segunda-feira, 31 de março de 2014

Mudanças [também de hora]



Chocolate quente, com muito boa companhia.


Desde ontem que vivo mais um exemplo de que as mudanças precisam de tempo: ando  meio “atontado”. [Ok, a poluição também não tem ajudado!] Não é porque no minuto seguinte à hora mudar que, qual magia, a mudança total acontece. Nem quando se conta algo muito importante a alguém. Há o tempo cronológico, o biológico, o afectivo, que não se acomodam todos ao mesmo tempo. É necessário tempo para ajustar, digerir as coisas. Claro que nem tudo tem a mesma força, mas seja como for, o respeito pelo tempo é necessário… quando as coisas perdem estabilidade… até encontrar algo de equilíbrio: do corpo, da amizade, do amor, da conversão.

domingo, 30 de março de 2014

Amigos imaginários e verdes prados



David Shields

(Versión en español en los comentarios)


Quando era pequeno tinha alguns amigos imaginários. Durante as tardes, em que ficava sozinho em casa, brincava com eles. Ao anoitecer, antes de dormir, falava-lhes das minhas coisas. Estando no infantário [com 4/5 anos, por aí], houve uma vez que não fui ao passeio que gostava muito: a um campo de golfe perto de Lagos, onde podíamos correr num espaço imenso, e ao lanche bebíamos um sumo de laranja delicioso. Alguém tinha uns lençóis iguais aos meus. Na minha ingenuidade, comentei isso com a educadora. Pensaram que eram meus e que eu seria dos que ficavam a dormir a sesta. A luz da tarde entrava pela sala cheia de camas. Recordo chorar muito baixinho, enrolado nos lençóis e, meio em soluços, de conversar com um desses amigos, falando-lhe da injustiça de não ir onde gostava muito. Não sei se vem desta altura, mas o que é certo é que muitas vezes a minha oração reveste-se desta ingenuidade… choro diante de Deus, riu, conto-lhe as coisas do dia. É outra forma de ir “a verdes prados” e correr… correr muito até ao Infinito.

sábado, 29 de março de 2014

Sensações



Royce Bair

(Versión en español en los comentarios)


Há dias que sou arrebatado pela sensação de não pertencer a este mundo. Não é algo nem de hoje, nem de ontem. Desde pequeno, muito pequeno. Não sei bem explicar que significa isto. Não, não sou um ser angelical, pondo-me acima do bem e do mal. Nem é achar que o mundo é mau e eu sou especial e mais não sei quê. São aquelas lutas interiores de querer ser alguém que quer fazer caminho de liberdade, de amor, de encontro com Deus que se esconde, que se revela, que se afasta, que respeita cada decisão, mesmo não concordando e sofrendo com algumas, por mais estúpida, errada, possa ser. Deus é irresistível. Que ama! Simplesmente, ama.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Outro modo de fazer jejum, recolhimento e silêncio




(Versión en español en los comentarios)
Sexta-feira. Na tradição católica, durante a quaresma, é dia especial de jejum, recolhimento, silêncio. Ao ver este vídeo pensei: “Paulo, continua no caminho do jejum dos preconceitos, eles não fazem falta à vida. Recolhe as coisas que te impedem de dançar e agradecer a Deus, entre outras coisas, a maravilha da diversidade humana. Ajuda a silenciar as vozes que buscam modelos de perfeição humana sem sentido, para que reparem na beleza da diferença.” E, claro, cantar “because I’m happy”, porque sou amado tal qual sou. ;)

quinta-feira, 27 de março de 2014

[Outra] Saída [de mim mesmo]


Aydin Palabiyikoglu

(Versión en español en los comentarios)


Pôr-me de fora e observar a minha própria vida. Aprendi a fazer este exercício como forma de evitar a crítica fácil e abusiva, fazendo a que tem de ser feita de modo construtivo. O mundo é bom, mas há coisas que vão mal. Eu sou bom, mas há coisas que faço mal. Depois há o que posso controlar e o que nada posso fazer. Saindo de mim, descentro-me: relativizo e deixo que a riqueza das realidades tome o seu lugar. Deixando de carregar o mundo e o “peso” dos meus pecados ou dos outros, seja como vítima, seja como salvador do universo, vou ficando na posição bípede, que impele a ir em frente. Nessa posição tenho os braços livres para dar a mão, pegar ao colo, empurrar, embalar ou abraçar… genuinamente.

quarta-feira, 26 de março de 2014

No princípio era a respiração...




