[Notas soltas em ecos de celebrações e viagens interiores pela ilha de São Miguel]
A espiritualidade humaniza-nos. Se bem que encontro muito medo dela. Na confusão de se querer racionalizar tudo, como justificações rápidas para o desconhecido, a dimensão espiritual fica posta num canto dos simples, dos pobres, até mesmo dos miseráveis. Destrata-se o espiritual, diante da soberba do intelectual. Mas tal é sinal de medo. Há sempre medo do desconhecido. E dão-se fugas e bloqueios.
Mas, a espiritualidade humaniza-nos.
Na Missa de Domingo, estando de lado para o andor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, apenas tinha diante as flores e o tecido. Tentava imaginar o rosto. No dia anterior, na Procissão das Promessas, estando no meio da multidão, e como é bom como padre estar por vezes no meio da multidão, vi os olhares carregados de silêncios e de histórias que clamaram promessas. O mistério dos pequenos que sabem clamar. Porque nas entranhas do mesmo mistério sabem que Deus ouve o clamor do Povo. Na Missa olhei o tecido e as flores e começaram a emergir os milhares de olhares que teceram o padrão a ladear o Cristo. Olhares carregados de fé. Senti-me a diminuir. Não há estudo que explique esta fé. Simples. Despojada.
Dá-me desta fé, saiu-me em oração.
Fé que derruba poderes, abre perguntas, amplia silêncios, desmonta soberbas, faz-nos profundamente iguais. Como a luz das velas, em Fátima, que cada pessoa é. Todas as luzes, sem competir, em colaboração, ampliam a Luz-Comunidade que permite a paz. Não há necessidade de conflito, porque nos sabemos profundamente iguais na dignidade.
Os pés descalços no mar de gente tocavam terra sagrada. Precisamos desse caminho de verdade connosco e com Deus para amar de forma adulta.
A espiritualidade bem vivida humaniza(-nos).
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