domingo, 29 de novembro de 2020

Abrir à vinda de Deus


[Secção conversas em I Domingo de Advento]

- P. Paulo, porque é que não sou como toda a gente a viver fervorosamente a fé, libertando-me do ridículo das minhas dores e sofrimentos?

- O que é para si “toda a gente”? Já viu a imensidão que representa “toda a gente”?

[Fixa o olhar em surpresa ante a constatação.]

- Sim, mas Deus tem mais com que se preocupar do que comigo.

- Acho que Ele tem esta capacidade de exclusivamente se preocupar com cada um de nós, como se fossemos únicos. É das belezas do Seu mistério.

- Mas há quem sofra muito mais que eu e estou nesta lamúria.

- Já pensou falar dessa lamúria directamente a Deus?

- Oh, é ridículo.

- Porque julga tão rapidamente esse ridículo? O mundo pode estar a cair à nossa volta, mas quando temos um pico de cacto no dedo a provocar uma dor impressionante, não há descanso enquanto não retiramos esse pico. Quando olhar de frente para o que significa a lamúria, dando-lhe luz e atenção, é muito provável que se vá desvanecendo. Depois, torna-se uma aprendizagem no estar como se é, seja com quais forem as dores, diante de Deus. 

[Baixando a cabeça]

- Nunca me tive muito em consideração. 

- É sempre tempo para começar. Deus tem plena consideração por si. O Advento está aí à porta. É um bom tempo para se abrir à vinda de Deus…

- …E deixá-Lo finalmente nascer em mim e assim libertar-me para me dar aos outros.


Boas partilhas


[Secção boas partilhas a abrir o Advento] A II catequese de Advento do CAB foi na passada terça-feira, mas a conversa com Ana Costa, mãe do Tomás, tem-me acompanhado de forma forte. Pensei que faria sentido partilhar hoje, em I Domingo de Advento, por ser uma conversa de Esperança e de Luz a atravessar a dor de alma. Nada de forma ingénua e romantizada, mas muito realista. A Ana fala de coração aberto sobre a força do Tomás, a atravessar a grave doença, a Luz da Constança e o Amor do Ricardo, sempre recordando a família alargada e os amigos, tudo com o grande suporte de Deus. Agradeço-te muito, Ana, a autenticidade com nos falas da Vida e de Deus. 




sábado, 28 de novembro de 2020

Rasgo de luz



[Secção outros tons em tarde que se abre ao Advento, enquanto oriento Exercícios Espirituais]


Quero ser rasgo de luz

nas vias da escuta 

de corpo que conduz


a paz 


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Carta aberta




[Secção letras verdes em carta aberta] Queridas médicas, queridos médicos, queridas enfermeiras, queridos enfermeiros, queridas e queridos terapeutas de saúde,


Abraço muito grande. Com Luz. Tenho pensado muito em vocês. Trago-vos muitas vezes à minha oração. A alguns conheço-vos, na proximidade da amizade, na confiança que depositaram em mim na escuta, em ler-vos nas partilhas destes tempos, a muitos milhares de outros não conheço, mas em oração de abecedário penso em todos. Desta vez escrevo-vos umas breves palavras, essencialmente para agradecer.


Recordo o meu tempo de estudante e ter amigos que sonhavam com a entrada nas distintas áreas da saúde. Os anos passaram e acabei por ser professor de futuros alunos desses cursos imensos. Por isso, fui acompanhando o percurso e é impressionante a exigência, a dedicação, até chegar ao juramento de serem o mais possível garantes de vida do outro. Nos muitos anos, pelo menos doze no caso da medicina até ao fim da especialidade, são muitas as sombras a atravessar, na dureza do estudo e da formação contínua para continuarem a alicerçar confiança na fragilidade, na debilidade, na vulnerabilidade das inumeráveis pessoas que vos são confiadas. Ainda mais em tempos que se foi atenuando a reverência, o respeito, dado espaço à arrogância de vos substituirem por uma simples pesquisa num qualquer motor de busca. Estão sujeitos ao apontar de dedos por tantos especialistas-de-bancada, mas, pior de tudo, estão cada vez mais postos à pressão de ocupar o lugar de Deus na decisão sobre a vida de alguém. 


