domingo, 19 de abril de 2020

Celebrações




[Secção pensamentos soltos sobre celebrações de Abril] Toda a celebração tem carácter simbólico. Aviva a memória para acontecimentos que transformaram e libertaram alguém, um grupo, uma comunidade, um país. Somos atravessados de História e celebrar é não permitir que se apaguem esses registos da existência. Muitas vezes, essas celebrações contrastam em modos de pensar ou ver a realidade. Pois, a complexa humanidade nas muitas perspectivas. 

As nossas gerações vivem algo único. Provavelmente haverá uma data (o momento da descoberta da vacina?) que se conjugará simbólica para marcar o fim da pandemia. Estamos a viver História. Infelizmente, mas estamos. Haverá a data da liberdade. Nem sei como a celebraremos, mas haverá um marco. Entretanto, é-nos pedido em cada canto e recanto que fiquemos em casa. Afinal, nunca de forma tão forte um acto individual deixa de ser um acto isolado, fechado em si. Para o melhor e para o pior. Sem se saber, e isso é muito doloroso, pode-se estar a infectar alguém. Por isso, todos os gestos de precaução são humanitários. Também de respeito por quem não se pode resguardar. Custa muito. Está a custar muito abrir mão de tanto. Aquele custo sem preço, por ser de sentir de entranhas tudo o que estamos a passar.

Em maturidade, mais dos que discussões ideológicas, todos somos chamados a dar o exemplo de respeito e cuidado. Não sei o que é viver em ditadura, por isso, reconheço o grito da liberdade e quero que continuemos a dá-lo. No entanto, celebrar de forma diferente não significa falta de respeito pelo Abril de 1974 que, em conjunto com outras dimensões do ser, me permite crescer como Homem livre também no modo de celebrar as coisas essenciais da vida. Custa não ser com toda a gente representativa? Custa. Mas, o simbólico no pouco, na simplicidade, pode ajudar milhões a compreenderem o imenso que significa o profundo sentido da liberdade, mais que política, existencial. De outra forma, apenas será ruído. Neste momento, todos necessitamos de encontrar a “paz sem vencedores nem vencidos” que nos fará recordar a união tão necessária neste Abril de 2020. 

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