quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Breve oração


 [Breve oração na noite do dia dos Santos Arcanjos]

Agradeço-Te

o olhar retemperador para cada pessoa, no anúncio de todas as graças feitas carne, com desejo de abrir, curar e salvar, respeitando a liberdade e a diversidade, em aladas raízes que eliminam polaridades e unem corações.


Peço-Te

escuta nos bateres de asas e atenção para reconhecer os Teus Anjos presentes nos rostos que tudo buscam fazer por amor.


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Nome inscrito na palma da mão de Deus

[Secção coisas de corpo, com as devidas licenças para partilhar] Após alguns encontros, em que aflorámos sombras e abrimos perspectivas sobre religião e imagens de Deus:

- P. Paulo, recorda-se de ter partilhado há tempos numa publicação que escutou uma pessoa viciada em sexo?

- Sim, sim.

- Falava-lhe do medo de ser julgada e gozada. E ao mesmo tempo a dor que isso provocava, acrescendo ao vício.

- O nosso contexto social quanto ao tema sexo é de extremos: ora gozo, ora tabu. É preciso equilibrar o natural com a razão. Mas, para isso, é fundamental escutar sem julgar. É verdade que o meio religioso não ajuda muito. Moralizámos demasiado o genital e o sexual. E, falar, se é que se fala, de pénis, vagina, glande, clitóris, vulva a tendência geral é remeter logo para a ordinarice, o porco, o sujo. É necessário ganhar maturidade e perder medos.

- É mesmo por essa sua naturalidade a falar dos temas que quero partilhar algo. [Silêncio, cabeça baixa] A minha obsessão por sexo. [Silêncio] Reduzo tudo ao sexo, tendo depois muitos pensamentos aí centrados. [Começam as lágrimas e o grito] Eu não sou uma p***, mas sinto-me tão assim. Eu estou condenada ao inferno, não estou?! Foi o que me ensinaram desde pequena!! [Estava enrolada sobre si, como que a desaparecer.]

Deixei que emoção mais forte saísse.

- Concentre-se na respiração. Peço-lhe que relaxe e abra os ombros, os braços, aos poucos, ajuste-se no lugar. Mantenha a respiração. Aqui estou. Agora, erga a cabeça. Isso. Dignidade em si. Os rótulos são acessórios. A Jane [nome fictício] não é rótulos, mas pessoa a viver muito. Mantenha a respiração. Aqui estou.

- Não me está a condenar?

- Respiração. Traga a consciência de si, aqui e agora. Com todo o seu ser. Ninguém tem o direito de condenar nenhum ser. Mas, o dever de compreender. Daí a faculdade da razão. Deus deu-nos a razão para compreender e ajudar a fazer caminho de liberdade. O sexo faz parte de nós. O que há a fazer é ajustar essa intensidade e perceber de onde vem essa intensa pulsão, com calma e respeito pelo seu tempo.

- Eu tenho salvação?

- O seu nome está inscrito na palma da mão de Deus. Agora é tempo de continuar a encontrar-se consigo mesma e amar-se. É caminho exigente, mas libertador.


domingo, 27 de setembro de 2020

480 | 17


 Pedro Vicente

[Secção vida em celebração] 480 | 17: os anos da fundação da Companhia de Jesus e os que vivo como jesuíta, neste dia 27 de Setembro. Pensar no impacto que a Companhia teve e tem no mundo e fora (há crateras na Lua com nomes de Jesuítas). E pensar no imenso que ao longo destes 17 anos tenho descoberto de Deus, de humanidade em Jesus, entre contemplação e santidade humorada (apesar da fraca nitidez, chamo a atenção para o pormenor da t’shirt). É de agradecer. Muito! Um Abraço aos companheiros jesuítas por esse mundo fora, com a minha oração ao Senhor da Vida por nós, pelas nossas missões e por todas as pessoas que nos ajudam a ser quem somos em maior autenticidade e humanidade.


sábado, 26 de setembro de 2020

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

[...]

[Secção homenagem] Conhecemo-nos por agradecimentos mútuo de textos de cada um. Desde aí, conversas de humanidade, em partilha de vida e da importância do encontro de psicologia e espiritualidade. Fizemos 2 lives no Instagram e aconselhámo-nos em acompanhamento de pessoas. Era notória a sua profundidade e desejo de que cada pessoa fosse cheia de vida. Ele que estava a encontrar caminho de partida para Deus, partilhando tantas vezes sobre a força na vulnerabilidade. Acabo de saber que aconteceu. Filipe, imagino o abraço de Deus a agradecer todo o bem e amor que deu a tantas pessoas. O nosso jantar fica adiado aí ao céu. Que daí nos continue a ajudar a fazer pontes de diálogo e de partilha entre a ciência e a espiritualidade. Conte também com a minha oração pelos seus filhos. Abraço demorado, com luz.


