quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Pensar cultura



[Secção pensamentos soltos sobre cultura] A minha noite de ontem foi agitada, continuando em eco para hoje. Depois de assistir à conferência “Modos de ocupar - dedos na ferida, mãos na cultura” no Rivoli, terminei de ver o “The social dilemma”, o documentário na Netflix sobre as redes sociais, evolução e efeitos em cada um de nós e no todo (voltarei a ele). Surgiram-me muitas perguntas ante a actualidade, sobre a sociedade em crescente polaridade. Afinal, a cultura, a educação, a arte estão a ser renegadas para níveis considerados desnecessários. Perigoso. Muito perigoso.


Leio “At the mind’s limit - contemplations by a survivor on Auschwitz and its realities” de Jean Améry. Logo no início do ensaio, Améry comenta como aos nazis não lhes interessavam os pensadores. Bem, interessavam. Apenas os que confirmassem a argumentação da raça pura. Fora disso, era desumanizar o diferente, fosse judeu, negro, homossexual, cigano, opositor. Saber que este poder começou lentamente, numa sociedade sofrida com os efeitos da Primeira Guerra Mundial. Uma sociedade cansada e vulnerável fica sujeita a ruídos sonoros e emocionais. Surgem políticos inteligentes de cabeça, acompanhados por quem sabe manipular consciências, e descartados de empatia, de sentido de alteridade. Promete-se a salvação através da divisão e segregação, ganha-se adeptos emotivos e o outro, em vez de alguém a conhecer ou descobrir na sua diferença, torna-se um inimigo, um alvo a abater. Milhões morreram e morrem por isto.


Actualmente estamos numa sociedade sofrida. Não sou pessimista. Mas, um pouco de realismo é importante para percebermos que é necessário parar seriamente e pensar com diferentes perspectivas a experiência da cultura e da educação. Com honestidade, a pôr dedos na ferida, como ontem aconteceu no Rivoli. Pena foi ter sido breve, com o constante pedido de “respostas breves”. Precisamos de mais tempo nessa reflexão. No meu optimismo, acredito que o diálogo é possível em nome da humanidade. Afastemo-nos do ruído pela reflexão, encontremos a harmonia pela respeitosa escuta e compreensão, vivamos a colaboração pondo talentos a render por um mundo melhor. URGENTEMENTE!


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