[Secção desabafos] Há histórias à volta do belo, tal como do feio. Umberto Eco escreveu sobre isso. A Religião sempre foi inspiração para o melhor e para o pior. Felizmente, temos muito de melhor. Basta dar um bom passeio demorado pelos grandes museus, seja de arte mais antiga, moderna ou contemporânea, desse mundo fora. Claro está, a arte não se fica pelo simplesmente bonito. A boa arte acaba por transmitir uma mensagem, desde o simples “limita-te a contemplar” ao grito de injustiça de tanto. A política nunca se descartou desse factor de arte como provocação. Há uma óptima ala no Rainha Sofia em Madrid com esse tema. Mas, imiscuir política e religião, mesmo que seja para “pôr a sociedade a falar sobre isso” nunca deu muito bom resultado. Vá, em tempos de direitos, parece que tudo é possível, até mesmo chocar por chocar, ainda que seja em nome de “pôr a sociedade a falar sobre isso”. Mas, é assim que funciona? A partir do choque pelo choque? Sinceramente, como padre, vejo o famoso cartaz e deu-me vontade de rir, pelo poucochinho. Não, não vou rasgar vestiduras, que isto do voto de pobreza não dá para andar ai a rasgá-las a torto e a direito. O que me parece é que a sociedade que vive o “falar disso” a partir de choque e escândalos não é de todo uma sociedade adulta. Falta-lhe perceber os limites, os critérios, a orientação do sentido de diálogo entre partes que até nem têm de acreditar no mesmo. Quem fez o cartaz é capaz de neste momento estar a regozijar de alegria “yes!! Conseguimos pô-los a falar disto!!” No entanto, é um falar fora das regras de bom senso, onde faz brotar os fundamentalismos mais sub-reptícios, ora de “intolerantes estes os religiosos”, ora de “lá está a esquerdalhada sem filtros”. Pois, o poucochinho activa o poucochinho de ambas as partes. Quem se interessa minimamente pela vida de Jesus, seja crente ou ateu, mas respeitável, perceberá que injurias, gozos, escárnio, etc., já Ele o sofreu com a dignidade própria de quem mostrou o caminho da Humanidade. Mas para isso de caminho de Humanidade é preciso ser coerente e estudar, ou basta ler, um pouco mais as coisas até mesmo de Arte e de Religião, sem se limitar ao “pôr a sociedade a falar sobre isso” com um cartaz em jeito de Pop art. Acredito no Deus com humor, daquele que sorri com o ridículo e que meneia a cabeça com a falta de maturidade nas atitudes, tanto dos que provocam, como dos que são provocados. Queremos ser uma sociedade de futuro, vanguardista, “fixe”, mas, para isso, parece-me que ainda há crescimento para acontecer. Isto do respeito tem muito que se lhe diga.