Permitam-me trazer Deus a estas palavras. Do que posso perceber d’Ele, está muito agradecido por toda a vossa dedicação, no limiar do esgotamento, nestes dias de tanto. Está agradecido por, entre camadas de protecção externa, terem de tomar decisões inacreditáveis em fracções de segundos em nome do juramento deontológico, em nome da humanidade que vos habita. Conjugar cabeça, coração e mãos não está na fracção de um clique, mas de tempo vivido a aprender a amar o outro.


Do que me é possível como cidadão, quero pedir-vos perdão por toda a desconsideração social e política, por tanta gente que se deixa cegar pela desinformação e continua a assumir a sua razão desligada do sentido de comunidade. 


Termino como comecei, a agradecer, muito, com um abraço  demorado. Do que posso fazer, além de algo tão simples e importante nestes dias como ficar em casa, também ofereço, por respeito a toda a vossa dedicação, o sacrifício de não poder ter os encontros pessoas que gostaria. Quanto mais colaborarmos convosco, mais próximo estará o dia dos reencontros. Estão no meu pensamento, nas minhas orações. Obrigado!


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Dia Internacional de Eliminação da Violência contra a Mulher



John Clang


[Secção pensamentos soltos em Dia Internacional de Eliminação da Violência contra a Mulher] No âmbito do voluntariado a visitar a pessoas detidas no Centro de Internamento de Estrangeiros em Madrid, fiz uma formação com a ACNUR [Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados] sobre o tráfico humano, em especial de mulheres, para escravidão sexual. Os números são assustadores. Os grandes países de consumo são os tais desenvolvidos como França, Alemanha e Espanha. Mas toda a Europa é porta de chegada de “sonhos de estudo e vida melhor”. Isto é o que lhes disse na saída de lá, das suas terras. Depois, à chegada, transformam-se em pesadelos de vidas anuladas em consumo sexual, com as ameaças de assassinato de toda a família. Instala-se o medo. 


É sempre o medo que envolve a vítima. Seja em violência física, específicamente sexual, seja psicológica, são muitas as mulheres que ainda perdem totalmente a vida. E as que não a perdem totalmente, ficam com a sua dignidade gravemente diminuída com o desdém da sociedade ante a desvalorização de tantos casos de violência. Ainda mais quando é crime público. Só este ano em Portugal já morreram 30 mulheres às mãos de homens que não souberam nem sabem viver a sua frustração. 


Recordo uma das Missas em que abordei o tema da violência doméstica na homilia. Nem conhecia bem a comunidade, por isso, ainda me sentia mais livre em fazê-lo, sem que houvesse a sensação de poder estar a dirigir-me a alguém em específico. Não fui meigo nas palavras. O silêncio era cortante. No final, na despedida à porta, muitas mulheres apertaram-me a mão com um obrigado acentuado. A violência está mais presente do que se imagina. Por isso, infelizmente, ainda temos de recordar este dia, como caminho educativo, tanto de cidadania como sexual, e de ajuda à liberdade, dignidade e integridade.


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Lágrimas e sorriso



Pedro Sadio


[Secção memórias sobre lágrimas até ao sorriso em tempo de Estado de Emergência] Quando comecei a primeira sessão de psicoterapia, já lá vão uns anos, entrei no gabinete e das primeiras coisas que me chamou a atenção foi a caixa de lenços de papel em cima da pequena mesa. Recordo perfeitamente o pensamento: não serão necessários para mim. Não se tratava de achar que não podia chorar. Isso estava atravessado. Mas que seria algo simples o que ali ia partilhar, de tal maneira que nem necessitaria de lágrimas. Até ao dia. Aquele dia em que as palavras da emoção já não têm outra linguagem senão o libertar de lágrimas. Nem sequer foi uma ou outra furtiva. Abriu-se a porta das emoções de dor, cansaço, tristeza, fraqueza, vulnerabilidade, acumuladas. Saí da sessão muito agitado. Começou um novo tempo. A leveza estava a chegar. 