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Pensar cultura



[Secção pensamentos soltos sobre cultura] A minha noite de ontem foi agitada, continuando em eco para hoje. Depois de assistir à conferência “Modos de ocupar - dedos na ferida, mãos na cultura” no Rivoli, terminei de ver o “The social dilemma”, o documentário na Netflix sobre as redes sociais, evolução e efeitos em cada um de nós e no todo (voltarei a ele). Surgiram-me muitas perguntas ante a actualidade, sobre a sociedade em crescente polaridade. Afinal, a cultura, a educação, a arte estão a ser renegadas para níveis considerados desnecessários. Perigoso. Muito perigoso.


Leio “At the mind’s limit - contemplations by a survivor on Auschwitz and its realities” de Jean Améry. Logo no início do ensaio, Améry comenta como aos nazis não lhes interessavam os pensadores. Bem, interessavam. Apenas os que confirmassem a argumentação da raça pura. Fora disso, era desumanizar o diferente, fosse judeu, negro, homossexual, cigano, opositor. Saber que este poder começou lentamente, numa sociedade sofrida com os efeitos da Primeira Guerra Mundial. Uma sociedade cansada e vulnerável fica sujeita a ruídos sonoros e emocionais. Surgem políticos inteligentes de cabeça, acompanhados por quem sabe manipular consciências, e descartados de empatia, de sentido de alteridade. Promete-se a salvação através da divisão e segregação, ganha-se adeptos emotivos e o outro, em vez de alguém a conhecer ou descobrir na sua diferença, torna-se um inimigo, um alvo a abater. Milhões morreram e morrem por isto.


Actualmente estamos numa sociedade sofrida. Não sou pessimista. Mas, um pouco de realismo é importante para percebermos que é necessário parar seriamente e pensar com diferentes perspectivas a experiência da cultura e da educação. Com honestidade, a pôr dedos na ferida, como ontem aconteceu no Rivoli. Pena foi ter sido breve, com o constante pedido de “respostas breves”. Precisamos de mais tempo nessa reflexão. No meu optimismo, acredito que o diálogo é possível em nome da humanidade. Afastemo-nos do ruído pela reflexão, encontremos a harmonia pela respeitosa escuta e compreensão, vivamos a colaboração pondo talentos a render por um mundo melhor. URGENTEMENTE!


terça-feira, 22 de setembro de 2020

Obrigado, professores



 Poema de Pedro Tamen

[Secção pensamentos soltos sobre ser professor] Em conversa com uma amiga que foi colocada numa escola com turmas semi-profissional e profissional. Formação: Filosofia, licenciada, com mestrado e doutoramento. “Paulo, como dá para pensar, preparar seja o que for e ainda viver? Tenho 8 disciplinas e 2 direcções de turma. Nem te comento a burocracia. Roça-se o impossível.”


Pois, roça-se o impossível numa realidade base para a construção de uma sociedade: a educação. Isto é um problema sério. Um professor desgastado não consegue formar intelectual e humanamente os alunos que tem por diante. O sistema educativo está completamente invertido. Com a pandemia ainda se intensificam as dificuldades e para breve aumentarão as consequências a nível social. 


A beleza da educação também implica tempo. Preparar uma aula exige do professor tempo de actualização, formação contínua, criatividade. Sem esquecer que também necessita do seu tempo lúdico. Isto parece óbvio. Mas, milhares de professores roçam o impossível. Não admira o despertar de populismos. E isso preocupa. Obrigado, de coração, a todos os professores!


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Corpo em política


 Trabalho em papel de Ali Harrison

[Notas sobre corpo, em especial ovários, em política] É preciso falar muito seriamente sobre corpo. Não é novidade. Ser humano é ser corpo. Para mim, enquanto cristão, amplia mais a beleza desta essência: Deus fez-se carne. Todos os orgãos corporais fazem parte desse ser, não são mera funcionalidade materialista. Integram sentido total. Por isso, tomar a decisão de retirar um orgão implica sério discernimento. Fazê-lo por questões políticas, religiosas, ainda mais sem liberdade ou consentimento da pessoa, é um atentado à dignidade humana.


