[Secção pensamentos soltos em Páscoa] Sinto-me mais comedido a viver a Páscoa. Não é de agora. Cada dia de tríduo tem tal densidade que abre outras perspectivas no sentir. Reconheço no Evangelho o temor, a alegria, os silêncios, as dúvidas, as inquietações, que os discípulos vivem no acontecimento pascal. Já vivemos em Ressurreição, por isso, tudo se torna claro de um dia para outro. Mesmo atravessando a morte, já se sabe o final da história. No entanto, a Páscoa de Cristo não substitui as nossas páscoas. E que grande páscoa esta que todos vivemos. Ainda assim, cada pessoa tem de continuar a deixar-se embrenhar na luz que cruza os meandros escuros da própria existência. Há pedras a serem removidas. Há sepulcros a esvaziar. Há ligaduras a serem postas de lado. A beleza da esperança é saber a presença d’Ele que vive e, se assim permitirmos, nos ajudar a remover, esvaziar, desligar e assim encontramos passos de vida nova. Por outras palavras, a nossa própria Ressurreição. A grande alegria pascal para Deus é a nossa Ressurreição já na vida quotidiana, mesmo confinados. Talvez por isso, a Páscoa me levante mais perguntas que respostas: Onde tenho de me deixar Viver? Que passos e espaços de Paz tenho de dar e construir? Que comunidade me permito colaborar no que posso? O mundo já está diferente. Deus, na sua ressurreição, não impele a uma emoção estonteante de alegria. Sussurra, desde a Sua suave luz de amanhecer, que nos deixemos habitar na Verdade. E desde aí, permitirmos ser por Ele transformados. A páscoa de cada um, cada uma, será caminho de abertura ao outro, em liberdade. Com o tempo próprio de cada pessoa, profundamente respeitado pelo Ressuscitado.
Santa Páscoa a cada pessoa que a vive, a todas de boa vontade, a quem sabe o que é o Amor e a quem está por experimentá-lo na existência. Cada uma, cada um, sem excepção, está na minha oração.
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