Anos depois, sou eu que tenho uma caixa de lenços no gabinete. Ainda são muitas as pessoas a pedir desculpa quando afloram as lágrimas, como se fosse descabido. Continuamos muito marcados pela educação que amordaçou a nossa dimensão emocional. “Deixe-as sair”, digo tantas vezes. Há que deixá-las sair livremente. As palavras dão lugar à linguagem de corpo. E nestes tempos em que as emoções andam baralhadas, que não haja problema em procurar quem possa acolher as lágrimas, a vida, as histórias, o sentir, sem julgamento. Não somos chamados a ser super-heróis, nem a sofrer sozinhos. Somos chamados ao amor, num sorriso, por nós e pelo próximo. E a humanização acontece ao longo do caminho de esperança!


sábado, 21 de novembro de 2020

O instante


[Secção outros tons em estado de emergência] Aqueles breves segundos sustêm a respiração. Abro a janela de par-em-par ficando de frente com o infinito que transita o tempo. Posso estar confinado, mas ninguém me tira o sonho. As palavras ficam suspensas no fogo tardio. Naquele instante de silêncio contemplativo não há poderes, não há governo, não há partidos políticos, apenas a oração por quem entrega a vida. Todas as horas são boas para agradecer. Em algumas, pouso os ruídos e peço consciência para que haja novo amanhecer em cada coração pronto a deixar-se iluminar em amplos horizontes. Sim, podemos estar confinados, mas sempre com possibilidade de sonhar. E de agradecer.


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Encontro


[Secção coisas de nada] A rever fotografias reparei neste candeeiro de um café em Madrid. Parece um eclipse. Dos desafios que temos é abraçar a sombra. Escrito assim parece fácil. Somos educados ao bom comportamento, a fazer tudo direitinho, muitas vezes em exigências a colmatar frustrações de outros ou agradar fantasmas de tempos passados. Mas, a verdadeira educação consiste no amor. Daí sai a generosidade, o gesto de ajuda ao outro ser sem imposições. Para isso, é necessário atravessar esse lugares sombrios da própria existência amando-os. Amar a sombra não significa amar o mal. É tomar consciência de que não somos todo-poderosos, havendo em nós a possibilidade de ferir. Nem temos o direito de abusar de ninguém. E a luz acontece. Ilumina a compaixão. Sente-se a leveza da liberdade, de nada impor. Recordo que quando o vi estava com uma grande amiga. Falávamos de transfiguração.


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Dia Mundial da Filosofia



[Secção pensamentos soltos em dia mundial da filosofia] É hoje. Há dois dias antecipei-me a começar a celebrar. Como qual outro “dia mundial, internacional, universal de”, também este é todos os dias. Que seria do ser humano sem a arte de pensar? Deixando-se divagar, deleitar e concretizar sobre si, o que o rodeia, em expansão de busca? Isso não é de um tempo específico, mas de cada segundo no caminho de humanização.


Quando comecei a dançar, a descobrir a autenticidade do movimento, apercebi-me do corpo pensante. Temos o lobo frontal do neo-córtex como o centro do pensamento. Mas toda a rede neuronal pelo corpo leva a que literalmente todo o nosso ser pense. É preciso atenção, escuta desses sinais do sentir que despertam a reflexão. Habitarmos o ser pensante em corpo é permitirmos que haja expansão de nós, levando-nos a sair da pequenez de perspectivas, modos de estar, de entender a cultura e o próprio ser humano. Pensar é fundamental para sair dos extremos. Pensar desde o corpo é reconhecer a importância da relação entre o indivíduo e a comunidade, em que ambos se transformam quando se libertam de estruturas rígidas do entendimento do bom, do belo, do uno e do verdadeiro.


Para pensar bem é preciso ir mais além do conhecimento adquirido. É continuar a desejar aprender, sabendo que tanto fica por saber. É respirar a humildade na colaboração de saberes. É permitir que a pergunta seja espaço e tempo de humanidade. É dançar com as respostas que iluminam o caminho para outras perguntas que conduzam à liberdade de pensamento que humanize.


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

a luz que irrompe no dar nome

às coisas revestidas de medos e julgamentos,

deixando que o que é sem artifícios nasça


Peço-Te

tempo para contemplar

o caminho entre a terra e o céu

e liberdade para saborear os nascimentos 

de alma renovada e de corpo abençoado


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Sobre a amizade



[Secção pensamentos soltos sobre amizade] No Evangelho de S. João, num dos seus discursos, Jesus diz aos discípulos que já não os chama de servos, mas de amigos. Muitas das vezes as relações revestem-se de utilitarismo. Por algum motivo são úteis ou dão jeito. Quem não as vive, que atire a primeira pedra. O tal “servo” implica essa utilidade que a amizade vai descascando. 


