sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A pessoa [o que realmente importa para Deus]



Bryan Yen

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Enquanto se achar que se evangeliza (pensado que se converte) pelo pecado ou pela moral, parece-me que o que vai acontecer é: uma boa gargalhada e “passaram-se!”. Para Deus, quem realmente importa é a pessoa, não os seus pecados. O que ela fez ou faz serão outros temas da conversa depois do encontro. “Ah, Paulo, lá estás a ser laxista. E a importância do sacramento da confissão?” “Se ao conheceres alguém a primeira coisa que lhe dizes é: ‘estás sujo(a), conspurcado(a), imundo(a)!’, parece-me que terás alguma dificuldade na reconciliação. Primeiro, há que conhecer a pessoa, a sua vida, se quiser falar, depois… depois logo se vê. De vez em quando lembro-me que há muita gente, nada respeitável aos olhos da sociedade, que me precede no Reino”.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Medo. Vergonha. Nojo. [do corpo]



Pina Bausch em Café Müller

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Medo do corpo. Vergonha do corpo. Nojo do corpo. Como resultado: medo de si, vergonha de si, nojo de si. Ainda há muito a aprender sobre o corpo, nesse ser corpo. Quando flutua a tentação espiritualista, reduz-se o corpo à necessidade de uso para elevar o interior. Em oposição, se se esquece o mais que somos, dando à pulsão animal o pleno uso do ser, corre-se o risco de formatar uma imagem corporal perfeita inexistente. Nem o desleixo, nem a obsessão. O saber cuidar de si, respeitando o natural, é caminho.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

[Não] Preparado [para ser Padre]




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Quando comento o tempo da nossa formação até à ordenação (sim, porque continua para além desse dia), as reacções mais frequentes são: “Ui, tanto tempo para ser padre?”, “Mas, é preciso isso tudo?”, etc. e tal. Ao princípio também achava que era longa. Faltam poucos meses e já me emociono só de pensar, pois por vezes vem a tentação de achar que ainda não estou preparado. E percebo cada vez mais o porquê de tão longa formação. Hoje, em aula, senti as entranhas a revolver. Vivo com regularidade o questionamento sobre a relação entre a Teologia e a Vida, Deus e a Vida, a espiritualidade e a Vida. Ser religioso, ser padre, atrevo-me a dizer, é viver a conversão constante, a solidão, as dores, a tristeza, as alegrias, a explosão de felicidade, o pecado, o abraço de Deus, o Seu vazio e o Seu silêncio, as dúvidas… as tantas dúvidas… as lágrimas, os sorrisos, o bom humor, a História minha e de outros, a impotência e a Fé e Esperança que tomam corpo nos gestos amorosos da escuta de tanta gente. Isto não acontece com o estudo, acontece com o viver, que, à semelhança de Jesus, implica morrer, desafiar-se a morrer para a Vida do outro. Não, não é fácil, mas é um gozo inexplicável… uma confirmação de que a paternidade a que sou chamado, mesmo nos dias de maior escuridão, é revestida de confiança vital que faz da “não preparação” o estar preparado, permitindo que o outro seja! 

Tirei a foto que hoje ilustra este texto no mesmo caminho que tirei esta, é por isso que se relacionam ;) - Clicar na foto para ir até ao texto "Sombras"]


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Contos de Fadas [na minha cabeça]



Joana Mourão

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Há dias que os dias são noites para muita gente. Algumas escuto-as e mais do que palavras, abraço-as. As vidas não são como nos filmes… com aqueles finais felizes. E sinto-me pequenino. Muito pequenino. Depois de escutar, ponho-me no meu canto a olhar o Infinito. Podem ser impulsionadoras. Quero que o sejam! Nesse canto, fecho os olhos e imagino essas pessoas a fazer coisas extraordinárias, a libertarem-se da vergonha ou medo, ou tanta porcaria que as atormenta. Talvez seja estúpido ou ridículo: acredito em Contos de Fadas. Na minha cabeça desenho-lhes um mundo melhor. E nos meus gestos transformo o Conto na possível realidade. 

