domingo, 20 de setembro de 2020

Últimos e primeiros



[Secção pensamentos soltos] Ainda não o consegui ler todo. Não pelo tamanho, mas por partes que convidam, por vezes obrigam, a deter e pensar. São muitos os momentos em que fecho o livro, pelo “murro no estômago” com o testemunho lido. Volto e apesar de não ser sobre Deus, aqui vejo muito d’Ele. Conhecer o ser humano é um desafio. Quanto mais conheço, mais vou abrindo o coração ao divino. Todos andamos de algum modo em busca da identidade mais profunda, livre de qualquer julgamento ou sensação de inferioridade. Todos queremos ser aceites como somos entre luzes e sombras, é isso. 


Convencionaram-se padrões e modelos de se ser humano. Uns acertados e com sentido, onde através da razão se acalmam os instintos de sobrevivência, abrindo as perspectivas dos valores que equilibram direitos e deveres. Outros, desajustados, sem sentido, acomodados a características consideradas úteis para alguns. Curioso pensar que Jesus diz que os últimos serão os primeiros. Quem serão estes últimos? Em meios sociais, políticos e religiosos são além de os do índice de “Longe da Árvore”, os migrantes, refugiados, rejeitados pela orientação sexual, estado civil (ou que decidiram não casar, ou que se divorciaram), em resumo, quem tem diferenças essenciais que levam a olhares de lado por quem se acha superior na sua condição humana.


O que me torna melhor pessoa? Tomar consciência da complexidade de ser humano, nas suas alegrias e tristezas, esperanças e angústias, e conhecer para além de rótulos. Solomon termina a introdução assim: “Para alguns pais de filhos com identidades horizontais, a aceitação atinge o seu apogeu quando eles concluem que, enquanto supunham que estavam amarrados por uma grande e catastrófica perda de esperança, estavam de facto a apaixonar-se por alguém que ainda não conheciam o suficiente para querer. (…) O enigma deste livro é que a maioria das famílias aqui descritas acabou agradecida por experiências que teriam feito qualquer coisa para evitar.” Talvez seja um dos enigmas da vida: o de se caminhar, não na busca da diferença em si, mas na beleza do agradecimento das virtudes que, para além de qualquer condição, nos fazem verdadeiramente humanos e divinos.


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