sexta-feira, 26 de abril de 2019

terça-feira, 23 de abril de 2019

Deus Como Tu - 1 ano




[Secção aniversário] “Deus Como Tu” fez um ano há dias. Não escrevi na altura por ter sido na Semana Santa. Apesar do nome do livro, há prioridades. Mas, hoje, dia mundial do livro, recordo o aniversário enquanto volta a emoção de quando toquei em “Deus Como Tu” pela primeira vez. A sensação de palavras ganharem corpo em papel. Mais forte ainda sentir que o livro deixava de ser meu, passando a ser de tanta gente que o lia. Tanto nas apresentações como nas mensagens, mails ou cartas que recebi, fui também percebendo a sede espiritual que atravessa a actualidade. Tanto nas partilhas do sentido que os textos iam fazendo, como nas perguntas que suscitavam, Deus, ou pelo menos a questão divina ou espiritual, tornava-se uma realidade próxima, presente, de forma positiva. Em agradecimento a quem leu e lê, também a Liliana Valpaços e a Sílvia Baptista, editoras da Matéria Prima, partilho uma das orações registadas em “Deus Como Tu” em formato manuscrito: “Agradeço-Te os detalhes de amizade no (re)conhecer de beleza que recorda a Tua presença. Ajuda-me a viver sempre de coração agradecido”. 

sábado, 20 de abril de 2019

Noite de Luz



[Secção outros tons em Noite de Vigília Pascal] O véu do templo rasgou. Nada impede o tu-a-tu divino. A noite rasga-se em lume novo. Tudo, até a morte vencida, convida a Deus.

Sábado Santo



Francisco Oliveira Sá


[Secção pensamentos soltos em manhã de Sábado Santo] Ao longo dos últimos anos tenho vindo a ganhar mais respeito a este dia. É certo que sabemos o final da história: a ressurreição. No entanto, tudo pode tornar-se demasiado artificial se apenas se celebra ou vive como cumprimento litúrgico. Este dia é igualmente demasiado forte: fala-nos do vazio, do sem-chão, do luto. Mistura-se a desilusão, a ingratidão, onde possivelmente pode ter despontado a raiva e ódio nos próprios discípulos: “porque o segui?”; “de nada serviu deixar tudo”; “ele enganou-me”. Também as memórias dos olhares, dos gestos, das palavras com autoridade de quem sempre quis a vida do outro. Se os outros dia têm símbolos como o lava-pés ou a cruz, este nada tem a não ser o silêncio entre desespero e esperança de algo novo. É um dia mais que racional, emocional. Daí ser preciso estar atento aos “sábados santos” da vida. Facilmente se pode cair na resignação. Encolhem-se os ombros e anulando-se mais pouco o ser segue a vidinha. Contudo, a esperança da fé convida-nos a integrar os acontecimentos por mais duros que sejam. Não é fácil, roçando o quase impossível por vezes. Nos textos evangélicos, em dois vemos o despontar do que significa esta confusão de sentir. Em S. Lucas, os discípulos de Emaús regressam desesperados. Em S. João, Maria Madalena, chora o desespero. Em ambos, o ressuscitado aparece sem que o reconheçam imediatamente. Pede-lhes para recontarem os acontecimentos. Hoje é o dia de luto. Com o ressuscitado, mesmo que não o sintamos. Sábado Santo: convite a enfrentar o sentir diante da brutalidade dos acontecimentos. Teologicamente falando, Jesus atravessa a “mansão dos mortos”, integrando em si a Vida.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Sexta-feira Santa




[Secção outros tons especial Sexta-feira Santa] Os olhos fecharam-se dando alento. É o silêncio da hora. Erguido como sinal de nada que se faz tudo. É tudo. Fica a lágrima reluzente de esperança.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Quinta-feira Santa




[Secção outros tons especial Quinta-feira Santa] Vive-se a Ceia, em pôr-do-sol que antecipa a entrega. Aproxima-se a hora de tantas outras que esperam o tempo certo de amar. “Amou-os até ao fim”. Esse é o gesto certo, em pés lavados a plena luz.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Notre-Dame




[Secção pensamentos soltos em ecos de Notre-Dame em Paris] “Saudai-vos na paz de Cristo”, é, a seguir à proclamação do Evangelho, o segundo de três momentos em que se ouve a voz de um diácono durante a Missa a preparar a comunhão. Era o que o que dizia  nesta foto, na primeira vez que vivi Missa na Catedral de Notre-Dame. Celebrávamos a Missa dos Estudantes. Daí também não me ser indiferente o que aconteceu ontem. As fortes imagens, em especial a queda do pináculo, fizeram-me pensar muito no concreto e no simbólico de todo o incêndio. Ainda mais quando hoje uma amiga me disse que ao mesmo tempo a mesquita Al-Aqsa em Jerusalém também ardia. 

A Igreja é feita de pessoas e de história. As catedrais foram construídas por pessoas que, em total anonimato, registaram o que será história. Notre-Dame tem a marca de milhões de pessoas: centenas que a construíram, milhares que nela rezaram e rezam, milhões que por ela passaram, de todo o mundo, com mais ou menos fé, apenas porque foram a Paris e faz-parte-visitar-os-monumentos-característicos, agitadas pelo silêncio ou incomodadas pelos selfie-sticks para registar tudo e mais alguma coisa sem interesse, e ainda deixando-se maravilhar pelos recantos em expectativa de encontro de Quasimodo. A Catedral deixa de ser de pedra encontrando carne em cada pessoa. Daí a dor de ontem. O imponente pode cair. A História é recordada e transforma-se com a queda do pináculo. 

