domingo, 31 de julho de 2022

Dia de Sto. Inácio de Loiola


Duarte Melo - diante do impactante altar em talha na belíssima Igreja dos Jesuítas em Ponta Delgada


[Notas soltas a terminar o Dia de Santo Inácio de Loiola] Ao longo do dia foi-me ecoando como as nossas decisões podem marcar parte da humanidade. A maioria das vezes a pequena escala, mas algumas, como aconteceu com Santo Inácio, a grande escala. Quer eu queira quer não, desde há uns anos até esta altura da minha vida, os meus dias pautam-se imbuídos pela espiritualidade que emanou deste homem, a partir da sua existência e relação com Deus. Isto é forte: somos marcados pelas existências e decisões uns dos outros.


Sinto-me muito agradecido por Santo Inácio. Sinto-me muito agradecido por ter fundado a Companhia de Jesus. Sinto-me muito agradecido pelos Exercícios Espirituais. Sinto-me muito agradecido pelos meus Companheiros. Sinto-me muito agradecido por todas as pessoas que conheci como jesuíta.


Conta-se que Inácio, já mais no final da vida, quando passeava, dizia que até das flores ouvia Deus, fazendo juz a uma das suas máximas: encontrar Deus em todas as coisas. Se se abre o coração à liberdade interior, começa-se a ver a realidade de forma renovada. E as nossas decisões, desde aí, poderão ser transformadoras de mundo. E a ser, que sejam para o amor.


quarta-feira, 27 de julho de 2022

Suaves nuvens


[Secção coisas de nada] Depois de jantar, dou um pequeno passeio pela quinta. Senti o fresco em suave brisa no anoitecer depois do calor forte do dia. Reparei nas nuvens. Fascina-me a suavidade das nuvens em anoitecer de Verão, nos tons alaranjados e rosados. Fiquei uns minutos a contemplar. Os padrões alteravam. Partes esvaiam-se no céu imenso. As transições são ensinamentos. É como as frases, os comentários, os sentires de hoje, que rapidamente transformam uma pessoa de besta em bestial ou de bestial em besta, conforme a vibe do momento. Leio tanta agressividade nas palavras. Pessoas que se transformam em ataques constantes. Mutilam-se na existência. Que se ganha com a violência da palavra? Nada. Tempos estes que cada vírgula corre o risco de ser apenas interpretada conforme a dor de quem lê. E tudo se esvai num segundo. Sim, as transições são ensinamentos. Mas deveríamos vivê-las a nos direccionar para lugares de empatia. Conhecer o rosto do outro, como infinito, recordando Emmanuel Lévinas. Perdeu a família no holocausto, mas reconhece que ainda assim há responsabilidade pelo carrasco. Se não, toda a violência é legitimada. E não pode ser. Não pode ser! Ficou mais de noite. Dizem que todos os gatos são pardos. E na sombra todos somos atravessados de igualdade. Também na luz. Por isso, contemplar o céu recorda-me a vastidão. O esvaziar da nuvem, o efémero do tempo. Mais vale aproveitá-lo em permitir-me sempre que possível dialogar. Quando não for possível, a afastar a violência até mesmo da palavra. E o sentir o fresco a serenar as ideias e a vida. Diz que Deus passa pela brisa suave. E como são suaves as nuvens transformadas pela brisa.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

Breve oração


Vatican News


[Breve oração ao adormecer]


Agradeço-Te

a coragem de quem grita

na dor antiga pela justiça;

a coragem de quem escuta

o grito e acolhe a dor antiga

fazendo silêncio, pedindo perdão

com o beijo e o abraço da Paz


Peço-Te

que a reconciliação se espalha

e contribua para o fim das dore

das polarizações e das rejeições

abrindo futuros de esperança


domingo, 24 de julho de 2022

O Lava-Pés num beijo


Nathan Denette/The Catholic Press via AP


[Breve contemplação antes de adormecer] O Papa Francisco chegou ao Canadá numa peregrinação penitencial, para pedir perdão por todo o mal feito pela Igreja Católica aos Indígenas nas casas de correcção. À chegada, houve um cântico indígena. Ao som de tambores, ecoava o lamento de tantos. O Papa emocionou-se. Não houve discursos, mas gestos. Vi em directo. Este tocou-me particularmente. Imaginei um título: o Lava-Pés num beijo de encontro.


sábado, 23 de julho de 2022

Serei silêncio


[Secção letras verdes] Num dia atravessado de perguntas, de querer serenar corações, de amor, de baptismos, de viagens, de lágrimas, de sorrisos, de sentir-me imensamente pequeno.


