“Trinta e três raparigas saem a caçar a borboleta branca” de Max Ernst,
da colecção permanente do Museu Thyssen-Bornemisza
[Secção pensamentos soltos sobre vocação] Há pouco publiquei uma flor de nenúfar como imagem do pequeno texto sobre vocação. Podia ter sido uma casa ou templo com múltiplos muros ou véus. Foi a flor com as muitas pétalas. Que me passava pelo pensamento?
A vocação de cada ser humano é o amor, que se vai convertendo de substantivo em verbo. Imagino o centro do ser como esse amor iluminado. No entanto, a luz vai sendo rodeada com véus, muros, redes, grades, impedindo-a de irradiar e pôr a render o seu talento. Deus não se cansa de encher de azeite o vaso de barro com a chama, que aviva ou enfraquece conforme o nosso agir diante dessas defesas. Então, somos chamados a fazer o caminho de “des-cobrir” esses véus, muros e afins. Que nomes terão? O medo do julgamento? A incompreensão da vida com votos, sejam religiosos ou matrimoniais? Achar-se incompleto ou imperfeito? Comparações? Vergonha ou até mesmo nojo do que possa ter feito ou tenha sido sujeito(a)? Ser demasiado cedo ou tarde na vida? A limpidez das respostas ajudará a derrubar, rasgar, cortar, dissipar essas barreiras permitindo a luz irradiar.
Chegar a essa limpidez é exigente. Daí ser recomendando o discernimento, em passos de silêncio, para escutar e sentir o amar divino que, ao alimentar a chama, desafia o amar de cada pessoa. Amar como casal, como mãe ou pai, como consagrado ou consagrada, como profissional desta ou daquela área, sem comparações de estados de vida. Quem se encontra na sua vocação, por ir derrubando as barreiras, fica exposto apenas à graça de Deus, que não impede ventos fortes. Ainda assim, irradia a luz que contagia e testemunha a certeza de que todos somos chamados ao amor. E na sua vocação própria, ilumina os caminhos de outros que lhes são confiados a amar.