quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Corpo: densidade de Deus


[Secção conversas soltas em coisas de corpo]

- P. Paulo, porque é que no mundo religioso se fala tão pouco sobre corpo? 

- Como assim?

- Quando se toca em temas sobre a sexualidade na adolescência ou no casal é tudo tão, ora pudico, ora moralizado, ora abafado, ora amedrontado, ou, nem sei se pior, espiritualizado. Depois, os risos infantis, mesmo entre adultos, ou os silêncios que falam mais de desconforto que outra coisa. 

- Ainda há muito medo. A corporeidade é tão densa de Deus, que há medo de ir mais fundo nesta relação. 

- Densa de Deus? Nunca tinha ouvido a expressão.

- O mais fácil é espiritualizar a realidade, num etéreo bonito e quase cândido. No entanto, Deus habita a matéria. Além de a ter criado, assume a existência em carne, em corpo, onde todo o sentir fala d’Ele. O medo de se falar de corpo é por implicar enfrentar a verdade pessoal, do prazer ao trauma, do deleite ao sofrimento, nas muitas dimensões das diferentes relações. Isso é de tal maneira duro, intenso e exigente que as muitas defesas internas impedem o caminho de liberdade. O medo também surge em preconceitos a desmontar se se quer crescer também na fé. Falar de corpo é muito mais que falar de sexo. No entanto, falar de sexo num contexto de uma relação de casal pode ajudar a compreender luzes e sombra da relação. E, sim, a vida espiritual séria e transformadora é profundamente corporal. Vamos voltar à respiração?

- Sim. Sentir-me totalmente ser, para me entregar plenamente.


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