[Notas soltas de Jerusalém] Estive 9 horas sozinho, sem contar com os monges e frades residentes, no Santuário do Santo Sepulcro. A porta fecha solenemente às 19h, trancada por dentro e por fora, vigiada pelos guardiães das três tradições cristãs que têm a custódia do lugar: Ortodoxos gregos, Arménios e Latinos (Católicos, representados pelos Franciscanos). Alimentam-se as lamparinas de azeite. Acendi a que ilumina a entrada do Túmulo, ficando hoje todo o dia a receber os peregrinos. Entrei no Túmulo e permaneci 3 horas a rezar.
O silêncio era preenchido por paz e por nomes que me vinham com toda a naturalidade ao coração. Pedi perdão pelo que contribui de mal ao mundo e a pessoas concretas. Em vários momentos, senti-me profundamente em casa. Não tanto ali, espaço físico, mas de sentir a fé neste Cristo que morreu e ressuscitou por cada pessoa. Essa casa que é o Seu Corpo, morto e ressuscitado.
Muitas letras verdes foram surgindo, a repassar a história dos últimos tempos. Agradeci muito: das grandes coisas ao detalhe. Pedi para que cada pessoa fosse capaz de acolher, aceitar e integrar as suas luzes e sombras. Pedi por este Ano Inaciano, rezando por cada companheiro jesuíta, indo de Comunidade a Comunidade. Pedi por toda a Igreja, em particular pelas feridas que infligimos e pelo sínodo que atravessamos. Entreguei, pausadamente, nomes de A a Z.
Pelas 23h30 começaram as diferentes liturgias diante do Calvário e do Túmulo. Eu fui para um canto, em frente à pequena capela dos Coptas. Aí fiquei. O silêncio habitado de profunda paz acompanhou-me. Senti o tempo a passar, sem lentidão ou rapidez, mas suspenso no presente. Era ali que tinha de estar. Não para ficar, mas para ir e anunciar a Luz e Paz do Ressuscitado. Às 4 da manhã abriram as portas. E saí, leve com o coração cheio de Vida. [A primeira fotografia foi de quando lá entrei há dias, para ilustrar onde fiquei a rezar com tempo.]
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