Filmado e orientado por Diana Ringel num momento da aula de hoje

(Versión en español en los comentarios)

No princípio era a respiração. De onde saiu a voz... que é sempre gesto. Desejoso de ser autêntico. Entre a mentira e a verdade, busca-se. Ao encontrar(-se), revela(-se). Para isso é preciso exercitar, saber escutar o corpo, entre completa improvisação e exageros. E, sim, é preferível a verdade à mentira. É outro caminho para a autenticidade.

terça-feira, 25 de março de 2014

anunciação | vocação




Randy Olson

(Versión en español en los comentarios)


37. Contei quantos éramos por escutar os seus sentimentos, tal o silêncio que se vivia na carruagem. Os rostos falavam, talvez como o meu, do cansaço da manhã, da espera do destino, de mais um dia de calendário, absortos na música ou na janela que espelhava: “Sou eu!” Até parece uma fatalidade. A mesma que será anulada com aquele “sim” que revolucionou a História. Desde aí, os sentimentos ganharam outra força… a carne abraça a divindade. Os rostos de hoje não retratando directamente esse sim, impulsionavam-me a tentar perceber o conto de cada um. Jamais ficarão a saber que hoje me falaram de anunciação. No silêncio da carruagem, na mais banal viagem da manhã, reli a minha vocação.

segunda-feira, 24 de março de 2014

... às vezes dizer um palavrão!



Sean Hower

(Versión en español en los comentarios)


Quem já me conhece sabe que não gosto de perder-me em espiritualismos. Às vezes apetece-me dizer um bom palavrão e enviar alguém àquele sítio. “Ah sim, e tal e coiso, não te esqueças que és exemplo e mais não sei quê. Entrega a nosso Senhor a frustração ou ira ou irritação e tudo passa!” Não, não passa somente dessa forma. Até me podem acusar de falta de fé. A libertação não vai de falsas atitudes orantes, como se o ser humano fosse angelical. Às vezes indigna e o que é certo é que guardar “faz mal à saúde”. Há várias formas de dar um murro na mesa, um grito, dizer um palavrão. A maturidade não é deixar de dar ou dizer, é saber como fazê-lo ajustadamente. É por estas e por outras que também gosto de reler os Profetas bíblicos!

domingo, 23 de março de 2014

Ver o passado, sem se estagnar nele.




Estava no final da carruagem. Como era uma zona de linha “aérea”, achei piada em ver pela janela o caminho deixado. Pensei na quaresma, neste tempo que convida de forma particular a olhar o que passou, sem se estagnar no passado. Afinal, o caminho continua, dando-se pequenas paragens em estações onde entram e saem pessoas, situações e histórias. Nada de extraordinário. Apenas mais um momento do quotidiano. 


sábado, 22 de março de 2014

O meu primeiro baptismo


Guillaume  
(editada por mim)

(Versión en español en los comentarios)


Depois de ter presidido ao meu primeiro casamento, pedi a Deus que me concedesse a graça de poder celebrar um baptismo antes de ser padre. São os dois sacramentos que o diácono pode presidir e celebrar. Há 3 semanas, o padre do Santuário de Notre Dame de Fátima telefonou-me a perguntar se estaria disponível para celebrar um baptismo. Recordei o meu pedido a Deus. Hoje, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, baptizei pela primeira vez. O pequeno Lorenzo, muito simpático, ia sorrindo meio envergonhado. Não achou piada à água na cabeça, mas quando a mãe limpa o excesso de água, dá um sorriso enorme. No princípio estavam todos, pais e família, com aquela timidez de “não-se-saber-o-que-fazer”. Convidei-os a entrar na capela baptismal, disse-lhes: “não se preocupem se se enganarem, pois pode-me acontecer o mesmo. É o meu primeiro baptismo”. Rimos todos! A celebração seguiu com muita naturalidade. Se no casamento estava diante da família, no baptismo conheci todas as pessoas hoje mesmo. E é isto: sou chamado ao(s) conhecido(s) e ao(s) desconhecido(s)… por outras palavras, a graça da universalidade. Rezo pelo Lorenzo e pela sua família! :)

sexta-feira, 21 de março de 2014

[Secção: outros tons, para o dia de hoje]



