quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Carta aberta




[Secção letras verdes em carta aberta] Queridas médicas, queridos médicos, queridas enfermeiras, queridos enfermeiros, queridas e queridos terapeutas de saúde,


Abraço muito grande. Com Luz. Tenho pensado muito em vocês. Trago-vos muitas vezes à minha oração. A alguns conheço-vos, na proximidade da amizade, na confiança que depositaram em mim na escuta, em ler-vos nas partilhas destes tempos, a muitos milhares de outros não conheço, mas em oração de abecedário penso em todos. Desta vez escrevo-vos umas breves palavras, essencialmente para agradecer.


Recordo o meu tempo de estudante e ter amigos que sonhavam com a entrada nas distintas áreas da saúde. Os anos passaram e acabei por ser professor de futuros alunos desses cursos imensos. Por isso, fui acompanhando o percurso e é impressionante a exigência, a dedicação, até chegar ao juramento de serem o mais possível garantes de vida do outro. Nos muitos anos, pelo menos doze no caso da medicina até ao fim da especialidade, são muitas as sombras a atravessar, na dureza do estudo e da formação contínua para continuarem a alicerçar confiança na fragilidade, na debilidade, na vulnerabilidade das inumeráveis pessoas que vos são confiadas. Ainda mais em tempos que se foi atenuando a reverência, o respeito, dado espaço à arrogância de vos substituirem por uma simples pesquisa num qualquer motor de busca. Estão sujeitos ao apontar de dedos por tantos especialistas-de-bancada, mas, pior de tudo, estão cada vez mais postos à pressão de ocupar o lugar de Deus na decisão sobre a vida de alguém. 


Permitam-me trazer Deus a estas palavras. Do que posso perceber d’Ele, está muito agradecido por toda a vossa dedicação, no limiar do esgotamento, nestes dias de tanto. Está agradecido por, entre camadas de protecção externa, terem de tomar decisões inacreditáveis em fracções de segundos em nome do juramento deontológico, em nome da humanidade que vos habita. Conjugar cabeça, coração e mãos não está na fracção de um clique, mas de tempo vivido a aprender a amar o outro.


Do que me é possível como cidadão, quero pedir-vos perdão por toda a desconsideração social e política, por tanta gente que se deixa cegar pela desinformação e continua a assumir a sua razão desligada do sentido de comunidade. 


Termino como comecei, a agradecer, muito, com um abraço  demorado. Do que posso fazer, além de algo tão simples e importante nestes dias como ficar em casa, também ofereço, por respeito a toda a vossa dedicação, o sacrifício de não poder ter os encontros pessoas que gostaria. Quanto mais colaborarmos convosco, mais próximo estará o dia dos reencontros. Estão no meu pensamento, nas minhas orações. Obrigado!


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