segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Racismo, violência e afectividade




[Secção pensamentos soltos sobre racismo, violência e afectividade] Quando leio que em Portugal, “porque tem o Eusébio no Panteão” ou “um Primeiro Ministro descendente de goeses”, não há racismo, fico de sobrolho levantado. O verdadeiro respeito pelo outro nem comporta este tipo de frases. Sim, o racismo, em particular a xenofobia, em que podemos juntar outras fobias sociais e religiosas, estão aí.

Os medos ao diferente, ao que sai de esquemas mentais estabelecidos, são naturais. O instinto de sobrevivência é activado. No entanto, o trabalho da razão serve para minimizar a acção deste instinto. Para lá chegar, o trabalho é complexo, como se nota pelas muitas reacções de agressividade que há para com o diferente. Mesmo quando se usam meios racionais, como as palavras e tentativas de argumentação que segregam pessoas a partir de características diferentes. Não gosto de usar a palavra raça. Mais um conceito criado ao serviço da diminuição de pessoas. A agressividade não está ligada à cor de pele, mas à falta de afecto que impediu o crescimento do medo. Os mimos, abraços, carinhos que não são dados quando se é criança, os abusos vários nos muitos níveis, contribuem a atitudes constantes de defesa diante do diferente. Por outras palavras, aquilo que Bessel van der Kolk, psiquiatra especialista em trauma, designa por epidemia de trauma de desenvolvimento. Num dos muitos estudos que fez, chegou à conclusão que mais de um quarto das crianças americanas sofreu de abusos violentos vários. Isto tem efeitos psicológicos, mas como somos um todo, também biológicos, onde o aumento de hormonas que activam o estado de defesa causa efeitos nocivos tanto de saúde, como sociais. Mas, isso é para outra publicação. Nestas poucas palavras que estes lados permite, recordo, apesar de não ser novidade, que violência gera violência. Um primeiro travão é tomar consciência disso ao nível pessoal. Não é problema dos “outros”, mas de cada um. Não são cores, géneros ou orientações, mas pessoas. Trabalhar a educação emocional, dos afectos, da relação com outros com características diferentes ajuda a diminuir a agressividade e a desenvolver a humanidade.

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