Chris Matthew Brady
[Secção desabafos] Hoje é dia mundial do professor. Qualquer profissão que implique com a vida de uma pessoa, roça o sagrado. Talvez não devesse puxar rapidamente a transcendência para o caso, mas o cuidar do outro, seja biológica, afectiva, social, espiritual e/ou intelectualmente não é coisa pouca. Não pode, nem nunca poderá deixar de o ser. É bom que se exija qualidade de um professor. É muito bom que se agradeça o tempo (in)determinado com que passa diante de uma pessoa ou de um grupo de pessoas a transmitir conhecimento e saber. Conteúdo e forma fazem parte desse ensinamento. Isto é daquelas coisas tipicamente básicas, que, infelizmente, estão a ser postas para 2.º, 3.º, 4.º planos ou até mesmo esquecidas em nome de uma burocracia crescente, obrigando a dar resultados para estatísticas, rankings, produtividade, anulando as tantas histórias que estão por detrás de centenas, ou milhares, de alunos que nos passam pelas mãos. Nas últimas vigilâncias de exames, em que se está entre uma hora e meia e três horas dentro de uma sala com até 20 pessoas a dar o seu melhor, via o passado, presente e futuro de cada um. Obviamente, desconhecia muito das suas vidas, mas pensava e rezava para que cada um fosse capaz de expressar o que aprendeu e, mais que tudo, crescesse em humanidade. É preciso critérios para aferir o melhor. Mas, melhor em quê? Entende-se: melhores notas para se poder entrar no que se quer e, em caminho, provar que o professor é bom. No entanto, o professor não é bom apenas porque o aluno tem boas notas. Há alunos que são muito bons, mas que de notas nada sabem ou querem saber, apenas são obrigados por uma sociedade que exige “dr.” e “eng.” para dignificar o estatuto de ser pessoa. Há alunos que apenas querem sentir a presença de alguém que os valoriza na sua existência, em talentos que não são necessariamente intelectuais. Muitas vezes, é o professor esse alguém. Na educação actual, ainda se obriga demasiado ao uniformismo, onde não se percebe que antes de se dar matéria, há que dar afecto. “Ah, mas isso é em casa!” Pois, mas, e quando não há em casa? Também me parece que na actualidade se cai no perigo do igualitarismo, onde não se valoriza a importância da diferença. Não há dúvidas: tudo posto na igualdade na dignidade, para além de qualquer característica da pessoa, mas ao diferente que se ajuste o que o ajuda a crescer como pessoa. Ser professor não é fácil. Nunca foi. Não é por acaso que em latim é o Magister: esse “mais” que entranha na sabedoria, em intelecto e experiência de vida, que exige a constante actualização, académia e humana, para acompanhar os sinais dos tempos… e dos alunos. Ao mesmo tempo que é esposo(a), pai, mãe, tem as compras para fazer, o jantar para preparar, a roupa por lavar e engomar, a ler, a fazer formações e estudos, a sair com amigos a tomar um copo, a ter dúvidas, dores, chatices e alegrias, consolações e vitórias, em resumo, a viver. É esta experiência, banal e extraordinária, que ajuda a enriquecer aqueles minutos na sala de aula, dando o seu melhor para além das notas que os alunos poderão ter. Hoje, dia 5 de Outubro, dá-se especial destaque à profissão de professor. Qualquer uma que implique com a vida de uma pessoa, roça o sagrado. Cuidar do outro, seja biológica, afectiva, social, espiritual e/ou intelectualmente não é coisa pouca… e essa é a essência da vida, em cada dia, de um professor.
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