quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Sensatez na educação



[Secção pensamentos soltos] A educação não é neutra. Nenhum modo de educar é neutro. Tudo o que é humano não tem carácter neutro. Isto a propósito da nova polémica que agita as redes sobre a disciplina de Cidadania, com movimentos de objecção de consciência em relação à mesma. Educar, no seu sentido etimológico, significa ajudar a crescer nas muitas dimensões, desde a alimentação, ao testemunho de comportamentos de respeito pelo outro, passando, obviamente, pela transmissão de conhecimentos que ajudem a pensar criticamente. 


Pensar. Eis algo que tem sido pouco usado ultimamente quando se circula pelas redes. Fica-se pelas frases soltas das polémicas e pouco se avança na compreensão, rapidamente aumenta crispação e divisão. Estive a ver o programa oficial da disciplina e o meu primeiro pensamento foi: “enquanto professor de Educação Religiosa e de Formação integral abordei praticamente todos, senão todos, estes temas”. Tal como os meus e minhas colegas de todas as outras disciplinas. Sim, em Português, Matemática, Geografia, Filosofia, História, Biologia, Química, Artes, Educação Física, etc., também se trabalha Cidadania. Em nada vi ideologia, mas temas a serem falados precisamente por estarmos, como diz a fundamentação, numa sociedade plural. Onde é que pode entrar a ideologia, seja em que disciplina for? No modo como for leccionada. Um educador tem de estar bem preparado não para endoutrinar ou formatar, mas para formar. E isso significa ajudar o aluno a pensar, com argumentos, com respeito, com possibilidade de não concordar e superar o próprio mestre. 


Montesquieu, em “L’esprit des Lois”, afirma: “Recebemos três educações diferentes, a dos pais, a dos professores, a do mundo. Esta última contradiz o que as duas primeiras nos ensinam”. Aprender a pensar é caminho de humanização e de impedir polarizações agressivas com ofensas recíprocas. Se não há neutralidade na educação, deve de haver sensatez. Para haver sensatez tem de haver muita leitura (em papel, virtual e da realidade) de contraditórios, ganhando, pela experiência, liberdade de pensar por si, sem cair em ruídos colectivos, percebendo que em humanidade ninguém é dono de ninguém.


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