quinta-feira, 9 de julho de 2020

Dias de tudo



[Secção pensamentos soltos sobre dias de tudo] Estava com o mesmo pensamento na oração sobre os dias de isto ou daquilo, quando fui recordado que tinha escrito algo sobre o assunto. Retomo o texto.


Hoje não é dia de nada nem de ninguém. Sendo-o de nada, junta-se o outro absoluto: é dia de tudo e de todos. Explico-me. Desde há uns tempos que me fazem confusão as celebrações dos dias de algo. Não que não me pareça importante esse salientar, mas é mesmo por ainda termos de recordar, ano após ano, a necessidade do respeito pelo outro, seja a Mulher, o Refugiado, alguém LGBT, seja o Ambiente, a Terra, os Oceanos. A discriminação ainda é gritante, levantando as fobias que anulam pessoas a partir de categorias ou características. 


Incomoda-me ainda mais quando se usa a religião como argumento discriminatório. No caso da cristã, a centralidade do mandamento novo “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” é de tremenda exigência. Esse amor passa por um profundo exercício de auto-conhecimento e, assim, de expansão de si mesmo no conhecimento do outro. Não é fácil. De todo que não. Afinal, antes de mais, há que enfrentar os preconceitos connosco próprios, em especial no que não queremos aceitar em nós mesmos: que fazemos parte de um todo, o qual se inclui o ambiente a cuidar; que, seja ela qual for, vivemos a dimensão afectivo-sexual em toda a sua complexidade; que o ser humano é igual em dignidade independentemente do género ou cultura. 


Ainda há muito caminho a percorrer, enquanto se consumir os recursos naturais como se fossem egoisticamente posse de alguém, enquanto houver pessoas mal-tratadas e assassinadas pela sua condição cultural, sexual, religiosa. Por isso, hoje, tal como amanhã e em cada um dos outros dias que não são particularmente de algo nem de alguém, continuam a ser de tudo e de todos no recordar e viver o respeito pelo outro.


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