[Secção pensamentos soltos em tempo de pandemia] O que vivemos não é coisa pouca. Insiste-se relativizar em retorno à normalidade. Vivemos uma transformação brutal da realidade, desse normal que tantas vezes é necessário questionar. As lutas surgem: externas, em polarizações ora de negação (quando tanta gente está a sofrer seja numa cama de hospital, seja a ajudar quem está nessas mesmas camas), ora de dramatismo (esquecendo a quantidade de gente que pode sofrer com enormes dificuldades de desemprego, de dores em saúde mental); e internas, onde somos bombardeados com perguntas, medos, saudades. Não, não é coisa pouca. E já não há retorno há normalidade que nos habituámos e anseia-se regressar.
Tal não tem de ser uma fatalidade. Não se pode esconder a dureza ante tanta mudança. Obviamente não sou o Messias. Não apresento soluções para algo tão global. OBVIAMENTE. Ainda assim, por não querer contribuir para a fatalidade, tenho pensado muito no possível a fazer para atravessar este tempo. E tenho pensando com a ajuda do Evangelho. Algo novo está a acontecer. O que é importante? Agarrar-me ao instinto de sobrevivência? Gritar culpas alheias? Sim, tenho de atravessar esse instinto e dar esse grito. Mas, para libertar a tensão e permitir-me pensar que é com os outros, a colaborar com os outros que não só eu, mas todos podemos abrir uma nova possibilidade. Agora é usar a [coloque-se o palavrão] da máscara. Agora é aguentar com a [coloque-se o palavrão] da distância. Agora é respeitar a [coloque-se o palavrão] das recomendações.
Tem sido uma dureza crescente. Não a tornemos maior. Que se acarinhe a criança-com-medo interior e o adolescente-que-se-acha-herói interior, para dar lugar ao adulto consciente e profundamente livre a ser responsável e assim perceber que o pouco de cada um pode ser atraso ou avanço na solução para todos. É exigente. É profundamente exigente sair do que sempre foi. Mas, neste momento, somos chamados a afastarmo-nos de extremos e ser exemplo de colaboração e de vida, com máscara, distância e respeito. [Foto: texto de Daniel Faria]
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