terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Almofadas e libertação



[Secção coisas de corpo] Descreveu-me os cansaços acumulados. Mais que os cansaços, as dores de alma que foi guardando ao longo dos anos, abafadas pelo medo de não haver entendimento.
- Temos sempre de pensar no outro, não é? Foi o que sempre me ensinaram na catequese. O outro em primeiro lugar, sempre.
- Mesmo que agrida física e psicologicamente? 
- Aí, estamos a viver como o Senhor na Paixão. 
- Também ensinaram isso?
- Sim, que quando sofremos estamos a suportar a cruz como Jesus.

- E onde fica a parte: “para onde vou vocês não podem ir?” Deus não nos chama ao sofrimento, ainda mais quando foi infligido por alguém.

[As lágrimas que iam aflorando, começam a cair copiosamente.] Quantos gritos tem atravessados? Quantas zangas? Vamos esquecer o moralismo. Deus deseja a nossa a liberdade.

- Tantos, P. Paulo. Tantos!

- Sei que não é fácil. Tome esta almofada. Nela coloque o máximo de dores, nomes e situações. Jogue contra a parede, para o chão. Sem julgar a zanga contida, liberte-a.
Uma e outra vez lançou, permitindo a raiva sair... com os gritos de dor. As lágrimas há muito acumuladas saiam dando cor à libertação. A almofada tornava-se cruz no sentindo profundo de luz a atravessar sombra. Ao fim de um tempo, com gesto, fez sinal de parar.

- Posso dar um abraço?

Acenou afirmativamente.

- Que estranho alívio.

- É preciso tempo. Não é uma resolução, mas passo de caminho para a cura de alma. Sim, viver a sua paixão que leva ao encontro da ressurreição, da Vida.

- Deus é luz.

- E quer que também sejamos luz em liberdade.


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