quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Breve oração em dia de partida para o Pai






[Breve oração em dia de partida para o Pai da minha avó Teresa]

Agradeço-Te
os laços de campo e de horas esculpidas nas mãos que cultivaram sementes em terra fértil
e amassaram pão também adocicado em folar de Páscoa

a mesma hoje vivida.

Peço-Te
acolhe-a no regaço em mimos de Luz,
dando-nos Esperança na certeza da Vida.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Animação em baptismo.




[Coisas na vida de um padre] Chegam boas recordações de dias felizes. Estava a dar a bênção à família. Elevo a mão e o Frederico com a maior naturalidade deu “cá mais cinco”. Gargalhada geral! O baptismo é Vida e Vida aconteceu.

domingo, 25 de novembro de 2018

Dia Internacional para a Eliminação da Violência da Mulher




Li Hoang Long

[Secção pensamentos soltos em memórias] A propósito deste Dia Internacional para a Eliminação da Violência da Mulher, recordei este episódio vivido há uns anos. 

Dava mais um dos meus passeios. Encontrei a D. Maria [nome fictício]. “Olá, está boa? Já há algum tempo que não a vejo pela Missa.” “Sabe como é sr. padre, a vida… a vida…” Reparei que tinha uma mancha estranha perto do olho. Apercebeu-se do meu olhar e prontificou-se, antes que fizesse qualquer pergunta: “tropecei em casa e bati no móvel.” Nestes dias tenho andado mais sensível e emocionei-me. Saiu-me: “D. Maria, posso dar-lhe um abraço?” Ela percebeu que eu percebi que não tinha sido móvel nenhum, mas uma mão. Não sei se fechada. Não sei se aberta. Mas foi uma mão que lhe fez aquela mancha. Aceitou o abraço e chorou. Chorámos. “Tem tempo, sr. padre?” Como não havia de ter? E conversámos. Muita dor foi partilhada.


Infelizmente este Dia. Infelizmente por ainda haver: mulheres assassinadas; silêncios cúmplices que não entendem que há situações em que, sim, “entre marido e mulher somos obrigados legal e moralmente a pôr a colher”, isto por um lado, já que por outro, ainda há gente que comenta e condena a vida alheia, em especial de mulheres que, apesar do medo, vergonha, dor, decidem pôr um basta a relações amargas, com perigo de vida. A sociedade pode não mudar totalmente com alertas de “Dias”, mas é bom ter consciência que muitas vezes acontece ao nosso lado e de que há sempre algo a fazer para acabar com a violência.

sábado, 24 de novembro de 2018

Padrões




[Secção pensamentos soltos] Os padrões são repetições de feitios em cores ou acontecimentos de vida. São algumas as vezes que, no exame de consciência, na reflexão e oração, apercebo-me de repetir o modo de funcionar em determinadas relações. Ido ao fundo disso, com toda a verdade que me é possível, vejo o que possa estar desajustado, levando-me à aprendizagem inicial de como reagi diante de algo, em geral não muito simpático. Os padrões têm o seu quê de cíclico, normalmente provocados por auto-enganos. Podem ser interrompidos quando se dá nome à realidade. Esse dar nome é temeroso, obrigando-nos, em reverência, a descalçar em terra sagrada que somos. Leva-nos ao momento inicial da criação quando Deus diz ao primeiro humano que nomeie o que o circunda. Ou seja, é doloroso por termos de atravessar o divino em nós e isso significa atravessar também a sombra, com todos os medos, vergonhas, maus silêncios, frustrações, resignações. Dar nome a isso tudo, com o respeito pelo tempo próprio, é romper com a repetição desajustada. Dando nome, torna-se conhecido. Começamos assim a ser nós a controlar. Aos poucos, faz-se um retalho de memórias curadas e o padrão ganha tons de compaixão.


quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Breve oração




[Breve oração em final de entardecer]

Agradeço-Te 
a revelação em cada acontecimento,
entre chuva e sol,
que me permite desvelar
o amor.

Peço-Te
visão de beleza e luz

focada no todo.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Congresso de Parentalidade Consciente






Sérgio Rito


[Coisas na vida de um padre] No passado sábado, fui um dos oradores do Congresso  de Parentalidade Consciente, que teve “Educação para a sustentabilidade social” como tema de fundo. Fechar um Congresso é um misto de honra e de responsabilidade. Depois de um dia inteiro de boas apresentações, tentar dar sentido a tudo, ainda que a apresentação tenha ela mesma o seu sentido próprio, foi graças ao apropriar do que foi dito. Do parto, ao sono, passando pela integração,  complexidade e educação, houve unidade nesse desejo de despertar para a sustentabilidade. Não é demais voltar a agradecer à Mia (www.mikaelaoven.com) pela confiança e convite. Haja colaboração no caminho de humanização. Parabéns a todos os oradores e organizadores. Também a quem participou, afinal haverá o contributo de 4400€ para Associação “Um Pequeno Gesto”. 

