terça-feira, 31 de maio de 2022

Voos e visitas



[Secção letras verdes] A terminar o dia da Visitação de Maria e do Tripulante de Cabine.


segunda-feira, 30 de maio de 2022

À escuta do corpo que somos


[Secção coisas de corpo] Foi publicado hoje no Ponto SJ, Jesuítas em Portugal, um texto que escrevi sobre Corpo. Aqui fica um excerto: “Ainda assim, que corpo é este? Quem somos nós em corpo? Parece-me fundamental tomar consciência deste sentido da existência enquanto corpo para se fazer reflexões sérias e adultas sobre temas complexos como os da afectividade e sexualidade. Ao ler e escutar discussões, opiniões e conversas sobre este tema, apercebo-me que  ainda se vive a tensão dualista, onde, por um lado, se prima por uma pureza de alma, com a mais ou menos subtil castração, muitas vezes em nome de Deus. Por outro, uma hipersexualização da realidade, que reduz a pessoa a um mero objecto de prazer. Ambos extremos, causam danos sérios na pessoa e nas suas relações. Ajustando a realidade, parece-me importante encontrar a virtude no meio, através da integração da pessoa nas suas dimensões física, emocional, racional, relacional e espiritual.” Para todo o texto aqui fica o link: https://pontosj.pt/especial/a-escuta-do-corpo-que-somos/


sábado, 28 de maio de 2022

Examinar a consciência


[Breves notas muito pessoais] Das coisas que mais me tem ajudado a crescer é o libertar-me de auto-enganos. Sobretudo diante de pensamentos, desejos e vontades mais sombrios. Antes de começar o processo mais psico-terapêutico, já aflorava essa libertação com o percurso espiritual. Ainda assim, quer queiramos quer não, somos marcados por um inconsciente colectivo demasiado moralista, levando a que aumente a vergonha quando surgem realidades internas que saem fora do expectável ou idealizado como tendo de ser perfeito. A tendência é aumentar a culpa e o peso.


Quando olhamos a realidade tal qual é, libertando-nos dos tais auto-enganos mais ou menos subtis, consegue-se ir percebendo a raiz de dores, mágoas, frustrações. Não é fácil. É duro. Muito duro. E precisamente por essa dureza, violência interna até, devemos fazê-lo diante de alguém com experiência e que nos escute nesses meandros sombrios sem nos julgar. Há coisas que não é para conversas de amigos. 


Todos os conflitos externos começam por conflitos internos. Em geral, porque estão ignorados, incompreendidos, desprezados, mal orientados ou negados. O maior inimigo do ser humano e de muitas das suas dimensões é a ignorância. Quando damos nome, mesmo que feio e que não fique bem na figura social, familiar e religiosa, começamos a ganhar força para integrar, impedindo que se espalhe em soberba ou arrogância. Ao serenar os conflitos internos, damos tempo e espaço, por um lado, à compaixão e misericórdia (que não são lugares de pena e comiseração mas de respeito pela lutas internas da outra pessoa), por outro lado, livre de vingança, ao sentido de justiça que impede deflagrar o mal. 


Por isso ser fundamental a educação emocional, o conhecimento de si, para lá de julgamentos imediatos. Examinar a consciência é a oportunidade de, com verdade diante do que é sem rodeios, permitir seguir o caminho da luz a atravessar as sombras da existência. Tenho para mim que muitos conflitos pequenos ou grandes diminuiriam, tal como diminuiria a necessidade de armas. Sejamos Luz. Sejamos Paz.


quinta-feira, 26 de maio de 2022

Breve oração



[Breve oração ao anoitecer do Dia da Espiga]


Agradeço-Te

as espigas carregadas de luz

nas sementes a serem alimento

de quem vê e toca desde a paz

entregue no despojamento de si


Peço-Te

ajuda-me a ser como Tu:

pão amassado pela escuta

de vidas e de desejos de liberdade

quarta-feira, 25 de maio de 2022

A espiritualidade humaniza





[Notas soltas em ecos de celebrações e viagens interiores pela ilha de São Miguel]


A espiritualidade humaniza-nos. Se bem que encontro muito medo dela. Na confusão de se querer racionalizar tudo, como justificações rápidas para o desconhecido, a dimensão espiritual fica posta num canto dos simples, dos pobres, até mesmo dos miseráveis. Destrata-se o espiritual, diante da soberba do intelectual. Mas tal é sinal de medo. Há sempre medo do desconhecido. E dão-se fugas e bloqueios.