Quang Tran

(Versión en español en los comentarios)

As palavras têm corpo: uma é carne. Cortantes ou amantes, fazem com que me detenha, silencie, aconchegue no seu regaço dando nome às coisas que não quero revelar. Fico-me pela contemplação: no espelho, em cada passagem de hora, mudo a direcção. O poema deixa de ser escrito. Brota algo novo. “É a brisa”, dizem eles. Sem ver, acredito… e lanço as redes.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Investigações




Quadros com os meus apontamentos enquanto escutava as partilhas

(Versión en español en los comentarios)


Acompanho, na Formação Humana e Espiritual, dois grupos de “Prépá” [nível de escolaridade francês de preparação à entrada nas “Haute Écoles”]. Pedi-lhes ajuda. Sem filtros, ou seja, a partir das entranhas, pedi-lhes que me falassem de Deus e da Igreja. O que achavam, o que sentiam, se lhes era indiferente, fossem crentes ou não. É uma das minhas áreas de interesse de investigação. Houve respostas muito interessantes. Uma delas, pela forma tão sincera que foi dita, deu-me bastante que pensar: “Deixei de ir à Missa quando já não me obrigavam. Acho que nessa altura até tinha deixado de acreditar em Deus. Um dia, depois de muito tempo sem ir, decidi entrar numa Igreja. A Missa estava a começar. Fiquei todo o tempo. Tive vontade de voltar. Fui comungar e vivi a presença de Deus.” “Foi isso que te fez voltar?”, perguntei. “Não sei. Mas, senti que foi a partir de uma decisão minha e não de uma imposição.” Ainda não é tempo de conclusões, mas de continuar à escuta.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Confissão pública [em dia do Pai]



“Selfie” no Verão passado, enquanto esperávamos pela mãe Maria

Confissão pública: este senhor tem muita culpa pelo que sou. Sinto-me muito agradecido por isso. Quando estou por Portimão e vou sair à noite, com o seu humor (e já me estou a rir só de pensar) faz as preguntas da praxe: “Com quem vais sair? Onde? A que horas chegas? À meia-noite, o mais tardar, quero-te em casa. Não te esqueças que quando estás aqui sou eu o teu Superior e deves-me obediência!”. E assim também zela pela minha vocação! Ah, quando ganha o Sporting “dele” fico mesmo contente, por sabê-lo a festejar. É o meu pai José!

terça-feira, 18 de março de 2014

Extraordinário [ou não]


Banal bicicleta extraordinariamente decorada, em Paris

(Versión en español en los comentarios)

No desenrolar da nossa conversa, digo algo e a Suzanne, com o entusiasmo que também a caracteriza: “Escreve! Escreve isso que acabas de dizer!”. Assim foi. E é uma das coisas que tenho pensado há uns tempos: “Não é o extraordinário que faz a vida, mas o quotidiano. O extraordinário o que faz é dar impulsos de vida para que o quotidiano siga no bom ritmo.” Se o fim-de-semana passasse a ser semana, não haveria a emoção de sexta-feira. Tal como a emoção daqueles dias que antecedem as férias, ou um evento especial. É impossível viver apenas do extraordinário, tal como é impossível viver sem ele. O quotidiano, o normal e, por vezes, o banal ajudam a digerir o que se viveu. A astúcia está em saber viver o momento: seja digno de registo ou não.

segunda-feira, 17 de março de 2014

[Para além do bem e do mal]