domingo, 18 de novembro de 2018

Juízos finais




Abigail Fahey


[Secção pensamentos soltos] O final dos tempos, a hora, o momento, só o Pai é que sabe. Isto recorda-nos Marcos no Evangelho de hoje. Ao rezar o texto, saindo da primeira sensação que possa ter sido incutida de “medo-do-fim-do-mundo-ao-modo-cinematográfico”, apercebi-me das muitas horas finais que passei. Tempos de passagem, de embates de limite, com medos, sim, muitos. A visão muito mitológica de juízo final, com as imagens de destruição, podem impedir o caminho de descoberta de Deus que é Pai com entranhas maternais, na profundidade de amor por cada um de nós. Por outras palavras, Deus que salva e não deus que condena. Afinal, envia Miguel, o chefe dos anjos. Mika-El: aquele que protege, que defende. Essa é a base da relação com Deus: a salvação. Significa isto uma desculpabilização dos maus actos, atitudes, comportamentos, em especial os que advém de jogos de poder? De modo algum. Pelo contrário, deve despertar a noção de responsabilidade, em que cada pessoa possa desbravar o caminho do seu coração e remover o que está petrificado e podre, impedindo o respeito pelo próximo. Essa é a hora da conversão. Este processo por vezes necessita de choque, de abalo tal que leve a questionar até mesmo a existência de Deus. No fundo, os tempos finais, apocalípticos, devem apontar à remoção de todos os ídolos, de tudo o que impeça a visão e escuta de quem Ama totalmente ao ponto de entregar o Filho como final de todos os sacrifícios. O juízo final, esse último, acontece cada vez que decidimos seriamente amar mais. Aí somos obrigados a novo nascimento, em saída de nós mesmos em direcção a quem sofre, a quem precisa, aproximando-nos mais da essência divina.

Parar




[Secção pensamentos soltos] Parar. É um verbo. Sabemos que os verbos falam de acção, de dinamismo, de movimento. Então, o verbo “parar” pode ser um paradoxo vivificador. O acto de paragem, incomodativo em meios que fazem igualar humanidade a produtividade, torna-se revolucionário. Paro ante o exterior e permito que seja o interior a movimentar-se pelos meandros da minha história, cheia de emoções, sentimentos, perguntas e respostas, desvelando a beleza da existência. A revolução dá-se ou de rompante, ou de passos suaves, pela descoberta do imenso que sou e vivo. Diminuir a velocidade da vida, dando-me tempo para escutar e ver é exigente. “Nãos” têm de ser ditos, em nome de um sim maior ao acto de presença. Também e, a meu ver, principalmente, diante de Deus. Há medo de parar. Afinal, há o fantasma de “parar é morrer”. Mas, e se eliminássemos o fantasma e permitíssemos a morte desse medo? É certo que parar é morrer para algo. Mas necessário para uma Vida com mais sentido. Parar para pensar, rezar ou simplesmente estar… sem mais, na atitude de quem sabe contemplar e agradecer. E na paragem, nesse silêncio que vai diminuindo ruídos, percebemos o que realmente importa: amar(-se). Outro verbo (difícil, sim!). Agora, em dinamismo exterior de gestos concretos na direcção do próximo. 

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Breve oração




[Breve oração antes de adormecer]

Agradeço-Te
a luz que atravessa os caminhos sombrios, 
entre perguntas e respostas,

no silêncio do novo amanhecer.

domingo, 11 de novembro de 2018

Boas recordações



[Coisas na vida de um padre] Chegam boas recordações de dias felizes. Escolher quem leva as alianças é de responsabilidade. Há que estar ao nível desse grande momento.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Pessoa. Simplesmente.




Thomson Reuters

[Coisas na vida de um padre]
Seguia pela rua fora. Chovia e abriguei-me num toldo. Apanhei um pedaço da conversa de duas senhoras em cigarro a meio da manhã. 
- … engenheiro, doutor ou professor. Sério, não sei o que ele é.
Sorri, não me contive e disse: 
- Pessoa. Imagino que seja uma pessoa como cada um de nós. 
Rimos os três. Dando os bons dias, seguimos nas nossas vidas.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Boas recordações



SL Casamentos

[Coisas na vida de um padre] Chegam boas recordações de um dia feliz. Não me recordo o que estaria a dizer. Seja como for, como se nota, houve animação abençoada!

sábado, 3 de novembro de 2018

Breve oração




[Breve oração antes de adormecer]

Agradeço-Te 
a laranja que saboreei e a rosa que contemplei. Recordaram-me que não sei o que é fome, permitindo-me vislumbrar beleza. 

Peço-Te:

Afasta de mim toda a sede de poder.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Em dia de Todos os Santos



[Secção pensamentos soltos em dia de Todos os Santos] Este, para mim, é um dia de memórias e de sonhos. Também do presente, no seu sentido de extraordinário quotidiano. Memória de histórias vividas por homens e mulheres, uns oficialmente canonizados outros oficiosamente no coração de cada um de nós, que buscaram a autenticidade de si mesmos em relação com Deus. No gesto e na oração, abraçaram o melhor do cuidado do amor. Mesmo sem quererem, tornam-se exemplo ou inspiração, não a imitar mas a desvelar o melhor de nós. Daí, dia de sonhos. Possibilidade de abertura ao desejo de transformação ou conversão, onde os véus do que nos impede a luz do caminho, verdade e vida vão-se rasgando e caindo, permitindo ver o sentido de uma entrega maior. Não se trata de busca de perfeição desumana, mas de corpo vivo que se vai ajustando à realidade concreta: pessoal e social. O corpo ajustado não se acomoda. O corpo ajustado integra a comunidade de quem quer viver a plenitude do amor. Por vezes, gostaria que isto acontecesse num ápice. Mas, é preciso tempo e silêncio para perceber que tal acontece muitas vezes na subtileza diária, no modo como falo, dou atenção, vejo, escuto, ensino, celebro, escrevo, leio, reconheço a luz e a sombra, amo, vivo. A transformação total é coisa de filmes de heróis. A conversão à santidade é algo de quotidiano. Com passos extraordinários, certo, mas de quotidiano, onde o reconhecer do que é importante e absoluto não reside em coisas, mas na beleza da autenticidade dos pequenos gestos de amor comigo e com os outros. Isso pode ser difícil, mas não impossível. Em dia de Todos os Santos, dependendo da vida que cada um ou cada uma possa estar a passar, haja Luz de Deus no amanhecer, no entardecer e no anoitecer... permitindo o nascimento de algo novo.