Tal como possam haver leis com carácter eugénico, como o aborto específico de pessoas com deficiência, também imaginar que se conceba a possibilidade de uma lei que determina a remoção dos ovários de uma mulher como castigo, multa, pena, o que for, além de triste e aberrante é não ter consciência de sentido de corpo, pelo menos em antropologia do corpo, sociologia do corpo e de teologia do corpo de século XXI. Ou seja, é não ter consciência de humanidade. Logo, desumano. Logo, oposto à afirmação pró-vida. 


Uma visão materialista ou coisificada do ser humano, seja de pendor de direita ou de esquerda, é sempre desumana. Repito: é preciso falar muito seriamente sobre corpo, também muito em especial nos meios políticos.


domingo, 20 de setembro de 2020

Últimos e primeiros



[Secção pensamentos soltos] Ainda não o consegui ler todo. Não pelo tamanho, mas por partes que convidam, por vezes obrigam, a deter e pensar. São muitos os momentos em que fecho o livro, pelo “murro no estômago” com o testemunho lido. Volto e apesar de não ser sobre Deus, aqui vejo muito d’Ele. Conhecer o ser humano é um desafio. Quanto mais conheço, mais vou abrindo o coração ao divino. Todos andamos de algum modo em busca da identidade mais profunda, livre de qualquer julgamento ou sensação de inferioridade. Todos queremos ser aceites como somos entre luzes e sombras, é isso. 


Convencionaram-se padrões e modelos de se ser humano. Uns acertados e com sentido, onde através da razão se acalmam os instintos de sobrevivência, abrindo as perspectivas dos valores que equilibram direitos e deveres. Outros, desajustados, sem sentido, acomodados a características consideradas úteis para alguns. Curioso pensar que Jesus diz que os últimos serão os primeiros. Quem serão estes últimos? Em meios sociais, políticos e religiosos são além de os do índice de “Longe da Árvore”, os migrantes, refugiados, rejeitados pela orientação sexual, estado civil (ou que decidiram não casar, ou que se divorciaram), em resumo, quem tem diferenças essenciais que levam a olhares de lado por quem se acha superior na sua condição humana.


O que me torna melhor pessoa? Tomar consciência da complexidade de ser humano, nas suas alegrias e tristezas, esperanças e angústias, e conhecer para além de rótulos. Solomon termina a introdução assim: “Para alguns pais de filhos com identidades horizontais, a aceitação atinge o seu apogeu quando eles concluem que, enquanto supunham que estavam amarrados por uma grande e catastrófica perda de esperança, estavam de facto a apaixonar-se por alguém que ainda não conheciam o suficiente para querer. (…) O enigma deste livro é que a maioria das famílias aqui descritas acabou agradecida por experiências que teriam feito qualquer coisa para evitar.” Talvez seja um dos enigmas da vida: o de se caminhar, não na busca da diferença em si, mas na beleza do agradecimento das virtudes que, para além de qualquer condição, nos fazem verdadeiramente humanos e divinos.


sábado, 19 de setembro de 2020

Não se adia o amor


[Coisas na vida de um padre] Aqui está uma bonita recordação de um dia cheio de Luz. Que vontade tenho de ver gente animada em celebração de amor. Custa sentir a tristeza da decisão de adiar. Foram muitos os casamentos a passar para o ano seguinte. Estes tempos são mesmo de recolhimento interior e adiam as celebrações. Mas não o Amor. A todos os casais que, por todos os motivos e mais alguns, adiaram o casamento, aprumem ainda mais na preparação daquele que será o vosso dia. A grande festa exterior celebra-se a partir do amor que querem partilhar. Por falar em amor ao próximo, também penso em todas as pessoas que têm sustento desde estas celebrações e que atravessam tempos duros. Contem com a minha oração!


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Saber acolher

 


Tirei ao pormenor do grande quadro “Ceia na casa de Simão” de Paolo Varonese

[Secção pensamentos soltos sobre acolhimento] Acolher é exigente. Acolher é receber a pessoa tal qual é e, conforme a situação, atendê-la, escutá-la, cuidá-la, sem pretensão de que tenha de assumir ou integrar perspectivas, modos de ser, mas ajudá-la a encontrar-se. 