Candy Caldwell


“Odeio-os!” Estava de cabeça baixa quando desabafou quase imperceptivelmente. Sentia-se também a vergonha, mas foi mais forte o outro sentimento. Todo o ambiente envolvente falava da família, dos amigos, em modo festivo. Apercebi-me que algo mais se passava. Convidei-o a sair daquele espaço. Fomos para outra sala. Depois de algum tempo a serenar o nervosismo, disse-lhe que não estava ali para julgar e que por vezes é preciso desabafar a mágoa sem o peso de ser bom ou mau. Percebia a tensão que lhe ia dentro. Às tantas, ainda em sussurro, mas com uma densidade impressionante, diz-me: “Paulo, odeio os meus pais!” Gela-me a espinha. Que dizer naquele momento? Respiro fundo, faço a pequena oração “Senhor, ajuda-me a dar vida!” e disse: “De onde te sai esse ódio? Pensa numa parte do teu corpo?” “Daqui”, pondo a mão na barriga. “De que cor é?” “Preto, como as marcas do meu corpo!” E levantando a camisa mostra-me as marcas do cinto e dos pontapés. [Ficámos mais de duas horas à conversa] Após estes meses todos, sei que está a ser acompanhado. Porque conto isto? Tenho para mim que o tempo de quaresma, de calendário ou de vida, é o tempo do grito, do desabafo, da busca da verdade das entranhas diante de Deus… sem se ficar na superficialidade do bom ou do mau. Sim, reconheço a minha luta contra o excesso de moralismo, como se a vida se reduzisse ao “super-ego” controlador e destruidor. Não, não significa um laxismo em que tudo se permite e vale. Significa o saber escutar o que está a ser verdadeiramente dito “para além do bem e do mal”, para ajudar a que o outro seja livre. Sim, sendo nós chamados também à liberdade, há muito caminho a fazer…

domingo, 16 de março de 2014

1 ano [de diácono]







Tenho pensado no tempo cronológico. A rapidez com que passa. E por vezes, como demora. Parece que não chega o dia, a hora, o momento. Dá-se o diálogo entre a paciência e a esperança, junto com a aceitação de que já foi. Alivia angústias e serena o coração, deixando que o presente seja de recordação e festa. Assim é o dia de hoje. 1 ano passou desde que sou diácono [não o Remédioszzz zzz zzz ;) ]. Foi dos dias mais felizes da minha vida. Sinto-me muito agradecido a Deus e a todos os que me acompanham. É isto! Lá, prostrado no chão, pensei em muitas pessoas que me ajudaram a ser e diante de Deus disse: “Senhor, que eu seja sempre terra fecunda ao teu serviço!” Cá em casa, para celebrar este dia, tivemos almoço português: comemos um bom bacalhau com natas com broa de milho e, claro, o belo do pastel de nata. Para o futuro? Faltam 3 meses e meio. ;)

sexta-feira, 14 de março de 2014

Crónica no iMissio



Elliot Erwitt

Engraçado receber as reacções à entrevista de hoje: de vocês, amigos, e das pessoas que não conheço e que ficaram a saber da minha existência através do programa. Sinto-me muito agradecido! :) E parece que o dia é movimentado: hoje também é dia de crónica no www.imissio.net


Portugueses no Mundo - A entrevista completa


É estranho ouvir-me na rádio. Vinha no metro [Obrigado Senhor, pelo streaming!!] e sorria sozinho. Como disse ontem, foi um excerto que apresentaram na Antena 1. Aqui vos deixo a entrevista completa, ao estilo de conversa, com a jornalista Alice Vilaça. Falámos do passado [ter sido Comissário, o tempo de Madrid], do presente [o que faço em Paris, as saudades] e um bocadinho do futuro [a ordenação e o ainda regresso a Paris]. E sou um "Português no Mundo"! ;)

Clicar aqui para a entrevista completa:

quinta-feira, 13 de março de 2014

[Aviso de última hora] Fui entrevistado - Antena 1



Fui entrevistado, ao jeito de conversa, por Alice Vilaça, jornalista responsável pelo programa Portugueses no Mundo da Antena 1. Vai para o ar amanhã, sexta, um excerto às 07h45 e às 09h45 [PT time]. A conversa completa será publicada no dia seguinte na página do programa no facebook. Claro que tentarei republicar o link aqui também. 

