sexta-feira, 31 de julho de 2020

Santo Inácio de Loiola


[Secção festividade em dia de Santo Inácio de Loiola] Os Exercícios Espirituais são marca da vida de Santo Inácio de Loiola na relação com Deus. Uma bala de canhão fez com que tanto acontecesse na vida deste homem e, depois, em parte da humanidade. Nem ele sonharia que, por exemplo, na lua, tanto por si olhada em conjunto com as estrelas, enquanto contemplava o imenso céu, iria ter crateras com nomes de companheiros seus jesuítas. Talvez respondesse, se soubesse: “espero que tenham amado Deus e o próximo”. Continua, de algum modo, a dizer, pelos Exercícios e muitos outros escritos, como as milhares de Cartas que escreveu: ponham a vida centralizada no amor de Cristo e deixem-se amar por Ele, guiando-se pela Sua vontade. Hoje é dia de Santo Inácio. Peço a oração, o pensamento, pela Companhia de Jesus, por todos os jesuítas, pelas suas obras, para que sejamos verdadeiros instrumentos ao serviço do amor Deus.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Atravessar


[Secção pensamentos soltos] “Tenho (ou tens) de ultrapassar isso”, é expressão que ouço com frequência em contexto de acompanhamento ou de tentativas de ajudar a superar algo. Normalmente lutos, desilusões ou chatices. 

A realidade, do passado ou presente, quando é ultrapassada fica no mesmo sítio e na mesma forma. É a imagem da ferida por curar. Ultrapassar, será um modo de negação. Alivia, é certo. Mas é pouco. Mais cedo ou mais tarde, a dor volta. E conforme a realidade, de forma imprevisível e aumentada.


Atravessar implica reconhecer que algo aconteceu, existiu, está lá num passado que se faz presente. Atravessar é atrever-se à cura. Dói. Talvez mais do que o que provocou a dor inicial. Mas, transforma. Fica lá no tempo que foi. E surge a liberdade para se dar espaço à vida.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

Breve oração


[Breve oração antes de adormecer no final de um dia de escutas em retiro]


Agradeço-Te

o brilho do olhar de quem se atreve a libertar a liberdade, cortando amarras de tempos ideológicos sejam do que for


Peço-Te

a esperança, deixando de limitar a vida a medos de incompreensão


quarta-feira, 22 de julho de 2020

Maria de Magdala



[Secção coisas de santos] “Vi o Senhor” é a grande expressão de Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos, depois do encontro com o Ressuscitado. Viu porque foi por Ele vista antes, sem julgamento nem condenação da sua vida, apenas com amor. Quando se é amado ou amada plenamente, tudo se vê desde essa Luz.


segunda-feira, 20 de julho de 2020

Amizade



[Secção agradecimento em dia dos amigos] Sem desprimor para com todas as outras boas amizades que agradeço muito e vivo de longa data, desde criança, adolescente, jovem adulto e adulto, sem horas, nem tempos, daqui e do resto do mundo, da Companhia de Jesus e de todas as outras companhias, de crenças e descrenças partilhadas, de orações e de peregrinações, de estudos e de passeios, de silêncios e de conversas, de danças e de abraços, de inícios e de mudanças, estas, Suzanne e Letinha, falam de vida de alma partilhada para além de genes e de passado, sendo constante presente em futuro sonhado.


domingo, 19 de julho de 2020

Breve oração



[Breve oração para qualquer hora] 


Agradeço-Te

a compreensão da luz e da sombra, do branco e do preto, em conjunto com azul-mar e azul-céu, verde-esmeralda e verde-oliveira, amarelo-sol e amarelo-esbatido, vermelho-papoila e encarnado-sangue, bege-trigo e tempo-joio 


Entrego-Te 

todas as conjunções que compõem o ser, entre o concreto e o reflexo


Peço-Te

sabedoria sobre o tempo da colheita, impedindo de julgar apressadamente


sábado, 18 de julho de 2020

Distracções



[Secção letras verdes em início de tarde de calor] Em reflexão após a leitura de comentários desproporcionados sobre as recentes transferências nacionais.


quinta-feira, 16 de julho de 2020

Em dia da Senhora do Carmo




[Secção pensamentos soltos em dia de N.ª Sr.ª do Carmo] Esta invocação de Maria recorda-me a vocação contemplativa, em particular as Irmãs Carmelitas. Este modo de vida não costuma ser bem entendido, ainda mais quando o activismo parece que toma o total lugar na actualidade. Para muitas pessoas é estranha a imagem de alguém [aparentemente] fechado, tendo como missão principal rezar. No entanto, além da chave estar dentro e não fora do convento, a força da oração é misteriosa. 


Foi há quinze anos que, com oração própria, foi-me imposto o Escapulário. Estava a fazer os Exercícios Espirituais de final de segundo ano de noviciado. O escapulário é sinal de serviço e de oração. Comprometi-me a tornar a minha oração pelos outros um serviço. Ao longo destes anos fui cumprindo, com falhas, com agitações, mas sempre com a certeza de que Deus é maior que todos os meus erros e pecados. Sempre que vou a sítios especiais ou vivo momentos também eles particulares, rezo por cada pessoa, mais próxima ou distante fisicamente ou em afecto. Acredito que a oração é sempre caminho de luz. Não interessa a quantidade de palavras, apenas aquele estar que deseja a profundidade do amor. Todos, para além da crença, somos chamados à contemplação. 