Jesus é convidado a jantar na casa de Simão, um fariseu. Uma mulher, sabendo da Sua presença, põe-se aos pés de Jesus e com os cabelos enxuga-lhe os pés, banhados com as suas lágrimas e ungidos com o perfume. Além de uma cumplicidade imensa, com sensualidade e, até mesmo erotismo, em que uma mulher se atreve a irromper por um jantar de homens, esta cena demonstra como Jesus acolhe e afirma a força da vida da pessoa para além da sua história ou condições de vida. Acolhe e toma-a como exemplo de reconhecimento e entrega. Simão, o fariseu, olha para as suas características, julgando não apenas ela, como Jesus. É típico de quem vive pouco o amor: julgar e condenar. Jesus, por sua vez, olha para o ser total de cada pessoa, e ama. Dá-se perdão, reencontro para a Vida. Jesus dá-lhe destaque de honras. É típico de quem vive centrado no amor: libertar.


Os dias que atravessamos pedem muito acolhimento. Permitir que, ante o medo, a desconfiança, os rápidos julgamentos, se possa atenuar o “apontar de dedos” e, em boa reflexão, nos ajudemos mutuamente no respeito. Estes tempos pedem muita compreensão e paciência de todos(as). Quem bom será escutar o que Jesus disse a esta mulher, pela força da sua autenticidade: “a tua fé te salvou. Vai em paz”. No final, ficou no ar a suavidade o aroma do perfume. É o que sentimos quando realmente há acolhimento de vida.


quarta-feira, 16 de setembro de 2020

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Prazeres em corpo

 



Fotogramas do filme “A Festa de Babette”


[Secção pensamentos soltos sobre prazeres em corpo] “O prazer de comer bem, como o prazer sexual, vêm de Deus”. Esta afirmação foi destaque noticioso por ter sido dita pela Papa Francisco. O líder máximo da Igreja Católica afirma o que, aparentemente, tem sido contrariamente dito, em catequeses, por padres, por freiras, por leigos mais radicais, na mesma Igreja que lidera. Sim, é certo que a moral, algo importante e fundamental, resvalou em moralismo. Alguém fala de prazer e é logo o “hedonismo no mundo”, como se na fé apenas houvesse lugar para o sofrimento. (Esquecendo que o próprio sofrimento pode ser fonte de prazer, mas não vou entrar por aí.)


Que bom que Francisco afirma a beleza da vida de forma livre e directa. Para quem tem dúvidas, por favor, que leia o Cântico dos Cânticos. Também pode ser Eclesiastes que nos diz que agradável a Deus é o ser humano comer e beber como desfrute dos frutos do trabalho. Já agora, recordar que Jesus era acusado de beber e comer bem. Sim, há organicamente estruturas que nos estimulam o prazer, como forma de saborear a vida. É natural. O que não é natural, a roçar a aberração e, isso sim, pecado, é anular o deleite do amor com castrações psicológicas, com afirmações como o “sexo é sujo, é porco”, “apenas necessário para a procriação” e orgânicas como a excisão feminina. 


Se há desequilibrios e desajustes, seja pelo extremo da anulação, seja pela animalidade, que haja caminho de encontro. Agora, que não se use a frustração como meio de castrar a beleza da vida criada por Deus. Sim, o Papa dá um bom exemplo, “A Festa de Babette”. Na dureza do moralismo cristão, uma mulher entrega toda a sua arte culinária, oferecendo uma festa, no fundo, a felicidade por muitos reprimida. E Deus delicia-se com a nossa felicidade.


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Breve oração



[Breve oração ao adormecer]

Agradeço-Te

as horas de palavras partilhadas 

em desenlace de histórias de vida


Peço-Te

acolhe as lágrimas e os sorrisos

e transforma-os em luz e amor


sábado, 12 de setembro de 2020

Memória(s)




[Secção pensamentos soltos sobre as memórias] A memória desperta com sons, cheiros, imagens, palavras. Quando estive na casa dos meus pais vi novamente esta fotografia. Tinha 18 anos. A precisão vem do cabelo liso (desfrisei como loucura da passagem à maioridade. Podia ser pior, eu sei) e da pequena pêra que me acompanhou ao longo dos 17, enquanto estava no 12.°. Quando foi tirada, já tinha sabido da “não colocação” na faculdade. 


O que na altura foi um sentimento de quase fatalidade, passados estes anos percebe-se como tudo se relativiza e torna-se um acontecimento histórico. No entanto, há dores que se arrastam na vida de cada pessoa, mantendo-a nesse tempo dos acontecimentos. Assim, o que poderia já ser passado, ainda é uma actualidade muito viva. No exterior muita coisa muda, no interior também deveria acontecer conversão. 


