Li Hoang Long
[Secção pensamentos soltos em memórias] A propósito deste Dia Internacional para a Eliminação da Violência da Mulher, recordei este episódio vivido há uns anos.
Dava mais um dos meus passeios. Encontrei a D. Maria [nome fictício]. “Olá, está boa? Já há algum tempo que não a vejo pela Missa.” “Sabe como é sr. padre, a vida… a vida…” Reparei que tinha uma mancha estranha perto do olho. Apercebeu-se do meu olhar e prontificou-se, antes que fizesse qualquer pergunta: “tropecei em casa e bati no móvel.” Nestes dias tenho andado mais sensível e emocionei-me. Saiu-me: “D. Maria, posso dar-lhe um abraço?” Ela percebeu que eu percebi que não tinha sido móvel nenhum, mas uma mão. Não sei se fechada. Não sei se aberta. Mas foi uma mão que lhe fez aquela mancha. Aceitou o abraço e chorou. Chorámos. “Tem tempo, sr. padre?” Como não havia de ter? E conversámos. Muita dor foi partilhada.
Infelizmente este Dia. Infelizmente por ainda haver: mulheres assassinadas; silêncios cúmplices que não entendem que há situações em que, sim, “entre marido e mulher somos obrigados legal e moralmente a pôr a colher”, isto por um lado, já que por outro, ainda há gente que comenta e condena a vida alheia, em especial de mulheres que, apesar do medo, vergonha, dor, decidem pôr um basta a relações amargas, com perigo de vida. A sociedade pode não mudar totalmente com alertas de “Dias”, mas é bom ter consciência que muitas vezes acontece ao nosso lado e de que há sempre algo a fazer para acabar com a violência.
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