[Des]arrumos [teológicos... e outros]



James P. Blair

Passado alguns meses de começar a estudar teologia, formulei-me esta questão diante dos programas: “isto parece tudo tão arrumado… tão bem arrumado, como se já tivéssemos as respostas todas. Então, porque é que não somos todos crentes faltando, em pleno séc XXI, o perdão, a ordem, a certeza, no fundo, ‘a’ Verdade?” Isto mexia-me mesmo as entranhas. Ponho no passado, pois após estes anos de estudo percebo que não está tudo arrumado. Que, graças a Deus, há discussões, pontos de vista diferentes, etc. É isso que dá vitalidade a um grupo ou sociedade. A relação seja humana, seja com Deus, não se reduz a fórmulas mágicas. A forte imagem do povo a caminhar pelo deserto durante 40 anos, com altos, baixos, queixas, lamentações e louvores, mostra que o caminho não se faz por magias, mas por aprendizagem. Cada vez mais me convenço que é preciso humildade para admiti-la e sair do “eu cá é que sei” ou “eu cá tenho a minha opinião e ninguém ma tira”, para “obrigado por me teres desarrumado os esquemas”. 

quarta-feira, 12 de março de 2014

passo-a-rezar.net



[Pausa para boa publicidade] O passo-a-rezar.net faz 4 anos. Renovou a imagem do site, mantendo a mesma qualidade de textos e oração. Juntou-lhe as aplicações para Android, iOS e Win8. Ontem estreei-me. Fazendo o caminho do costume, rezei de forma diferente… sabendo que centenas [ou mesmo milhares] estariam a rezar a partir do mesmo que eu. No silêncio faz-se comunidade… que se deixa encontrar com Deus por, pelo menos, 10 minutos no dia.

terça-feira, 11 de março de 2014

Metafísica... exercício físico



(Versión en español brevemente en los comentarios)


[Coisas do quotidiano em Paris] Já o tinha encontrado uma vez. Hoje, “mesminho” à minha frente, lá repetiu a cena e eu, claro, tinha de registar esta raridade. Nada como uma escada rolante para fazer exercício. Não é todos os dias que acontece. Afinal, todo o lugar é um potencial espaço para distender os músculos. Depois de ter saído de uma aula sobre Heidegger, fiquei a pensar que se ele tivesse sido mais atento ao quotidiano, os seus “ser-aí” e “ser-aí-no mundo” seriam mais simples. Haja metafísica… perdão, exercício físico. :)

segunda-feira, 10 de março de 2014

Saudade [Inevitavelmente]





Pediram-me para falar de Portugal, cá na comunidade. [Somos 18, de 9 nacionalidades diferentes.] Inevitavelmente falarei de saudade. Faço silêncio. Deixo que a pele se arrepie e o desejo, tão nosso de além-mar, cresça. Faço silêncio. Inevitavelmente sinto a saudade. 

Fair Play [que deveria ser o comum]





(Versión en español en los comentarios)

Podia ter ganho um pénalti e um eventual golo. Podia ter ganho um canto e um eventual golo. Nem uma coisa, nem outra. Optaram pela honestidade, pela verdade. Faz deles extraordinários, com destaque noticioso. Aplaudo, com o desejo de que coisas destas passem a ser o natural, o comum. [Seja no desporto, seja na política… enfim, na vida.]

domingo, 9 de março de 2014

9 anos d'o.insecto




o.insecto faz hoje 9 anos. Um espaço que partilho com o facebook. Cada vez gosto mais do nome e vou-me identificando com ele. Mas, mais que não seja, é o canto onde vou deixando marca [e que os meus pais lêem, tal como outros bons amigos ;) ]. Já me desafiaram passar alguns textos para papel. Enquanto tal não acontece, este é um registo de memórias. Neste momento, numa média de 100 visitas diárias, o blog já conta com um total de 101943, as quais agradeço por cá passarem. Deixo a foto do momento mítico da passagem das 99999 para as 100001 visitas. :) 

Tentações e flatulência



[Aviso aos mais sensíveis: este post tem algo que faz parte da vida: uma parte um pouco, como dizer, flatulente. Depois não digam que não avisei… De certeza que a Rainha de Inglaterra também passa por isso… quem não os liberta?] 