[E já me fartei de dançar e chorar e rir enquanto dançava isto: http://youtu.be/ekLy0UeBXkE ]

Oração ecuménica



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Hoje representei a Igreja Católica Apostólica Romana, junto com um Pastor da Igreja Protestante da Anunciação de Comunhão Luterana e um Monge da Igreja Greco-Ortodoxa, numa oração pela unidade dos Cristão, com a participação dos alunos do colégio jesuíta São Luís Gonzaga. Mais do que uniformismo, nestas orações apela-se, tal como Cristo é um, à unidade na diversidade de perspectivas. 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Linha ténue



Robert & Shana ParkeHarrison


Temo que se o “dux” saísse à rua e fosse reconhecido, seria linchado por um outro Mar, não do Meco, mas da fúria e ódio que se acumula para além do bom senso. Mais uma vez, em temas complexos [onde uns, justificadamente, buscam o quê dos acontecimentos, outros refugiam-se na miséria da verdade que não sai] grita-se por justiça. Mas grita-se de tal modo que parece que só a vil morte faz sentido para pagar outra morte. E mais uma vez reparo na ténue linha entre humanidade e desumanidade.

[Memória agradecida]



Mads Nissen

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É sabido que a ruptura forte, o choque, a crise, transformam. Oportunidade. Há acontecimentos que não se controlam: ou são decididos por outros, ou dá-se a fragilidade do ser, ou a Terra fala a sua linguagem. Emociono-me a ver esta imagem, de quem encontra um álbum de fotos nos destroços de um terramoto. Penso: porquê só no limite o dar-se conta do eterno paradoxo: ora o muito que somos, ora o pouco que se desvanece? É preciso o suporte da boa memória na destruição. A memória agradecida que alimenta na desolação. Gaita! A vida pode revoltar-se, mas não se espere esse momento para tomar consciência que se pode amar mais: a si mesmo e aos outros.

[Coisas do quotidiano em Paris]




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Ia apanhar o metro. Olhei para o lado e vi-a escondida. O nevoeiro tem aquele lado de mistério, de surpresa. “Não será o prenúncio que vai acontecer daqui a pouco?” Estava a caminho de uma festa espectacular. Um apartamento de 3 portugueses e gente de todo o mundo [venezuelanos, italianos, espanhóis, colombiano, polacos, alemães, um de mãe italo-argentina, franceses, e outros com quem não consegui falar]. Quase todos cientistas, sobretudo biólogos… em “doc’s” ou “pós-doc’s”. No meio, um jesuíta, diácono, futuro padre. Quem diz que a ciência e a religião não dialogam, venha a uma destas festas. É por isso que gosto do mistério. Impele à busca para além dos preconceitos… com boas conversas! ;)

domingo, 26 de janeiro de 2014

[Ainda na linha do post anterior]



Bruno Schlumberger

Nunca fui muito dado a política, mas recordo de aos 10 anos, ou pouco mais, ver os debates e pensar: “Um diz que o seu lado é bom. O outro também. Porque é que não juntam o melhor do que têm e fazem algo em conjunto?” Um pensamento ingénuo. Utópico, até. Certo. Hoje, um bocadinho mais crescido (um bocadinho só), reparo que as discussões são muitas vezes fechadas, num diálogo de surdos, onde só se olha para o mal do outro e não as riquezas. Sim. Não. Norte. Sul. Direita. Esquerda. Praxe. Anti-Praxe. Bárbaros. Civilizados. E andamos nisto. Porque há medo de perder, de pensar nas coisas, ficando-se na busca do orgulho da vitória: sou melhor do que tu! Em humanidade todos partilhamos de visões distorcidas e enriquecidas da realidade. Para quem ainda não sabe: não existe perfeição! O bom dá-se quando se descobre onde colaborar a partir de pontos de vista diferentes. Há muito que já se percebeu que “olho por olho, dente por dente” leva a que todos fiquem cegos e desdentados. Não é fácil “dar a outra face”, ou reconhecer razão e beleza na outra perspectiva. Se o meu pensamento ou modo de agir leva à anulação do outro, prefiro perder, mesmo que custe. E nessa perda, além de continuar a ver que o mundo é mais vasto que as minhas ideias, crenças e lógicas, posso encontrar o caminho de liberdade... e aí reside uma grande vitória.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Fui praxado. Praxei.



