quarta-feira, 27 de julho de 2022

Suaves nuvens


[Secção coisas de nada] Depois de jantar, dou um pequeno passeio pela quinta. Senti o fresco em suave brisa no anoitecer depois do calor forte do dia. Reparei nas nuvens. Fascina-me a suavidade das nuvens em anoitecer de Verão, nos tons alaranjados e rosados. Fiquei uns minutos a contemplar. Os padrões alteravam. Partes esvaiam-se no céu imenso. As transições são ensinamentos. É como as frases, os comentários, os sentires de hoje, que rapidamente transformam uma pessoa de besta em bestial ou de bestial em besta, conforme a vibe do momento. Leio tanta agressividade nas palavras. Pessoas que se transformam em ataques constantes. Mutilam-se na existência. Que se ganha com a violência da palavra? Nada. Tempos estes que cada vírgula corre o risco de ser apenas interpretada conforme a dor de quem lê. E tudo se esvai num segundo. Sim, as transições são ensinamentos. Mas deveríamos vivê-las a nos direccionar para lugares de empatia. Conhecer o rosto do outro, como infinito, recordando Emmanuel Lévinas. Perdeu a família no holocausto, mas reconhece que ainda assim há responsabilidade pelo carrasco. Se não, toda a violência é legitimada. E não pode ser. Não pode ser! Ficou mais de noite. Dizem que todos os gatos são pardos. E na sombra todos somos atravessados de igualdade. Também na luz. Por isso, contemplar o céu recorda-me a vastidão. O esvaziar da nuvem, o efémero do tempo. Mais vale aproveitá-lo em permitir-me sempre que possível dialogar. Quando não for possível, a afastar a violência até mesmo da palavra. E o sentir o fresco a serenar as ideias e a vida. Diz que Deus passa pela brisa suave. E como são suaves as nuvens transformadas pela brisa.


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