Mas, a espiritualidade humaniza-nos.


Na Missa de Domingo, estando de lado para o andor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, apenas tinha diante as flores e o tecido. Tentava imaginar o rosto. No dia anterior, na Procissão das Promessas, estando no meio da multidão, e como é bom como padre estar por vezes no meio da multidão, vi os olhares carregados de silêncios e de histórias que clamaram promessas. O mistério dos pequenos que sabem clamar. Porque nas entranhas do mesmo mistério sabem que Deus ouve o clamor do Povo. Na Missa olhei o tecido e as flores e começaram a emergir os milhares de olhares que teceram o padrão a ladear o Cristo. Olhares carregados de fé. Senti-me a diminuir. Não há estudo que explique esta fé. Simples. Despojada.


Dá-me desta fé, saiu-me em oração.


Fé que derruba poderes, abre perguntas, amplia silêncios, desmonta soberbas, faz-nos profundamente iguais. Como a luz das velas, em Fátima, que cada pessoa é. Todas as luzes, sem competir, em colaboração, ampliam a Luz-Comunidade que permite a paz. Não há necessidade de conflito, porque nos sabemos profundamente iguais na dignidade. 


Os pés descalços no mar de gente tocavam terra sagrada. Precisamos desse caminho de verdade connosco e com Deus para amar de forma adulta.


A espiritualidade bem vivida humaniza(-nos).

terça-feira, 24 de maio de 2022

Fé e força do Mistério


[Coisas na vida de um padre] Estou quase a terminar mais uma vinda a Ponta Delgada. Vim às Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, onde celebrei uma das Missas, participando na grande procissão e também orientei formações. Dias muito intensos. Ainda estou a digerir o dia de Domingo, com a Missa e Procissão, presididas por D. Tolentino de Mendonça. Foi tudo muito forte: os olhares, os encontros, os silêncios, a fé de tanta gente. Há tanto a aprender com a religiosidade popular. Senti a força do Mistério em cada passo, a abrir infinito. Somos tanto, enquanto humanidade.


sexta-feira, 20 de maio de 2022

Beleza da complexidade humana


[Secção coisas de nada] Entre olhar o alto, como metáfora de infinito, também a olhar o baixo revela algo do imenso. A luz e a sombra apresentam sempre perspectivas diferente da mesma realidade. Se juntarmos cor, mais expansivo fica. É a beleza da complexidade. E se há coisa que me fascina é a complexidade do ser humano. A riqueza de escutar muitas pessoas ajuda-me a perceber uma transversalidade daquilo que nos é comum: todos somos atravessados de sentimentos, dores, sonhos, desejos, mistério, e transformados pelas relações. Depois a particularidade, marcada pelo tanto vivido por cada pessoa, em luz e sombra, ambas a pincelar as cores da existência. Por isso é que a escuta tem de ser livre de julgamentos, para perceber o concreto vivido dessa pessoa. A seguir, orienta-se para uma análise que permitirá a pessoa tomar um pouco mais consciência da riqueza de quem é, do que tem a manter e do que necessita libertar, abrindo-se à riqueza que os outros também são, sem exigir-lhes igualdade ou parecença. Tenho para mim que é assim que Deus nos vê: ricos de existência. E a terra avivada pela luz e pontilhada por cores torna-se lugar de oração sobre a beleza da complexidade humana.