Faculdade de Motricidade Humana - Lisboa: Fui praxado (1998). Até fui o Mister Caloiro. Praxei (1999/2000/2001). PGA - Portugália Airlines: Fui praxado (2000). Praxei (2001/2002/2003). Faculdade de Filosofia - Braga: Fui praxado (2005). Praxei (2006/2007). Fui afilhado. Fui padrinho. Fui caloiro. Fui “doutor”. Em todos os momentos conheci muita gente e fiz amigos que continuam até hoje. Sempre vivi a praxe como momento de encontro. Vi gente frustrada, a aproveitar o momento para desabafar-as-mágoas-da-vida-ao-jeito-de-vingança, mas vi muitas pessoas com vontade de integrar e acolher, com muito riso à mistura. Enquanto praxei nunca permiti que um caloiro se sentisse rebaixado. Se porventura fazia cara de mau, rapidamente se aliviava com a “melancia gorda gorda”. Assisto com tristeza ao que se passa em Portugal… mais uma vez resultado da degradação da educação. Abusa-se. Resultou mais uma vez em mortes e, ao jeito mafioso, no silêncio de estremecer almas. Tenho pena de quem faz da praxe o vómito-das-frustrações-pessoais. Agradeço a quem ajuda o(a) caloiro(a) a ser gente. Rezo pelas famílias, pelos “doutores”, pelos caloiros.

Conversão [perco o medo de]




Teresa Lamas Serra

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Acho que vou perdendo o medo da conversão. Sei que pode parecer uma palavra estranha. Converter-se a uma religião, ou a um modo de vida, tem aquele tom de grandioso ou de beato. “Deus me livre de tal coisa”, poder-se-ia pensar. Sim, acho que perco o medo da conversão. Após terminar cada dia, tento revê-lo. Não mudo “da manhã para a noite”, como S. Paulo a caminho de Damasco, mas vou conhecendo a suavidade das mudanças das cores na vida: em conversas, em exemplos, em leituras, em rostos. Confesso outro segredo: gostava de chegar ao momento em que poderei dizer “não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”. Nesse dia, sei que o meu Amor será pleno. É por isto que vou perdendo o medo da conversão.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Assumo a minha intolerancia



STRDEL/AFP/Getty Images

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Tenho muito respeito pela diversidade cultural. Não há dúvidas que a riqueza da pluralidade na cultura ajuda no caminho da humanização. Isto não significa que tolero tudo, que admita e feche os olhos a realidades que se justificam em nome da “cultura” ou de leis ancestrais. Nalgumas situações apetece-me dizer (e digo-os para mim) alguns palavrões a essas leis, que de cultura não têm nada, mas sim tudo de crime. Nada justifica que alguém seja assassinado(a) pela sua orientação sexual, que sofra a mutilação corporal que anule o prazer, que seja violada na sua dignidade, que seja usado(a) como escravo(a) sexual. Tolerância não pode significar compactuar com a morte. Se assim é, assumo-me como intolerante.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O que mais gosto na minha vocação?



Karla Gachet and Ivan Kashinsky

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“O que mais gostas na tua vocação?”, perguntaram-me. “Que a outra pessoa seja!”, saiu-me sem hesitar. “E Deus, onde fica?”. “Conto-te algo. Foi no Bairro Alto, já lá vão uns anos. Estava com amigos de amigos. Alguns não sabiam que eu era religioso. Às tantas, ‘então e o padreco o que tem a dizer sobre isto?’ [não me recordo qual era o tema]. Achei piada às reacções e aos comentários, sobretudo ao ‘és normal’. Uma das pessoas perguntou-me: ‘Ah, fala-me de Deus!’ Sorri. E respondi, ‘Fala-me de ti!’. Ante a sua estranheza da minha resposta, continuei, ‘posso dar-te conceitos muito interessantes sobre Deus, mas se me falas de ti, posso ajudar-te a vê-lo em ti’. ‘Mas eu não acredito em Deus!’ ‘Amas alguém ou já amaste?’ ‘Sim, o meu filho.’ ‘O que desejas para ele?’ ‘Ah, o normal: que cresça saudável, que lhe aconteça sempre o melhor.’ ‘E se as coisas não correrem como esperas?’ ‘Continuarei a amá-lo’. ‘Afinal, foste tu que me falaste de Deus’. Respondendo-te: Deus não fica, está… melhor ainda, Deus é na vida.”

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Promoção fraterna



B. Anthony Stewart

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Um das coisas que se pode encontrar na espiritualidade inaciana é a chamada “correcção fraterna” ou, como prefiro, “promoção fraterna”. Reza-se, pensa-se e, com humildade e caridade, diz-se ao outro o que nos parece que tem a melhorar. Claro está, há que saber dizer e há que estar preparado para receber e escutar. À partida, parece resumir-se aos pontos fracos para eliminá-los. Assim seria muito pouco. “Pro-mover” o outro, é “pô-lo em movimento”, para poder seguir no caminho de “ser plenamente quem é”. Implica muito de cada um. Sobretudo quando se tem de pôr o orgulho no sítio certo.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Pudor com o "nós"



Massimo Rumi

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Tenho algum pudor com o “nós”. Ou dificuldade em utilizá-lo com leveza. É fácil diluir-me na massa, quando não me quero implicar. Dizer “eu” em vez de “nós” pode, ou ser egoísta, ou apresentar desprotecção como se em plena Praça Central estivesse exposto diante de todos, ou ainda o reconhecimento da história e experiência pessoais. A questão não está no “Eu”, mas na atitude com que se o diz. Volta-se à grande tensão entre individualidade e comunidade: uma sem a outra não têm sentido. Em nome de uma não se mate a outra.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

[Para terminar o dia...]