sexta-feira, 22 de julho de 2022

Breve oração


Raquel e Daniel - Menino Conhece Menina


[Breve oração ao anoitecer do dia de Santa Maria Madalena]


Agradeço-Te

o sentir feminino,

na força de acolhimento

com garra pela vida

na destreza da liberdade

com frescura de horizontes


Peço-Te

caminhos de igualdade

no respeito e na dignidade


quarta-feira, 20 de julho de 2022

Polémicas


[Secção pensamentos soltos sobre polémicas] A minha travessia de vida e a escuta de muitas travessias de vidas de tantas pessoas tem-me feito constatar algo que nada tendo de extraordinário tem-me ajudado a encontrar caminhos de sensatez: todos somos luz atravessada de sombra e todos somos sombra atravessada de luz. Ambas as realidades despertam uma complexidade de outras internas, onde no meio de muitos dons, alegrias, esperanças, há também imensas dores, angústias, tristezas. Em cada pessoa, há o legítimo desejo de respeito por ser quem é. Mesmo que esse ser quem é tenha características diferentes da normalidade (tanto a dizer sobre este termo). Tal nunca deveria ser motivo de ataque, ao ponto de provocar violência desmedida.


Chora-se (e bem, atenção!) a destruição que as guerras, em particular na Ucrânia, provocam. Mas, em nome de medos, muitos deles provavelmente inconscientes, alimentam-se fogueiras de tensões, provocando ódios, em acusações mútuas, que mais não fazem é dar espaço à anulação do outro. Seja a questão climática, a da sexualidade, a da economia, a da política, estão-se constantemente a criar polarizações que apenas contribuem para a desumanização. Há dias lia um post de Esther Perel em que colocava mesmo a questão da relação entre a segurança e a liberdade. Todos procuramos ambas. Diz ela que “presos nas nossas polaridades, estamos incapazes de reconciliar as nossas semelhanças (muito menos as diferenças)”. Em constantes monólogos de surdos, acaba-se por gritar, desfocando realidades, presos em crenças que tornam o ou os outros inimigos a abater.


E aqui não se trata de tolerar ou não. Antes disso, insisto muito, trata-se no caminho de escuta e trabalho pessoais, nas travessias de luz e sombra. “Quando era novo, era esperto e queria mudar o mundo. Hoje, sinto-me sábio, quero mudar-me a mim.”, afirmou Rumi. Estamos a precisar de silêncio para escutar o que nos ajude a reconciliar. Há quem ganhe com conflitos. Mas é mesmo uma pequena parcela de pessoas. A grande parte da humanidade, contribuindo para atenuar conflitos, ganhamos em respeito e vida.

terça-feira, 19 de julho de 2022

Libertação de medos



Teresa e Dado | Arte Magna


[Secção conversas soltas com a devida licença para partilhar]

-O P. Paulo fala algumas vezes como os medos nos podem atrapalhar.

-Também inspirado sobretudo pelo Evangelho.

-Pois, o “não temais” de vez em quando ecoa. Mas, ainda assim, apercebo-me de muitos medos e vergonhas que ainda tenho.

-Tem memória de medos quando era criança, alguém da família ou próximo, que tenha causado medos, provocado sustos? Ou recorda-se de lhe terem dito algo sobre medos seus?

-Assim de repente, não, não recordo.

-Faço a pergunta para que fique aí a passear no seu interior. É natural que não se recorde de imediato. Mas, ao longo destes dias, deixe que a pergunta fique a passear.


[Passado um tempo]


-P. Paulo, recorda-se da pergunta sobre os medos?

-Sim, sim.

-Pois, aqui a dar voltas, lembrei-me de algo que a minha mãe contou: estávamos as duas a passear, eu apesar de já caminhar, ainda pequenita. Quando se deu conta, não me viu. Olhou e eu estava caída de frente para uma poça de água, a esbracejar. Tirou-me. Eu estava toda a tremer. Disse-me que eu estava quase a sufocar.

-Como se sente?

-É estranho. Não me recordo. Mas aconteceu.

-É natural não se recordar. Como caminho de sobrevivência, muitas memórias dolorosas são abafadas para o profundo do inconsciente. Mas, os seus ecos, efeitos, manifestações saem em reacções, sensações, diante da realidade que pode provocar o mesmo perigo. 

-E como libertar disto?