A viagem interior para que a memória seja de agradecimento implica caminho de reconciliação pessoal, atravessando as dores de modo as deixar lá, permitindo todo o ser avançar para o presente. Sai-se de extremos, em saudosismos de “naquele tempo é que era” ou angústias no “quero esquecer tudo à força” para “aprendi com o caminho, então a que sou chamado(a) a fazer hoje?” Quando nos reconciliamos com a nossa história, aceitando e integrando-a, as memórias que surgem de fotografias são oportunidade de agradecimento pelo tanto que temos e somos. Também a pôr ao serviço da reconciliação na humanidade.


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Breve oração


[Breve oração em final de tarde]

Agradeço-Te

o conhecimento, a razão, o raciocínio, o pensamento, a clarividência, as palavras, as frases, os contrastes, os contraditórios, que impedem os absolutos anuladores de diálogo desde diferentes perspectivas.


Peço-Te

compreensão, ponderação e tempo que levem à diminuição das reacções de ataque/defesa e ao aumento de acções de respeito pelo próximo.


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Bereshit



[Secção letras verdes] Bereshit - a primeira palavra bíblica. Traduz o início da existência em tempo para além do tempo. Bons inícios.


domingo, 6 de setembro de 2020

Respirar fundo

 AA

[Secção coisas de nada] Caminhava pela rua. Há sempre as frases soltas de conversas que se apanham pelo ar. “Faz-te falta respirar fundo!” Pensei na simplicidade e pertinência do conselho. Não só àquela pessoa, mas a todas as pessoas: respirar fundo, de forma consciente. Depois, amar, amar muito, a si mesmo e ao próximo. Tantas mudanças boas acontecem na humanidade como resultado de profundas respirações e de gratuitos actos de amor.


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Sensatez na educação



[Secção pensamentos soltos] A educação não é neutra. Nenhum modo de educar é neutro. Tudo o que é humano não tem carácter neutro. Isto a propósito da nova polémica que agita as redes sobre a disciplina de Cidadania, com movimentos de objecção de consciência em relação à mesma. Educar, no seu sentido etimológico, significa ajudar a crescer nas muitas dimensões, desde a alimentação, ao testemunho de comportamentos de respeito pelo outro, passando, obviamente, pela transmissão de conhecimentos que ajudem a pensar criticamente. 


Pensar. Eis algo que tem sido pouco usado ultimamente quando se circula pelas redes. Fica-se pelas frases soltas das polémicas e pouco se avança na compreensão, rapidamente aumenta crispação e divisão. Estive a ver o programa oficial da disciplina e o meu primeiro pensamento foi: “enquanto professor de Educação Religiosa e de Formação integral abordei praticamente todos, senão todos, estes temas”. Tal como os meus e minhas colegas de todas as outras disciplinas. Sim, em Português, Matemática, Geografia, Filosofia, História, Biologia, Química, Artes, Educação Física, etc., também se trabalha Cidadania. Em nada vi ideologia, mas temas a serem falados precisamente por estarmos, como diz a fundamentação, numa sociedade plural. Onde é que pode entrar a ideologia, seja em que disciplina for? No modo como for leccionada. Um educador tem de estar bem preparado não para endoutrinar ou formatar, mas para formar. E isso significa ajudar o aluno a pensar, com argumentos, com respeito, com possibilidade de não concordar e superar o próprio mestre. 


Montesquieu, em “L’esprit des Lois”, afirma: “Recebemos três educações diferentes, a dos pais, a dos professores, a do mundo. Esta última contradiz o que as duas primeiras nos ensinam”. Aprender a pensar é caminho de humanização e de impedir polarizações agressivas com ofensas recíprocas. Se não há neutralidade na educação, deve de haver sensatez. Para haver sensatez tem de haver muita leitura (em papel, virtual e da realidade) de contraditórios, ganhando, pela experiência, liberdade de pensar por si, sem cair em ruídos colectivos, percebendo que em humanidade ninguém é dono de ninguém.


quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Amizade com a vida





 JDiz


[Secção coisas de nada] Por vezes, é só isto: olhar de frente para o sol, ver a beleza da luz em cor, agradecer tanto bem recebido e deleitar-se em amizade com a vida. O resto? Uma gargalhada.