Teresa e Dado | Arte Magna
[Secção conversas soltas com a devida licença para partilhar]
-O P. Paulo fala algumas vezes como os medos nos podem atrapalhar.
-Também inspirado sobretudo pelo Evangelho.
-Pois, o “não temais” de vez em quando ecoa. Mas, ainda assim, apercebo-me de muitos medos e vergonhas que ainda tenho.
-Tem memória de medos quando era criança, alguém da família ou próximo, que tenha causado medos, provocado sustos? Ou recorda-se de lhe terem dito algo sobre medos seus?
-Assim de repente, não, não recordo.
-Faço a pergunta para que fique aí a passear no seu interior. É natural que não se recorde de imediato. Mas, ao longo destes dias, deixe que a pergunta fique a passear.
[Passado um tempo]
-P. Paulo, recorda-se da pergunta sobre os medos?
-Sim, sim.
-Pois, aqui a dar voltas, lembrei-me de algo que a minha mãe contou: estávamos as duas a passear, eu apesar de já caminhar, ainda pequenita. Quando se deu conta, não me viu. Olhou e eu estava caída de frente para uma poça de água, a esbracejar. Tirou-me. Eu estava toda a tremer. Disse-me que eu estava quase a sufocar.
-Como se sente?
-É estranho. Não me recordo. Mas aconteceu.
-É natural não se recordar. Como caminho de sobrevivência, muitas memórias dolorosas são abafadas para o profundo do inconsciente. Mas, os seus ecos, efeitos, manifestações saem em reacções, sensações, diante da realidade que pode provocar o mesmo perigo.
-E como libertar disto?
-Serenamente, vamos trazer a memória à consciência, mesmo que através da imaginação a partir do que foi contado e acolher as emoções da criança amedrontada. Dizer-lhe que está tudo bem, que mais do que ter sobrevivido, está viva, e cresceu, sendo agora adulta. Além de esquecermos muitas coisa para sobreviver, e tal também tem o seu quê de positivo, muitas vezes esquecemos que muito, mas mesmo muito nos acontece. Fazemos é julgamentos rápidos: “isso já foi há tanto tempo!”, mas o cérebro primitivo não tem cronologia. Se guardou os medos, fica sempre alerta. Há que lhe dar a informação de que já não precisa estar alerta. Daí a importância de aprender a dar nome aos medos, atravessá-los de verdade e ganhar, assim, liberdade e vida renovada.
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