-Serenamente, vamos trazer a memória à consciência, mesmo que através da imaginação a partir do que foi contado e acolher as emoções da criança amedrontada. Dizer-lhe que está tudo bem, que mais do que ter sobrevivido, está viva, e cresceu, sendo agora adulta. Além de esquecermos muitas coisa para sobreviver, e tal também tem o seu quê de positivo, muitas vezes esquecemos que muito, mas mesmo muito nos acontece. Fazemos é julgamentos rápidos: “isso já foi há tanto tempo!”, mas o cérebro primitivo não tem cronologia. Se guardou os medos, fica sempre alerta. Há que lhe dar a informação de que já não precisa estar alerta. Daí a importância de aprender a dar nome aos medos, atravessá-los de verdade e ganhar, assim, liberdade e vida renovada.


segunda-feira, 18 de julho de 2022

Cada vida atravessada de imenso


João Almeida


[Breve apontamento a começar mais um grupo de Exercícios] Se há agradecimento que sinto é o de viver a escuta como caminho de encontro com Deus. Cada vida é atravessada de imenso. Tal leva-me a abrir novas perspectivas, reflexões, considerações sobre o que atravessa em comum cada coração humano. É preciso permitir os olhares se cruzarem com a história que mostra que não se cai de pára-quedas na existência, junto com a novidade que desmonta esquemas antigos, impeditivos de perceber o presente. O Padre Pedro Arrupe dizia que não se pode dar respostas do passado às perguntas do presente. É o desafio de quando se faz silêncio: perceber as reais perguntas, escutar as respostas possíveis e ver qual a que faz mais sentido no crescimento da humildade, do amor, da ternura, da humanidade.


sexta-feira, 15 de julho de 2022

Ser pequeno


[Notas soltas ao lusco-fusco] Há momentos em que me sinto imensamente pequeno. E não é nada angustiante. Pelo contrário, há grande paz, como se fosse encontrando o lugar onde pousar o ser. É terra. Recordo há uns anos sentir-me volátil, quase etéreo. Desejar isso. Querer a todo o custo evadir-me. Hoje percebo como formas de fugas a dores, perguntas, travessias de feridas da existência. Hoje, com pés em terra, aprofundando raízes, atrevo-me à densidade do presente, permitindo cada vez mais dar nome a cada sensação. Além de libertador, abre mais um pouco a compreensão da complexidade de quem somos. Poeiras de Universo, diria Carl Sagan. Templos de Deus, diria S. Paulo. Meus Irmãos, disse Jesus. Isso tem-me aumentado a consciência da intensidade de cada gesto, do mais banal ao mais intenso, do mais sombrio ao mais luminoso. Apercebo-me mais fortemente, e dói que se farta, quando faço mal a alguém. Só o Bem é lugar de Vida. E percebo como só se pode crescer até ao tamanho de semente. Deixo que a noite me atravesse de novo amanhecer.


segunda-feira, 11 de julho de 2022

Abraços


[Coisas na vida de um padre com breve apontamento] Chegam boas recordações de dia bonito, dos baptismos dos irmãos Francisca e Tomás. A tranquilidade dos dois era imensa. No final, demos um abraço. E nestes tempos, em que os conflitos continuam a provocar separações, faz tanto sentido deixarmo-nos habitar pela profundidade de um abraço. Nesse momento são dois corações em diálogo, a dizer: espalhemos luz. O mundo precisa de abraços e de luz. Que os nossos abraços sejam lugar de vida.


domingo, 10 de julho de 2022

O Senhor é meu pastor



Raquel e Daniel - Menino Conhece Menina


[Coisas na vida de um padre] Isto de trabalharmos a profunda relação com Deus, em interioridade e fé, dá frutos. Ontem, a caminho da Missa Nova de Samuel Afonso, em Castelo Branco, eis que a viatura começa a gripar. Estava a 1 km de uma bomba de gasolina, na N3, por sua vez, a 11 km de Castelo Branco. Lentinha, consegui levá-la até a um lugar à sombra. Gosto de ir com tempo, não tanto para este tipo de imprevistos, que são raros, mas para os previstos: não conhecer o lugar e ter de procurar estacionamento, por exemplo. Estava a meia hora das 16h, o início da Missa: o meu foco. Pedi um táxi, que estava a demorar. Um casal de irlandeses apercebeu-se de algo e perguntou se precisava de ajuda.

- Preciso estar em Castelo Branco para uma Missa às 16h. Mas pedi um táxi.

- Se não chegar em 5 minutos, nós levamo-lo lá.

