[Secção pensamentos soltos em Quaresma] Há dias lia uma tradução sobre a famosa árvore do conhecimento que, em vez de ser vista como a do “bem e do mal”, seria a do “cumprido e não cumprido”. No mito da criação, Adão e Eva seriam expulsos do Paraíso por se terem apressado em querer viver o cumprindo, o alcançado, no fundo, serem deus sem passar pelo crescimento e maturação da existência. Do que vou vivendo de fé, somos chamados a ser participantes da vida divina. No entanto, isso implica o exigente caminho de conhecer o próprio Amor. Entre capas e véus, sociais, culturais, religiosos, vamos fazendo caminho, diria normal. Até que um dia dá-se o passo maior de querer realmente Amar, não apenas de cabeça, mas com todo o ser. No fundo, de deixar-se cumprir em Deus. Esse é caminho de Páscoa. Faz-se silêncio. Vive-se silêncio. Diante do olhar surgem as camadas mais ou menos fortificadas a derrubar. Entre feridas antigas e recentes a curar ou modelos impostos de relação com Deus, abrem-se novas perspectivas. Começa a despontar o desejo de perdão. Talvez nesta altura ainda não se consiga verdadeiramente viver o perdão, mas surge o desejo, como vislumbre de nova luz. Depois, seguem-se os subtis véus, dos pequenos apegos que mais não são que desamores fugazes. Ou sombras interiores. O recolhimento, o silêncio, o perscrutar em respeito e plena autenticidade esses desamores, amando-os, fazem-nos dissolver na imensidão da luz renovada. Por isso, crescer implica diminuição, chegando a tal simplicidade que toda a palavra dita é terra fértil, cada gesto vivido, fruto cumprido. Aí será a chegada a casa: chamemos-lhe Paraíso, Terra Prometida, Céu, Perdão ou simplesmente Deus.
segunda-feira, 8 de abril de 2019
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Lindo.....😉
ResponderEliminarObrigado. :)
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