Há dias estava a comentar que, pela minha personalidade, sou um “homem de palco”. Ao longo destes anos já pensei e rezei, repensei e re-rezei isto. Reconheço a tentação sempre presente do orgulho e do “‘look at me’, sou maravilhoso e cheio de carisma”, correndo o sério risco de desvirtuar o dom, tornando-me o centro. Perguntaram-me: “Como fazes para combater isso?” “Queres a resposta espiritual, a humana ou a rápida?” “Ui, tens isso por categorias?” “Não, mas nisto há vários níveis.” “Ah, então quero as três.” “A espiritual: reconheço que é um dom de Deus e que, tal como o vou desenvolvendo, também o posso perder [a lógica da parábola dos talentos]. A humana: reconheço que não sou o único na face na terra e acho mesmo piada em ver mais pessoas a pôr os dons a render. A rápida: olha, ao deitar-me em cada noite, de vez em quando lá sai um pedinho. Dou uma gargalhada e penso ‘esquece lá isso de seres maravilhoso e mais não sei quê. Sê feliz e ajuda a que outros o sejam também’. É isto!”. [Eu avisei!!!!!]

P.S. - Há tentações que também se combatem com humor! ;)

sábado, 8 de março de 2014

Infelizmente celebramos o dia da Mulher


Brice Portolano

(Versión en español en los comentarios)

Infelizmente celebramos o dia da Mulher. Infelizmente, já em pleno séc. XXI, ainda há que chamar a atenção para a igualdade em dignidade da mulher em relação ao homem. Infelizmente ainda há tantas mulheres que recebem menos que os homens pelo mesmo trabalho. Infelizmente ainda há tantas mulheres que são abusadas: no trabalho, em casa, no seu Ser. Infelizmente ainda há tantos homens que consideram a Mulher como o objecto ao seu serviço. Infelizmente ainda temos de celebrar o dia da Mulher.

Há muitas considerações sobre a criação da mulher a partir da costela de Adão. No relato do Génesis (2, 21-25) pode parecer, numa leitura meramente superficial, que aquando da criação há uma superioridade do homem em relação à mulher. Engano, se se segue essa leitura! O relato mostra-nos a criação do ser humano como comunidade. Mais do que se completar, ambos, mulher e homem são complementares um ao outro. Quando o homem expressa que a mulher que acaba de ser criada é “carne da minha carne, ossos dos meus ossos”, afirma que a mulher, tal como ele, é igualmente frágil (a ideia de carne como fragilidade, como aquilo que é temporal) e igualmente forte (a ideia dos ossos como força, como duradouro). Pode-se dizer que esta formulação corresponde a uma aliança... a tal complementaridade. 


Sim, infelizmente temos de celebrar o dia da Mulher. Não deveria ser necessário. Mas já que o é: um abraço a todas as mulheres da minha vida, agradecendo tudo o que delas recebi e recebo.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Abismo. E o seu regresso.




(Versión en español en los comentarios)

[Secção: Outros tons, em tempo de quaresma] De que serve passar a vida sem ir ao fundo, pelo menos uma vez? Corro o risco do silêncio. Rodeado de abismo, recordo as quedas livres ou impulsionadas pelo medo, desafio, coragem de outros. Sim, obriga a repassar a vida, os minutos que trouxeram a existência. Já me aconteceu ter sido o fundo a vir até mim. Apetece morrer. No misto de desespero, há histórias por contar. O oxigénio alimenta o fogo que diz: “precisamos de ti”. Nesta viagem não faz sentido ficar. Na escuridão outra luz se acende. O mundo muda… ou o meu modo de vê-lo, entendê-lo, escutá-lo. E sou vencedor. [Diante de Deus não há vencidos.] Continuo a fazer caminho.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Ainda as cinzas de ontem...



