sábado, 11 de abril de 2020

É noite.



[Secção pensamentos soltos em oração na Noite de Sexta-feira Santa] É noite. A noite mais densa das noites. A noite que escurece o silêncio e absorve todas as noites. É noite. A noite de todos os corações ofuscados por dor, sofrimento, vingança, vergonha, angústia, anseio, ódio, morte. É a noite que absorve todo o vómito do mundo, cada pedacinho de lixo e miséria humanos, de quem insistentemente assume lugar de Deus e perde a visão do amor. A morte de Deus? É o assassínio de Deus que anula a possibilidade do amor. Nesta noite, Deus envolve-se de morte, carregando as marcas das flagelações das fobias que, impedindo a profundidade da relação humana e divina, continuam a segregar cada filha e cada filho seus: xenofobia, homofobia, génerofobia, religiofobia, laicofobia. Nesta noite, as correntes da falta de liberdade humana são colocadas sobre Deus, enterrando-se no profundo abismo do pecado, de tudo o que é desamor. É noite do ano diferente em todo mundo. Seremos capazes de no silêncio desta noite de semanas começar a entender o amor? Seremos capazes de começar a perceber que a Tua liberdade consiste em ajudar-nos a fazer o caminho de liberdade de tudo o que nos ofusca? Seremos capazes de nos libertar dos juízos desumanizadores? Seremos capazes de compreender que esta noite nos quer conduzir ao dia novo em que olhamos o outro desde o amor? Tudo tem uma consequência. Mais do que arrastar uma culpa, já que esta noite resgata todas as culpas, chamas-nos ao perdão. E a consequência do perdão é sempre a Vida. É noite. A noite que prepara a mais suave de todas as noites. A noite que prepara a noite que ilumina a voz e liberta todas as noites. É a noite que do estrume humano fará adubo divino. É noite também de Amor.

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