Randy Olson

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Às vezes gostava de descansar dos meus próprios pensamentos. Talvez seja por isso que me refugio no “olhar para o Infinito” (simplesmente estar deitado, acompanhado ou não de música, e deixá-los que se agitem a seu bel-prazer até se cansarem). Podia dizer que rezo (que até ficaria bonito e edificante), mas não, nem isso. Depois de tanta história, escuta, digestão de realidade humana e teológica, resta-me, simplesmente, “olhar para o Infinito”. Pelo menos fico a achar que descanso dos meus próprios pensamentos, mesmo sabendo que o mundo não pára… e eles também não. ;)

[Coisas que me passam pela cabeça]




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Ontem, enquanto procurava no meu perfil do facebook o texto que já tinha escrito para republicar, reli muitos outros. Fiquei a pensar nalguns: no porquê dos ter escrito, no seu significado e coerência das palavras com a vida. Reparei também que alguns dos que mais “gostos” tiveram foram os que estavam relacionados com a fragilidade ou a dor. Pura especulação neste momento, mas… será que hoje, em plena “selva urbana”, onde há que ser o mais forte, poderoso, o melhor de todos para sobreviver, dá-se espaço ao “não consigo”, “estou cansado”, “sim, admito, estou frágil e preciso de amparo”? Não tem que ver com apologia do “coitadinho” ou “pobrezinho”. Muito pelo contrário, tem que ver com a apologia da liberdade para se saber viver. Enfim… continuo na reflexão. 

domingo, 19 de janeiro de 2014

Dia mundial do Migrante e Refugiado




JRS/USA

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Trabalhei com emigrantes detidos no Centro de Internamento de Estrangeiros quando estava em Madrid. Aqui em Paris acompanho alguns Refugiados. Rostos com histórias, que (me) trazem notícias em primeira mão do que é deixar tudo em nome da vida, pessoal e familiar. Em números: seria dizer que 4 vezes toda a população portuguesa estava refugiada. Isto pode bloquear ou provocar à chamada pela hospitalidade, justiça, esperança e solidariedade. Hoje, dia em que se recorda de forma especial os migrantes e os refugiados, partilho as páginas, portuguesa e internacional, do Serviço Jesuíta aos Refugidos (JRS). E recordo o óbvio: nenhum ser humano é ilegal.

JRS Internacional: http://www.jrs.net/


"Lugares comuns"



Robert & Shana ParkeHarrison

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O sítio mais seguro poderá ser o “lugar comum”. Responde-se fácil e imediatamente, ficando-se no intelectualismo da situação. Um dos perigos da ideologia (política, religiosa, social, etc.) é a perda da noção da realidade, pondo tudo no mesmo saco. O caminho mais difícil é o da observação. Se se observa bem, pode haver dados que alteram a teoria, tendo de a refazer parcial ou totalmente. E isso dá trabalho, sobretudo interior. Por isso, o sítio mais seguro é o do “lugar comum”, exigindo-se dos outros a perfeição que não se tem. Como resultado: isolamento cerebral.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Referendo[s]



Duane Michals


Vai haver mais um referendo em Portugal. A meu ver, desnecessário. O que vai acontecer, como já vai sendo normal no nosso país? Além do gasto de dinheiro igualmente desnecessário em propagandas, vão surgir mais lutas entre opostos, em que, no final, não há qualquer interesse pelos que realmente precisam de protecção. Há desemprego, há fome, há violência e miséria a aumentar… mas isso, que interesse tem? Vá, pronto“s”, vamos brincar a coisas políticas e distrair mais um pouco!