terça-feira, 17 de maio de 2022

Ganhar tempo a amar


[Breve apontamento neste dia contra a homo, trans e bifobia] As pessoas que atacam outras pela sua condição sexual, em geral, para não dizer sempre, têm sérios problemas com a sua própria sexualidade. Então, é mais fácil projectar a frustração, o ressabiamento, a incompreensão no denegrir do outro. Quem se encontra nessa realidade de denegrir, gozar, atacar, procure urgentemente ajuda espiritual, psicológica ou psiquiátrica. São vocês que estão em falta de amor e não a pessoa a quem estão a denegrir, gozar e a atacar. Quando se descobre o amor, ganha-se tempo a amar. E nos tempos actuais, é disso que precisamos: amarmo-nos. Pois quanto mais nos amarmos, mais amamos o próximo, em luz, cor e vida.


domingo, 15 de maio de 2022

Breve oração


[Breve oração ao anoitecer do V Domingo de Páscoa]


Agradeço-Te

por quebrares todas as barreiras

de pureza, de dignidade, de ser

levando o Teu amor a cada recanto

de corpo e de humanidade

renovando todas as coisas

em luz e em paz


Peço-Te

a leveza das pequenas coisas

cheias de eternidade e infinito

sexta-feira, 13 de maio de 2022

13 de Maio


Enviada por Carla Barbosa


[Breves apontamentos a fechar este dia de 13 de Maio]


A luz de cada vela a ser a luz de cada pessoa;


A beleza de ver gente a sair leve do confessionário, depois de anos sem se confessar por medo;


A beleza de ver gente a sair leve do confessionário, depois de se sentir acolhida na sua dor;


A beleza de ver gente a sair leve do confessionário, depois de perceber que a confissão não é um lugar de tortura, mas de amor, de misericórdia;


Da homilia de ontem, de D. Edgar Peña: toda a noite pode ser e é atravessada pela luz da vida; 


Os rostos, os olhares. Sim, os rostos, os olhares, a transbordar gratidão, fé, reconhecimento, também dor e sofrimento. E que rostos! E que olhares! E que mãos marcadas de vida!;


O silêncio na adoração;


Fátima é e será sempre um mistério a revelar luz. E paz!


quarta-feira, 11 de maio de 2022

Papoila


[Secção coisas de nada] Quando dou os meus breves passeios, vou observando os pormenores. Cada dia é diferente. Cada arbusto em cada dia é diferente. Cada árvore em cada dia é diferente. É o caminho da transformação, ao jeito de ciclos que renovam o ser mais pleno. Fiquei a observar a papoila. Já tinha passado por ela de manhã e não a vi. No pico de luz a cor era mais viva. Chamou-me. Quando estamos na sombra, não significa que não sejamos. Somos, num processo mais pessoal, mais de travessia e trabalho de encontro que deve de ser mais pleno com a nossa verdade. Quando vem a luz, continuamos a ser quem somos, despertando o sentido de presença. Ficamos mais descobertos. Mais expostos na luz. Se a aprendizagem da sombra foi bem feita, não há desajuste, desfoque, mas humildade. A flor simplesmente é. Apresenta a sua beleza. Nós, se estivermos centrados nesse lugar de humildade, apresentamos os dons que temos e somos, simplesmente, sem comparações, sem reacções, sem necessidades de afirmação, que levam a tantos conflitos. E desde esse lugar de verdade, em serenidade, contribuímos para a transformação do mundo, colaborando a pôr os dons a render. Em luz. Agradeci e segui caminho.


segunda-feira, 9 de maio de 2022

Borrifadelas de água



Paulo - Lovely Moments


[Coisas na vida de um padre] Quando chegam boas recordações de dias bonitos e felizes, relembro os momentos, as conversas, as emoções. É mesmo um dia bonito. E quando todos estamos sintonizados, sente-se a alegria de celebrar o amor. Estava eu nos aperitivos, quando me dizem: 

- Padre Paulo, este já não tem emenda. Está completamente afastado do redil.

- Devem achar que eu já não tinha sentido o tremendo cheiro, aliás, fedor a pecado. Foi logo na cerimónia. 

- É assim tão notório?!, disse a pessoa em causa. 

- Gravíssimo, respondo. 

- Levanto-me. Saio. Tudo na expectativa. Regresso, com um copo de água na mão.

- Vamos já tratar disso.

[Gargalhadas gerais!]

Começo a borrifar de água.

- Vá de reto!! Sai desse homem!! 

