[Secção pensamentos soltos sobre Esperança] Hoje começa o Advento. A espera em esperança da vinda de Deus. Se tivéssemos tempo, melhor, se nos detivéssemos a saborear o tempo, na beleza de cada momento, ficaríamos a contemplar a luz da coroa que se acende ao começar a Missa ao longo do Advento. Gosto tanto da imagem da luz que se espalha, como preparação e anúncio da Luz maior que vem.
O mundo precisa de luz. Sinto o soturno a crescer. Os cansaços a vários níveis entrecruzados com falta de empatia fazem com que cada pessoa se sinta mais presa: ao medo, à desconfiança, à dor, ao sofrimento, ao desespero. Parece que estamos sozinhos no mundo. A força do aparente super-poder humano leva a isso. Mas, não. Somos de relação. E tal deveria ser marca de esperança. A relação que nos convida a crescer como pessoas, a saber ajudar e a pedir ajuda; a saber calar e falar; a saber libertar da ganância e do que impede que o outro seja; a saber dar tempo a contemplar sem necessariamente possuir e simplesmente deleitar. Sei que isso não traz comida para a mesa. Mas também sei que tal humaniza, deixando que a clarividência do sentimento e do pensamento nos afaste das trevas da posse e nos encaminhe para o cuidado e o respeito, por nós próprios e pelo próximo.
Precisamos de luz. De mãos dadas com o silêncio que nos permita escutar o tresmalhar das folhas caídas do que já não nos pertence pelos passos novos da existência que se transforma, converte, modifica no caminho novo. O Advento é oportunidade para recomeçar, nessa Esperança que atravessa a dor, o cansaço, o sofrimento, abrindo-nos à fé que, depois da travessia feita, revela o nascer do divino em nós. E sozinhos não estamos. Deus é connosco. Mas quer sê-lo em liberdade. Por isso, mantém a esperança de nos ver crescer a atravessar as sombras com a Sua Luz.