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Perigo de um só livro - Parte II



James L. Stanfield

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[Em seguimento do post anterior] Quando aprofundei os estudos bíblicos, uma das coisas que me impressionou foi a diversidade presente nas Escrituras. Perceber que, por exemplo: o Livro de Rute tem uma visão sobre a relação com Deus bastante diferente do Livro das Crónicas; nos Evangelhos também se podem encontrar contradições; S. Paulo e S. Pedro viveram alguma discordância. “Ah, então cá está que a Religião não faz sentido nenhum, pois não seguem todos o mesmo caminho”. Fica-se na superficialidade se se pensar assim. A Escritura convida-nos a conhecer a pluralidade: por um lado, para não se cair na ideologia, por outro, para se encontrar Deus a partir da liberdade… já que “na casa do Pai há muitas moradas”.

Perigo de um só livro - Parte I



John Creech Jr.

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“Tenho medo de alguém de um só livro”, comentou o P. Adolfo Nicolás, Pe. Geral dos Jesuítas, num encontro que nós, SJ em formação, tivemos com ele em Maio passado. Não se pode saber de tudo sobre tudo, é uma grande tentação. Contudo, outra, talvez pior, é a de ver a realidade apenas por uma perspectiva. Recordo que quando li pela primeira vez o “Anti-Cristo” de Nietzsche, “rasguei as vestiduras” de orgulho cristão ferido. Uma grande amiga disse-me: “Paulo, acalma lá a indignação e vai mais fundo na leitura”. Voltei a ler. Não, não me tornei um nietzschiano, mas percebi que algumas críticas faziam sentido. Quando se tem somente “um livro”, obriga-se que a realidade seja como “eu quero”… parece-me que isso tem outro nome: totalitarismo ou ditadura. [Continuará…]

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

"não" e "arriscar"



Alex Coppel

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No 11.º e 12.º anos fui o delegado. Em conjunto com a turma, organizámos uma viagem aos Açores e outra a Londres (cada qual em seu ano). Ser delegado implicava um acréscimo de responsabilidade, sobretudo com o dinheiro. Havia colegas que não poderiam ir por ser caro. Então, vá de vender de bolos e rifas. Inovámos com um concerto de “bandas de garagem” e um concurso Miss e Mister Escola. Para arranjar prémios andámos de loja em loja a pedir coisas. Era uma mistura de frustração e alegria. Conseguimos, entre outras, um curso de modelo e muitos “não”. Essa experiência deu-me um dos ensinamentos que retenho até hoje. Repito-o algumas vezes: o “não” está garantido, a partir daí tudo é bom, por isso, toca a arriscar!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Questões de tempo


Uta Barth

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Há dias ria sozinho a pensar: “nesta altura do campeonato já devias ser impecável. Há tanto estudo e fórmulas e frases e textos para se ser mais humano e melhor. Então, o que se passa? Oh, não dás tempo ao tempo, por exemplo. Como assim? Saboreia mais. Não significa relaxar. Se é tempo de trabalhar, trabalha. Se é tempo de descansar, descansa. Se é tempo de curar, cura. Se é tempo de ajudar, ajuda. Se é tempo de estar, está. E se ainda não és mais humano ou melhor, calma… dá-te tempo para fazer o caminho”.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Panteão [outro importante]




Edwin L. Wisherd

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Ao acompanhar algumas evoluções de acontecimentos, dou por mim a pensar que tenho um Panteão mais importante: o coração. Como “centro de afectos” e como “centro de memórias”, guardo muitos nomes que me ajudaram a ser “nação” e a tornar-me melhor. Podemos fazer romarias e visitar museus, grandes viagens em busca da História e do seu reconhecimento, mas sem esquecer que uma das grandes peregrinações é a resposta às perguntas: “Quem sou?”, “Quem me ajudou a ser?” e “Que faço para ajudar outros a ser?”.

sábado, 11 de janeiro de 2014

[Não gosto de] Polémicas



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Não gosto de polémicas. Mais ainda das desnecessárias. O facto de não gostar de polémicas, não significa que me cale ante as injustiças. Há muita coisa que vai mal neste mundo que é preciso denunciar. No entanto, penso muito no modo de o fazer. Faz-me confusão atacar o outro e quando por algum motivo tenho de “corrigir” alguém (lembro-me dos meus tempos de professor), olho-me ao espelho e examino-me: sei que ainda peco, pelo menos em pensamento, quando “os meus santos” não coincidem com os da outra pessoa. Quero cada vez mais levar a sério isto que tanto se repete sobre Deus: “lento na cólera e rico em misericórdia”.  

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Entre o bailado e a simplicidade.



