[Pensamentos soltos sobre sensatez ou falta dela em tempos de pandemia com a vacinação a acontecer] Nos meus tempos de Ergonomia tive cadeiras como Anatomofisiologia, Psicofisiologia, Bioquímica e Biomecânica. Recordo bem o estudo das diferentes matérias de anatomia e fisiologia. Denso que doía, mas que em nada se poderia comparar ao muito mais exigente de enfermagem ou medicina. Quando recordo esses tempos, e depois de já ter vivido muito crescimento pessoal, assola-me a humildade em reconhecer o pouquíssimo que sei para comentar sobre temas científicos ao nível médico e bioquímico-farmacêutico. Mas não deixo de me indignar quando leio comentários e posts de alta sapiência conspirativa, reduzindo pessoas que dedicam anos à investigação e experiência em cuidados de saúde a, e com o que tenho lido vou ser suave, “totós”, “cambada de mentirosos”, “vendidos do governo”, “conjurados com as farmacêuticas para ganharem mais”.
Tenho amigos muito próximos que trabalham em investigação científica, contudo, bastaria parar um pouco para ver como milhares de médicos e enfermeiros pelo mundo fora regozijam-se com a chegada da vacina, estando mesmo a ser vacinados. Serão todos uma “cambada de ignorantes” e “vendidos a interesses megalómanos”? Não significa isto que se viva dogmatismo cego. A crítica faz parte do método científico, as teorias podem ser refutáveis. E eles sabem disso. Mas tem de haver uma base de confiança e credibilidade em quem investiga e de certeza percebe mais do assunto do que alguém que lê algumas notícias e vê vídeos soltos no YouTube. Estes tempos pedem reflexão, sim. Que seja a partir não da competição, mas da colaboração das diferentes áreas.
Reconheço haver interesses políticos e económicos ante tudo isto. Mas o combate a estes interesses não acontece por acusações e ataques de baixo nível, aliado a negacionismo reactivo, mas estudo, muito estudo, de história das diferentes áreas científicas, das teorias e métodos distintos, da prática aliada à experiência, de ética, de reflexão, onde se ganha sensatez argumentativa séria. E se não se sabe de algo, haja humildade e procure-se pessoas de credibilidade e sensatez que ajudem ao caminho de sabedoria.
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