Assim foi. Às 15h55 estava à porta da Sé de Castelo Branco. Comentei na sacristia o acontecimento e um padre diz-me que tem um cunhado mecânico. 

- Falaremos depois da celebração.


A Missa foi muito bonita. A serenidade do Samuel, a celebrar no meio da sua gente, rodeado de família e amigos, tocava o ser. Eu desliguei do carro. Que adiantava? Aproveitei a serenidade, centrando-me no momento presente.


Depois da Missa, confirmado com o cunhado do padre que seria necessário reboque, volto à estação de serviço. Chamo o reboque. O senhor da estação veio dizer-me que o táxi apareceu quando estávamos a sair. Liguei-lhe, pedi muita desculpa, expliquei a situação e disse que pagaria a viagem. 

- Oh, senhor padre, compreendo. Reze por mim!

Entretanto, o pai do Samuel conhecia o senhor do reboque que facilitou tudo.

Ainda voltei para a festa.

Depois, houve generosa boleia de volta.

Cheguei a casa, passei pela capela e agradeci a serenidade, as vidas de tanta gente, em especial da Donna e do Martin, do taxista, do senhor do reboque, do cunhado do padre, do Samuel, do pai. Quando nos permitimos a luz, tudo flui, afinal “o Senhor é meu pastor, nada me falta”. 


P.S. - Se alguém de Castelo Branco conhecer a Donna e o Martin, o casal de irlandeses, diga-me, por favor. Com a pressa não trocámos contactos. Foram verdadeiros anjos. 


sexta-feira, 8 de julho de 2022

Laços familiares



[Secção pensamentos soltos sobre laços familiares] A família é lugar base da sociedade. Aí, do melhor ao pior, aprendem-se os modos de estar. A educação, desde o pegar ou não ao colo, o tipo de comida, a presença ou ausência de pai, mãe, irmãos, avós, tios, primos, acontece desde essa grande complexidade. A família não é uma abstracção, mas uma realidade concreta, a que cada elemento tem algo a dizer para o crescimento de todos.


É maravilhoso podermos dizer que tudo corre bem, que temos a melhor família do mundo, tirar fotografias de grupo alargado, com toda a felicidade. Que bom quando assim é. No entanto, todo o lado sombrio da família também precisa ser trabalhado. Não tem de ser uma fatalidade. Será duro certamente, sobretudo nos casos que se tem de manter o “bom nome da família”, muitas vezes à custa de mentiras e de violência. Mas, assumir o caminho de cura familiar, passa por um trabalho individual e de grupo. Cada pessoa reconhecer o seu lugar de dom e de limite. Também perceber que os cordões umbilicais têm de ser cortados, já que ninguém é extensão de ninguém. 


Tenho acompanhado famílias que se permitem curar. Para tal, arriscam a reconhecer as suas luzes e sombras. Mas, é fundamental perceber que o outro, seja pai, mãe, filho ou filha, avô ou avó, irmã ou irmão, tio ou tia, primo ou prima, não são posse de um estatuto existencial, mas relação que devem encaminhar para a liberdade e amor. Quando isso acontece, libertando-se os compadrios e nepotismos, os rancores e mágoas, toda a sociedade ganha com a maturidade familiar.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Breve oração



[Breve oração ao fechar o dia]


Agradeço-Te

a beleza do efémero, do momentâneo,

a ensinar como saborear o presente,

tornando duradoura a gratidão


quarta-feira, 6 de julho de 2022

Redes sociais



Eugénia Saraiva



[Notas soltas sobre a minha presença nas redes sociais] Há dias, a propósito do Dias Mundial das Redes Sociais, publiquei um vídeo a partilhar a importância e os desafios destes meios de comunicação. Falava do impacto das publicações e do que isso significa no meu pensar e rezar. Volto ao tema, já que entretanto passei a marca dos 20 mil seguidores no Instagram e uma publicação minha passou a marca de alcance de mais de 147 mil contas.


Desde já, agradeço a confiança a quem aqui vem e fica. Se quando passei a marca de 10 mil seguidores, senti, confesso, vaidade e ego inchado, que, de algum modo, acalmei não dizendo nada sobre isso, agora sinto respeito e aumento de responsabilidade, com a reverência de estar diante de muitas pessoas, ainda que virtualmente. Não sei o que é estar num sítio a falar para 147 mil pessoas. Tal é possível nestes meios. Também, e isso custa-me tenho a dizer, vou tendo mais dificuldade em responder sobretudo às mensagens com pedidos vários, em particular de ajuda. Certo é que levo todas as pessoas e as suas vidas à oração.