Ser-se amigo é ser-se livre. Dão-se passos sérios de gratuidade, de deixar de lado qualquer cobrança sobre coisas ou tempo. Abre-se espaço para a presença que vai para lá do físico. As conversas sem horas ou o simples fazer nada lado a lado é construção de caminho a dois, cada um na sua individualidade. Assistimos ao crescimento interior, de onde a meninice atravessa a adolescência e tornamo-nos adultos a deixar o outro ir vivendo a fé que fica. Sim, na amizade os amigos ficam sempre. 


Depois há aqueles que vivem outro passo de existência. No mesmo Evangelho de S. João, Jesus ressuscitado diz a Maria Madalena para ir avisar os “meus irmãos”. A amizade com cor de irmandade. Partilha-se ADN afectivo e espiritual. Se ser-se amigo é ser-se livre, ser-se amigo-irmã(o) é ser-se reflexo de amor a desejar a profunda felicidade do outro. E estas amizades de irmandade terrenas espelham momentos de céu. 


domingo, 15 de novembro de 2020

Fértil húmus



[Secção coisas de nada] É clichê, já muito repetido. Ainda assim há tanta maravilha nas folhas caídas, com especial brilho no adorno de pérolas de chuva. Estes tempos têm provocado o aumento de pedidos de escuta. Em muitas vejo a necessidade de libertar a quantidade de folhas acumuladas, onde há medo de largar. Compreendo: somos marcados por cultura, modos de pensar, muitas vezes cheios de pesos de cumprimentos, obrigações, que fizeram sentido num tempo, mas pedem liberdade no crescimento. A maturidade humana, espiritual, implica desapego. E há beleza em ver o que se soltou. As pérolas em lágrimas contribuem para esse lavar de alma. E da euforia dão-se passos para a paz. O resto cria húmus. O fértil húmus para dar força às sementes, aos dons, a crescer e a render.


sábado, 14 de novembro de 2020

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer enquanto oriento Exercícios Espirituais]


Agradeço-Te

a beleza da individualidade de cada história, na confiança da partilha de cantos e recantos, no respeito desse único que somos, permitindo-me testemunhar a conversão do olhar sobre si e sobre Ti


Peço-Te

pelos caminhos de quem me confias a entregar-Te cada nome e rosto


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Caminho de aprendizagem



Pedro Leite


[Coisas na vida de um padre] Quando falo, em homilias, formações, encontros, entrevistas e mesmo a escrever por estes lados, faço um grande exercício de ser o mais coerente possível. Tem sido uma aprendizagem ao longo dos anos como jesuíta e padre. Recordo as vezes que queria claramente agradar ou forçar a uma forma diferente de estar em Igreja. Tem-me ajudado muito a escuta, o observar, tanto o meu interior como o que me rodeia, levando tudo à oração, para viver a sensatez e a ponderação ante a realidade. Nem sempre consigo. Inspira-me a coerência de Jesus. Os Seus gestos e palavras são plenos de autenticidade. O amor que vive ao Pai é o mesmo que quer transmitir, tornar presente, no coração de cada pessoa. Estar num púlpito torna-se exercício de Paixão: deixar morrer a tentação de superioridade, permitindo a ressurreição da fraternidade. Ter consciência do poder que temos de ligar ou desligar o céu da terra é fundamental para a humildade no que há a dizer ou fazer. Por isso, antes de começar algo faço uma breve oração, rectificando a minha intenção: “Senhor, que as minhas palavras e acções sejam para Ti e não para mim.” Continuo em caminho de aprendizagem.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Diálogo



[Secção letras verdes] A sentir preocupação por tanta falta dele na sociedade actual.


sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Breve oração




[Breve oração ao anoitecer nestes tempos agitados]


Agradeço-Te

o caminho que atravessa a decisão

na escolha de quem quero ser


Peço-Te

liberdade de mim

e do que me impede de amar

ao Teu modo


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Ser exemplo de colaboração



[Secção pensamentos soltos em tempo de pandemia] O que vivemos não é coisa pouca. Insiste-se relativizar em retorno à normalidade. Vivemos uma transformação brutal da realidade, desse normal que tantas vezes é necessário questionar. As lutas surgem: externas, em polarizações ora de negação (quando tanta gente está a sofrer seja numa cama de hospital, seja a ajudar quem está nessas mesmas camas), ora de dramatismo (esquecendo a quantidade de gente que pode sofrer com enormes dificuldades de desemprego, de dores em saúde mental); e internas, onde somos bombardeados com perguntas, medos, saudades. Não, não é coisa pouca. E já não há retorno há normalidade que nos habituámos e anseia-se regressar.