[Mais gargalhadas!!] 

- Tenho salvação?

- Diante de Deus todos têm salvação. Até já cheira melhor!

- Só pode ser a rosas!

- Não, é à picanha que está ali a ser grelhada. 

[Mais gargalhadas!]

E depois, as boas conversas continuaram. 

Haja felicidade e alegria. É o que Deus quer!


domingo, 8 de maio de 2022

Dia do Bom Pastor


Paulo - Lovely Moments


[Notas soltas ao anoitecer do dia do Bom Pastor] Encontro ternura na palavra pastor. Ternura, silêncio e pele marcada pelo tempo. Cada pessoa tem em si algo de pastor, de pastora. Essa ternura de quem cria vínculos com nomes a serem cuidados. A ternura de quem sente a intimidade que confia o segredo da vida, que quer que o outro seja vigoroso na luz a dar. Imagino Jesus com olhar de ternura por cada pessoa, até por aquelas que o rejeitam, sobretudo em nome de Deus.


Daí o silêncio na palavra pastor. São horas de contemplação, de deixar-se conhecer no mais profundo do ser. Os pastores guardam o infinito no olhar, de alegrias e dores. Os pastores foram os primeiros a ver o Menino nascido. Porque estavam fora. Estando fora, a perspectiva da vida é distinta, simplificando para ser prático. Entre vales, montes e valetas não há rodeios. O caminho tem de ser feito. Mas antes visto, sentido, atravessado dia após dia, numa fusão de pés assentes na terra e olhar ao alto. O silêncio de quem se permite escutar a voz única de cada ovelha, de cada ser, de cada estrela.


Torna-se sabedoria marcada em pele. De mãos que acariciam o cordeiro recém-nascido ou saram a ferida da ovelha que já entregou lã e vida, permitindo-se ir em paz. De rosto esculpido pelo sol que atravessa as horas e tantos dizeres, em jeito de cantares de raízes, caminhos, nuvens e noites.


Sou pastor. Sou ovelha. Somos ovelhas. Somos pastores. Sejamos ternura, silêncio e homens e mulheres de pele marcada de infinito. É o que Ele nos pede: na simplicidade, seremos um com Ele, a acolher. E libertando competições, perceberemos que temos todos os montes e vales para contemplar. E amar.


quinta-feira, 5 de maio de 2022

Breve oração


[Breve oração ao entardecer]


Agradeço-Te

as vezes que me perdi

dando-me humildade e aprendizagem

para julgar cada vez menos as pessoas

nas suas histórias e nos seus caminhos


Peço-Te

silêncio 

e sabedoria para alicerçar a disposição 

de salvar a proposição do próximo 

sabendo que Tu és o único justo juiz


quarta-feira, 4 de maio de 2022

Minha Mãe, Maria


[Secção vida] A minha Mãe não gosta que se saiba o aniversário. O que, obviamente, respeito. Por isso, este não é um texto de parabéns pela vida. Também não me apeteceu escrever sobre ela no Dia da Mãe. Por isso, este não é um texto de feliz dia da melhor mãe do mundo. Mas faz muito sentido homenagear esta Mulher, a minha Mãe, Maria.


Há nela uma mistura de doçura, cuidado, preocupação e atenção, junto com alguma melancolia, mágoa e tristeza por não ter realizado sonhos. A vida. Dito com aquele sentido de silêncios, em que as oportunidades de estudos, o seu sonho, não eram para todos. Pequenina de tamanho, agarrou-se ao trabalho e fez do trabalho vida. Quando me falam de espiritualismos vários, na suposta falta de fé de determinadas classes, com supostas visões de sociedade, aterro com as perguntas de horizontes descartados que também a minha mãe me foi contando. Não é fatalismo. Mas marca. Tal como marca o amor que encontrou com o meu Pai, José. A sua determinação levou a que tomasse em mãos o desafio de amar fortemente na doença e na tristeza, dando saúde de alma no cuidar, no apaparicar, e alegria em dias transformados. O seu olhar fala de história a ser sanada e de futuro a ser desbravado. Por amor, suavizou teimosias, permitindo viagens e leituras renovadas da existência. Pequenina, já disse, de tamanho, mas tão grande de entrega, de delicadeza, de vida. Em cada dia agradeço a Deus por esta Maria, minha Mãe.


