Paulo - Lovely Moments
[Notas soltas ao anoitecer do dia do Bom Pastor] Encontro ternura na palavra pastor. Ternura, silêncio e pele marcada pelo tempo. Cada pessoa tem em si algo de pastor, de pastora. Essa ternura de quem cria vínculos com nomes a serem cuidados. A ternura de quem sente a intimidade que confia o segredo da vida, que quer que o outro seja vigoroso na luz a dar. Imagino Jesus com olhar de ternura por cada pessoa, até por aquelas que o rejeitam, sobretudo em nome de Deus.
Daí o silêncio na palavra pastor. São horas de contemplação, de deixar-se conhecer no mais profundo do ser. Os pastores guardam o infinito no olhar, de alegrias e dores. Os pastores foram os primeiros a ver o Menino nascido. Porque estavam fora. Estando fora, a perspectiva da vida é distinta, simplificando para ser prático. Entre vales, montes e valetas não há rodeios. O caminho tem de ser feito. Mas antes visto, sentido, atravessado dia após dia, numa fusão de pés assentes na terra e olhar ao alto. O silêncio de quem se permite escutar a voz única de cada ovelha, de cada ser, de cada estrela.
Torna-se sabedoria marcada em pele. De mãos que acariciam o cordeiro recém-nascido ou saram a ferida da ovelha que já entregou lã e vida, permitindo-se ir em paz. De rosto esculpido pelo sol que atravessa as horas e tantos dizeres, em jeito de cantares de raízes, caminhos, nuvens e noites.
Sou pastor. Sou ovelha. Somos ovelhas. Somos pastores. Sejamos ternura, silêncio e homens e mulheres de pele marcada de infinito. É o que Ele nos pede: na simplicidade, seremos um com Ele, a acolher. E libertando competições, perceberemos que temos todos os montes e vales para contemplar. E amar.
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