Para quem cá chegou recentemente, sou muito livre, no conteúdo e no timming, no que publico. É fácil ir para o que dá “likes”, mas não quero e já não necessito desse caminho. Quero, sim, ser ponte e que se possa encontrar conforto e possibilidade de reflexão, libertando de polarizações rápidas e desumanas.


Seja como for, e agora um toque de humor, acho que já me consideram influencer. Já recebo mails de empresas a pedir publicidade em troca de algo. Empresas de cosméticos, Tupperware, roupas femininas. Já me imagino a fazer um giveaway:


Vai a caminho de Fátima? Leve o tupperware mini, para comer a fruta desidratada a cada 3 kms. Entretanto, ponha este creme e, claro, vista-se com frescura. Use o código PAULO-SJ-PEREGRINO-50.


É isso: agradeço a confiança e a compreensão se surgir falta de resposta.


Haja humildade, vida e alegria!


terça-feira, 5 de julho de 2022

8 anos de padre


João Almeida


[Secção celebração de vida] 8 anos de padre, celebro hoje. Recordo a sensação de estranheza que durou algum tempo quando me dava conta de ser padre. Ia na rua, a passear, parava: sou mesmo padre. Passei a sê-lo há 8 anos. Naturalmente já me está mais entranhado na consciência. Ainda assim, continuo a aprender a viver esse acontecimento que me mudou a vida.


Sinto grande responsabilidade. É um desafio ser padre na actualidade. Estamos em tempos de muitas mudanças, na sociedade e na Igreja. Daí que o primeiro olhar, como padre, tenha de ser para Deus, feito alimento, a dar vida. Não é por acaso que nas intenções antes do momento da consagração da ordenação seja recordado de forma especial a Eucaristia e a Reconciliação. Aí, na humildade de toda a vida, em luz e sombra, deixamos que Ele nos mostre o caminho de escuta, de acolhimento, de serviço, a promover a paz. Na oração há pouco, precisamente onde diante do mar decidi ser jesuíta e padre, recordava-me inacabado e o quanto tenho de estar atento aos desajustes do poder que me foi conferido. É exigente a liberdade. Quando reconcilio em Seu nome, percebo mais um pouco do meu caminho de reconciliação, sobretudo com as subtis pontas soltas que impedem a existência densa de amor. Afinal, quero o amor em crescendo e em profundidade.


Sim,

sinto-me feliz e realizado na vocação.


E também agradeço a tantas pessoas que, com mais, menos ou nenhuma consciência disso, me ajudam neste caminho de paternidade espiritual. 


Peço-Te

Atravessa-me de Ti


segunda-feira, 4 de julho de 2022

Bereshit e o tear





[Breve apontamento ao adormecer] Estava a rever fotografias e vejo estas do Bereshit no tear que fiz em Têxteis, tinha eu 13 anos. Segundo a minha mãe, que tem uma relação próxima com o pássaro, sempre que apanha o quarto aberto onde o tear está pendurado, vai lá dar o seu toque. Ou seja, cortar as linhas de suporte. Não recordo o tempo que me levou a fazer, mas vejo-o rápido a cortar as linhas. O presente, com as suas acções, desenrola-se no tempo que é. Mas, rapidamente pode começar a desaparecer, como com um bico de um pássaro. Claro que não quero que a recordação se desfaça ou perca, mas ainda assim deixou-me a pensar: e se se perdesse? Por vezes temos de libertar pesos de coisas feitas. Não permitir que o pó do antigo se acumule, mas procurar integrar em caminho novo. Seja como for, ainda quero olhar o tear e recordar a sensação de felicidade quando o terminei. As cores de céu podiam ser de amanhecer ou entardecer. Sempre achei interessante as passagens para algo novo. E curioso ser o Bereshit (a primeira palavra bíblica, traduzida por “No princípio”) a soltar o tear do suporte.


domingo, 3 de julho de 2022

Agradecer


[Breves apontamento e oração ao adormecer]


O dia foi cheio de Deus. O Samuel Afonso, companheiro jesuíta, já é padre. Aprendi muito com ele, na sua perspicácia e entrega, sentindo-lhe forte amizade. A celebração da ordenação foi de grande beleza, a recordar a vocação de darmos vida na sociedade e na Igreja, “para a maior glória de Deus”, como terminou D. Virgilio a homilia usando a expressão inaciana. 


Agradeço-Te

os caminhos de horizontes

que se abrem com o sim à vocação 

de sermos chamados ao Bem

em luz e vida