Winfield Parks

(Versión en español en los comentarios)


Ontem, numa celebração de manhã e numa Missa ao final da tarde, impus cinzas. Tal como na comunhão, as pessoas não sorriem [já sei que é dia de “estar” muito compungido, dolorido, em sofrimento, etc e tal, mas… o evangelho até recorda que há que lavar a cara, perfumar, mostrar serenidade e leveza, quando, p.ex., se jejua]. Enquanto dizia "converte-te e crê no Evangelho” e impunha as cinzas, fazia questão de sorrir... e assim recordar que não somos chamados nem à dor, nem ao peso dos pecados. Somos chamados à Vida, e em abundância. Então, há que ir mais longe que a dor e soltar os pecados para ser livre. Os sorrisos de resposta surgiam e as cinzas ganhavam tom de terra fértil.

quarta-feira, 5 de março de 2014

[Cinzas] Que tenho de perder para viver?



William Albert Allard

(Versión en español en los comentarios)


Amanheceu como todos os outros dias. Acordei… ronha na cama, como costume. A tentar encontrar-me, nesta saída do reino de Morpheu, salta-me: “Cinzas”. E sem grandes alinhamentos no pensar, imaginei a cor, juntei o pó, o silêncio, o deixar-me ser pequeno: “Começa uma nova oportunidade para mais amar. Que tenho de perder para viver?” Levantei-me. Nada de extraordinário nos minutos seguintes… para além do respirar, que tem sempre algo de magnífico, e poder decidir ir mais longe no meu abraço aos outros. Pode parecer bonito, mas há abraços que me são muito difíceis. O sol apareceu. Talvez haja chuva. Preparo-me para sair…

terça-feira, 4 de março de 2014

"D. Paulo"



A semana passada estive a acompanhar um retiro para malta nova. Todo eu uma solenidade, claro está, sobretudo com o famoso casaco amarelo! Vai daí que não sabiam como me chamar: isto de ser diácono confunde. Ehehe!! Cheguei à hora de almoço. Os lugares estavam marcados, para evitar que se sentassem sempre os mesmos uns com os outros. Procurei o nome e reparei que, mesmo não sendo ainda padre, tinha sido elevado a bispo, com direito a flor e tudo! ;) “Mas, como é que o havemos de chamar?” “Paulo, o meu nome é Paulo… e gosto muito dele!” Confesso: quando me chamam de diácono Paulo só me lembro do diácono Remédios… e dá-me para rir feito Paulo, que vem do latim “parvus”. :p Enfim… É Carnaval! ;)

segunda-feira, 3 de março de 2014

[Questão de] Interpretação



“Perspicácia” de René Magritte

(Versión en español en los comentarios)

Sei que corro riscos quando partilho algo de mim mesmo. A interpretação, seja boa ou má, surge automaticamente quando se ouve, lê ou vê alguém. Por exemplo: “Como é que ele foi capaz de escrever isto?” dependendo do tom de voz que é dito (ou pensado) pode mostrar a forma como se recebe a informação. Espanto, tristeza, alegria, alívio, horror, enjoo, inveja são possíveis formas de leitura. Se há pessoas neutras, ou plenamente imparciais, fico preocupado. Estarão vivas ou limitam-se a respirar? O direito à indignação é algo que assiste à humanidade. Ao contrário do da imposição.


domingo, 2 de março de 2014

Dança [Belo e humilde]




Do filme “La chinoise” de Jean-Luc Godard]


Acabo de chegar de um workshop de 8 horas de dança/expressão corporal. De momento não há muitas palavras, apenas o misto de sensações e o pensamento: “tanto a continuar a descobrir do Corpo”. Apresentei-me dizendo, com sorriso matreiro: “Je suis beau ! … et humble!” [“Sou belo! … e humilde!”] Afinal, antes da quaresma há o carnaval. Terei tempo de me purificar… e na busca da autenticidade, gostar ainda mais de mim e assim ir amando plenamente os outros. ;)