Fala-se milhares para a reconstrução. Como que a apagar o mais rápido possível a memória da destruição e voltar gloriosa a imagem da fé. Mas, fico a pensar: toda a reconstrução é algo novo. O restauro apresentará sempre a certeza da cicatriz. Que nova humanidade se espera? Que nova Catedral de Igreja se transformará? Sim, a partir de agora será sempre nova. É Páscoa. É Passagem. O antigo ganha a cicatriz da renovação e torna-se oportunidade de dar espaço ao reconhecimento da fragilidade como caminho de humildade. Os valores que Notre-Dame simboliza podem avivar-se em caminho de Paz. 

Ter sido em início desta Semana Maior, em que somos chamados a fazer um grande exame de consciência na preparação do Triduo Pascal, torna-se ainda mais impactante. Tento imaginar o silêncio quando se entrou hoje de manhã em Notre-Dame. Entre lágrimas e nenhuma palavra, a sensação de impotência deve ter surgido. Junto com o desejo de voltar ali a celebrar, em altar com destroços, a força da Vida de Cristo Ressuscitado. Essa é a nossa esperança. Cristo atravessa qualquer destroço, tornando a cicatriz memória de compaixão e humanidade, dando a Paz.

Que os fogos que assolaram Notre-Dame e Al-Aqsa, dolorosos e destruidores, nos possam ajudar a reflectir sobre novos caminhos de reconstrução, de encontro e de Vida. Ah, o terceiro momento em que se ouve a voz do diácono é no final da Missa e diz: “Ide em Paz e que o Senhor vos acompanhe”.

Aconselho vivamente a leitura destas duas crónicas:



segunda-feira, 8 de abril de 2019

Em caminho...



[Secção pensamentos soltos em Quaresma] Há dias lia uma tradução sobre a famosa árvore do conhecimento que, em vez de ser vista como a do “bem e do mal”, seria a do “cumprido e não cumprido”. No mito da criação, Adão e Eva seriam expulsos do Paraíso por se terem apressado em querer viver o cumprindo, o alcançado, no fundo, serem deus sem passar pelo crescimento e maturação da existência. Do que vou vivendo de fé, somos chamados a ser participantes da vida divina. No entanto, isso implica o exigente caminho de conhecer o próprio Amor. Entre capas e véus, sociais, culturais, religiosos, vamos fazendo caminho, diria normal. Até que um dia dá-se o passo maior de querer realmente Amar, não apenas de cabeça, mas com todo o ser. No fundo, de deixar-se cumprir em Deus. Esse é caminho de Páscoa. Faz-se silêncio. Vive-se silêncio. Diante do olhar surgem as camadas mais ou menos fortificadas a derrubar. Entre feridas antigas e recentes a curar ou modelos impostos de relação com Deus, abrem-se novas perspectivas. Começa a despontar o desejo de perdão. Talvez nesta altura ainda não se consiga verdadeiramente viver o perdão, mas surge o desejo, como vislumbre de nova luz. Depois, seguem-se os subtis véus, dos pequenos apegos que mais não são que desamores fugazes. Ou sombras interiores. O recolhimento, o silêncio, o perscrutar em respeito e plena autenticidade esses desamores, amando-os, fazem-nos dissolver na imensidão da luz renovada. Por isso, crescer implica diminuição, chegando a tal simplicidade que toda a palavra dita é terra fértil, cada gesto vivido, fruto cumprido. Aí será a chegada a casa: chamemos-lhe Paraíso, Terra Prometida, Céu, Perdão ou simplesmente Deus. 

domingo, 7 de abril de 2019

Rezar com a Dança




[Coisas na vida de um padre] Em conjunto com Maria Luísa Carles, orientámos a 6.ª edição do Rezar com a Dança. Foi este fim-de-semana. Perceber a graça de Deus a habitar no movimento não é novidade. Assistir à abertura de coração de cada pessoa ao que vive na descoberta de si enquanto corpo habitado de dança, aí sim, é sempre novo. Ver em cada participante a evolução é sempre de agradecer. A liberdade de entregar-se e deixar-se moldar nesse ser mistério à imagem e semelhança do Verbo que se faz carne. “Mais gente devia fazer isto!” soou em eco como avaliação.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Flor




[Secção pensamentos soltos] Na tradição hesicasta (que traduz silêncio, quietude), seguida pelos Padres do Deserto, há uma série de meditações propostas de encontro consigo mesmo com o objectivo de aprofundar a relação com Deus. Uma é a da flor. Neste dias que a Primavera revela beleza em cores, há a possibilidade de nos determos na flor que simplesmente é. Penso nas vezes em que somos bombardeados com modo de “ter de ser” desta ou daquela forma com propósitos de aceitação ou integração social. Meditar a flor é o convite a contemplar a realidade que simplesmente é, sem capas, adereços ou categorias. No fundo, ir tirando camadas que exageram ou diminuem a realidade impedido a humildade: o que é, sem mais nem menos. Pode ser uma flor ou a minha própria pessoa. A simplicidade é dos grandes exercícios de fé.