
- Obrigado por teres parado e me escutares. 
- Espero que consigam uma boa recolha. Já costumo rezar pelas pessoas que sofrem, mas esta noite, de forma especial, rezarei pelas que sofrem desta doença de ossos de vidro. 
- Posso-te pedir que rezes também por mim?
-Claro, com gosto. “¡Suerte!” Adeus.
E abana a cabeça, ajeitando os cabelos e voltando a “máscara”:
- Adeus “guapetón”... ai, desculpa a minha falta de respeito! 
Deu uma gargalhada artística. Eu dei outra e segui caminho. 

De facto, o possível título deste acontecimento é mesmo: “Actos dos Apóstolos 10, 34”, ou seja: “Pedro tomou a palavra: ‘Verdadeiramente compreendo que Deus não faz acepção de pessoas’”


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Racionalidade [e notícias falsas, p. ex.]




Escultura de Angela Palmer

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O bom de ser racional (dentro do reino animal, claro) é o poder pensar, coisa que há que cultivar (um dos significados de cultura). Se se exerce o pensamento não se engole com tanta facilidade notícias, comentários ou histórias criadas que entram pela emoção dentro, desarrumado tudo, incitando a reacções irracionais. Muitas das notícias falsas ou absurdas acabam por tirar credibilidade às verdadeiras e bem investigadas. Para descobri-las basta perder 5 segundos e ir ao google... “as simple, as that!” E assim damos valor à racionalidade e liberdade que nos caracteriza como seres humanos.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

[Um possível encontro]





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Podíamos falar de tanto, mas tanto, fazendo com que a espera deste dia nunca tivesse acontecido. Já há muito que tenho histórias para te contar, ao jeito de verdades reveladas dando solenidade a este abraço. O amadurecer fez-me perder aquele medo estúpido de ser julgado. Por quem? Também perdi ingenuidade, cresci. Sempre achei a fé uma coisa aborrecida. Até nisso mudei. Bastou-me observar com mais calma o mundo, as pessoas, ouvir algumas novidades musicais, reler textos antigos, tirando proveito do tempo que passou por nós. E aqui estamos em plena Primavera. Vejo-te diferente, Dafne, mais bonita. A sabedoria sabe maquilhar, deixando sempre o tom natural: a beleza irresistível do olhar límpido e do toque pele de veludo. 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Em dia do trabalhador



Lewis Hine

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Em tempos de “eterna juventude”, a velhice torna-se algo incómodo: Aumenta-se o tempo possível de trabalho (que cada vez é mais precário ou inexistente), exigindo-se a frescura dos 20 anos, mantendo a todo o custo a sanidade mental e física. Em dia do trabalhador, é importante recordar a dignidade do trabalho, junto com a dignidade do ser humano que tem o seu tempo. Exigir a eterna juventude é transformar a pessoa numa máquina de perfeccionismo ou funcionalismo. A beleza da vida também está na sabedoria dos anos vividos. Hoje recordo algo que muitas vezes se esquece: “E que toda a pessoa coma e beba e desfrute bem no meio das suas fadigas do trabalho, isso é dom de Deus” (Eclesiastes 3,13).