Para os não crentes em Deus, pode-se chamar a força do pensamento pelos outros, na relação que se estabelece silenciosamente para além do espaço e do tempo. No dia em que toda a pessoa na face da terra deixe de contemplar, atrevo-me a dizer que morreu a humanidade.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Subtil definição de amor



[Secção outros tons] Às vezes fico à espera do silêncio. O calor acalma, amaina, serena, desacelera, fazendo deter o olhar no descanso das horas. O silêncio vem pela observação de algo novo: um jarro de duas pétalas. Amarelo. Surge o entusiasmo pela descoberta. A flor simplesmente é, sem porquê. O silêncio com a contemplação do jarro amarelo recorda que parte de nós é, simplesmente, sem porquê. Pode ser uma subtil definição de amor.


segunda-feira, 13 de julho de 2020

Dias bonitos




[Coisas na vida de um padre] Chegam boas recordações de dias bonitos. O Lourenço e o seu ar chique como a mãe e de sapatos iguais aos do pai (o que lhe deu muita alegria) foi baptizado com muita animação, num dia de Janeiro cheio de sol. Às tantas, quando estávamos a almoçar, perguntei-lhe como se sentia. Responde: “Estou bem. Estou com Jesus enquanto faço anos.”


quinta-feira, 9 de julho de 2020

Dias de tudo



[Secção pensamentos soltos sobre dias de tudo] Estava com o mesmo pensamento na oração sobre os dias de isto ou daquilo, quando fui recordado que tinha escrito algo sobre o assunto. Retomo o texto.


Hoje não é dia de nada nem de ninguém. Sendo-o de nada, junta-se o outro absoluto: é dia de tudo e de todos. Explico-me. Desde há uns tempos que me fazem confusão as celebrações dos dias de algo. Não que não me pareça importante esse salientar, mas é mesmo por ainda termos de recordar, ano após ano, a necessidade do respeito pelo outro, seja a Mulher, o Refugiado, alguém LGBT, seja o Ambiente, a Terra, os Oceanos. A discriminação ainda é gritante, levantando as fobias que anulam pessoas a partir de categorias ou características. 


Incomoda-me ainda mais quando se usa a religião como argumento discriminatório. No caso da cristã, a centralidade do mandamento novo “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” é de tremenda exigência. Esse amor passa por um profundo exercício de auto-conhecimento e, assim, de expansão de si mesmo no conhecimento do outro. Não é fácil. De todo que não. Afinal, antes de mais, há que enfrentar os preconceitos connosco próprios, em especial no que não queremos aceitar em nós mesmos: que fazemos parte de um todo, o qual se inclui o ambiente a cuidar; que, seja ela qual for, vivemos a dimensão afectivo-sexual em toda a sua complexidade; que o ser humano é igual em dignidade independentemente do género ou cultura. 


Ainda há muito caminho a percorrer, enquanto se consumir os recursos naturais como se fossem egoisticamente posse de alguém, enquanto houver pessoas mal-tratadas e assassinadas pela sua condição cultural, sexual, religiosa. Por isso, hoje, tal como amanhã e em cada um dos outros dias que não são particularmente de algo nem de alguém, continuam a ser de tudo e de todos no recordar e viver o respeito pelo outro.


quarta-feira, 8 de julho de 2020

Podcast com Catarina Beato




[Coisas na vida de um padre] Estive à conversa com Catarina Beato sobre o amor. Foi uma hora de boa partilha onde se falou de tanto. E a luz acontece. O podcast está disponível em várias plataformas. Aqui fica o link para o YouTube.


domingo, 5 de julho de 2020

6 anos de padre



José Oliveira da Silva


[Secção aniversário] Seis anos de padre, com tudo a agradecer a Deus e a tantas pessoas. No mesmo dia em que a Igreja ganha mais três novos padres jesuítas na Sé onde fomos ordenados. O que abre ainda mais memórias. Recordo o exacto momento com a sensação física do “já está” selado pelo Espírito. A importância da memória também é ajudar a ver o caminho feito, nesta relação de tempo entre o vivido e a abertura para o futuro. Daí escolher esta fotografia do baptizado da Vera, o primeiro em tempo novo, para ilustrar este dia. Uma menina de muita Luz e Amor, na sua verdade com todas as interrogações que traz à família e ao mundo. Foi muito especial baptizá-la e viver a colaboração com a minha paternidade espiritual. É dia de agradecer.




Vera Sepúlveda


quarta-feira, 1 de julho de 2020

20 anos do primeiro voo como CB




[Secção memórias] Tinha recebido a primeira escala. A4 (assistência das 12 às 18h) para o primeiro dia: 1 de Julho de 2000. Toca o telefone com uma chamada das escalas: 

- Paulo, boa tarde. Para avisar que a assistência de amanhã passa para apresentação às 15h com estadia no Porto. 


A emoção de vestir a farda, entrar no aeroporto, ir para a sala de tripulantes, fazer o check-in e ida para o stand onde estava o Fokker 100. Voo Lisboa-Porto, a reforçar, e no dia seguinte Porto-Genebra-Porto para cuidar de UMs: crianças sem acompanhamento de adultos - 11 para lá, 14 para cá.

Quando me aproximo do avião, vejo o olhar de desespero da Chefe de Cabine e da E2. “Quem é este? Oh, é dos novos!!” Foi um voo, diria, emocionante. O mais rápido que fiz, com cabine cheia. Praxes pelo meio. Toda uma animação. O que sorrio ao recordar. O dia seguinte, qual babysitter aéreo, a cortar a carne às crianças, a acalmá-las, a brincar, a abrir os olhos para não esganar uma delas, todos uns amores... not! Ah, e mais praxes! O tempo passa e são 20 anos desde esse dia com muitos mais voos e vida. Neste tempo de tanto também para a aviação, agradeço o tanto que aprendi e recordo com especial carinho o curso PGA1600 e todos os amigos e amigas tripulantes do ar e de terra, rezando por vocês na Jesuit Airlines em code-share com a Air Vaticano.