John Clang
[Secção pensamentos soltos em Dia Internacional de Eliminação da Violência contra a Mulher] No âmbito do voluntariado a visitar a pessoas detidas no Centro de Internamento de Estrangeiros em Madrid, fiz uma formação com a ACNUR [Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados] sobre o tráfico humano, em especial de mulheres, para escravidão sexual. Os números são assustadores. Os grandes países de consumo são os tais desenvolvidos como França, Alemanha e Espanha. Mas toda a Europa é porta de chegada de “sonhos de estudo e vida melhor”. Isto é o que lhes disse na saída de lá, das suas terras. Depois, à chegada, transformam-se em pesadelos de vidas anuladas em consumo sexual, com as ameaças de assassinato de toda a família. Instala-se o medo.
É sempre o medo que envolve a vítima. Seja em violência física, específicamente sexual, seja psicológica, são muitas as mulheres que ainda perdem totalmente a vida. E as que não a perdem totalmente, ficam com a sua dignidade gravemente diminuída com o desdém da sociedade ante a desvalorização de tantos casos de violência. Ainda mais quando é crime público. Só este ano em Portugal já morreram 30 mulheres às mãos de homens que não souberam nem sabem viver a sua frustração.
Recordo uma das Missas em que abordei o tema da violência doméstica na homilia. Nem conhecia bem a comunidade, por isso, ainda me sentia mais livre em fazê-lo, sem que houvesse a sensação de poder estar a dirigir-me a alguém em específico. Não fui meigo nas palavras. O silêncio era cortante. No final, na despedida à porta, muitas mulheres apertaram-me a mão com um obrigado acentuado. A violência está mais presente do que se imagina. Por isso, infelizmente, ainda temos de recordar este dia, como caminho educativo, tanto de cidadania como sexual, e de ajuda à liberdade, dignidade e integridade.
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