Jordan Matter

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Quem vê um bailado, apercebe-se da graciosidade, da leveza, da delicadeza dos movimentos, passos, gestos, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Apesar de ser mais da dança contemporânea, de vez em quando tenho uma boa aula de clássico, em que saio todo partidinho por trabalhar todos os músculos e mais alguns. Aí, entre outras coisas, percebo que por vezes para se chegar à simplicidade é preciso muito trabalho. Nem toda à gente pode ser bailarino(a) profissional… mas todos podem ser simples no modo como vive. Cada qual saberá quais os “músculos” a trabalhar para que tal aconteça.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Chocolates



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Quando leio por aqui ou no facebook ou em jornais, algumas opiniões, comentários, posts, dos mais azedos aos mais descabidos, daqueles de jogar as mãos à cabeça, fico a pensar na necessidade de afirmação, de dizer dessa forma “aqui estou”, “escutem-me”, “sou alguém”.  O passo, difícil por sinal, é admitir: “tenho falta de atenção!”. Talvez aí pensar-se-ia duas vezes antes de se escrever o que se escreve. Às vezes, mais do que responder, porque não há pachorra para entrar em argumentações que não levam a lado nenhum, se pudesse, distribuía chocolates… e assim, pelo menos, adocicava-lhes um pouco da vida. ;)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Árvores



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Sei que gostas de árvores. Contaste-me uma vez. Nestes dias, fui observando algumas. Também contigo no pensamento, ocorreu-se-me: a força do tronco suporta tempestades, noites frias e o calor abrasador. No Inverno, desfolhada, mostra a imensidão do “esqueleto” que se abre em ramificações. Não se ficando por um lado, gosta de ir a outras direcções, sem perder o centro. Não se move muito, mas as suas sementes atravessam o mundo. Olhas e há imponência. E na irregularidade, sai de rituais antigos e deixa-se renovar em cada ano com nova folhagem. Há algumas que têm magia junto a histórias antigas e sagradas. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Sombras


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Durante bastante tempo busquei a minha perfeição: no trabalho, nas notas, na oração, na relação com os outros. Sendo perfeito podia provar a “fantasmas” de mente e de coração que era capaz, que era bom naquilo que fazia. E era uma luta constante e desgastante! Vou tendo menos problemas em olhar para a minha sombra… ou sombras. Diante de Deus ou de quem nos ama, não há que provar nada, apenas deixar-se ser amado. Afinal, das sombras também sai arte e beleza. 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Viagens... [ou final do retiro]


Sukri Celil Advan

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Para boa da verdade, o retiro acabou hoje, na viagem de comboio de regresso a Paris. [As viagens têm em mim este efeito… a transição, a passagem, a mudança. Nada mais o que uma viagem é.] Os Exercícios Espirituais “acabam” com a chamada “Contemplação para alcançar Amor”, onde Sto. Inácio nos propõe, depois de todo o caminho feito, ver como Deus está e trabalha em todas as coisas. E não é frase bonita para terminar algo. Dar o passo de acreditar que isto acontece, tem que se lhe diga. Hoje, na viagem, dei mais um nessa direcção, enquanto recordava boas conversas, lia as mensagens e mails (que responderei com calma, mesmo que demore), e deixava que o caminho me mostrasse que “todas as coisas” são todas as coisas. Emocionei-me. No regresso à rotina há novidade… as palavras que se tornam vida ajudam a converter e percebi mais um pouco “Que agradeço e me abandono/Tenho o amor que me ensina a viver (…) [afinal] Só o amor ficará” - Teresa Salgueiro.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Epifania



Veronika K. Ko

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A Epifania, ou manifestação, de Jesus tem um tom especial quando se abre à universalidade dos povos… e de realidades, histórias, decisões, acontecimentos. Já há muito que percebo que Deus, ou a fé, também se manifesta no que não é estabelecido, às vezes fora das regras e do que se espera. É preciso atenção, delicadeza… e coração aberto, para dar e, sobretudo, receber. Gosto de pensar nisto no dia de hoje, em que faltam 7 meses… :)

sábado, 4 de janeiro de 2014

Feliz Ano Novo! :)



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Feliz Ano a cada um(a)! Também "estiveram" comigo nestes dias. ;) Foi bom começar o ano (ainda mais este em específico) em retiro. À meia-noite estava na capela da Transfiguração, num misto de oração falada e de contemplação, já que aquilo lá fora pela cidade e arredores era toda uma animação de fogos de artifício em vários pontos. Num momento pensei mais ou menos nisto: aconteça o que acontecer neste ano, do mais feliz ao mais doloroso, que não se perca o sentido da Esperança, fazendo que cada dia se torne oportunidade de Encontro e de “re-nascimento”.