Tal não tem de ser uma fatalidade. Não se pode esconder a dureza ante tanta mudança. Obviamente não sou o Messias. Não apresento soluções para algo tão global. OBVIAMENTE. Ainda assim, por não querer contribuir para a fatalidade, tenho pensado muito no possível a fazer para atravessar este tempo. E tenho pensando com a ajuda do Evangelho. Algo novo está a acontecer. O que é importante? Agarrar-me ao instinto de sobrevivência? Gritar culpas alheias? Sim, tenho de atravessar esse instinto e dar esse grito. Mas, para libertar a tensão e permitir-me pensar que é com os outros, a colaborar com os outros que não só eu, mas todos podemos abrir uma nova possibilidade. Agora é usar a [coloque-se o palavrão] da máscara. Agora é aguentar com a [coloque-se o palavrão] da distância. Agora é respeitar a [coloque-se o palavrão] das recomendações.


Tem sido uma dureza crescente. Não a tornemos maior. Que se acarinhe a criança-com-medo interior e o adolescente-que-se-acha-herói interior, para dar lugar ao adulto consciente e profundamente livre a ser responsável e assim perceber que o pouco de cada um pode ser atraso ou avanço na solução para todos. É exigente. É profundamente exigente sair do que sempre foi. Mas, neste momento, somos chamados a afastarmo-nos de extremos e ser exemplo de colaboração e de vida, com máscara, distância e respeito. [Foto: texto de Daniel Faria]

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Memória




[Secção letras verdes em dia dos fiéis defuntos] Deus tem memória de todos os nomes. Todos.

domingo, 1 de novembro de 2020

Santidade em dia de Todos os Santos



[Secção pensamentos soltos em dia de Todos os Santos] Viver a santidade que nos vem de Deus é viver o silêncio, a escuta e o anúncio. Os tempos actuais estão carregados de ruído. A quantidade de informação e contra-informação, as emoções a gritarem por atenção, a sentirmo-nos desorientados com o desconhecido desajusta o pensar com serenidade. É preciso ganhar distância e fazer silêncio. Os santos sabem fazer silêncio, permitindo que a suave voz de Deus se aproxime. O silêncio ajuda a lucidez no pensamento e abre a possibilidade de escutar adequadamente os sinais do tempos.


Os santos sabem escutar. A escuta abre a atenção ao que circunda. O coração sereno é capaz de escutar a realidade sem necessidade de defesas ou ataques. Se escuta que é preciso ajudar, ajuda no que pode. Se escuta que é preciso retirar, retira-se sem imposições. Se escuta que é preciso dar opinião, porque tem conhecimentos sobre a temática, partilha da sua sabedoria. Se escuta que é preciso abdicar da sua ideologia em nome da vida do outro, vive a humildade e liberdade em relação a si mesmo. Se escuta que é preciso colaborar, mesmo sabendo que a tradição não pode ser cumprida em nome do cuidado do outro, contribui no que for melhor para todos.


Ser santo é anunciar, depois do silêncio e da escuta, a mansidão, a misericórdia e a paz. O testemunho de santidade passa por mãos que acolhem e corações que iluminam os pequenos gestos de vida no quotidiano. Os dias actuais pedem santidade no quotidiano. Cada um de nós é chamado a fazer a parte que lhe corresponde, com gestos e palavras de autenticidade, em profundo respeito por si mesmo e pelo outro. Não se trata de ser mais ou menos puro diante de Deus, mas cada vez mais de coração de carne, onde todas as petrificações foram e são transformadas em Igreja de nomes e rostos amados e amantes. E a vida plena acontece e espalha-se em mãos abertas, com luz, muita luz.