terça-feira, 3 de maio de 2022

Rezar pelas vocações


Storytellers


[Notas soltas sobre vocação à vida religiosa] Se há coisa que me custa é responder que não a uma celebração ou acompanhamento em direcção espiritual. É isto: não consigo mesmo. Brinco a dizer que chumbei a Milagres III, onde se aprende a bilocação. Mas peço algo: que se reze pelas vocações. 


Parece-me que há muitas pessoas que têm imagens tais sobre a vida religiosa que as impede de se questionar sobre esta vocação. Então, seria bom que perdessem o medo de perguntar e desmontar essas imagens. Até podem encontrar algo que confirme partes menos simpáticas. Isso não é sinal de falta de vocação. Quem sabe é Deus a chamar para promover mudanças que levem a vida religiosa ser mais d’Ele. Tenho escutado pessoas que se arrependem de não terem feito um discernimento sério sobre a sua vocação de vida. É que a vontade de Deus, seja ela qual for, é sempre para o melhor para cada um de nós. 


Deus quer-nos felizes. Ponto. 


E é bom ser feliz na vocação a que se é chamado(a). 


Se alguém está com questões vocacionais, apesar do medo, procure quem ajude a fazer o caminho de discernimento. As outras pessoas podem rezar, ainda mais nesta semana de oração pelas vocações. 


segunda-feira, 2 de maio de 2022

Breve oração



Pintura “ao terceiro dia aprendemos o fogo”, na belíssima exposição “a aurora não se demorará” de SantoSilva, no Fórum da Maia


[Breve oração ao anoitecer]


Agradeço-Te

a possibilidade de ser Luz conTigo

enquanto me atrevo a contemplar 

a finitude que nos abre o infinito

em cada abraço demorado 

como uma oração


Peço-Te

ajuda-me a morrer os ruídos

e assim viver bem

seja qual for o presente

por Ti iluminado


domingo, 1 de maio de 2022

Dia da Mãe


Nossa Senhora do Leite, na Gruta do Leite, em Belém - Palestina


[Secção pensamentos soltos em Dia da Mãe] Das relações mais complexas, senão mesmo a mais, é a mãe-filho, em particular, filha. Complexa não significa má nem boa, significa cheia de pormenores bio-psi-socio-espirituais. 


A palavra amém, vinda do hebraico ‘aman, usada como confirmação, reconhecimento de verdade do que foi dito, tem como primeira acepção o vínculo de confiança materna-filial. O útero e o cordão umbilical começam por ser lugar e troca de presença e tanta informação que permite a vida. Junta-se o desejo e com o nascimento bastante oxitocina, também conhecida como hormona do amor, para esse vínculo ser fortalecido com o cuidar, ajudando o novo ser a crescer, também em liberdade. Aqui toca-se o ponto: ajudar a crescer em liberdade. Não se forma apenas um cordão umbilical, mas muitos cordões como resultado dos vínculos, dos modelos de educação, de projecções, de idealizações, que têm necessariamente de ser cortados. Todos. É fácil perceber que se o cordão umbilical não é cortado, ambos morrem. Então, o mesmo acontece com os outros cordões. Tal não significa desprezar, ignorar, anular a relação, apenas transformá-la de modo a que ambos cresçam em maturidade, levando à responsável liberdade. Afinal, o amor não prende, liberta. E o amor materno-filial deve tornar-se o lugar de reconhecimento, agradecimento, cuidado e conforto sem qualquer cobrança. 


Quando se ama livremente deseja-se a vida da outra pessoa para lá de ser uma extensão da nossa. Faz todo o sentido dizer que as nossas mães são únicas, no melhor e no pior, porque únicos somos todos, no melhor e no pior. E fazendo crescimento na maturidade, tal abre-nos portas para uma maior compreensão e respeito, não só nas relações materno-filiais, como em todas as outras. Feliz dia da Mãe.